sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sindicatos rejeitam proposta em que desempenho seria factor na graduação dos professores

A última ronda negocial da Federação Nacional dos Sindicatos de Educação (FNE) terminou hoje sem acordo. Os sindicatos rejeitam a proposta ministeral que tem estado em negociação, na qual a avaliação do desempenho passaria a ser um dos factores determinante na graduação dos professores no próximo concurso de docentes.
A Federação Nacional dos Professores (FENPROF) acusou o Ministério da Educação de assumir uma "posição de chantagem" relativamente aos concursos de colocação de professores. "O Ministério da Educação assume posição de chantagem ao fazer depender de 'acordo' [com os sindicatos] eventuais alterações" ao diploma sobre concursos de colocação de professores, afirma a FENPROF em comunicado.
O secretário de Estado adjunto e da Educação, Jorge Pedreira, admitiu quinta-feira alterações na forma como a avaliação do desempenho vai pesar no Concurso de Colocação de Professores, desde que isso resulte de um acordo com os sindicatos sobre a matéria.
Em comunicado divulgado hoje, a FENPROF afirma que apresentou nas reuniões realizadas com o Ministério da Educação (ME) várias "propostas alternativas", que nunca obtiveram resposta.O ME nunca apresentou qualquer contraproposta e "continuou a defender que a consideração da 'avaliação de desempenho' como factor a considerar no cálculo da graduação profissional era uma questão de princípio, logo irrevogável, havendo apenas abertura para analisar a sua 'aplicação no tempo', mas no caso de haver compromisso de acordo", disse a federação.
Para a FENPROF, "a perversão da graduação profissional dos docentes pela introdução do factor 'avaliação de desempenho' é absolutamente inaceitável, não sendo moeda de troca para qualquer outra questão, e afasta, desde logo, a possibilidade de haver qualquer acordo sobre a matéria".

Professores com manifestação nacional única no dia 8

Depois de mais de 24 horas de negociações, os representantes de movimentos independentes de professores e a FENPROF (Federação Nacional de Professores) entenderam-se – não haverá duas, mas apenas “uma única e grande manifestação nacional”, no dia 8 de Novembro, a data que havia sido determinada pela Plataforma Sindical.
“Neste momento, e face à situação em que vivem os professores, a unidade é demasiado importante”, sustentou Mário Machaqueiro, coordenador da Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino, um dos três movimentos que estavam a organizar a manifestação de dia 15.
Para chegarem a acordo, explicou, os líderes dos movimentos prescindiram daquilo que antes consideravam essencial, a denúncia, por parte da Plataforma Sindical, do memorando de entendimento estabelecido com o Ministério da Educação. Em contrapartida, explicou, a Federação Nacional de Professores (que integra a plataforma) aceitou subscrever um comunicado conjunto em que se afirma os “sucessivos incumprimentos do memorando”, por parte do ministério, “o esvaziam de conteúdo”, “praticamente” (http://apede.blogspot.com).
Hoje à noite, os representantes dos movimentos independentes de defesa dos professores vão encontrar-se para determinarem que acções serão desenvolvidas no dia 15, uma data que não querem que seja “esvaziada de sentido”, disse Machaqueiro. Uma das possibilidades é a organização de manifestações regionais.
Comentário:
Penso que um cenário diferente deste, seria um vangloriar do ME e um desprestígio para os professores. Ponderou o bom senso! Para bem da união da classe!

Cada homem é um sonho

Há sempre duas mãos dadas que se avistam, para qualquer direcção que lancemos o olhar. São artistas da Companhia de Artes Performativas das Pessoas com Deficiência da China, vindos directamente da cerimónia de abertura dos Jogos Paralímpicos de Pequim. Na bagagem trouxeram uma mensagem de grande, grande amor. Porque para eles cada homem é um mundo. Tenha ou não deficiência.
Vieram cerca de cinquenta pessoas. Quase todos artistas. São autosuficientes e de uma responsabilidade exemplar. Para um que não vê, há um que não ouve que lhe pega na mão ou no braço e lhe indica o caminho. Para um que não ouve, há muitos braços em dança pelo ar, a desenhar a linguagem silenciosa dos gestos.
Deixe-se embalar pelas belas fotografias em Expresso.

Educação sexual

Segundo as conclusões de um estudo realizado recentemente pela Associação para o Planeamento da Família (APF) e o Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, intitulado "A Educação Sexual dos Jovens Portugueses: Conhecimentos e fontes", os jovens iniciam a sua vida sexual cada vez mais cedo. A idade média da primeira relação sexual, nos rapazes, é de 14 anos e nas raparigas é de 15 anos. Segundo o mesmo estudo, a principal fonte de informação dos jovens neste âmbito são os pares. Os jovens conversam mais sobre sexualidade com os amigos (quase entre os 50% e 70% fazem-no relativamente a todos os temas). Estas conclusões, embora não me surpreendam, mais uma vez me levam a pensar que a educação sexual continua de mãos dadas com muitos tabus e preconceitos. Não tenho dúvidas de que ainda há muitos educadores que não são capazes de abordar este tema com naturalidade e clareza e que se refugiam na já gasta desculpa de que não têm formação neste âmbito.
Dizem os estudos que a idade média para a primeira relação sexual tende a ser mais elevada se houver uma educação sexual eficaz. Se assim é, então teremos de repensar a forma como este tema é abordado em diferentes contextos, nomeadamente na escola. Na Alemanha, o Centro Federal para a Saúde apresentou materiais variados para que seja possível a implementação da educação sexual nos jardins-de-infância. Essas ferramentas, colocadas ao serviço de educadores e crianças, têm por objectivo ajudar estas a tomarem consciência do seu corpo e dos papéis de identidade de género. Todo o currículo é centrado em aspectos positivos como a amizade, a família, a ternura e o amor. As crianças são ainda informadas sobre concepção, gravidez e nascimento.
Embora em muitos países a educação sexual, em termos formais, não comece tão cedo, parece-me que deve ser preocupação dos pais iniciar essa educação dos filhos numa idade precoce, uma vez que há evidências claras de que a comunicação aberta desde muito cedo é a forma mais eficaz de prevenir uma saúde sexual deficiente, incluindo nesta as infecções sexualmente transmissíveis e a gravidez indesejada em idades muito precoces. Quando os pais ficam alerta para estas questões e decidem abordá-las com os filhos, porque estes já estão "crescidinhos", o que habitualmente acontece é que os mais novos sentem vergonha em falar sobre este tema. A única forma de evitar todas estas resistências é começar desde muito cedo a abordar as questões da sexualidade, de forma que as próprias crianças as encarem com naturalidade.
O facto de os jovens obterem informações sobre questões de âmbito sexual através dos pares é outro dado já conhecido e que também não constitui novidade. Apesar de não ser novo é fundamental para repensar a melhor forma de fornecer informação correcta aos jovens. Face a isto, é fundamental incentivar o desenvolvimento e implementação de programas de educação de pares. Embora esta seja uma medida muito pouco instituída em contexto escolar, penso que um trabalho a este nível poderia surtir bons frutos, uma vez que só 15 a 18% dos jovens procuram os profissionais de saúde para falarem de sexualidade.
Como conclusões do estudo que tenho vindo a citar, gostaria de sublinhar que ele aponta factos positivos associados à educação sexual: diminuição de alguns aspectos negativos na vivência das relações sexuais e favorecimento de alguns comportamentos preventivos e da capacidade de pedir ajuda, quando necessário. Face a isto, parece-me urgente que os pais assumam um papel importante na educação sexual dos filhos, pois, embora na escola já se tenham quebrado muitas barreiras nesta área, ainda existem muitíssimas a quebrar.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Primeiro centro escolar com unidade para crianças autistas


O concelho de Baião, que regista os mais baixos índices de escolaridade do distrito do Porto, inaugura amanhã o seu primeiro centro escolar. Um investimento de 1,4 milhões de euros que inclui uma unidade para crianças com autismo. (...)
"O Centro Escolar de Baião será o primeiro do distrito do Porto com unidade de ensino estruturado para crianças com o espectro de Autismo. Com capacidade total para seis utentes, esta unidade vai servir crianças de Baião e de concelhos vizinhos como Penafiel, Marco de Canaveses ou Amarante", acrescentou a fonte da autarquia.
Esta unidade de ensino terá uma sala de trabalho estruturado, onde os alunos serão acompanhados por dois profissionais da área do ensino especial e uma sala de lazer, com equipamentos adaptados a crianças com necessidades especiais.
O Centro Escolar de Baião tem 12 salas de aula e capacidade para 240 alunos do Ensino Básico, provenientes das freguesias de Campelo, Ovil e Loivos do Monte, e substitui sete antigas escolas que encerraram nos últimos anos.O equipamento escolar dispõe ainda de um salão polivalente e salas para atendimento aos Encarregados de Educação e Associação de Pais.
Para as actividades de enriquecimento curricular foi criado um polidesportivo ao ar livre, com cobertura. Graças à proximidade com a Escola EB 2,3/S de Baião, os alunos do Centro Escolar vão utilizar a cantina e a biblioteca daquele estabelecimento de ensino.

Teste universal de despistagem de doenças genéticas no embrião está a caminho, diz jornal britânico

Cientistas britânicos desenvolveram um teste universal para despistagem de quase todas as doenças genéticas em embriões. O teste MoT, que custará qualquer coisa como 1500 libras (1885 euros) deverá estar disponível no ano que vem, noticiou hoje o jornal "The Times".
Hoje, casais que sejam portadores de genes que podem estar na origem de doenças congénitas podem optar pela fertilização in vitro, para implantar no útero da mãe um embrião saudável. Para isso, os médicos retiram uma única célula ao embrião, quando este está no início do desenvolvimento, e não é mais que uma microscópica bolinha de células, e lêem os seus genes.
O novo teste, diz o "Times", vai aumentar em muito o leque de doenças que podem ser despistadas, e mais rapidamente. Hoje em dia há testes para 350 das doenças de origem genéticos, como a coreia de Huntington, a fibrose quística ou até a doença dos pezinhos. O cientista responsável pelo desenvolvimento deste novo teste é Alan Handyside, que desenvolveu nos anos 80 esta técnica do diagnóstico pré-implantatório.
O próximo passo, diz o diário britânico, será a apresentação de um pedido de autorização à Autoridade para a Fertilização e Embriologia Humana no Reino Unido para poder utilizar esta técnica. A notícia surge, no entanto, num momento algo conturbado no Reino Unido relativamente à manipulação de embriões humanos. A Câmara dos Comuns aprovou esta semana legislação que permitirá criar embriões híbridos, isto é, criados com recurso a um ovócito animal e uma célula humana, através do processo da clonagem terapêutica. O objectivo é ter mais matéria-prima para fazer experiências que conduzam a novos tratamentos para doenças — já que os ovócitos humanos são um bem escasso.
A lei há-de ser votada ainda na Câmara dos Lordes. O primeiro-ministro Gordon Brown, cujo filho mais velho sofre de fibrose quística (que é incurável, leva à morte numa idade jovem, e pode beneficiar com este tipo de investigação), votou favoravelmente esta lei.

Conselho Nacional de Educação defende reorganização do ensino

O presidente da Conselho Nacional de Educação, um órgão consultivo do Governo, defendeu, esta quarta-feira, uma «diferente» reorganização da escola, com vista a proporcionar uma «maior flexibilidade no uso do recurso de docentes».
«Tendo presente as crianças concretas», deve ser a própria escola a dizer «que conhecimento precisava de ter para lidar com esta realidade», disse Júlio Pedrosa.
Além disso, continuou, as instituições de investigação e ensino superior, bem como os «centros de formação de professores, têm de estar «mais despertos, disponíveis e apetrechados» para responder «aquilo que lhes for pedido».
Esta sugestão consta de um parecer, que o Conselho Nacional de Educação vai entregar ao Governo, onde sugere também que sejam encontradas alternativas aos chumbos dos alunos até aos 12 anos.
Júlio Pedrosa defendeu ainda que as mudanças propostas sejam encaradas como «uma área de intervenção prioritária para a Educação na próxima legislatura», e que se aprenda «com aquilo que é possível aprender de outros países».

Ranking favorece escolas de alunos de classes privilegiadas

Projectos educativos bem elaborados, reforço da carga curricular e frequência de alunos das classes dominantes. Estas são algumas das razões apontadas por especialistas para explicar o predomínio do ensino privado no topo dos rankings.
"As escolas privadas têm dono que sabe muito bem cuidar da sua casa". É desta forma simples que o padre Amadeu Pinto, director do Colégio S. João de Brito, em Lisboa, tenta explicar a razão por que os colégios ocupam a maioria dos lugares de topo do ranking das escolas secundárias.
Amadeu Pinto é de opinião que o sucesso das escolas privadas está no projecto educativo. "Nas escolas oficiais, esse projecto não passa de um proforma", referiu, para destacar, ainda, a estabilidade do corpo docente como também uma mais-valia dos colégios. Por outro lado, Amadeu Pinto critica o "facilitismo" que existe nas escolas de ensino oficial. "As crianças têm necessidade que se puxe por elas e não que se lhes facilite cada vez mais a vida", realçou.
O director do Colégio S. João de Brito sabe que só frequenta a instuição quem pode pagar os 460 euros de mensalidade mensal no Ensino Secundário. Em troca disso, salientou AmadeuPinto, os alunos beneficiam de um projecto educativo credível, que tem por detrás a Companhia de Jesus, um corpo docente estável ("dos nossos 120 professores, apenas dois mudaram"), aulas de apoio e salas bem equipadas.
Conceição Amaral, directora pedagógica do Externato Ribadouro, também aponta o projecto educativo da instituição como a razão principal da liderança à frente nos rankings.
"O objectivo dos nossos alunos é o acesso ao Ensino Superior, enquanto no ensino público os alunos têm outros objectivos", fez notar. Para Conceição Amaral, é a qualidade do ensino ali ministrado que explica que 85% dos seus alunos tenham entrado no Ensino Superior na primeira fase e que 83 alunos tenham conseguido um lugar em Medicina.
Com uma mensalidade de 330 euros mensais, os alunos frequentam, para além do currículo idêntico ao do ensino oficial, aulas de reforço em Biologia e Geologia, Físico-Químicas, Matemática e Português. "Todos os alunos têm mais 90 minutos por semana nessas disciplinas desde o 10.º ano ", explicou. Além disso, os estudantes em ano de exames (11.º e 12.º anos) passam a poder frequentar aulas exclusivamente de preparação para os exames. "Nessas aulas, treinamos os alunos para interpretarem as perguntas dos exames e ensinamos a estruturação das respostas em todas as disciplinas com exames", referiu.
Ao contrário do ensino oficial, os professores são seleccionados e constituem um corpo estável.
"Para além disso, o nosso sucesso assenta também num trabalho de proximidade que fazemos com as famílias, queremos que os pais estejam bem informados sobre a forma como trabalhamos", afirmou Conceição Amaral. A directora do "Ribadouro" apontou, ainda, o equipamento das salas como muito importante para o êxito escolar. "Temos tecnologia de ponta, principalmente nas aulas de Biologia e Físico-Químicas", salientou.
Conceição Amaral refuta a ideia de que o Ribadouro esteja apenas vocacionado para os alunos que desejam ir para Medicina. "Eu quero que esta escola seja heterogénea e,por essa razão, é que temos aqui turmas dos cinco cursos do ensino regular", referiu.
Pedro Oliveira, investigador da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e um dos primeiros participantes no programa de avaliação das escolas oficiais, esclarece que as instituições que lideram os rankings concentram-se nas grandes cidades e têm uma expressão muito reduzida no resto do país.
Numa primeira leitura, Pedro Oliveira referiu que é nos colégios privados que estão os filhos das classes privilegiadas, que dispõem de melhores condições económicas e culturais para o sucesso escolar.
"Quando as escolas podem escolher os alunos, que comparação é possível fazer com aquelas que não podem fazer tal escolha?", indagou.
Para Pedro Oliveira, seria interessante se os rankings mostrassem a origem social dos alunos para se perceber o posicionamento das escolas nas listagens.
Também Ivo Domingues, sociólogo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, põe a tónica do êxito dos colégios privados na continuidade que proporcionam às classses média e alta de manterem os seus privilégios sociais e culturais.
Por outro lado, quando olha para o interior das organizações escolares, identifica diferenças a nível da organização. "Os colégios têm processos de organização e regulação mais estruturados e mais controlados do que as escolas de ensino público", fez notar.
Ivo Domingues referiu que a regulação das instituições privadas de ensino tem tradição na diversidade de actividades que são desenvolvidas e oferecidas aos alunos. "A formação é um trabalho de equipa que, para ser eficiente, tem de ser concertado e coordenado. E isto tem melhor expressão no ensino privado", referiu.
Por fim, o sociólogo esclareceu que há muitas escolas públicas que fazem um esforço enorme em acrescentar mais valor nos conhecimentos que os alunos trazem no início do ano e, lamentavelmente, esse esforço não é revelado nos rankings. "Há muitas escolas que dão mais-valia aos conhecimentos dos alunos e, mesmo assim, elas não estão no topo do ranking", concluiu.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

“Instabilidade do corpo docente" afecta prestação dos alunos

A denúncia chega da escola secundária Infanta Dona Maria, em Coimbra. A tradicional boa prestação dos alunos desta escola pública nos exames nacionais está a ser afectada pela "instabilidade do corpo docente".
Esta escola continua a ser o estabelecimento público com melhor média na primeira fase dos exames nacionais do Ensino Secundário feitos por alunos internos, lugar que já tinha alcançado em 2007, segundo dados do Ministério da Educação.
No entanto, a presidente do conselho executivo, Maria do Rosário Gama, disse à Agência Lusa que a demora na substituição de "muitos professores" que se reformam tende a prejudicar os resultados obtidos nos últimos anos.
"A escola vive um clima de instabilidade, com a saída de muitos professores mais antigos e com a entrada de professores novos, que, apesar da sua boa vontade, têm menos experiência e um menor grau de exigência", declarou Maria do Rosário Gama.
A responsável deu o exemplo dos professores de História: "São cinco, mas nenhum pertence ao quadro da escola".
A vice-presidente da instituição, Maria Manuela Carvalho, corrobora estas afirmações e salienta que a substituição dos docentes que requerem a aposentação "demora em média três semanas".
A idade média dos professores da Secundária Infanta Dona Maria chegou a rondar os 55-60 anos, o que traduzia uma certa "estabilidade do corpo docente", realidade que tem sofrido alterações com a colocação de profissionais mais jovens.
Por outro lado, segundo Maria do Rosário Gama, o funcionamento da escola depende actualmente de 27 horas de aulas de substituição por semana, que deverão aumentar para 55 horas no início de Novembro. "Já tivemos cerca de 100 horas de substituição por semana", lamentou.
A mesma responsável deu ainda o exemplo de uma professora de Português que pediu a reforma em Setembro e que ainda não foi substituída, mantendo-se "a ensinar os seus alunos como voluntária", sem assinar os sumários das lições.
Por outro lado, Maria do Rosário Gama critica a elaboração e divulgação de "rankings" das escolas com base nos resultados dos alunos nos exames nacionais, porque "comparam o incomparável", incluindo na mesma lista estabelecimentos públicos e privados.
"A Escola Dona Maria teve este ano 1.123 alunos a fazer os exames nacionais, quando há colégios privados que tiveram apenas 50 candidatos", sustentou.
JN Online
Comentário:
Será apenas a mobilidade do corpo docente a influenciar os resultados?! Não creio!!

Conselho Nacional de Educação propõe alternativas ao chumbo dos alunos até aos 12 anos


O Conselho Nacional de Educação tem pronto um parecer para entregar ao Governo, onde sugere que sejam encontradas alternativas aos chumbos dos alunos até aos 12 anos. A aposta deve assentar em medidas eficazes de apoio aos estudantes com maiores dificuldades.
Para o órgão consultivo do Governo para a Educação, as repetições são «um problema que tem proporções catastróficas para os alunos».
Segundo a edição esta quarta-feira do Diário Económico o Conselho Nacional de Educação recomenda ao Executivo para que encontre alternativas às repetições.
Só desta forma se pode atingir bons desempenhos por parte dos alunos e resolver os problemas de insucesso escolar, considera o parecer aprovado em plenário.
Nas propostas avançadas pelo Conselho Nacional de Educação estão estratégias de apoio aos alunos, intervenções aos primeiros sinais de dificuldades e estratégias de diferenciação pedagógica.
O Diário Económico refere que, na Finlândia, onde existe o melhor desempenho escolar do mundo, não há aluno que reprove na escolaridade obrigatória.
Já na Irlanda e na maioria dos países com bons resultados, as repetições foram substituídas por estratégias de apoio aos alunos.
O Conselho Nacional de Educação quer acabar de vez com a ideia de que repetir o ano nunca fez mal e por isso recomenda ao Governo que estude as soluções adoptadas noutros países.
No parecer fica a ideia de que o passar de ano sem que se tenha aprendido não é solução, mas a repetição também não o é, especialmente quando a responsabilidade da falta de aprendizagem é atirada para o aluno ou para a família.
Comentário:
Não tenho opinião formada sobre esta proposta! No entanto, há algo que ressalta nesta notícia e me deixa, uma vez mais, surpreendido. Lá vamos "nós" propor a cópia de medidas de outros países. Pergunto-me então: com os especialistas que temos no país, com os estudos efectuados, com as conferências realizadas, com as propostas e discussões abertas, com o conhecimento do impacto de determinadas medidas em outros países, não seremos "NÓS" capazes de propor medidas algo inovadoras, contextualizadas e adaptadas à nossa realidade?! Tivemos a coragem de partir à descoberta do mundo e não somos capazes de apresentar propostas inovadoras em matéria de educação?!

Escolas públicas ficarão só para os desfavorecidos

As escolas públicas arriscam-se a ficar destinadas quase exclusivamente às classes mais desfavorecidas, graças ao contributo da divulgação dos rankings dos estabelecimentos com melhores resultados, que levam os pais a querer colocar os filhos em instituições privadas, defendem especialistas.
"Um dos problemas da divulgação dos rankings pode ser o de servir de base à escolha dos pais, transferindo muitos alunos para o privado", considera Rui Trindade, especialista em ciências da educação da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto.
Este ano, as dez escolas com melhor média nos exames do secundário são todas privadas, tanto na lista de classificações que considera todos os estabelecimentos, como na que tem apenas em consideração aqueles onde se fizeram pelo menos 100 provas.
"Se retirarmos os meninos da classe média da escola pública ela passa a ser um albergue de pobres e isso é terrível. Este pode ser um dos efeitos dos rankings", defende ainda Rui Trindade, alertando que os bons resultados dos privados têm pouco a ver com a escola em si.
Na opinião do especialista, as condições socio-culturais dos alunos que frequentam as instituições privadas são determinantes, a par do investimento feito por estas famílias em apoio extraordinário, como explicações.
"As escolas privadas acabam por ser mais exigentes e acabam por levar a que as famílias também o sejam. Para responder ao nível da escola privada obriga-se os alunos e as famílias a trabalharem mais. Alguns dos bons resultados têm mais a ver com o contexto dos alunos e com o que se faz fora da escola", sintetiza Rui Trindade.
Também Nuno Crato, da Associação de Professores de Matemática, se mostra preocupado com a falta de ambição da escola pública: "O abandono da exigência por parte do sector público acaba por ter consequências desfavoráveis para as classes mais desfavorecidas, já que é natural que as famílias com mais posses passem a encarar a possibilidade de colocar os filhos nas escolas privadas, por serem as mais exigentes".
Uma das soluções para inverter esta tendência é levar as instituições a mostrarem o trabalho que estão a desenvolver, para além dos números espelhados nos rankings.
"Apesar de ser um indicador de que os alunos aprenderam, os rankings das escolas e as notas dos exames pouco ou nada traduzem a forma como se chegou aos resultados. Teríamos de ter mais informação para saber se estão associados a processos de aprendizagem seguros", refere Maria do Céu Taveira, professora de psicologia da Educação da Universidade do Minho, em declarações à agência Lusa.
Saber quais as estratégias de ensino e aprendizagem e que tipo de conhecimentos foram adquiridos seriam dados importantes a associar aos resultados obtidos nos exames.
José Manuel Canavarro, professor da Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, considera também fundamental ter outros indicadores.
"Era importante conhecerem-se indicadores do envolvimento dos alunos em actividades circunescolares, indicadores de inovação pedagógica e de percurso dos alunos, como por exemplo, perceber se um bom resultado nos exames do 12º ano é um preditor de sucesso", defendeu, embora sublinhando que é um forte defensor da divulgação dos rankings.
Seja qual for a posição relativamente à divulgação da lista das melhores escolas, os especialistas são unânimes ao considerarem que os rankings influenciem a opção dos pais entre privado ou público. Mas não são o único factor.
"Os rankings influenciam, mas o que leva um pai a colocar um filho no privado também são outros razões, como horários mais alargados e melhor acompanhamento dos alunos", comenta Maria do Céu Taveira.
Mesmo assumindo que a escola pública possa sair "beliscada" com estes resultados, José Manuel Canavarro considera que "só no limite" se corre o risco de as instituições pública "ficaram apenas para os mais desfavorecidos".
"Esta é uma possibilidade, mas mais real em Lisboa e no Porto, uma vez que nos outros distritos há mais equilíbrio entre o resultado das públicas e dos privados", afirma.
Comentário:
A dicotomia "serviço público de educação"/"serviço privado de educação" é interessante! O ME podia, se tivesse tempo e disposição, avaliar a fundo o porquê dos resultados obtidos nos estabelecimentos privados de educação e, progressivamente, tentar criar as condições políticas e sociais que levassem a uma aproximação destas duas realidades. É uma sugestão! Não basta reconhecer o óbvio e manter os braços cruzados!

Escola mergulha na arte e cria cadeiras


A EB 2,3 de Cristelo, em Paredes, transforma nobre material da região em objectos artísticos. Alunos dos 10 aos 16 anos pintaram 39 cadeiras que percorrem o país. O "Cadeira Parade 2007" pode voar até à Tate de Londres.
O projecto inspirou-se no "Cow Parade" do suíço Pascal Knapp. Pelo segundo ano consecutivo, os alunos das turmas do 2.º e 3.º ciclos da EB 2,3 de Cristelo, Paredes, utilizaram cadeiras de madeira, material nobre da região, para dar largas à imaginação. Resultado: 39 cadeiras pintadas e transformadas tendo como ponto de partida artistas plásticos nacionais e estrangeiros. Mais resultados: os objectos juntaram-se na exposição "Cadeira Parade 2007" que passou pela Casa da Música, Exponor, Feira Internacional de Lisboa, pavilhão Rota dos Móveis de Paredes e pelo Clube Literário do Porto. A mostra despertou entretanto a atenção de um responsável da Tate Modern de Londres, que mostrou interesse em expor as cadeiras num dos museus mais conceituados do mundo. Aguardam-se contactos.
No primeiro ano do projecto, 2006/2007, as atenções concentraram-se em obras de artistas portugueses. No segundo, 2007/2008, abriu-se o leque e os alunos puderam também explorar conceitos de artistas estrangeiros. Almada Negreiros, Andy Warhol, Paula Rego, Gustav Klimt, Picasso, Matisse, entre outros. O trabalho artístico dentro das salas das 39 turmas desenvolveu-se em três fases. Tudo começou com a investigação dos artistas plásticos, do século XIX à actualidade, para analisar diferentes meios de expressão e apreender conceitos de diversas linguagens artísticas. Depois da pesquisa, os alunos analisaram a cor, a forma, a textura, o movimento de obras do artista seleccionado, um por cada turma, para criar um projecto criativo. Com um requisito: as cadeiras tinham de ter traços facilmente identificáveis com o artista seleccionado. Passou-se então para a concretização das ideias. Uma fase para desenhar e aplicar diferentes técnicas da pintura, escultura, modelagem.
Beatriz, Marco e André têm 11 anos e estrearam-se na iniciativa. Gostaram da experiência, esperam repeti-la e garantem que o resultado final superou o que estava desenhado no papel. "Pintámos, serrámos madeira e fizemos colagens", adianta Beatriz Rocha. A cadeira inspirada em Jesus Souto ficou "gira e engraçada". "Colocámos discos que giravam, quando puxados por um fio", acrescenta. Marco Silva usou pincéis com azul, preto, cor-de-laranja e verde para criar a cadeira inspirada no espanhol Miró. "Fizemos desenhos nas cadeiras", revela. André Barros também esteve envolvido na criação desse objecto. "Gostei de pintar, a experiência foi boa", conta. Os alunos estão satisfeitos com o trabalho e orgulhosos com a projecção da "Cadeira Parade 2007".
O projecto foi lançado pelo departamento de Artes e Tecnologia. Susana Faustino, uma das professoras que coordenaram a iniciativa, tem um resumo do que aconteceu e no qual se garante que as expectativas foram amplamente superadas e os objectivos alcançados. Com conclusões a retirar. "Hoje em dia já é comum encontrarmos o que era impensável há dois anos: alunos que comentam programas televisivos de índole artística pedem aos pais que os levem a visitar uma exposição de pintura, ou ainda, que não nos 'deixam' ir ao intervalo porque querem trabalhar mesmo nos seus tempos livres", revelam os coordenadores. "Com este projecto que 'pegou' num objecto que lhes é comum, que faz parte integral da sua vida (quase todos os alunos têm um familiar que se dedica à indústria do mobiliário), foi bastante notório o aumento da sensibilização e motivação dos alunos para a fruição/contemplação e produção do objecto artístico", acrescentam.
Promover o gosto pela experimentação. Estreitar laços entre a escola e a indústria que mais gente emprega no concelho. Tentar diminuir o abandono escolar. Objectivos que contaram com uma rede de parceiros. Câmara Municipal de Paredes, Associação Empresarial de Paredes e várias empresas do município contribuíram para que o projecto se tornasse realidade. Nadir Afonso visitou a escola, o pintor Júlio Resende escreveu um postal, Armanda Passos e Paulo Neves receberam alunos nos seus ateliers, o jornalista Carlos Magno ajudou a promover o projecto. "Com este projecto todos os discentes e o grupo de Artes deste agrupamento, sem esquecer a calorosa e sempre bem-vinda ajuda de alguns carolas, mostraram como é possível lutar por uma escola inclusiva, aprendendo, crescendo e amadurecendo ideias e conhecimentos". As palavras são do presidente do Conselho Executivo da escola de Cristelo, Mário Rocha.
Comentário:
Eis uma ideia que pode ser aplicada aos alunos com NEE, no âmbito da transição para a vida activa, como forma de sensibilização e motivação para uma profissão, promovendo as parcerias locais.

Quase todas as escolas do básico tiveram média positiva nas provas nacionais

Foram mais de mil as escolas que este ano tiveram uma média no exame nacional de Matemática do 9.º ano igual ou superior a 2,5 valores (numa escala de 1 a 5). Em 2007, tinham sido apenas duas centenas. Esta é uma das principais conclusões das notas de exame por escola ontem divulgadas pelo Ministério da Educação.
Olhando para o conjunto das duas disciplinas que são sujeitas a exame nacional neste nível de ensino (Português e Matemática), a melhoria revela-se igualmente impressionante. Ao todo, 97 por cento (1254 num total de 1292) das escolas tiveram uma classificação positiva. No ano passado, o feito tinha sido alcançado por apenas 66 por cento.
No caso específico das provas do secundário, aconteceu algo de semelhante. A melhoria das médias nacionais, em particular na Matemática, levou a que a percentagem de escolas secundárias com classificações positivas (9,5 valores ou mais, numa escala de 0 a 20) nas oito disciplinas consideradas pelo PÚBLICO disparasse de 62 por cento para 87 por cento (525 em 604 escolas). Para muitos professores, a melhoria dos resultados nas provas foi fruto da facilidade dos testes deste ano. A tutela insistiu que é consequência do maior esforço de alunos e docentes.
Comentário:
Penso que quem viu os enunciados dos exames pôde constatar o facilitismo que ponderou na sua elaboração. Claro que é simples, agora, o ME congratular-se com o sucesso. No entanto, continuo a defender a perspectiva do facilitismo, do sucesso estatístico! Enfim, é a política educativa!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Coração artificial parece humano


É uma máquina, feita à base de tecido animal e peças de titânio. Tem tecnologia de orientação de mísseis ao serviço da humanidade. O inventor diz que é o coração artificial mais parecido com o humano, desenvolvido, em segredo, nos últimos 15 anos.

Três décadas após o primeiro transplante de um coração, de um humano sem vida para outro a renascer, a humanidade ganha um novo ânimo, e uma nova arma, na luta contra as doenças cardíacas, ainda a maior causa de morte no Mundo.
Com cerca de um quilo de peso, o coração artificial do professor Alain Carpentier é revestido de tecido animal especialmente tratado para evitar rejeições. Inserido na cavidade torácica do paciente, deixa de fora apenas a bateria, com duração de cinco horas.
"O objectivo é permitir aos pacientes uma vida social normal. De alguns passos para uma cadeira de rodas para uma corrida, obviamente não uma maratona", disse Alain Carpentier, um dos rostos da máquina.
O novo coração humano, que usa a tecnologia de orientação de mísseis para identificar e reagir a alterações da pressão sanguínea, foi desenvolvido em segredo, nos últimos 15 anos, em conjunto com engenheiros do Instituto Aeroespacial franco-alemão EADS.

Laboratórios na América, no Japão e na Coreia do Sul também estão a trabalhar na criação de corações artificiais. Os franceses dizem que produziram o melhor. "Se mostrar um electrocardiograma a um cardiologista ele vai dizer que é de um coração humano", garantiu Alain Carpentier.
"O novo coração está pronto e precisa de ser produzido a nível industrial", disse Carpentier, que chefia do gabinete de pesquisas de próteses cardíacas no Instituto Pompidou, em Paris. O desenvolvimento do protótipo custou 55 milhões de euros; estima-se que a máquina, se aprovada, venha a custar cerca de 140 mil euros.
O coração artificial já foi testado em vacas. Assim que houver aprovação das autoridades de saúde francesas, vai ser colocado em 20 voluntários. "Não podia continuar a ver jovens e pessoas activas de 40 anos a morrer de ataque cardíaco", disse Alain Carpentier. O cientista acredita que, em 2010, o coração mecânico possa estar a bombear sangue humano; a salvar vidas.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Mieloma múltiplo afecta cada vez mais gente nova

O mieloma múltiplo é um cancro raro, que pode surgir à volta dos 65 anos, mas afecta em número crescente pessoas jovens. Uma associação sedeada no Porto quer expandir-se no apoio que vem prestando a doentes com esta patologia.
Apoio psicológico a familiares e também algum apoio material para que os tratamentos sejam mais eficazes. Estas são vertentes de actuação da Associação Portuguesa de Leucemias e Linfomas. João Salazar, o seu presidente, foi sensibilizado para este tipo de intervenção no voluntariado a partir da doença de um seu familiar, anos atrás. Hoje é também presidente recém-eleito da Plataforma Europeia para o Mieloma, instituição gerida por doentes e familiares.
Tal como a leucemia e o linfoma, o mieloma é um cancro do sangue. Mas é bastante mais raro, surgindo quatro casos em cada cem mil pessoas. Em Portugal surgem, em média, cerca de 300 novos casos por ano. As outras duas patologias do sangue vêem crescer o número de pacientes entre 1.300 a 1.500 por ano.
João Salazar sublinha que "apesar de o mundo estremecer" para o doente quando lhe é feito o diagnóstico, "já se pode viver com o mieloma durante anos como com uma doença crónica". O apoio da família é central, "até porque superar os tratamentos não é fácil". Daí que a associação a que preside preste apoio psicológico a familiares, através de profisssionais voluntários. Outro tipo de apoios é monetário, de cerca de 250 euros, nas situações em que o orçamento familiar põe em risco a compra de medicamentos ou de alimentação adequada.
Por enquanto, o apoio psicológico é apenas prestado no Norte, mas a associação está a tentar que , quanto mais não seja através do apoio de outras associações, ele abarque mais familiares.
Melhorar a qualidade de vida dos doentes com cancro é o centro de interesses da associação, que se empenha também nas acções de doação e recolha de medula óssea.

Conselho científico da avaliação está parado

O Conselho Científico para a Avaliação dos Professores (CCAP), órgão consultivo criado pelo Ministério da Educação para supervisionar e emitir recomendações sobre o processo de análise e classificação de desempenho "não está a funcionar". A confirmação foi dada ao DN, esta sexta-feira, por Arsélio Martins, presidente da Associação dos Professores de Matemática (APM) e um dos membros desta estrutura.
Arsélio Martins - o mesmo que, em 2007, recebeu o Prémio Nacional do Professor - explicou que a última reunião formal aconteceu em Julho. "Desde a saída da presidente", em Setembro, apenas houve "um ou dois encontros" de "pequenos grupos de trabalho", e entretanto já foi cancelada pelo menos uma reunião geral, que estava agendada para Setembro.
"Uma situação que, reconheceu, lhe está a causar algum desconforto: "Estou descontente, porque não temos acesso a dados. Um sítio onde as pessoas se deveriam reunir, mas não têm acesso a materiais e não podem trabalhar é difícil", admitiu.
Recorde-se que, no início deste mês, Conceição Castro Ramos, que tinha tomado posse oficialmente a 21 de Abril, acabou por pedir a aposentação, deixando o conselho ao fim de pouco mais de cinco meses, precisamente numa altura em que a avaliação começava a ser generalizada nas escolas.
Na altura, Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, questionou os motivos da decisão, recordando o "incómodo" que algumas posições do CCAP - como defender que as notas dos alunos não devem influenciar a avaliação dos professores - terão causado à tutela.
Entretanto, o conselho sofreu outra "baixa", com a saída de Matias Alves. Este professor garantiu publicamente que a sua saída se devia apenas ao facto de ter deixado "temporariamente" de exercer as funções de titular, que lhe permitiam estar nesse cargo. Mas admitiu que o CCAP corria o risco de se tornar um órgão "inútil".
Arsélio Martins garantiu ao DN que "quem está no conselho, está mesmo", sublinhando que não se sente incomodado pelo impacto aparentemente limitado do CCAP no Ministério: "é da natureza de uma estrutura destas que as suas recomendações possam ou não ser seguidas".
O facto é que, recentemente, o Ministério da Educação tomou decisões importantes sobre o processo - produzir um recurso na Internet onde os professores têm de inscrever os seus objectivos para o ano lectivo e enviar formadores às escolas onde o processo está atrasado - sem que o CCAP tenha sido consultado.
Fonte do Ministério confirmou que ainda não há substituto para Conceição Castro Ramos.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Plataforma pede suspensão da avaliação para que professores se concentrem no ensino

A Plataforma Sindical de Professores justificou hoje o pedido da "suspensão imediata" do processo de avaliação de desempenho com a necessidade de recentrar a atenção dos professores naquela que é a sua "primeira e fundamental missão", ensinar.
"Estamos preocupados com o número de crescentes escolas que pedem a suspensão da avaliação porque esta está a perturbar o funcionamento dos estabelecimentos de ensino e o desempenho dos professores com prejuízos para os alunos", afirmou Mário Nogueira, porta-voz da Plataforma.
Em conferência de imprensa, o também secretário-geral da Federação Nacional dos Professores sublinhou que "cerca de três dezenas" de escolas já aprovaram moções a exigir a suspensão do processo e que "em centenas" o processo da avaliação está "parado ou em ritmo muito lento, com prazos muitos dilatados".
Os sindicatos de professores manifestaram-se hoje disponíveis para antecipar "em alguns meses" a negociação do modelo de avaliação de desempenho, que está prevista apenas para Junho e Julho de 2009, segundo um memorando de entendimento assinada entre o Ministério da Educação e os sindicatos em Abril.
Por outro lado, os sindicatos rejeitam que ao pedirem a suspensão do processo não estejam a cumprir o acordo alcançado com o Governo: "Não está escrito em lado nenhum do memorando de entendimento que os sindicatos acordaram que o processo de avaliação tinha que se aplicar integralmente até ao final do ano lectivo".
Anteontem, quando uma estrutura sindical pediu a suspensão do processo, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, reagiu afirmando que "não tem sentido que instituições credíveis e de boa-fé assinem um memorando de entendimento e, meses depois, venham dizer que afinal não é bem assim, ou que a situação mudou".
"Bastou um mês de aulas para todos os professores e educadores terem claro que este modelo não é capaz sequer de ser instalado, quando mais aplicado com um mínimo de equidade", reiterou Mário Nogueira.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Ministra considera "infantil" o pedido da FENEI para suspensão do processo de avaliação

A ministra da Educação considerou ontem "um pouco infantil" o pedido de suspensão do processo de avaliação dos professores por parte da Federação Nacional de Ensino e Investigação (FENEI), dado que Governo e sindicatos assinaram um acordo sobre a matéria em Abril.
"Não tem sentido que instituições credíveis e de boa fé assinem um memorando de entendimento e, meses depois, venham dizer que afinal não é bem assim, ou que a situação mudou", afirmou Maria de Lurdes Rodrigues, depois de ter presidido em Vila Verde à entrega de certificados a adultos que concluíram processos de reconhecimento, validação e certificação de competências em Centros Novas Oportunidades ou percursos de educação e formação.
Maria de Lurdes Rodrigues acentuou que "quando duas instituições assinam um acordo de entendimento, devem cumpri-lo até ao fim". A 12 de Abril e na sequência de várias horas de negociação, sindicatos e Governo definiram os termos de um "memorando de entendimento", no qual ficou acordado que em 2007/08 o modelo avançava tendo em conta apenas quatro parâmetros, aplicados de forma universal em todas as escolas, mas que em 2008/09 seriam utilizados todos os procedimentos previstos no decreto-regulamentar.
A FENEI exigiu ontem ao Governo a suspensão "imediata" da avaliação de desempenho dos professores e propôs a adopção do modelo simplificado, considerando que o actual processo "ameaça o funcionamento normal das escolas".
Em declarações à Agência Lusa, o presidente da FENEI, Carlos Chagas, adiantou que esta posição foi transmitida ontem ao Ministério da Educação, no âmbito da reunião da comissão paritária de acompanhamento da avaliação de desempenho, que reúne representantes das estruturas sindicais e da administração educativa. Carlos Chagas sublinhou que em algumas escolas os professores suspenderam os procedimentos e que noutras aprovaram moções nas quais exigem a suspensão da aplicação do modelo de avaliação de desempenho docente.
Questionada sobre estes casos em que os professores suspenderam ou pediram a suspensão do processo de avaliação, a governante preferiu realçar que "a maioria das escolas está a realizar o processo de avaliação de uma forma normal e com grande sentido de responsabilidade". "O importante é que as escolas estão a realizar o seu papel num processo de mudança do ensino que é exigente para todos os agentes de ensino", declarou, manifestando-se convicta de que "essas escolas inspirarão as outras para que também adoptem as boas práticas".
Comentário:
A ME tem alguma razão ao referir que os sindicatos assinaram e concordaramcom o memorando de entendimento! Neste caso, desculpa-se coma culpa dos outros!
No entant,já não é infantil o avolumar de pedidos de suspensão e de tomadas de posição contrao modelo de avaliação. É de realçar que estas posiçõessão tomadas e assumidas pelos docentes no seu local de trabalho e nos órgãos que representam. Têm, assim,toda a legitimidade e não se assumem como qualquer birra infantil! Talvez esta seja a atitude da ME perante as posições (oposições) que vão sendo assumidas em diversas escolas. Haja paciência...

“Escolas não podem simplificar avaliação”


João Dias da Silva, da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação, fala ao CM sobre a avaliação ao desempenho dos professores.
CM – Como vê a criação de equipas de apoio à avaliação de desempenho dos professores?
João Dias da Silva – O Ministério da Educação (ME) está a reconhecer que a avaliação foi lançada fora de tempo e que às escolas não foram transmitidas informações suficientes. Soubemos da criação das equipas pelos media e temos indicações preocupantes de que estariam munidas de orientações no sentido do aligeiramento de procedimentos, que a lei não prevê.
– Em declarações ao CM, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues disse mesmo que as escolas têm autonomia para abolir procedimentos inúteis.
– Não percebo com que base a ministra diz isso. Não basta invocar a autonomia das escolas. As escolas cumprem as orientações que constam dos diplomas legais que o ME lhes faz chegar. Não tenho conhecimento de que haja um diploma que diga que as escolas podem aligeirar o processo e se isso não existe as escolas não o podem fazer, sob pena de procedimento disciplinar.
– Há muitas escolas a aprovar moções pela suspensão da avaliação. A FNE encoraja este movimento?
– Não. Mas temos consciência de que os professores estão afogados em trabalho e a exceder o horário por causa de um sem-número de reuniões e preenchimento de papéis ligados ao processo de avaliação.
– Mas as escolas têm de fazer a avaliação ou poderão ser alvo de procedimento disciplinar...
– Por enquanto não incorrem nesse perigo. Não há uma ameaça de não realizar o que a lei impõe mas apenas uma chamada de atenção.
– Preocupa-o que, com duas manifestações, fique a ideia de que os docentes estão divididos?
– Preocupa-me que não se aproveite uma grande demonstração de unidade. Mas devido ao calendário de negociação com o ME do diploma dos concursos, o dia 8 era inultrapassável.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Bloco acusa Governo de instalar “pandemónio” com avaliação docente

O Bloco de Esquerda (BE) voltou hoje a exigir a imediata suspensão do processo de avaliação dos professores, acusando o Governo de estar a criar uma "campanha de desinformação" sobre a matéria, instalando o "pandemónio".
Em conferência de imprensa no Parlamento, a deputada do BE Cecília Honório denunciou o mais recente episódio da "campanha de desinformação" sobre o processo de avaliação dos professores: uma circular enviada a todas as escolas a informar da dispensa da obrigatoriedade de publicar a delegação de competências em Diário da República.
"De acordo com esta circular, o Governo indica que incluiu no Orçamento de Estado para 2009 uma alteração ao decreto que regulamenta a avaliação dos professores, dispensado as escolas da obrigatoriedade de publicar a delegação de competências em Diário da República", explicou Cecília Honório. Contudo, de acordo com a deputada do BE, este documento é uma "mistificação legal", já que pretende que as escolas assumam os efeitos legais de uma proposta encavalitada num orçamento que não foi aprovado e que só entrará em vigor em Janeiro de 2009".
"Num autêntico passo de mágica, o Governo assume os efeitos retroactivos de uma proposta de lei que não foi aprovada, não foi publicada e nada garante que, durante a discussão, se mantém inalterada", referiu, classificando a decisão do executivo como "uma acto de duvidosa legalidade". Por isso, acrescentou que "o Governo continua a legislar caso a caso, conforme os apetites".
Actos nulos
Para a deputada do BE, o objectivo do Governo é "claro", ou seja, "criar uma campanha de desinformação e intimidação sobre os docentes e as escolas que têm sido unânimes nas críticas ao processo de avaliação, coagindo as escolas a funcionar contra a lei". "O pandemónio está instalado", sublinhou a deputada do BE, explicando que se as escolas não publicarem em Diário da República a delegação de competências estão a incorrer em actos nulos.
Por isso, continuou Cecília Honório, considerando o clima de instabilidade que envolve todo o processo de avaliação dos professores, com um ministério que "faz e desfaz decisões", "a falta de credibilidade, o caos da burocracia e da desinformação", o BE defende a "imediata suspensão do processo de avaliação". Contudo, frisou a deputada do BE, isto não quer dizer que o seu partido não concorde com a necessidade de avaliar os professores, pois "a avaliação é uma exigência de serviços públicos que prestam contas ao país".
Porém, é necessário "uma avaliação séria", salientou. "O BE defende um modelo faseado de avaliação, apostando na urgência da avaliação externa das escolas, em consonância com uma avaliação interna sólida e abrindo condições para a definição de um modelo credível para a avaliação individual dos professores", referiu.

ATL não aceita criança deficiente

Ana Patrícia Barreira não aceita o facto de a filha Margarida, com seis anos e que sofre de Síndrome de Down (mais conhecido por Trissomia 21), não ter sido aceite este ano lectivo no centro de Actividades de Tempos Livres (ATL) da EB1/JI Quinta da Condessa (Pontinha, Odivelas).
Segundo Ana Patrícia, o ATL justifica que a criança não podia frequentar aquelas instalações porque "não tinham condições para cuidar" dela, devido à deficiência. Mas para a mãe de Margarida, trata-se de "pura discriminação" da parte da Associação de Pais e Encarregados de Educação.
Ana Patrícia, cozinheira, encontra-se em casa, sem trabalho, uma vez que não tem ninguém que "queira tomar conta da Margarida" e está a aguardar por uma decisão do ATL, que Margarida já frequentou no início deste ano.
Isidoro Roque, presidente da Associação de Pais, explicou ao CM que não se trata de qualquer discriminação contra a Margarida. O problema é que não há "pessoal especializado para tomar conta da criança nem a verba necessária para o contratar". O responsável referiu que se trata de uma "menina especial" e com antecedentes menos bons, uma vez que "no ano lectivo passado um aluno saiu porque a Margarida o mordia constantemente". Também a coordenadora pedagógica do ATL, Ana Rocha, apresenta a mesma justificação para que Margarida não tenha sido aceite este ano.
Comentário:
Não vou criticar a posição do ATL. Também não significa que concorde com ela!
Perante esta situação, penso que, quer os pais, quer os responsáveis do ATL devem fazer ouvir a sua voz e solicitar os recursos necessários para poderem acolher aquela criança dentro das condições adequadas e desejadas.
Claro que esta situação não é única nem exclusiva dos ATL. Basta uma deslocação às escolas para constatar a falta de recursos humanos e materiais! Trata-se da grande falácia da política educativa!

Solidariedade... e os nossos?!

Há quatro anos, o mar tirou-lhes tudo. Em poucos minutos perderam a família, os amigos e a casa onde viviam. Agora, dez crianças vítimas do tsunami estão em Portugal para receber apoio psicológico.
"O apoio psico-social está a decorrer desde Fevereiro de 2005. Nessa altura, os alunos tinham um olhar vazio e perdido. Estavam sedentos que alguém os ajudasse a gerir as emoções", recorda Susana Monteiro, psicóloga do Cefipsi.
Para motivar o interesse pelos estudos, os especialistas portugueses prometeram trazer a Portugal os alunos que mais se esforçassem. Esta semana, dez chegaram a Lisboa, para concluir a última fase da terapia.
Até ao final do mês, o grupo de jovens entre os 13 e os 17 anos vai percorrer o país, visitando praias e rios para perder o medo da água, um enorme desafio para quem ainda vê o mar como inimigo.
"É um 'programa de cura'. Algumas alunas perderam os pais, os irmãos, os amigos e os vizinhos. Perderam a sua casa e os seus pertences, mas agora estão bem. Nunca as vi tão felizes", congratula-se a professora Bonifelsia Reshendra, que acompanhou as estudantes na visita a Portugal.
Também a psicóloga vai notando nas crianças um "olhar brilhante e um sorriso cada vez mais presente". Mas Susana Monteiro não tem ilusões: sabe que percorreram um longo caminho, mas garante que ainda há muito a fazer até que consigam "reconciliar-se com a vida", o último e mais importante passo da terapia.
"Elas dizem que já se sentem bem, mas a ferida ainda está aberta. A nossa esperança é que no regresso ao Sri Lanka, após estas duas semanas, tenham só a cicatriz, que já não dói quando se toca", deseja a psicóloga.
Comentário:
Portugal sempre se assumiu como um país solidário, apesar da nossa reduzida dimensão e dos poucos recursos de que dispomos. Penso que é uma característica quase inata! Esta notícia é mais um exemplo dessa atitude altruista.
No entanto, somos solidários com as populações de outros países e esquecemos com facilidade os problemas dos nossos conterrâneos, os problemas que existem ao nosso lado. Esta notícia faz-me pensar nas nossas escolas, nos muitos alunos que, por inércia, falta de verbas, de coragem ou de sensibilidade, continuam sem qualquer tipo de apoio psicológico!
Lanço, com este post, um alerta no sentido da solidariedade começar a ser vivida interiormente, no país, para que, depois, todos, possamos colaborar e ser solidários com os restantes povos!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

112 para a Educação Nacional

Diariamente deparamo-nos com notícias de órgãos escolares e de colegas, individualmente, que vão sinalizando, identificando e pondo o dedo na ferida, colocando à luz do dia as fragiliades do regime de avaliação de desempenho. Perante estas situações, a ME propõe a criação de "bombeiros de serviço" para a avaliação de desempenho! Bravo!!
Tive o "privilégio" de frequentar a formação prevista para os membros das Comissões de Coordenação da Avaliação de Desempenho (CCAD) e... de nada serviu! Bem, estou a ser injusto!! Serviu para rever amigos, pôr a nu os efeitos nefastos da política educativa actual, sentir a solidária desmotivação (eufemismo!!) dos docentes... Quem serão os "bombeiros" de serviço que a ME vai nomear?! Os membros da CCAP têm vindo, lentamente, a pedir a demissão!
Já agora, para quando uma ligação do "112" para tentar salvar a EDUCAÇÃO nacional?!

A escola pública e o fordismo


A nova escola pública é hoje uma empresa gerida por muitos tecnocratas alinhados com a actual ordem política e equipada por operários que se desejam amanuenses servis e catequizados na alegada única ideologia vigente.
A escola pública morreu, enquanto espaço democrático multifacetado (e idealista) de instrução científica e artística e de formação cívica - já o proclamei aqui algumas vezes. Foi abruptamente estilhaçada pelo maremoto das desconexas e demagógicas ordenações socratistas de 2008: novo estatuto do aluno, nova lei sobre o ensino especial, novo regulamento de avaliação de desempenho docente e novo modelo de gestão escolar. Foi desacreditada pela propaganda do Ministério e da ministra que a tutelam e caiu em desgraça junto da opinião pública. Foi tomada por demasiados candidatos a futuros directores escolares embevecidos pelos decálogos de José Sócrates e inebriados pelas cartilhas sobre as dinâmicas de gestão empresarial no mundo neoliberal - afinal, as mesmas cartilhas que agora puseram o mundo à beira do caos. Foi pervertida pela imposição, por parte do Ministério da Educação, de um sistema burocrático kafkiano que visa obrigar os professores a fabricarem um sucesso educativo ilusório. Foi adulterada por alguns professores pragmáticos ou desprovidos de consciência crítica, os quais exibem a sua diligente e refinada burocracia como arma de arremesso para camuflar as suas limitações científicas, pedagógicas e culturais. E, neste momento, quando estão a constituir-se nas escolas os conselhos gerais transitórios, está a ser vítima de um já previsível mas intolerável processo de politização (no sentido mais pejorativo da palavra). Tal processo é dirigido por forças que em muitos casos se mantiveram durante anos alheados dos grandes problemas das escolas, mas que na actual conjuntura encaram estas instituições (outrora) educativas como tribunas privilegiadas para servirem maquiavélicos interesses de poder pessoal e/ou de carácter político-partidário.
A nova escola pública que está a emergir é uma farsa. Tornou-se um território deveras movediço, onde reina uma desmedida conflitualidade (e competitividade) social e política e uma grotesca e insuperável contradição entre os conceitos de "escola inclusiva" e de "pedagogia diferenciada". Nesta instituição naufragaram, entretanto, num conspurcado lamaçal, os nobres ideais instrutivos e formativos. O prodigioso computador portátil "Magalhães", ofertado em grande escala, numa operação de marketing à americana, a alunos do 1.º ciclo que cada vez sabem menos de Português ou Matemática e utilizam os computadores somente para simples divertimento, é, de resto, o mais recente exemplo do sentido irreal e burlesco das prioridades deste sistema educativo.
A nova escola pública é hoje uma empresa gerida por muitos tecnocratas alinhados com a actual ordem política, e equipada por operários que se desejam amanuenses servis e catequizados na alegada única ideologia vigente (a qual - agora já todos o sabemos - se encontra manifestamente em crise de final de ciclo). A verdadeira função desta espécie de mal engendrada e desalmada linha de montagem é produzir, automaticamente, em massa, de forma acelerada, e a baixos custos, duvidosos produtos estandardizados. Esta nova escola é, afinal, um hino ao velho fordismo. O tal sistema aplicado por Henry Ford em 1908 que venerou o dinheiro como deus supremo do Homo sapiens sapiens e que projectou um mundo sublime, onde o Homem é castrado da sua capacidade cognitiva e coagido a demitir-se das suas quotidianas obrigações familiares bem como de outros cívicos desígnios sociais em nome do lucro desenfreado (de uns poucos), da sobrevivência, do consumismo e do hedonismo desregrados. Aquele sistema perfeito superiormente ironizado por Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo) ou por Charlie Chaplin (Tempos Modernos), nos anos 30 do século XX, que está agora no epicentro de mais um superlativo "tsunami" económico e financeiro de consequências imprevisíveis para a humanidade; "tsunami" esse cujas causas são reincidentes e estão bem diagnosticadas. Enfim, aquele implacável sistema materialista mecanicista e "darwinista", que hoje transcende o sector secundário para atingir muitos serviços do sector terciário, e cujo modo de vida o escritor americano de ascendência portuguesa John dos Passos também satirizou, numa obra datada dos mesmos anos 30 (O Grande Capital), com estas antológicas palavras: "quinze minutos para almoçar, três para ir à casa de banho; por toda a parte a aceleração taylorizada: baixar, ajustar o berbequim, acertar a porca, apertar o parafuso. Baixar-ajustar o berbequim-acertar a porca-apertar o parafuso.
Baixarajustaroberbequimacertaraporcaapertaroparafuso, até que a última parcela de vida tenha sido aspirada pela produção e que os operários voltem à noite a casa, trémulos, lívidos e completamente extenuados".
"Porreiro pá!" Mas, pá, será esta a escola e o mundo que nós desejamos para os nossos alunos, para os nossos filhos?
Luís Filipe Torgal

Mão biónica implantada em pasteleiro amputado


A primeira mão biónica colocada num português já serviu ontem para pegar num copo de água, perante a "surpresa" e "mistura de sentimentos" descritos por João Carlos Pereira, de 32 anos, após uma intervenção que levou cerca de cinco horas, realizada no Centro de Reabilitação Profissional de Gaia (CRPG).

"Espectacular. É algo que não sonhava poder fazer há alguns anos", confessou ao DN, já de regresso a casa, em Arcos de Valdevez, onde lhe esperam algumas semanas de adaptação à nova mão esquerda. "Vamos ver como é que o corpo vai reagir, mas estou muito optimista. Já hoje consegui fazer coisas que não pensava poder fazer." Para além de escrever num computador ou mandar mensagens, João Pereira experimentou pegar num copo de água. "Com a prótese que tinha esmagava o copo. Com a mão biónica há outra sensibilidade e foi quase perfeito", explicou.

Pasteleiro de profissão, João Pereira, amputado da mão esquerda, tornou-se ontem no primeiro português com uma mão biónica, ou seja, uma mão eléctrica que lhe permitirá realizar movimentos com todos os dedos. "Tenho pela frente um período de adaptação e de muito treino. Tenho que apreender de novo a mexer com a mão", explicou o pasteleiro, que perdeu a mão esquerda e o polegar da direita quando tinha sete anos, num acidente com um foguete, nas festas de Prozelo, Arcos de Valdevez.

Entre as novas "rotineiras" tarefas ao seu alcance, João Pereira sublinha a capacidade para utilizar talheres e atar os cordões dos sapatos, como aquelas que "por parecerem pormenor" mais significado terão na sua nova vida. "Vou continuar a ter algumas limitações, mas tudo será diferente a partir de agora", afirma.

O CRPG foi responsável por todo o processo técnico, que envolveu treino e adaptações, até que ontem culminou com a colocação da mão biónica. Foram ainda necessários exames para testar os tendões, tirar as medidas e fazer o gesso. Até que, por fim, os encaixes "batiam certo".

Emília Mendes, técnica de reabilitação do centro de Gaia, explicou que a mão biónica entregue a João Pereira, distingue-se das restantes próteses eléctricas convencionais por permitir "o movimento harmonioso de todos os dedos da mão e a rotação do polegar". Foi desenvolvida por um grupo de investigadores escoceses, sendo composta por cinco motores independentes -um por cada dedo da mão. Segundo Emília Mendes, cada dedo pode suportar até oito quilos e a mão permite dobrar, tocar, apanhar e apontar, aproximando-se dos movimentos da mão humana.

Preencher avaliação tira tempo aos alunos

O Agrupamento de Escolas de Vila Nova de Poiares pediu ao Ministério da Educação a suspensão do processo de avaliação de desempenho. Segundo o Conselho Executivo, o modelo é "inexequível" e os professores estão "sem tempo" para os alunos.
Numa carta enviada à ministra da Educação, a que a Lusa teve acesso, 116 dos 130 professores daquela escola pedem a "revogação imediata" do despacho que institui a avaliação de desempenho e de toda a legislação "conexa".
Os docentes consideram que a aplicação do modelo é "inexequível, por ser inviável praticá-lo segundo critérios de rigor, imparcialidade e justiça" e que "não contribui nem para o sucesso dos alunos, nem para a qualidade do trabalho pedagógico que os professores pretendem".
"Assenta numa perspectiva desmesuradamente burocrática, quantitativa e redutora da verdadeira avaliação de desempenho dos docentes. Pela sua absurda complexidade, não é aceite pela maioria dos professores deste país, não se traduzindo, por isso mesmo, em qualquer mais-valia pessoal e/ou profissional", lê-se na missiva.
Em declarações à agência Lusa, a presidente do Conselho Executivo afirma que os professores já andam "deprimidos, extremamente cansados e desmotivados", garantindo que o tempo disponível para os alunos "é diminuto".
"Se esta burocracia traduzisse no final um benefício para a educação fazíamos um sacrifício ainda maior. Mas pensamos que o que se passa é o contrário. Isto é acabar com o ensino porque os professores estão sem tempo para os alunos", garantiu Maria Eduarda Carvalho.
Segundo a responsável, os problemas começam logo com a divisão da carreira em duas categorias: professor e professor titular. Naquele agrupamento de escolas, os professores titulares do departamento de Matemática, avaliadores, são todos docentes da disciplina.
"Como podem avaliar um professor de Física, Química ou Informática quando cientificamente não tem nada a ver. Com a delegação de competências tenho professores de educação visual a avaliar professores de educação física", crítica a docente.
Maria Eduarda Carvalho acrescenta que a "grande maioria" dos docentes do agrupamento trabalha "muito mais" do que as 35 horas semanais e que alguns já estão a pensar abandonar a profissão.
"Este ano já se reformaram dois professores e outros dois estão a pensar pedir a reforma para o ano, ainda que com penalizações. O que me vale é que tenho um corpo docente jovem e sem tempo de serviço para o poder fazer", diz.
A presidente do Conselho Executivo sublinha ainda que a avaliação vai interferir com o "futuro e as vidas" dos professores, já que a classificação final influenciará o concurso de 2009, que vai ditar as colocações para os quatro anos seguintes.
"Não pode ser com uma avaliação leviana como esta", criticou a responsável, afirmando que, no seu caso, não se sente "preparada" nem "formada" para avaliar um docente de educação física, por exemplo: "Não sei avaliar se ele está a preparar bem as aulas".
Sublinhando que "os objectivos individuais e colectivos dos professores do agrupamento são ensinar os alunos e prepará-los para uma sólida construção de um projectos de vida", o conselho pedagógico aprovou no final de Setembro um outro documento, onde manifesta "repúdio" e "oposição" ao modelo do Ministério da Educação.
"A existência e o uso destes instrumentos de avaliação, ou de quaisquer outros baseados na mesma legislação, merecem o nosso repúdio e a nossa total oposição por serem não só inadequados como prejudiciais à nossa função de professores", lê-se numa declaração, igualmente enviada a Maria de Lurdes Rodrigues.
Segundo o Conselho Pedagógico, o Ministério da Educação, com as suas reformas, conseguiu "um efeito verdadeiramente subversivo". "Subverteu a essência do trabalho dos professores: em vez de estar a ser orientado para resolver os problemas dos alunos, ele centra-se, agora, nos problemas profissionais dos professores".
"Esperamos que este esforço não seja em vão e que, pelo menos, possa levar, no final deste ano lectivo, à revisão e alteração deste monstro aterrador que nascido do casamento entre a injustiça e o disparate só pode parir injustiças e disparates", lê-se.
Contactado pela Lusa, o assessor de imprensa do Ministério da Educação sublinhou que o Conselho Pedagógico aprovou os instrumentos de registo e que a avaliação "não está parada" no estabelecimento de ensino.

ME cria ‘bombeiros’ do modelo de avaliação

O Ministério da Educação (ME) decidiu avançar para a constituição de equipas de apoio à avaliação dos professores. Trata-se de uma espécie de ‘bombeiros’ da avaliação de desempenho, que terão como missão apoiar escolas onde as coisas estão atrasadas, alegadamente devido ao excesso de burocracia.
A novidade foi anunciada aos sindicatos na comissão paritária de acompanhamento da avaliação e confirmada ontem ao Correio da Manhã pela ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que rejeita, contudo, a ideia de que este grupo servirá para ‘apagar fogos’. "Criámos um grupo de peritos para assessoria às escolas, à semelhança do que sucede com todas as medidas do Ministério em que há sempre um modelo de acompanhamento e de avaliação", explicou.
Quanto à burocracia inerente ao modelo, a ministra diz que as escolas podem evitá-la. "Se há procedimentos inúteis têm de ser abolidos; as escolas têm autonomia para isso. O trabalho nas escolas tem de ter sentido. Os professores são um grupo qualificado e devem organizar o seu trabalho menos burocraticamente."
As dificuldades na aplicação deste modelo têm levado diversas escolas a aprovar moções no sentido de suspender o processo de avaliação. Foi o que sucedeu em agrupamentos de escolas de Ourique, Vouzela, Ovar, Armação de Pêra, Vila Nova de Poiares, na D. João II (Setúbal) e Eugénio de Castro (Coimbra), por exemplo.

MINISTRA NÃO DEIXA CAIR MEDIDA POLÉMICA

A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, negou ontem ter admitido deixar cair um dos aspectos mais polémicos do modelo de avaliação de desempenho: as notas dos alunos contarem para a avaliação dos professores. "Não é verdade que eu tenha admitido isso. As coisas estão em vigor e têm de ser cumpridas", garantiu ao CM. Segundo informações que circulavam ontem em blogues ligados à Educação, a ministra teria admitido isso sexta-feira, numa reunião com os membros das novas equipas de apoio à avaliação. As informações apontavam ainda no sentido de que Maria de Lurdes Rodrigues estaria disponível para aceitar alterações ao processo de avaliação de desempenho, para o simplificar. "Isso também não é verdade. A reunião foi normal, muito semelhante a outras em que foram discutidos vários aspectos e em que combinámos o trabalho. Os modelos teoricamente são todos bons, mas têm de ser concretizados.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Matias Alves diz que Conselho de Avaliação de professores «corre risco de ser inútil»

José Matias Alves pediu a demissão do Conselho Científico de Avaliação de Professores (CCAP), no dia 1 de Setembro, mas garante que não saiu daquele órgão do Ministério da Educação por se sentir pressionado.
Matias Alves desmente mesmo as notícias que justificavam o seu afastamento do CCAP com uma tentativa por parte de Maria de Lurdes Rodrigues de silenciar uma voz crítica no seio de um organismo que foi constituído para acompanhar o processo de avaliação de desempenho dos docentes.
«Enquanto membro do órgão citado nunca me senti obrigado nem violentado nas posições que assumi» , escreve, esta segunda-feira, no seu blogue.
O professor frisa ainda que «enquanto órgão, o CCAP nunca teve qualquer interferência do poder político» e esclarece que o facto de ter deixado de exercer a função de titular - cargo que tinha «legitimado» a sua nomeação – explica a sua saída.
Ainda assim, José Matias Alves está preocupado com a relevância do Conselho Científico de Avaliação, afirmando temer que aquele órgão se torne inútil.
«Expresso, no entanto, a convicção que o pensamento e acção do CCAP, expressas nas suas recomendações, não tiveram o impacto e a influência que a meu ver deveriam ter» , escreve também o professor, criticando o pouco eco que o Conselho tem tido junto do Ministério da Educação.
Recorde-se que a presidente do CCAP, Conceição Castro Ramos, pediu a reforma aos 60 anos, não tendo esperado pelo final do ano lectivo para abandonar o cargo que ocupava no órgão criado por Maria de Lurdes Rodrigues há seis meses.

Sindicato de Professores da Região Centro alerta que milhares de alunos do ensino especial ficaram sem apoio

O Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC) alertou hoje que alterações introduzidas pelo Governo na área da educação especial deixaram este ano lectivo "milhares de alunos" sem apoio.
Segundo Mário Nogueira, coordenador do SPRC e secretário-geral da Fenprof, um estudo elaborado nos seis distritos da região Centro - Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu - que abrangeu um terço das escolas, conclui que 39 por cento dos alunos (perto de 900) com necessidades educativas especiais foram excluídos da educação especial.
O sindicalista referiu que o levantamento foi realizado "só nas escolas da área da Direcção Regional de Educação do Centro" e que Coimbra é o distrito "onde se apresenta uma maior percentagem de cortes nos apoios alunos", com 57 por cento. Mário Nogueira salientou, em conferência de imprensa, que "o corte" nos apoios aos alunos com necessidades educativas especiais ficou a dever-se à alteração da legislação que "veio restringir o conceito de necessidades educativas especiais".
O responsável denunciou que o processo "de exclusão de milhares de alunos das medidas de apoio especializado" foi feito "de forma desumana, pela aplicação à avaliação das necessidades educativas especiais de uma Classificação Internacional de Funcionalidade e Saúde, da área da saúde, que não serve para avaliar necessidades educativas".
O sindicalista também referiu que o Ministério da Educação "fracassou na montagem de uma rede de unidades segregadas" destinadas a alunos com determinadas categorias de deficiência, situação que, em alguns casos, obriga a que as crianças percorram diariamente "entre 50 a 100 quilómetros". O SPRC irá realizar "um trabalho aprofundado de pesquisa sobre o funcionamento destas unidades, no qual se darão a conhecer os desequilíbrios gerados por esta rede e o seu carácter profundamente anti-inclusivo", anunciou Mário Nogueira.

domingo, 19 de outubro de 2008

Dores nas costas são a segunda causa das visitas ao médico


No âmbito do Dia Mundial da Coluna, que se celebrou ontem pela primeira vez em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna (SPPCV), a Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT) e a Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia, alertam para as principais doenças que afectam a coluna, e para as formas de prevenção e tratamento existentes para as diferentes patologias.
De acordo com o Dr. Nuno Reis, presidente da Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia, “as doenças degenerativas da coluna representam mais de 50 por cento das causas de incapacidade física em idade laboral e são uma das principais causas de ausência no trabalho em todo o mundo.”
Por outro lado, o Dr. José Carlos Vilarinho, presidente da secção Coluna da SPOT, refere também que “em Portugal, 70 a 80 por cento da população acaba por recorrer ao médico nalgum período da sua vida por queixas dolorosas ao nível da coluna. A patologia degenerativa da coluna é a primeira causa de baixa laboral e de incapacidade transitória e permanente para o trabalho.”
As dores nas costas são a segunda causa, em números globais, em Portugal, das visitas ao médico. Tanto homens como mulheres sofrem de dores nas costas e geralmente a dor ocorre entre os 25 e os 60 anos. Contudo, aproximadamente 12 por cento a 26 por cento das crianças e adolescentes também sofrem de dores nas costas (apesar de pouco intensas).

sábado, 18 de outubro de 2008

Ministério quer centralizar avaliação dos professores

A Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação disponibilizou no princípio deste ano lectivo, na sua página da Internet, um recurso informático para os professores colocarem os objectivos individuais para o primeiro período. Aquilo que o Ministério da Educação define como um instrumento para facilitar a comunicação entre avaliador e avaliado, é visto pelos sindicatos como uma perigosa centralização de informação e um controlo da avaliação do desempenho por parte da tutela.
O memorando de entendimento assinado entre o Ministério e a Plataforma sindical indica que "objectivos individuais são fixados, por acordo entre o avaliado e os avaliadores, através da apresentação de uma proposta do avaliado no início do período em avaliação". Processo que, para o presidente do Sindicato Nacional e Democrático dos Professores, tem de ser feito directamente, cara-a-cara. "O que o Ministério propõe é um controlo completo, uma forma de vigilância, que vai contra a autonomia das escolas", considera Carlos Chagas.
O dirigente da Plataforma sindical alerta para os perigos da existência de um registo central dos objectivos enviados pelos professores de todas as escolas públicas do País, abrangidas pela DGREH. "Isto implica que a tutela pode controlar os procedimentos e, em última instância, pode mesmo determinar o processo de avaliação". Por estas razões, "e porque esta medida foi implementada à revelia do protocolo de entendimento assinado entre a Plataforma e o Ministério da Educação e da própria lei", os sindicatos vão denunciar e tentar alterar a situação. O DN tentou obter junto do Ministério da Educação um comentário a estas acusações, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.
Esta é apenas uma das irregularidades apontadas à DGREH no arranque do novo ano lectivo. O secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, defende que os serviços de recursos humanos do Ministério estão a transmitir orientações ilegais em relação aos horários dos professores. "Na elaboração dos horários dos docentes, nunca o conjunto das três componentes - a lectiva, a não lectiva e a de trabalho individual - poderá ultrapassar as 35 horas semanais. A legislação indica que o horário dos professores deve prever reuniões ocasionais, mas uma indicação da DGRHE aponta para a inclusão das reuniões sistemáticas nos horários dos professores".
O excesso de horas de trabalho é aliás uma critica comum a todos os sindicatos que compõem a Plataforma. João Dias da Silva, da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação, lembra que os professores devem cumprir um máximo de 35 horas semanais. E que muitos estão hoje a cumprir mais de 40.
Quanto a irregularidades no processo de avaliação, Mário Nogueira conta o caso de uma escolas onde as fichas prevêem a obtenção de fundos para desenvolvimento de projectos como critério a ter em conta. Ou seja, "os professores têm de angariar fundos para efeitos da sua avaliação".

"Docentes estão a dizer à ministra que modelo não é exequível"

Os conselhos pedagógicos das escolas Alice Gouveia, de Coimbra, e Jaime Magalhães, de Aveiro aprovaram documentos que pedem a suspenção do processo de avaliação e desempenho dos professores.
A excessiva carga burocrática, a ausência de formação para preenchimento da ficha de objectivos individuais ou a publicação obrigatória dos despachos de delegação de competências dos professores avaliadores são motivos invocados para a tomadas de posição. São apenas dois exemplos. Aos sindicatos chega diariamente o conhecimento de mais situações.
"No Barreiro, por exemplo, há escolas onde a quase totalidade dos professores subscreveram esses pedidos. O movimento está a crescer", descreve Carlos Chagas. O líder do Fenei/Sindep considera que a ministra da Educação só terá duas opções, na reunião entre Sindicatos, ME e Conselho Científico para a Avaliação, no final do 1º período: "ou suspende ou arranja novo regime simplificado, o que provará a falência do modelo". Para o líder da Fenprof, Mário Nogueira, "os docentes, no terreno, estão a dizer à ministra que o modelo não é exequível".
"Como é possível um professor, com cinco turmas, ter de fazer só para o processo de avaliação 758 páginas de relatórios, 1456 fotocópias para o portfólio e 91 reuniões, além das orbigatórias com os encarregados de educação?", insiste Carlos Chagas.
A Associação Nacional de Professores também elogia as tomadas de posição das escolas. "De pouco servem as manifestações se nos lugares próprios os docentes não forem consequentes", defendeu João Grancho.

Cresce a suspensão da avaliação dos professores

Proposta de Orçamento de Estado dispensa publicação, em Diário da República, dos despachos de delegação de competências.
"A cada dia que passa", aumenta o número de conselhos pedagógicos que aprovam a suspensão da avaliação docente. As escolas invocam um trâmite legal que a proposta de Orçamento de Estado apaga com efeitos retroactivos.
O artigo 138º da proposta de Orçamento de Estado para 2009 altera o decreto que regula o modelo de avaliação dos professores: anula a obrigatoriedade, imposta pelo Código de Procedimento Administrativo, de publicação em Diário da República dos despachos de delegações de competências feitos por professores avaliadores. Mais. Essa alteração terá efeitos retroactivos até à data de publicação do decreto - 10 de Janeiro de 2008.
A Direcção-Geral de Recursos Humanos da Educação (DGRHE) avisou anteontem - através de informação publicada no seu endereço electrónico - que em vez da publicação os despachos passarão a ser afixados nas escolas.
"É o exemplo de uma situação em que a DGRHE está à frente da lei", comentou ao JN a dirigente da FNE, Lucinda Manuela. Na terça-feira, na reunião com a Fenprof, a ministra da Educação terá avisado a Federação que a mudança constaria da proposta de OE. A obrigatoriedade de publicação dos despachos é um dos fundamentos mais invocados pelas escolas para pedirem a suspensão do processo de avaliação (ler texto em baixo).
Na comunicação divulgada pela DGRHE lê-se a justificação da tutela para abrir uma excepção ao Código Administrativo: "agilizar os procedimentos" e "evitar os impactes nos orçamentos das escolas" - é que a publicação em D.R. tem um custo.
Os sindicatos sublinham que a alteração à lei, que pode acabar com o "movimento de contestação que tem alastrado pelas escolas", não passa de uma proposta. "Não tem eficácia até ser lei. Os deputados podem retirar esse artigo ou a retroactividade", defendeu ao JN Mário Nogueira. Para o líder da Fenprof o ME está a criar mais uma situação complicada: "está a legalizar actos" praticados ilegalmente e que poderão, por isso, "ser impugnados pelos avaliados enquanto a lei não for publicada". Carlos Chagas também garante que o Fenei/Sindep estará "atento" à aprovação da lei - "se a Oposição não conseguir mudar a proposta poderemos ter de recorrer aos tribunais; é que quando se delega transfere-se responsabilidade civil, ética e criminal se houver dolo no exercício das competências delegadas".

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

«Combate à pobreza faz-se através da Educação»

O Presidente da República sublinhou que a pobreza se combate através da Educação e da aquisição de competências.
Cavaco Silva frisou que é no terceiro ano do ensino básico que tem sido mais difícil consolidar a tendência de diminuição das retenções, sendo importante que as crianças completem a escola primária e que vão para o secundário.
O risco de pobreza é particularmente elevado nos jovens com menos de 18 anos.
O chefe de Estado elogiou ainda a Associação de Empresários pela Inclusão, um grupo liderado pelo presidente do banco privado português, João Rendeiro, e criado há dois anos na sequência de um apelo feito por Cavaco Silva para que a sociedade se unisse a favor da inclusão social.

"É muito importante que na escola se fale destes assuntos"

"Este é um caso exemplar". Ana Vasconcelos, pedopsiquiatra, admite que casos como a da "Ana" "acontecem muitas vezes" e elogia a atitude da professora, que "esteve atenta aos sinais e soube conversar".
"É muito importante que na escola se fale destes assuntos e que haja professores preparados para dar respostas adequadas aos casos", frisa a pedopsiquiatra.
Ana Vasconcelos fala na atenção que se deve dar a alguns sinais, porque eles, "sem dúvida, existem".
O défice de concentração, as baixas notas, a irritabilidade, a tristeza ou, em alguns casos, a procura de uma atenção são sinais que devem ser tidos em conta. "A timidez, o fazer chichi ou cócó na cama, são outros sinais de que algo de anormal se passa", refere a pedopsiquiatra, admitindo que alguns comportamentos "se confundem com a própria degradação da família".
Não é por isso de estranhar que em muitas famílias os casos de abusos não sejam notados. A pedopsiquiatra lembra que há situações em que esses abusos "são assumidamente ignorados pelos pais", e fala mesmo numa "perversidade sexual que paira dentro de algumas famílias".
"Há famílias em que os abusos são histórias que pairam no ar. Alguns já terão sido abusados e persistem em calar o segredo", sustenta a médica, adiantando que nessa situação, "quando há quem denuncie os abusos existe uma desculpabilização, uma necessidade de silenciar". E é quando as famílias não denotam os sinais que as escolas surgem como tábua de salvação de muitos menores abusados sexualmente.

Aluna denuncia violador ao ver filme na escola

A exibição do filme "O crime do padre Amaro" motivou a confissão. "Ana" (nome fictício), contou à professora que há muitos anos era abusada sexualmente por um familiar. O homem foi detido pela PJ e está em prisão preventiva.
Era ainda uma criança quando começou a ser abusada. O homem, seu familiar próximo, é emigrante na Alemanha e quando regressava de férias à terra natal encontrava-se com a menina.
"Ana" não se terá apercebido muito bem o que lhe estava acontecer. À medida que foi crescendo ter-se-á interrogado sobre a situação e achou mesmo que não era normal. Um dia, encheu-se de coragem e contou aos pais. Ninguém acreditou na história e o assunto "morreu" em casa.
Há poucos dias, numa aula de "Educação Cívica", disciplina dedicada à discussão de problemas actuais dos jovens, a professora, que é também directora de turma, passou o filme "O crime do padre Amaro". A ideia era falar sobre abusos. A cena de violação de uma jovem, protagonizada por Soraia Chaves e Nuno Melo foi mais do que o que Ana conseguiu suportar. Finalmente, terá tomado consciência dos abusos que sofria há anos e desatou num pranto em plena sala de aula.
"A jovem percebeu que o que lhe estava a acontecer não era normal e decidiu contar à professora o que se estava a passar", disse, ao JN, fonte policial, revelando que a menina "estava com medo que o abuso voltasse a acontecer, uma vez que o familiar se encontrava de férias em Portugal". A professora ouviu a história de "Ana" e alertou a Polícia.
O homem, de 43 anos, foi detido pelos inspectores da Polícia Judiciária de Leiria e acabou por confessar "os abusos sexuais sobre a vítima, desde a sua tenra idade". (...)
"Ana" continua na escola e recebe apoio psicológico. Apenas a professora sabe do caso. A família, com alguns problemas sociais, está incrédula e tenta perceber ainda como tudo aconteceu.

Crianças com doenças alimentares discriminadas nas cantinas escolares

Muitas escolas recusam preparar ementas alternativas a alunos com doenças alimentares, privando-os de almoçar com os colegas na cantina, enquanto outras aceitam fazer dietas especiais, mas com erros de confecção que põem em risco a saúde das crianças. (...)
"Cada cidadão que necessita de uma refeição com regras especiais deve ter direito a ela, mas ainda é frequente recusar esse direito a algumas crianças, que se vêem obrigadas a regressar a casa para o almoço, ou, pior ainda, que recebem refeições com erros grosseiros na confecção", critica Jorge Amil Dias, especialista em gastrenterologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria.
De acordo com o Ministério da Educação, a legislação prevê que os estabelecimentos de ensino forneçam dietas próprias a alunos com restrições alimentares medicamente comprovadas, mas o próprio secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, admite que algumas escolas não estejam a cumprir.
"As escolas têm obrigação de providenciar as condições para que a criança ou o jovem tenha essa alimentação [alternativa]. Mas admito que nem todas as escolas no país tenham condições para o fazer", afirmou o responsável, em declarações à agência Lusa.
Nesses casos, acrescentou, o problema deve ser reportado ao Ministério da Educação, para que a tutela possa actuar e resolver o problema.
Segundo o especialista da Sociedade Portuguesa de Pediatria, as maiores dificuldades residem, muitas vezes, na falta de formação, sendo "numerosas as situações que necessitam de conhecimentos específicos por parte dos profissionais responsáveis e operacionais nas cantinas escolares".
Em declarações à Lusa, Jorge Amil Dias aponta o caso das crianças com doença celíaca, que não podem ingerir glúten, uma proteína presente no trigo, centeio, cevada e aveia, sob pena de provocarem lesões potencialmente graves no intestino e noutros órgãos.
Para que estas crianças possam "ter uma vida inteiramente normal, sem se sentirem discriminadas", o especialista defende que as cantinas têm de preparar refeições sem glúten, salientando que "não é aceitável, nestes casos, ir ao bife panado e raspar a camada de pão ralado, pois a contaminação continua a ser enorme".
"O Ministério da Educação, as associações profissionais de restauração e os sindicatos do sector devem tomar medidas para proporcionar a necessária formação aos profissionais", sublinha.
Cristina Nobre, mãe de uma criança com doença celíaca, conhece bem o problema: os técnicos do infantário onde a filha andou garantiam-lhe que preparavam uma dieta alternativa, mas as análises clínicas feitas regularmente vieram a comprovar que a menina continuava a ingerir glúten.
"Como não era em casa, obviamente só podia ser na escola. Tive de a mudar por causa disso e até fiz uma reclamação, mas nunca me deram resposta", relata.
Actualmente, a filha Melissa frequenta uma escola do primeiro ciclo onde a empresa de catering que fornece as refeições lhe proporciona uma ementa especial, mas tudo vai mudar quando passar para o 2º e 3º ciclos, já que o estabelecimento de ensino da sua zona de residência recusa preparar dietas alternativas, à semelhança de muitos outros em todo o país.
"Vai ser um enorme transtorno para mim e uma situação muito complicada para a minha filha. Tenho medo que os colegas gozem com ela, se tiver de levar uma marmita para a escola, já com 10 ou 11 anos. Bem basta ela ter a doença, quanto mais ser submetida a uma situação em que façam pouco dela por causa disso", explica Cristina Nobre.
Além da doença celíaca, que afecta cerca de um por cento da população, há muitas outras patologias que exigem uma dieta específica. Segundo a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), "estima-se que as alergias alimentares atinjam entre quatro e cinco por cento das crianças e as intolerâncias alimentares ainda mais do que isso".
"Nos casos mais graves, se as crianças ingerirem alimentos em relação aos quais têm alergia podem ocorrer choques anafilácticos que até podem ter desfechos fatais. É muito preocupante", explica o presidente da SPAIC, Mário Morais de Almeida.
Face aos riscos, o especialista salienta a necessidade de dar mais formação aos responsáveis dos refeitórios, até porque muitos alimentos "podem estar escondidos", como acontece, por exemplo, no caso de alguns sumos de fruta que contêm leite ou de comidas congeladas que têm lactose na sua confecção.
"Tem de haver maior competência entre os profissionais das empresas de catering e os técnicos que trabalham nas cantinas", alerta.