sexta-feira, 29 de março de 2013

Workshop ensina a criar ilustrações táteis

Mais uma vez, o Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria) vai investir na promoção da "cidadania consciente, plena e inclusiva", dedicando o próximo dia 6 de abril à realização de um workshop sobre ilustrações táteis no âmbito do 2º Ciclo de Workshops Inclusivos "Saber Mais".
O objetivo deste ciclo de workshops, uma ação promovida pelo IPL(+)INCLUSIVO, pretende, por via de exercícios práticos orientados por profissionais das diversas áreas abordadas, introduzir técnicas inclusivas de comunicação em diversos contextos, assim como promover a interação entre pessoas com e sem incapacidades específicas. 
O workshop "Criação de Ilustrações Táteis", que tem um custo de inscrição de 20€, vai decorrer na Escola Superior de Artes e Design (ESAD.CR) do IP Leiria entre as 9.30h e as 12.30h e será orientado pelo professor Nuno Fragata, mestre em Artes Plásticas e com formação em Design e em Tecnologias Gráficas.
Esta sessão de aprendizagem, que se destina a pessoas com ou sem incapacidades, irá dar aos participantes "as bases para a criação de ilustrações com recurso à aglomeração de materiais e para a impressão com técnicas da oficina de gravura para obter imagens táteis 'legíveis' para pessoas com cegueira ou baixa visão".
De acordo com Josélia Neves, mentora do projeto IPL(+)INCLUSIVO, "o objetivo principal destas ações é despertar nas pessoas em geral, e nos profissionais que atuam na definição de plataformas online em particular, a consciência e a sensibilidade de que é necessário criar materiais inclusivos".
Segundo a responsável, esta criação deve ter em conta "que há pessoas diferentes que também têm de ter acesso àquele suporte ou àquela informação", pelo que é importante dotar os cidadãos e profissionais "de ferramentas para pôr em prática essa mesma missão, neste caso desenvolvendo conteúdos que possam ser acedidos e entendidos por pessoas com dificuldades visuais".
O workshop é aberto a todos os interessados, quer sejam profissionais ou estudantes, com ou sem experiência no desenvolvimento de websites e a inscrição pode ser efetuada através DESTE link. 
Clique AQUI para conhecer o programa completo de workshops.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Uma possibilidade de formação escolar, profissional ou dupla certificação das pessoas com deficiência e incapacidade

A Portaria n.º 135-A/2013, hoje publicada, regula a criação e o regime de organização e funcionamento dos Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional (CQEP).

O CPEQ centra a sua atividade na informação, orientação e encaminhamento de jovens e de adultos que procurem uma formação escolar, profissional ou de dupla certificação e ou visem uma integração qualificada no mercado de emprego, no desenvolvimento de processos de reconhecimento, validação e certificação de competências (RVCC) e na resposta à necessidade de assegurar a integração na vida ativa e profissional das pessoas com deficiência e incapacidade.
A aplicação das normas previstas na portaria é efetuada, com as necessárias adaptações, aos jovens e adultos com deficiência e incapacidade, designadamente, quanto à elaboração do plano estratégico de intervenção, às matrizes e provas de certificação de competências e à definição do número de técnicos de ORVC que constituem a equipa, atendendo à integração de um técnico da área da reabilitação e da deficiência.
O modelo de apoio aos CQEP que incluam jovens ou adultos com deficiência e incapacidade é operacionalizado entre os organismos da área da solidariedade e da segurança social com atribuições na área da deficiência e reabilitação e a ANQEP, I.P. e consta de despacho do membro do governo com competência na área da solidariedade e da segurança social.
A entidade de referência para a área da deficiência e incapacidade é o Instituto Nacional para a Reabilitação, I. P.




quarta-feira, 27 de março de 2013

Código de símbolos nos exames ajuda alunos daltónicos

Os alunos daltónicos vão dispor de um novo sistema de identificação de cores, nas provas e exames em que a cor seja determinante para a compreensão do enunciado e resolução das questões apresentadas.
O acordo que permite a utilização deste instrumento, um código designado ColorADD, ficou hoje estabelecido entre o Ministério da Educação e Ciência (MEC) e a empresa que o desenvolveu.
No ano passado, foram requisitadas 135 provas específicas para alunos daltónicos, nas duas fases dos exames nacionais do Ensino Secundário, disse (...) fonte do MEC.
O código, que associa símbolos às cores, vai vigorar já este ano lectivo nas provas e exames, para melhorar as "condições de igualdade" dos alunos daltónicos, de acordo com o Ministério.
Para assegurar uma eficiente utilização deste recurso, foi concebido um plano nacional de acompanhamento às escolas, anunciou o MEC.
Segundo a informação hoje disponibilizada, existem 350 milhões de daltónicos, no mundo, dos quais 41,5 por cento sentem dificuldades ao nível da integração social.
Esta limitação afecta 10 por cento da população mundial masculina.
O projeto foi concebido pelo investigador Miguel Neiva, designer de formação, que entendeu que o seu trabalho não é só "fazer bonitos carros ou bonitas roupas".
Em 1999, decidiu desenvolver uma tese de mestrado na área do design inclusivo, contou à Lusa o autor do projecto, já a vigorar noutras áreas e que é disponibilizado sem custos para o Ministério da Educação.
Tornar o mundo "mais acessível, mais igualitário, melhor para todos" é uma das competências do design, para Miguel Neiva, que, entretanto, criou uma empresa com o mesmo nome.
"Decidi pegar em algo que descobri, na altura, que nunca ninguém tinha pegado", afirmou Miguel Neiva, que pretende ver este projeto exportado para o mundo pela AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.
O código será particularmente útil em provas com mapas, gráficos ou outras figuras coloridas.
Durante a investigação que fez com daltónicos de vários países, Miguel Neiva apercebeu-se de que "90 por cento da comunicação que é feita no mundo é através de cor".
A ideia foi criar um código universal, que pudesse ser entendido aqui ou na China, e transversal a variados sectores, daí o recurso a símbolos.
O daltonismo é uma limitação que impede a correta identificação das cores e afecta maioritariamente homens.
De acordo com o investigador, o código foi premiado a nível internacional e nacional, estando está já a ser utilizado em transportes (Metro do Porto), hospitais, museus, vestuário e em lápis.
"Já está [em uso] em mais de 40 âmbitos", revelou.
O protocolo para incluir este código nos exames foi assinado entre o Gabinete de Avaliação Educacional, a Direção-Geral da Educação e a ColorADD, com a homologação do secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, João Grancho.
Este ano, também os alunos cegos ou com baixa visão terão um novo instrumento. Pela primeira vez, os enunciados das provas finais e exames nacionais serão apresentados em formato DAISY (Digital Accessible Information System) ou em documento, com Entrelinha 1,5, em formato PDF.
O MEC recordou que se salvaguarda, com carácter transitório, a possibilidade de, este ano, os alunos que não reunirem condições para realizar as provas em formato DAISY, poderem ainda recorrer à transcrição em Braille.
In: DN

Ação de Sensibilização - Técnicas de Guia

Vai realizar-se no próximo dia 3 de abril, no auditório do Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., em Lisboa, em parceria com a ACAPO, a ação de sensibilização: Técnicas de Guia.
Esta ação, promovida pelo Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P. (INR, I.P.), no âmbito da sua missão e da promoção dos direitos das pessoas com deficiência, tem como objectivo a aquisição e desenvolvimento de competências teóricas e práticas básicas, que permitam facilitar o a atendimento e a inclusão de pessoas com deficiências da visão.
A ação de sensibilização é gratuita, confere certificação e tem um número limitado de 10 formandos.
Inscreva-se utilizando a ficha de inscrição e enviando-a para manuela.s.branco@inr.msss.pt ou inr@inr.msss.pt , até ao dia 1 de abril.
Colabore na divulgação desta informação a todas as pessoas que desenvolvam a sua actividade nos processos de inclusão e participação das pessoas com deficiência.
In: INR

Consulta On-line para o desenvolvimento de uma agenda inclusiva

Está a decorrer até 28 de março uma consulta on line para auscultar a população sobre as suas preocupações, bem como sobre os desafios globais que o mundo irá enfrentar nos próximos anos. Esta iniciativa pretende mobilizar e consciencializar a população mundial para os desafios pós Objetivos Desenvolvimento do Milénio 2015, e neste âmbito pretende reunir contributos de todas as pessoas e construir uma visão coletiva.

Esta consulta pretende identificar os desafios que as pessoas com deficiência enfrentam em diferentes regiões e apresentar medidas e ações que promovam uma sociedade inclusiva.

No âmbito da temática da deficiência, pretende-se que os contributos sejam incorporados num relatório que será apresentado na Reunião de Alto Nível sobre a deficiência, que se vai realizar na ONU em 23 de setembro.

Para além das línguas oficiais da ONU, está disponível uma consulta on-line em Português e disponível emhttp://www.worldwewant2015.org/node/315364

Os interessados deverão registar-se em http://www.worldwewant2015.org/register , submeter a sua proposta e participar num debate interativo com outros participantes.
In: INR

terça-feira, 26 de março de 2013

Cientistas descobrem as raízes moleculares da Síndrome de Down

Investigadores descobrem que o cromossoma extra presente na síndrome de Down prejudica a aprendizagem e a memória devido aos baixos níveis da proteína SNX27 no cérebro.
Um estudo publicado no dia 24 de março mostra que a proteína SNX27 se encontra em menores níveis no cérebro dos portadores da síndrome de Down. Uma pessoa com síndrome de Down produz menos proteína SNX27 que, por sua vez, prejudica a função cerebral. Além disso, os investigadores mostraram que o restauro da proteína SNX27 em ratos com síndrome de Down melhora a função cognitiva e o comportamento.
Acredita-se que, na síndrome de Down, a falta de SNX27 é parcialmente responsável pelos limitações cognitivas e de desenvolvimento.
Artigo em inglês aqui.

Novas mexidas na carga horária

O Ministério da Educação e Ciência (MEC) vai voltar a mexer nos currículos dos ensinos Básico e Secundário, alterando a carga horária de algumas disciplinas já no próximo ano letivo. A informação foi transmitida às delegações dos sindicatos de professores nas reuniões realizadas a semana passada e confirmada, ontem, ao Correio da Manhã (CM) pelo MEC.
De acordo com a tutela, está prevista "a continuidade da política do MEC nesta matéria", com a introdução "de pequenas mudanças para ajustar o sistema", tendo isso mesmo sido transmitido aos sindicatos. O MEC sublinha que esta revisão não terá a dimensão da que foi efetuada no ano passado. O CM questionou ainda a tutela sobre quais as disciplinas que sofrerão alterações ou se haverá algumas que serão extintas, mas não obteve resposta. (...)

In: CM

Antecipação da afixação dos resultados dos exames nacionais

Despacho n.º 4400/2013, de 26 de março, antecipa a afixação das pautas referentes às classificações da 1.ª chamada das provas finais de ciclo de Português e de Matemática e das provas de equivalência à frequência da 1.ª fase das restantes disciplinas.
Assim, as pautas referentes às classificações da 1.ª chamada das provas finais de ciclo de Português e de Matemática dos 2.º e 3.º ciclos são afixadas a 15 de julho de 2013. As pautas referentes às classificações da 2.ª chamada das provas finais de ciclo de Português e de Matemática dos 2.º e 3.º ciclos são afixadas a 22 de julho de 2013.

As pautas referentes às classificações das provas de equivalência à frequência da 1.ª fase das restantes disciplinas devem ser afixadas até ao dia 15 de julho de 2013.

domingo, 24 de março de 2013

Torres Vedras integra deficientes no mercado de trabalho

O Centro de Formação Profissional da Associação Para a Educação de Crianças Inadaptadas (APECI) de Torres Vedras, que oferece alternativas de formação a portadores de deficiências, é cada vez mais procurado devido aos índices de empregabilidade alcançados.
No Centro, onde chegam pessoas com necessidades especiais dos vários concelhos da região, diversos técnicos trabalham na formação para a vida de pessoas com necessidades educativas especiais e na sua integração profissional.
"Cada vez procuram-nos mais", assume a diretora Ana Margarida Severiano, explicando que existem 15 a 20 jovens em lista de espera no período de candidaturas de setembro e outros seis a dez em abril, dado o êxito do trabalho desenvolvido.
Grande parte rejeitou a escola regular e encontra motivação na componente prática dos cursos, razão pela qual a taxa de desistência é de apenas 10%.
A APECI tem também acordos com empresas da região que, no âmbito da sua responsabilidade social, acolhem estágios e acabam, em muitos casos, por fazer contratos de trabalho com estes alunos.
É o caso da empresa Queijo Saloio, que emprega mais de cem trabalhadores, três com formação na APECI.
Enjoada dos queijos que diariamente lhe passam pelas mãos há anos, Ana Lourenço fez um percurso escolar alternativo devido aos seus défices cognitivos, mas há 23 anos teve a sua oportunidade nesta fábrica.
Enquanto embala queijos, Ana Lourenço, 46 anos, conta (...) que a oportunidade veio dar-lhe o "único" contrato de trabalho que conseguiu e que procura manter.
"Espero continuar, porque o ordenado faz-me falta e também a companhia dos colegas, que ajudam a distrair", diz, entre frases por vezes difíceis de articular.
De igual modo bem integradas na fábrica, estão Júlia Jesus e Glória Caseiro, que vieram também da APECI e, há 15 e 12 anos, respetivamente, conseguiram também um trabalho na empresa.
Os anos de trabalho na casa são a prova da sua integração. "Nessas tarefas onde são colocadas, desempenham-nas muito bem, portanto não se nota que têm limitações. São muito empenhadas e têm uma grande necessidade de demonstrar que são capazes e que estão ao nível dos desafios", conta Sara Silva, diretora técnica da empresa Queijo Saloio.
Em 2012, 31 formandos terminaram os cursos da APECI e, destes, sete conseguiram contrato de trabalho, cinco estão com contrato de emprego e inserção do Instituto de Emprego e Formação Profissional e outros aguardam ainda por esta solução.
A instituição possui cursos de hotelaria e restauração, assistente administrativo, assistente familiar e de apoio à comunidade, operador agrícola, operador de pecuária e operador de jardinagem.
In: DN

sábado, 23 de março de 2013

Professores a mais ou alunos a menos?

A redução do abandono escolar precoce é um dos cinco grandes objetivos da União Europeia (UE) inscritos na estratégia 2020. Portugal assumiu, neste quadro, o compromisso de reduzir o abandono escolar precoce para 10% em 2020. Todos sabemos como esta meta será difícil de alcançar sem um investimento forte e um empenho político incondicional no cumprimento da escolaridade obrigatória e nos programas de segunda oportunidade, tendo em conta a realidade atual.

Segundo dados divulgados pelo Eurostat, o abandono escolar precoce em Portugal era ainda superior a 21% em 2012. Isto significa que abandonaram a escola mais de 170.000 jovens que não concluíram o ensino secundário. São jovens que estão a iniciar a sua vida no mercado de trabalho sem terem as qualificações mínimas hoje exigidas no espaço europeu.

Curiosamente, este problema foi retirado da agenda política. O debate público sobre educação está a ser feito sem referência a objetivos estratégicos e, por isso, refém de objetivos de curto prazo de redução da despesa pública em 4000 milhões de euros. Têm sido apresentadas como inevitáveis medidas de política como a diminuição do número de professores, a colocação de professores com horário zero na mobilidade especial e o alargamento geográfico dos quadros de zona pedagógica.

A existência de professores com horários zero não significa necessariamente que estão a mais no sistema, mas apenas que foram colocados em escolas que não têm alunos em número suficiente ou ofertas formativas adequadas ao seu grupo de docência. As questões que podemos colocar são as seguintes: porque não podem estes professores ser transferidos para escolas onde há falta de professores e onde poderiam ter alunos? Porque não organizam as escolas, por exemplo, cursos para adultos ou atividades de recuperação para alunos em risco de abandono, criando assim horários letivos para os professores com horário zero? Dois tipos de obstáculos têm dificultado estas respostas mais inteligentes.

Em primeiro lugar, os obstáculos à mobilidade decorrentes da rigidez geográfica e funcional. No primeiro caso, a existência de quadros de zona pedagógica impede, por exemplo, que um professor do quadro de Setúbal possa ser colocado numa escola em Lisboa. No segundo, a existência de um número excessivo de grupos de docência e recrutamento impede, por exemplo, que um professor de Inglês do ensino secundário ensine inglês a alunos do segundo ciclo. Diminuir a rigidez na colocação de professores implicaria, por um lado, acabar com os quadros de zona pedagógica e dotar todas as escolas e agrupamentos de quadros próprios e de autonomia para suprir as necessidades não permanentes e, por outro lado, reduzir significativamente os atuais cerca de 30 grupos de docência ou de recrutamento, promovendo uma maior integração vertical e disciplinar.

Em segundo lugar, os obstáculos decorrentes da falta de autonomia das escolas e da falta de visão na política educativa. Nos últimos dois anos as escolas perderam muita autonomia na organização de cursos profissionais, cursos de educação e formação e cursos de formação de adultos, a qual lhes tinha permitido diversificar a oferta formativa e canalizar o tempo disponível dos professores. Com a autonomia as escolas conseguiram, entre 2006 e 2011, aumentar em cerca de 10% o número de alunos com mais de 15 anos, conquistando-os para a escola e criando oportunidades de conclusão do básico e de prosseguimento de estudos no secundário em cursos profissionais. Essa autonomia acabou. Hoje são os serviços do Ministério da Educação que ditam e limitam as ofertas formativas, forçando as escolas a diminuir o serviço público de educação, o número de disciplinas e o número de cursos que podiam oferecer, gerando mais e mais horários zero e irracionalidade na gestão dos recursos públicos.

Não se compreende pois em que dados se baseiam as ideias de que existem professores a mais e de que é inevitável, necessário e desejável reduzir a despesa pública em educação. Ainda se compreende menos como se compagina a diminuição do número de professores com o cumprimento das metas definidas para o abandono escolar precoce e para a redução dos défices de qualificação. No recenseamento da população de 2011 estão registados mais de 2,3 milhões de adultos empregados sem o ensino secundário, dos quais 532.000 têm menos de 34 anos. Será que isto deixou de ser um problema para a política de educação?

A política educativa vive, atualmente, ensombrada pelo fantasma da redução da despesa e está a ser pensada tendo em conta apenas o número de crianças e jovens que estão hoje na escola. Tem havido incapacidade de olhar para o conjunto das necessidades do país em matéria de qualificações, de olhar para os milhares de jovens que estão na escola mas em risco de a abandonar, ou dos milhares de jovens e adultos que já não estão na escola mas que precisam de formação escolar. Estes últimos são pelo menos dois milhões. De quantos professores vamos precisar para resolver este problema? Será que o cumprimento do défice orçamental nos obriga mesmo a ter de desistir do essencial? Não há outras alternativas de poupança?

Se a superação do problema da qualificação dos portugueses deixar de ser um objetivo mobilizador, então a redução do défice e da despesa pública não têm qualquer utilidade nem sentido, porque no final ficaremos não apenas mais pobres, mas também muito mais diminuídos na nossa capacidade de construir o futuro.

Maria de Lurdes Rodrigues
Presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e professora de Políticas Públicas no ISCTE-IUL

sexta-feira, 22 de março de 2013

Locais acessíveis a deficientes motores estão agora à distância de um smartphone

Quais são os restaurantes com acessibilidade a pessoas com mobilidade reduzida? E os hotéis? Que transportes públicos estão adaptados para estes utilizadores? A resposta a esta e a outras perguntas sobre os locais acessíveis a deficientes motores de Norte a Sul do país está agora à distância de um smartphone, através da aplicação Portugal Acessível Mobile.

Lançada pela Associação Salvador, que se dedica a promover a qualidade de vida das pessoas com deficiências motoras, em parceria com a Fundação PT e a Microsoft, esta aplicação gratuita reúne informação sobre as condições de acessibilidade de cerca de 3500 espaços de alojamento, cultura, restauração, praias, transportes, unidades de saúde e farmácias.

“Tem a vantagem de podermos planear as férias e sabermos que, no lugar que escolhermos, há uma praia acessível. Ou de estar na rua e saber onde podemos encontrar um restaurante com casa de banho adaptada”, exemplifica Salvador Mendes de Almeida, fundador da associação, que esteve presente nesta quinta-feira na sessão de lançamento desta ferramenta, no Fórum Picoas, em Lisboa.

A aplicação pode ser descarregada em iPhone, Android e em breve estará também no Windows Phone. É a versão móvel da informação já disponível na página de Internet Portugal Acessível, criada em 2008. Nos dois suportes, é possível pesquisar os locais com condições de acessibilidade em determinado distrito ou concelho, por categoria.

Na aplicação, que foi desenvolvida pela PT (a Microsoft criou a versão para o Windows Phone), é utilizado um sistema de georreferenciação que regista o local onde se encontra o utilizador. Na pesquisa é possível saber, por exemplo, quais os restaurantes nas proximidades com casa de banho adaptada a deficientes. Ou que farmácias têm rampa de entrada para as cadeiras de rodas. É possível saber também se os passeios no exterior são rebaixados, se o piso tem obstáculos ou se há estacionamento reservado a pessoas em cadeira de rodas. O utilizador pode também pedir uma sugestão de itinerário até ao local pretendido.

O projeto é "pioneiro" pelo menos em Portugal, garante o secretário de Estado da Inovação e Empreendedorismo, Franquelim Alves, também presente na sessão. O governante salientou a importância da participação dos privados, referindo-se à PT e à Microsoft, na criação de ferramentas com "impacto evidente na qualidade de vida" dos utilizadores.

São os voluntários da associação, com deficiências motoras, que fazem a identificação dos locais, tendo recolhido informação do Minho ao Algarve, que vai sendo actualizada. “Vamos de fita métrica e bloco de notas para ver se os espaços têm condições de acessibilidade”, explica Salvador Mendes de Almeida, tetraplégico desde os 16 anos, na sequência de um acidente de moto.

O responsável do projeto destaca as vantagens desta aplicação – que tem já tradução em inglês e em alemão – na promoção do turismo acessível. Estima-se que na Europa o turismo acessível vale 90 milhões de euros. Só nos países da União Europeia, há cerca de 80 milhões de pessoas com deficiência, o que representa um mercado potencial de cerca de 130 milhões de turistas, incluindo família e amigos. “São pessoas que adoram o nosso país e muitas delas com grande capacidade financeira”, sublinha Salvador Mendes de Almeida.

A aplicação terá em breve uma função de pesquisa de itinerários turísticos acessíveis, à semelhança do que está disponível na página de Internet. Esta ferramenta permite ainda perceber quais são os municípios com mais trabalho feito no campo da acessibilidade. “A Lousã e Portimão são bons exemplos, é preciso replicá-los noutros pontos do país”, afirma.

Ainda assim, “Portugal está muito melhor” no que diz respeito à acessibilidade, garante um voluntário da associação, Luís Rodrigues, também ele deficiente motor. Pelo menos, está melhor do que há 32 anos, quando se viu dependente de uma cadeira de rodas depois do acidente de moto, aos 18 anos. “Na altura, nada era acessível”, lamenta.

“A acessibilidade não é importante só para os deficientes motores. É também para quem transporta carrinhos de bebé, ou para os idosos com dificuldades de locomoção”, recorda Luís Rodrigues. Com a divulgação dos locais e serviços adaptados agora através dos smartphones, Salvador Mendes de Almeida espera uma maior sensibilização das pessoas responsáveis: “É bom para nós mas também é bom para eles”, remata.
Por Marisa Soares

quinta-feira, 21 de março de 2013

Trissomia 21 tende a diminuir devido a abortos

A associação de pais de crianças com trissomia 21 diz que um em cada 800 bebés nascidos em Portugal tem esta doença, mas prevê que esta anomalia genética tenda a diminuir já que 95% dos pais preferem abortar.
“Um em cada 800 bebés em Portugal nasce com trissomia 21”, afirma uma das responsáveis da associação de pais de jovens com trissomia 21, Marcelina Souschek, quando hoje se assinala o dia mundial da trissomia 21 – pelo quinto ano em Portugal mas que só foi reconhecido pelas Nações Unidas em 2012.
A responsável, que fez um levantamento com base nos bebés nascidos em 2011, adianta que 95% dos bebés diagnosticados com o também chamado síndrome Down são abortados em Portugal.
“O que sabemos, utilizando a estatística, é que em cada 800 nascimentos, um tem trissomia 21 e, portanto, estamos a falar de uma população elevada”, disse, acrescentando que “deve haver ainda muitos casos que são classificados como deficientes, mas sem diagnóstico preciso”.
"Em 2011, foram abortados 160 bebés a quem tinham sido diagnosticado trissomia 21", disse, sublinhando que no futuro próximo “vai haver cada vez menos [portadores desta doença] porque as pessoas optam pela interrupção voluntária da gravidez”.
Segundo a responsável da associação de pais, as crianças portuguesas com trissomia 21 estão, hoje em dia, bem adaptadas frequentando o ensino regular e tendo acompanhamento terapêutico e médico muito eficaz.
O problema coloca-se mais na altura de deixar a escola e ingressar no mercado de trabalho, onde ainda há pouco acompanhamento e aceitação e em que os vínculos laborais costumam ser precários e os salários menores.
“As crianças chegam cada vez mais longe, mas continuam a enfrentar grandes dificuldades na sua completa integração social e profissional”, disse, explicando que, para combater esta discriminação, a associação Pais 21 lançou uma campanha para sensibilizar os empregadores.
“Eles [portadores do síndrome de Down] têm uma competência social que eu diria até acima da média, de sentirem o que se está a passar, se a coisa está a correr bem ou mal, e ir perguntar.
“Não gosto de abrir as gavetas porque cria uma ideia errada, mas neste caso tenho que dar a mão à palmatória: eles têm uma capacidade humana, uma competência social acima da média”, sublinhou Marcelina Souschek, que é mãe de cinco filhos, uma das quais com trissomia 21.
A trissomia 21 é uma doença provocada por um cromossoma adicional no par 21, anomalia que faz com que as pessoas tenham características físicas específicas e um ligeiro défice cognitivo.
Para assinalar o dia mundial da trissomia 21 vai ser também realizado o III Encontro Nacional de Famílias – agendado para sábado no Centro Cultural de Cascais, com o objectivo de partilhar informação e experiências.

Crianças autistas fazem terapia montadas em búfalos de água

Crianças autistas têm desenvolvido a sua sociabilidade e habilidades motoras ao fazer jogos montadas em búfalos de água, num projecto terapêutico desenvolvido num quartel militar na Tailândia.
As 17 crianças autistas abrangidas pelo projecto, munidas de capacetes e joelheiras, percorrem um circuito montadas nos seus búfalos num campo de jogos improvisado numa zona verde do acantonamento de artilharia de Lopburi, cerca de 140 quilómetros a nordeste de Banguecoque.
Esta terapia é semelhante às que se realizam com cavalos ou elefantes, com a vantagem de os búfalos serem mais mansos, segundo explicou o general Boonthum Oris, comandante do acampamento, a uma reportagem da agência EFE.
"Nós, os tailandeses, domesticamos os búfalos há muito tempo. Os elefantes são muito grandes, os cavalos muito velozes ou difíceis de controlar, enquanto os búfalos são mais pacientes", disse o militar.
O projecto, que começou em 2010, visa que as crianças "melhorem a sua concentração, exercitem os músculos e percam o medo aos animais", afirmou Boonthum.
Entre 10 e 12 crianças participam em cada tratamento, que consta de 20 classes assistidas por soldados voluntários, monitores e uma enfermeira ou médico do hospital de Lopburi, que também colabora nesta iniciativa.
Numa primeira fase, os tutores familiarizam-se com as crianças, para ver se conseguem reagir às suas ordens, aproximando-os depois dos búfalos para lhes darem de comer ou ajudar a dar-lhes banho antes de montá-los", explicou o general tailandês.
Vestidas com jardineiras azuis, as crianças, de entre 06 e 14 anos, sobem para os dorsos dos búfalos, equipados com arreios e enfeitados com capuzes coloridos nos cornos.
Três soldados encarregam-se de cada menino para evitar quedas dos animais, que se movem com calma por um circuito ao longo do qual os participantes ensaiam jogos como bater numa bola atada a uma corda.
Ao longo de cerca de 50 minutos, seis búfalos transportam a cada uma das provas as crianças autistas, que se mostram cada vez mais confiantes e participativas e perdem o medo aos animais, que podem chegar a medir 1,80 metros de altura e a pesar uma tonelada.
No final, os meninos fazem desenhos e quebra-cabeças com os soldados naquele que é o único centro a fazer terapia com búfalos para crianças autistas no país.
Os búfalos de água são assim chamados por viverem em zonas pantanosas e pela sua facilidade em mover os arados nos arrozais encharcados típicos dos países tropicais do Sudeste Asiático.



Portugal está entre os países que mais cortam no orçamento da Educação

O investimento na educação caiu mais de 5% em Portugal desde 2010 por causa da crise, segundo um estudo divulgado esta quinta-feira, em Bruxelas, pela Comissão Europeia.
O estudo, que abrange 25 países, mostra que nove Estados-membros da União Europeia (UE)reduziram o investimento, sendo que, além de Portugal, também a Grécia, a Hungria, a Itália e a Lituânia aplicaram cortes acima dos 5% nos orçamentos da educação.
Noutros quatro países da UE - Estónia, Polónia, Espanha e Reino Unido (Escócia) - os cortes foram entre 1% e 5%.
Por outro lado, outros cinco Estados-membros - Áustria, Dinamarca, Luxemburgo, Malta, Suécia e Bélgica (Comunidade Germanófona) - aumentaram em mais de 1% a sua despesa no setor da educação.
O estudo analisou o financiamento em todos os níveis de ensino, desde a educação pré-escolar ao ensino superior, em 35 sistemas educativos nacionais e regionais, e revelou que, em 2011 e 2012, os salários e subsídios dos professores baixaram ou foram congelados em 11 países (Bulgária, Croácia, Estónia, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Portugal e Espanha).
Estes salários representam mais de 70 % dos orçamentos para a educação.
Os cortes provocaram igualmente uma redução do número de docentes em 10 Estados-Membros (Bulgária, Chipre, Estónia, França, Itália, Letónia, Lituânia, Portugal, Roménia e Reino Unido), para a qual contribuiu também o menor número de alunos. Numa nota mais positiva, o financiamento da formação de professores aumentou em 18 países europeus, um desenvolvimento importante dada a relação entre a qualidade do ensino e os resultados dos alunos.
Os apoios do setor público destinados aos alunos, como as bolsas, os empréstimos e os subsídios não foram afetados na maioria dos países em 2011 e 2012.
Oito Estados-Membros (Áustria, Alemanha, Grécia, Irlanda, Letónia, Lituânia, Luxemburgo e Portugal) oferecem um apoio financeiro específico a desempregados ou trabalhadores pouco qualificados para melhorarem ou atualizarem as suas competências.
Na maioria dos casos, esses investimentos são apoiados pelo Fundo Social Europeu
"Se os Estados-Membros não investirem suficientemente na modernização da educação e das competências, ficaremos aquém dos nossos concorrentes mundiais e será mais difícil combater o desemprego juvenil", declarou comissária europeia para a Educação, Androulla Vassiliou.
In: JN

Vagas abertas no Parlamento Europeu para pessoas com deficiência

O Parlamento Europeu abriu também, no passado dia 15, estágios remunerados para pessoas com deficiência que se constituem como uma "ação construtiva que visa facilitar a sua integração no trabalho", explica aquela instituição.

Estes estágios, que têm também a duração de cinco meses não prorrogáveis, encontram-se disponíveis para titulares de diplomas universitários ou de estabelecimentos de ensino equiparáveis, mas também para pessoas que não possuam habilitações universitárias. 

Os candidatos a este programa específico, que têm de ser nacionais de um estado-membro da UE ou de um país candidato e ter completado 18 anos de idade à data de início do estágio, deverão possuir um conhecimento profundo de uma das línguas oficiais da União Europeia e um bom conhecimento de uma segunda língua.

Além disso, o Parlamento Europeu exige que possam comprovar que são portadores de deficiência por meio de um certificado médico ou certificado/cartão de deficiente emitido por uma autoridade nacional.

De destacar que, neste caso, os estagiários têm também direito a um subsídio adicional por deficiência, bem como ao reembolso das despesas de deslocação efetuadas no início e no final do estágio e a um seguro de saúde. 

Os estágios para pessoas com deficiência, cujas inscrições estão igualmente abertas até 15 de maio, são organizados "sobretudo em Bruxelas e no Luxemburgo porque alguns Gabinetes de Informação nos Estados-Membros não podem proceder às adaptações necessárias em termos de acessibilidade".


Clique AQUI para aceder à página de estágios do Parlamento Europeu, onde poderá conhecer, em português, todas as informações sobre cada tipo de estágio e os seus regulamentos, bem como efetuar a sua candidatura.

Crianças passam a ter de ir a mais duas consultas de rotina

As crianças vão passar a ter de ir ao médico para consultas de vigilância de rotina 18 vezes até atingirem a idade adulta, em vez de 16 vezes, como está previsto atualmente. A nova versão do Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil, colocada esta semana no site da Direção-Geral da Saúde, dispensa a consulta dos 15 anos e introduz três novas idas ao médico em idades-chave - aos cinco, seis ou sete e aos 10 anos.

"O calendário foi reordenado de forma a investir-se em idades mais precoces", explicou (...) a enfermeira Bárbara Menezes, da equipa da DGS que redigiu o documento. Mas as novas regras apenas estarão em vigor depois de maio próximo, quando o programa informático de apoio à prática clínica, ainda em fase experimental, estiver completamente operacional. Só então sairá a circular com as novas orientações para os profissionais e só depois disso começam a ser emitidos os novos boletins de saúde infantil e juvenil (dados aos recém-nascidos) com as alterações, esclarece a enfermeira. "Após acertos de pormenor e alinhamento final com os programas informáticos em uso, o documento definitivo será objeto de uma nova orientação técnica, a ser emitida por esta direção-geral até ao final de maio próximo", lê-se no site da DGS.

A introdução de consultas aos cinco anos visa "avaliar da existência de competências para o início da aprendizagem". Já entre os seis e os sete, anos o objetivo é a "deteção precoce de dificuldades específicas de aprendizagem" e, aos 10 anos, pretende-se "preparar o início da puberdade e a entrada para o quinto ano de escolaridade". Estas alterações já tinham sido anunciadas em outubro, no 13.º Congresso de Pediatria, tendo na altura Leonor Sasseti, pediatra e consultora da DGS para a saúde infantil, explicado que a definição do novo calendário levava em conta questões como a prevenção do bullying, na consulta dos dez anos.

Mas esta não é a única alteração prevista. Também a "tabela dos percentis" - que servem para monitorizar o desenvolvimento de bebés, crianças e adolescentes - vai mudar, (...). As atuais curvas de crescimento serão substituídas pelos padrões definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de forma a que os valores expressos nas tabelas de percentis traduzam um crescimento mais próximo do "ideal". Pretende-se ainda com esta alteração detetar com mais rigor algumas situações problemáticas, como os casos de obesidade.

Por enquanto, para monitorizar o estado de nutrição e crescimento das crianças e adolescentes, continuamos a guiar-nos pelos valores de referência propostos pelo Center for Disease Control and Prevention (CDC) e baseados num estudo que envolveu apenas crianças norte-americanas. A OMS considerou estas curvas de crescimento inadequadas e publicou uma nova versão destes valores de referência com base num estudo realizado entre 1997 e 2003 em diferentes continentes e que incluiu amostras selectivas de milhares de lactentes e crianças. Com esta medida, Portugal junta-se ao grupo de mais de 120 países que se guia pelas curvas da OMS para acompanhar o desenvolvimento de bebés e crianças. 
Por Alexandra Campos com A.C.F.

Discriminação contra as pessoas com Trissomia 21 existe a muitos níveis

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, declarou esta quarta-feira (ontem), por ocasião do dia mundial da síndrome de Down (Trissomia 21), que a discriminação contra as pessoas portadoras desta doença e suas famílias existe a muitos níveis.
“A discriminação contra as pessoas portadoras de síndrome de Down e as suas famílias existe a muitos níveis. Isto fere não apenas os indivíduos que são directamente afetados, mas sociedades inteiras”, referiu Ban Ki-moon, numa mensagem (...) divulgada pela ONU.
De acordo com o secretário-geral da ONU, as pessoas com síndrome de Down, enfrentam muitas vezes o estigma, a segregação, a violência física e psicológica e a falta de igualdade de oportunidades.
“Um círculo vicioso de exclusão que pode começar cedo na vida de muitas crianças, visto que a muitas crianças com síndrome de Down é negado o acesso à educação regular, ou qualquer tipo de educação”, sublinhou.
Ban Ki-moon disse que lhes são negadas oportunidades de trabalho e são impedidas, muitas vezes, de participarem na vida política e no processo democrático.
“No dia 23 de setembro, a Assembleia-Geral irá convocar uma reunião de alto nível sobre a Deficiência e o Desenvolvimento para assegurar que as perspetivas das pessoas com deficiência, incluindo aquelas com síndrome de Down, sejam incluídas em todos os planos de desenvolvimento futuro”, acrescentou.
Segundo Ban Ki-moon, com as oportunidades e os apoios adequados todos os indivíduos que vivem com síndrome de Down podem atingir o seu potencial, realizar os seus direitos humanos em condições de igualdade com os outros e dar um contributo importante para a sociedade.
“Devemos, portanto, intensificar os nossos esforços para criar condições de formação que permitam a participação significativa de pessoas portadoras da síndrome de Down”, indicou.
“Trabalhando juntos, podemos ajudar a construir um mundo equitativo, justo e inclusivo, que celebre a diversidade, livre de discriminação, e que ofereça oportunidades iguais para todos”, sublinhou ainda o secretário-geral da ONU.

quarta-feira, 20 de março de 2013

O meu exame de admissão ao liceu

Depois de ter passado dois anos num colégio católico de Lisboa em que dominavam a rigidez, a competição e o medo do fracasso, as evidentes consequências nefastas dessa experiência levaram os meus pais a mudar-me para outra escola e, para minha felicidade futura, escolheram a "École Française de Lisbonne", com ensino misto, onde entrei, em 1946, aos 9 anos de idade.

Essa 4.ª classe passava-se em dois tipos de cursos: um em Português, três dias por semana (com a Madame Pinto, de que me lembro com imensa saudade), e outro em Francês, nos restantes dois dias, com a Madame Baptista, que não me deixou saudades, mas que me ensinou a recitar de cor poemas do Victor Hugo e de Lamartine que ainda posso reproduzir. No entanto, o encanto daquela escola ultrapassava as salas de aula daquela casa antiga e acolhedora, em que, em certas aulas, tínhamos que passar por cima de carteiras para ir para o nosso lugar. Havia um ambiente de alegria, de vida e de comunicação que me deixou uma marca de afetividade e de segurança que perdura depois destes quase 70 anos.

Não fiz a 4.ª classe que era destinada aos meninos que não continuavam a estudar ou iam para o ensino técnico, mas sim o exame de admissão, que tinha lugar no Liceu Maria Amália. Não me lembro durante quantos dias duravam essas provas - primeiro escritas e depois orais -, mas lembro-me que pareciam estender-se por várias semanas. Tudo naquele enorme casarão frio e imponente era aterrador. Não conhecia os professores nem as colegas que tinham nomes que não eram começados por A como o meu e, ao entrar na sala do exame, sentia um medo imenso.

Penso que aquelas provas avaliaram não tanto o que eu sabia, mas a minha capacidade de enfrentar o nervoso e de vencer o sentimento de solidão e de abandono em que me encontrava. Felizmente, o ano lectivo seguinte voltou e, com ele, o feliz reencontro com a École Française. Dois anos mais tarde, voltaram os exames em liceus oficiais, mas, aos 11, 14 e 16 anos, a minha capacidade de enfrentar aquela difícil prova era evidentemente muito maior.

Isto passou-se há quase 70 anos, e não queria acreditar, hoje, dia 15 de Março de 2013, quando li no PÚBLICO a notícia de que se prevê voltar a exigir que crianças do 4.º ano voltem a fazer exames em escolas diferentes daquelas que frequentaram desde o jardim de infância ou desde o 1.º ano. Como é possível renegar toda a evolução que nestas sete décadas se verificou na orientação educativa? Para além do facto de, em vários dos países considerados mais avançados nesta área, se terem eliminado os exames formais ao longo de toda a escolaridade básica (escrevi no Facebook da Rede Inclusão um pequeno texto sobre isso referindo o que se passa na Finlândia), em Portugal vão buscar-se os exemplos da escola primária do tempo dos avós ou mesmo dos bisavós da maioria dos alunos que agora povoam as nossas escolas.

Julgo que os legisladores que estão a decidir estas medidas consideram que faz parte integrante da aprendizagem das crianças o sofrimento e a resistência ao stresse. O prazer de aprender, a confiança dada por ambientes amigáveis, a autoconfiança gerada pelo apoio que evita o fracasso (em vez das profundas marcas criadas pelo insucesso) estarão hoje tão longe dos responsáveis a quem os pais entregam, durante anos, a evolução dos seus filhos?

Resta-nos uma esperança: a qualidade, a força, a perseverança, a capacidade de luta dos professores, que, quando acabam a sua formatura, fazem para si próprios o juramento de "tornar mais capazes e mais felizes as crianças que lhes foram confiadas".

Ana Maria Bénard da Costa
Professora aposentada, ligada à Rede Inclusão

Coimbra recebe formação para comunicar com crianças autistas

O Centro de Intervenção Comportamental (CIC) de Condeixa-a-Nova promove, em Coimbra, no próximo fim-de-semana, uma formação para apresentar uma das ferramentas "mais eficazes" no desenvolvimento da comunicação em crianças autistas ou com outros atrasos do desenvolvimento.
Segundo o médico Sérgio Baptista, presidente do centro, o programa Picture Exchange Communication System (PECS) "é uma estratégia específica para as crianças que não comunicam ou falam com muitas limitações".
Desenvolvido pelos ingleses da Pyramid Educational Consultants, o programa desenvolve as competências iniciais de comunicação expressiva utilizando imagens.
"É um sistema que faz parte de uma estratégia mais global de tratamento do autismo, que se dirige a um grupo de crianças com problemas de comunicação", sublinhou o presidente do CIC, destacando que as crianças abrangidas acabam por "conseguir exprimir a suas necessidades e fazer frases completas".
Numa nota enviada à Lusa, o CIC considera que "mais do que utilizar imagens para suporte visual, o PECS é um sistema de comunicação funcional que desenvolve importantes competências sociais e comunicativas, sendo de fácil acesso, económico e cientificamente testado como uma das intervenções comunicativas mais eficazes".
A formação destina-se a técnicos e famílias, nomeadamente terapeutas da fala, educadores de infância, professores de Educação Especial, docentes, pais, familiares e profissionais do sector da saúde.
A formação, da responsabilidade técnica da Pyramid Educational Consultants, decorre no sábado e domingo, estando neste momento inscritas cerca de 60 pessoas de Norte a Sul do País, entre técnicos e familiares.
O autismo é uma perturbação do desenvolvimento que se caracteriza por défices na interacção social, problemas na comunicação, padrões estereotipados, e pouco funcionais, de comportamento que têm um enorme impacto ao longo da vida no indivíduo, na família e na sociedade.
Criado em 2011, o CIC é uma cooperativa que tem como missão apoiar crianças e jovens portadores de autismo, através da terapêutica baseada na Análise Comportamental Aplicada – ABA, "a única metodologia que apresenta evidência científica da sua eficácia e segurança no tratamento do autismo".
Quando uma criança não fala é absolutamente urgente dotá-la de um método de comunicação que permita a satisfação das suas necessidades - o PECS é fácil de aprender pela maioria das crianças (com diferentes tipos de diagnóstico), é portátil, pouco dispendioso e compreensível a todas as pessoas que se cruzam no dia-a-dia das crianças.




Campanha: jovens com trissomia 21 têm potencial

Com o tema «Acredita, eu consigo», um grupo de pais de jovens com trissomia 21 vai lançar quarta-feira, 20 de março, uma campanha que pretende combater os preconceitos contra estas pessoas, e mostrar o seu potencial enquanto trabalhadores, explicou Marcelina Souschek, responsável da associação Pais 21. Os anúncios serão lançados nas principais cidades do país e apresentam dez casos de crianças e jovens que mostram o que fazem e são capazes de fazer.
«Queremos com esta campanha, mais do que sensibilizar, mudar mentalidades, provocar no público e nas empresas a reflexão sobre a capacidade e a responsabilidade de cada agente económico e social gerar oportunidades para as pessoas com trissomia 21», referiu Marcelina Souschek, em declarações à agência Lusa.
Através desta iniciativa, a associação deseja focar-se, principalmente, nos jovens deficientes à procura de trabalho, que, tal como todos na sua faixa etária, se debatem com muito maiores dificuldades por causa da crise económica.«É evidente que a crise é transversal e afeta também as pessoas com deficiência. O grande problema aqui é que estas são pessoas mais vulneráveis», sublinhou. A campanha será lançada um dia antes da comemoração do Dia Mundial da Trissomia 21, assinalado em Portugal desde 2008.
Texto de Juliana Batista

Cerca de metade das crianças com paralisia cerebral estão desnutridas

Quase metade das crianças com paralisia cerebral estão desnutridas devido à dificuldade que têm em alimentar-se e a serem alimentadas, o que poderia ser evitado com uma intervenção cirúrgica mais precoce, defendeu um especialista.
Daniel Virella, da comissão executiva da Unidade de Vigilância Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), falava a propósito do relatório sobre as crianças com paralisia cerebral, nascidas entre 2001 e 2003, no âmbito da vigilância nacional da doença aos cinco anos.
O Programa de Vigilância Nacional de Paralisia Cerebral aos 5 anos (PVNPC5A) recebeu, até 30 de junho de 2012, 658 notificações correspondentes a 576 casos nascidos em 2001, 2002 e 2003.
Ao nível dos défices associados a estas crianças, a investigação apurou défice visual em 233 de 463 crianças registadas (50,3%), sendo considerado grave em 127 (11,6%).
Foi ainda identificado défice auditivo em 47 de 440 crianças registadas (10,7%), com défice grave em 22 (5%).
Os autores registaram avaliação cognitiva em 84,4% das crianças, tendo sido consideradas com défice cognitivo (Quociente de Inteligência menor que 70) 60,4% das crianças.
Neste relatório ficam explicitas as grandes dificuldades que as crianças com paralisia cerebral apresentam ao nível da alimentação.
Daniel Virella sublinha precisamente esta dificuldade, que, na sua opinião, podia ser minimizada.
Segundo este especialista, cerca de 40% destas crianças estão desnutridas, com "tudo o que isso significa", disse.
"Estas crianças têm muitas dificuldades em alimentar-se e em serem alimentadas. Em certos casos gastam metade da energia que recebem dos alimentos a alimentar-se", adiantou.
Para Daniel Virella, a situação podia resolver-se com uma gastrostomia (fixação de uma sonda alimentar) mais atempada, como acontece na maior parte dos países europeus.
Em Portugal, especificou, esta cirurgia acontece com dois ou três anos de atraso, com todas as dificuldades que isso significa para as crianças e os seus pais.
"É um esgotamento total. Uma refeição dura duas ou três horas", adiantou.
O médico sublinha ainda a necessidade de uma intervenção atempada às crianças com paralisia cerebral e subluxação da anca, outro dos problemas que se podem minimizar.
No relatório lê-se ainda que "nascer em maternidades com número de partos anual acima ou abaixo [dos 1500 a 1999 partos anuais] aumentou cerca de 50% o risco de sofrer paralisia cerebral".
"Estimamos uma taxa de incidência de paralisia cerebral nos partos sem cuidados perinatais (em casa, transporte ou hospital sem maternidade) de 7,76 por cem mil nados-vivos", disse.
Cinquenta e três por cento das crianças com paralisia cerebral registadas nasceram por cesariana, mas Daniel Virella esclarece que tal não se deve ao tipo de parto, mas sim às razões que levaram a que esta intervenção fosse realizada com vista ao salvamento da criança.
In: JN

terça-feira, 19 de março de 2013

Há mais casos de paralisia cerebral nas pequenas e nas grandes maternidades

Proporcionalmente, há mais casos de paralisia cerebral nas maternidades que fazem poucos partos por ano, mas o risco também aumenta nos blocos de parto de grande dimensão.
Pela primeira vez em Portugal, um relatório, que é nesta quarta-feira apresentado em Lisboa, prova que existe uma associação entre a dimensão das maternidades (volume de partos que fazem) e o número de casos de paralisia cerebral. Em Portugal, surgem cerca de 200 novos casos por ano e 90% chegarão à idade adulta.
“Há uma amplitude crítica da qualidade de cuidados nas maternidades. Abaixo de determinada dimensão [menos de 1500 partos por ano] aumenta o risco porque não é rentável ter profissionais a tempo inteiro e com experiência suficiente. Acima de determinada dimensão [mais de dois mil partos] também começa a subir o risco. É preciso notar, porém, que isto não está associado a problemas ocorridos durante o parto, mas sobretudo ao atendimento ao recém-nascido e à grávida nos últimos dias de gravidez”, explica Daniel Virella, um dos coordenadores deste que é o segundo relatório do Programa Nacional de Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral aos 5 anos de Idade.
Tomando como referência a taxa de incidência estimada para recém-nascidos em maternidades com 1500 a 1999 partos anuais, nascer em serviços acima ou abaixo [destes escalões] “aumentou em cerca de 50% o risco de sofrer de paralisia cerebral”, refere o relatório.
A avaliação, que vai ser apresentada na Fundação Gulbenkian, incidiu sobre as crianças nascidas entre 2001 e 2003 com paralisia cerebral e que foram notificadas ao programa: 576 no total. A paralisia cerebral deve-se a uma lesão cerebral, provoca perturbações do movimento e do controle, mas mais de 40% das pessoas com esta condição têm uma inteligência normal, nota o médico.
Dado que o principal fator de risco identificado é a grande e extrema prematuridade (menos de 32 semanas de gestação), compreende-se que as maternidades maiores, que recebem casos mais complicados e gravidezes de risco, tenham uma maior proporção de casos. Daniel Virella defende, a propósito, que a população deveria estar informada para os riscos inerentes a algumas técnicas de procriação medicamente assistida.
Outro problema destacado no relatório: quase um terço (33%) dos casos em que a asfixia perinatal é causa atribuível de paralisia cerebral ocorreram nas maternidades com menos de 1500 partos que, no total, foram responsáveis por pouco mais de um quinto dos nascimentos.
O plano de referenciação materno-infantil deve ser atualizado para se manter a qualidade dos cuidados em Portugal, recomenda o médico, que nota, porém, que “não se deve ser absolutista e entrar numa espiral de concentrações de blocos de parto”.
O relatório traça ainda o retrato das dificuldades que enfrentam as crianças com paralisia cerebral, que sofrem de patologias e défices múltiplos, alguns dos quais podem ser corrigidos. Mais de 30% estavam subnutridas por causa da dificuldade de se alimentarem e serem alimentadas e mais de metade sofriam de défices visuais. O médico lamenta também que a maior parte dos apoios que existem na infância desapareçam na idade adulta. “Não faz sentido andarmos a investir em alta tecnologia e tratamentos extremamente complexos para depois não haver resposta na comunidade”.
Por Alexandra Campos
Nota: O destacado, por concordar em absoluto, é da minha responsabilidade.

Docentes de Educação Especial da RAM já podem concorrer no continente

A Secretaria Regional de Educação e Recursos Humanos celebrou hoje um acordo de cooperação com a Secretaria de Estado do Ensino e da Administração Educativa, a propósito do impedimento que até agora vigorava de os docentes de educação especial oriundos da Madeira serem opositores nos concursos do continente.

Até agora, estes docentes não podiam concorrer em igualdade de circunstâncias com os seus colegas do continente, por o trabalho na RAM não ser considerado no âmbito das especialidades a Educação Especial o que gerava injustiças para os professores da Região. Com estas negociações, a medida deverá entrar em vigor de imediato, devendo aplicar-se já no próximo concurso ordinário, que abre a partir do dia 1 de abril.

Pais sensibilizam empresas para capacidades de jovens com trissomia 21

Um grupo de pais de jovens com trissomia 21 vai lançar na quarta-feira uma campanha de sensibilização sobre a capacidade destes deficientes terem empregos e salários equivalentes e defendem as vantagens para o Estado em tempo de crise.

A campanha - lançada um dia antes da comemoração do dia mundial da trissomia 21 - tem como tema "Acredita, eu consigo" e visa combater os preconceitos contra estas pessoas, além de mostrar o seu potencial enquanto trabalhadores, explicou (...) um dos membros da associação, Marcelina Souschek.
Os anúncios serão lançados nas principais cidades do país e apresentam 10 casos de crianças e jovens que mostram o que fazem e são capazes de fazer.
"Queremos com esta campanha, mais do que sensibilizar, mudar mentalidades, provocar no público e nas empresas a reflexão sobre a capacidade e a responsabilidade de cada agente económico e social gerar oportunidades para as pessoas com trissomia 21", explica a mesma responsável.
"Os agentes económicos também têm a capacidade de gerar oportunidades e estas oportunidades vão criar um projeto de vida", defendeu a responsável da associação Pais 21.
Este ano, a associação quis focar-se sobretudo nos jovens deficientes à procura de trabalho, que, tal como todos na sua faixa etária, se debatem com muito maiores dificuldades por causa da crise económica.
"É evidente que a crise é transversal e afeta também as pessoas com deficiência. O grande problema aqui é que estas são pessoas mais vulneráveis", afirma Marcelina Souschek, sublinhando que os cortes financeiros que estão a ser feitos reduzem os apoios necessários às pessoas que têm esta doença.
"Todos estes cortes fazem com que os miúdos tenham menos apoios e com que os pais já não tenham dinheiro para pagar -- já que o Estado comparticipa pouquíssimo -- por um acompanhamento", criticou.
"Isto não funciona pegando num jovem que vai iniciar um emprego e levando-o para lá para que ele se resolva, como outro jovem. É preciso um acompanhamento inicial", lembra Marcelina Souschek, sublinhando que empregar jovens com trissomia 21 também vai poupar dinheiro ao Estado.
"Deixa de haver jovens em instituições, que não estão a fazer nada, que sofrem depressões ou outras doenças mentais, e passamos a ter jovens ativos, saudáveis, que saem e que têm amigos", afirmou.
O dia mundial da trissomia 21 é assinalado em Portugal desde 2008 e foi reconhecido pelas Nações Unidas em 2012.
Inserido na Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21 (APPT21), o grupo Pais 21 foi criado em 2009 e tem como objetivo "desmistificar a imagem das pessoas com esta doença e mostrar que são muito mais iguais que diferentes, têm grandes competências sociais, conseguem ser autónomas, ler, escrever e fazer desporto, ter uma profissão, ter uma vida", refere a entidade.
O dia 21 de março foi escolhido em alusão ao cromossoma adicional no par 21 que as pessoas com trissomia 21 têm.
A doença também é conhecida por síndrome de Down e é a alteração genética mais comum.
In: JN

segunda-feira, 18 de março de 2013

Há Educação contra os Professores?

Afirma o lugar-comum que não existe Educação sem alunos e que as escolas só fazem sentido em função dos alunos. É verdade, mas essa também é uma concepção redutora e truncada do processo educativo. Porque parece tornar os professores meros acessórios, dispensáveis, intermutáveis, peças simples de uma engrenagem, recursos dispendiosos que se podem sacrificar sem perda especial ou remorso particular. Como se não fossem profissionais altamente qualificados, mas apenas uma massa indiferenciada de um proletariado com excesso de oferta a que se pode baixar o valor unitário com uma alínea legislativa.

Veja-se o que se passou nas últimas semanas.

Veio a troika. Veio nova avaliação da acção governativa.

Concluiu-se o que já se sabia desde o início: o Governo falhou previsões, foram falhadas as metas que se sabia que seriam falhadas, falhou tudo, excepto o desígnio de empobrecer o país, na tentação de o tornar uma espécie de enclave de mão-de-obra submissa e barata à moda sínica.

Tudo na sequência da aplicação de fórmulas e modelos errados, com o apoio e encorajamento da dita troika.

O Governo falhou, o ministro das Finanças acima de todos à excepção de um primeiro-ministro desnorteado, impreparado para tais responsabilidades e manietado na sua capacidade de inverter o rumo das coisas. Assim como falhou de forma calamitosa a própria troika, entidade quase mítica formada por gente certificada como competente e inteligente de três organismos internacionais.

Porque não se pode ter sucesso quando uma política conduz à destruição, em tempo quase recorde, do que restava do tecido produtivo do país e da escassa coesão social que levou décadas a tecer.

Ordenaram-se cortes, congelamentos, despedimentos disfarçados de outras designações.

Reduziram-se apoios sociais, diminuíram-se compensações, aumentaram-se impostos, empobreceu-se a maioria do país, enquanto se mantinham incólumes os grandes interesses do costume, incluindo os que vivem de rendas milionárias concedidas pelo Estado por via de negócios em que o defensor dos interesses privados de hoje foi o decisor público de ontem e vice-versa.

O défice continuou mais ou menos onde estava.

Há que encontrar a solução para o descalabro.

E qual é?

Mais cortes, mais congelamentos, mais despedimentos, agora com o nome de rescisões.

A fórmula que falhou, repetida.

Os principais alvos?

Os do costume… os professores.

Que eram cerca de 150.000 e andam agora abaixo dos 120.000, uma redução de 20% na sua versão mais generosa, muito acima dos míticos números da redução do número de alunos, que um dia Nuno Crato fixou em 14%.

Sobre a redução salarial efectiva nos últimos anos nem é bom falar… anda bem acima dos 25% em troca de maior carga lectiva.

Mais por muito menos. Em boa verdade, em troca de nada.

Mas num universo acima de meio milhão de funcionários do Estado, os tais 120.000 devem fornecer metade dos sacrificados no altar de Gaspar e Seilasié ou se não é.

Dizem que é preciso partirem mais 10.000 das escolas, que é para salvar o país.

Que país?

Que país existe depois de tudo isto?

Um país de campos de golfe, concertos de Verão, ministros equivalente, nomeações de coleguinhas da senhora ministra, liberais de aviário, escondidos em gabinetes, sorvendo subsídios em nome de um empreendedorismo medido em semestres.

Enquanto se continua a dizimar com crescente urgência a classe profissional mais odiada pela nossa classe política… os bombos da festa desde 2005, os professores do ensino público, objecto da mais perversa operação de engenharia profissional das últimas décadas.

Enquanto os governantes manifestamente incompetentes permanecem.

Enquanto a tutela se rende aos interesses de grupos particulares, ávidos dos dinheiros do Estado que dizem detestar, dividida entre secretários especializados em estabelecer “pontes” e “entendimentos” e um ministro ausente em parte incerta, em digressão externa durante a presença da taltroika no país.

Se a Educação não existe sem alunos, será que existirá contra os professores?

Paulo Guinote
Autor do blogue A educação do meu umbigo

sábado, 16 de março de 2013

Congresso “Neuropsicologia e Desenvolvimento”

O Instituto de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade Lusíada de Lisboa apresenta o IV Congresso Internacional de Psicologia da Criança e do Adolescente que irá decorrer na mesma Universidade nos dias 10 e 11 de Abril de 2013, como tema “Neuropsicologia e Desenvolvimento”.
O principal objectivo é o de promover o debate entre investigadores e outros profissionais especialistas nas áreas da psicologia, do direito, da saúde e da educação, nomeadamente na definição de conceitos e nas suas implicações pessoais, interpessoais e sociais.
Para mais informações, designadamente o programa e inscrições, consultar aqui.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Medidas educativas

Na sequência dos Ciclos de Sábado “Falando com quem faz”, organizados pela Pin-Pró Inclusão: Associação Nacional de Docentes de Educação Especial, decorreu, no passado sábado dia 2 de março, a segunda sessão com a temática “Medidas Educativas”. 
O anfiteatro da Escola Básica S. Vicente, em Telheiras, ficou repleto com mais de cem docentes, pais e outros técnicos que aderiram à iniciativa. A dinamizar esta sessão esteve presente a Diretora de Serviços da Educação Especial e Apoios Educativos da Direção-Geral da Educação, Dra. Filomena Pereira. 
No início da sessão foi enfatizado o percurso histórico do que o país tem feito face à inclusão, as medidas governamentais aplicadas desde os anos 60 até à legislação atual. Preconizando a educação especial como a recuperação e a integração do individuo pleno de direitos, foi apresentado como deverá ser feito esse processo de inclusão no acesso à escola de todos os indivíduos. 
Foram abordadas as políticas recentes na organização da educação especial na escola, referindo-se que esta, tendo mais recursos do que utiliza, cabe-lhe as decisões na procura de recursos que sejam significativos para a mudança. Nesse sentido foi abordado o Decreto-Lei n.º 176/2012 não especifico para a educação especial mas como forma de reconhecimento e identificação de direitos face a necessidades diferentes. Foi enfatizado o preâmbulo do decreto-lei 3/2008 e a importância duma operacionalização bem-sucedida no processo de inclusão. 
Foi sobejamente valorizada a importância do conhecimento da legislação e o enquadramento de medidas com transparência e contextualização não esquecendo sempre os intervenientes no processo. 
A título de exemplo foram apresentadas pela Dr.ª Filomena Pereira algumas “checks list”, elaboradas por diversos Agrupamentos de Escolas, no sentido do levantamento das possíveis adequações curriculares para cada aluno. 
Durante a apresentação da dinamizadora e também na segunda parte da manhã (destinada a questões e debate) constata-se que o atual decreto, (pelo qual se rege a educação especial), já com quatro anos de vida, ainda não é consensual, quer no seu âmbito global, bem como ao nível específico da aplicação das medidas educativas. Aliás, isso foi visível nos dados apresentados pela Dr.ª Filomena Pereira, através de alguns itens mais comuns elencados nos relatórios da DGE no acompanhamento às escolas: Fraca articulação entre os docentes do departamento (essencialmente quando o coordenador não é da educação especial); Falta de informação entre os intervenientes; Escolas com situações díspares, quer no processo de referenciação, quer na avaliação; Incongruência na aplicabilidade das adequações curriculares tendo em conta o currículo comum; Pouca articulação entre a Intervenção Precoce e a Educação Especial. 
Situação que remete para a necessidade de interpretação igualitária da legislação por todos os que a aplicam. Se a legislação não é entendida, por todos, do mesmo modo, algo é necessário fazer de forma a que não seja o bom senso a imperar evitando-se situações redundantes na aplicação das medidas. 
A elegibilidade continua a ser uma dúvida face à preconização da utilização da CIF para enquadrar os alunos na educação especial. O sistema atual de “caráter permanente” manifesta-se desajustado e provoca injustiças no atendimento. A CIF, insistentemente referida pelos docentes, apresenta-se como desajustada na sua aplicação educacional. 
Foi ainda referida a necessidade de se ter acesso a dados oficiais de avaliação da educação especial de modo a existir uma capacidade cívica que possibilite a análise e a reflexão do que é premente mudar e fundamentar. 
A portaria 275-A não é clara no seu entendimento por parte da generalidade dos docentes, talvez porque precisamente as medidas nela referidas são desajustadas na sua aplicabilidade bem como contrariam a conceção educativa de escola inclusiva. 
Outra questão bem premente, bastante realçada e anuída pelos presentes, é a existência de legislação diversa com falta de coerência entre as várias leis, decretos e despachos. A conflitualidade entre legislação manifesta-se como uma barreira, não só porque em muitos casos é pouco explícita, como também apresenta contrariedades. Existindo uma política com a premissa de educação inclusiva, a legislação e os esclarecimentos, por exemplo para as Provas de Exame, não corroboram essa premissa. Os exames, no modo como estão concebidos, discriminam de forma negativa os alunos contrariando em muitos casos as medidas educativas preconizadas no seu PEI, aplicadas ao longo do ano letivo. Foi referida a necessidade de se criar segurança nos docentes e nas famílias por parte das estruturas ministeriais de modo a não existirem ciclicamente alterações que causam dúvidas e, em muitos casos, apresentam-se contraditórias 
As acomodações/modificações necessárias realizar nos diferentes elementos do currículo, quer ao nível das estratégias, recursos, metodologias e a organização e gestão do espaço nas adequações ao currículo (ou seja, adequações curriculares), não são as situações mais prementes na aplicação do decreto, mas sim as suas diferentes perspetivas e enquadramentos. 
A grande tónica deste momento de partilha foi, sem dúvida, a necessidade de medidas intermédias para alunos que, não obstante terem alguma autonomia cognitiva, não se enquadram em currículos que os afastam da frequência de um curso e, na atual exigência de metas de aprendizagem, não acedem também ao currículo comum por diversificadas situações. Foi consensual entre os presentes a necessidade de uma medida intermédia entre as adequações curriculares e os CEIs. 
Em jeito de síntese, pode-se referir que a reflexão não se esgotou nesta manhã. A conceção legislativa e sua aplicação prática ainda apresentam assimetrias, suscitando dúvidas que derivam de diferentes interpretações. 
Deve-se, pois, propor ao cidadão o debate, devolvendo segurança aos alunos, às famílias e às escolas na premissa de que o direito à educação inclusiva é um investimento social que tem um retorno significativo. 

Elvira Cristina Silva

In: Editorial da Newsletter da Pró-Inclusão

Rastreio gratuito de Terapia da Fala

No âmbito das comemorações do Dia Mundial da Voz, o Instituto de Psicologia e Neuropsicologia do Porto irá promover um serviço gratuito à comunidade através de rastreios de terapia da fala, realizados por técnicos especializados na área.

Este rastreio será realizado durante o mês de abril de 2013, às quartas-feiras e aos sábados, nas instalações do Instituto de Psicologia e Neuropsicologia do Porto, sendo necessária marcação prévia via telefone ou telemóvel (222 019 839 e 916 101 907). 

As marcações deverão ser feitas de segunda a sexta-feira, entre as 15h e as 18h.

Recebido via correio eletrónico

quinta-feira, 14 de março de 2013

Cientistas vão testar fármaco para "reverter" autismo

Um grupo de investigadores norte-americanos utilizou, com sucesso, um fármaco antigo para restaurar as comunicações celulares do cérebro num modelo animal, conseguindo reverter os sintomas do autismo. Face aos bons resultados, os especialistas da Universidade da Califórnia - San Diego, nos EUA, esperam dar início a um pequeno ensaio clínico com humanos já no próximo ano.

A descoberta da utilidade da suramina, um "inibidor de sinais purinérgicos das células" utilizado desde 1926 no tratamento da doença do sono, em África, e no combate a outras patologias parasitárias, foi efetuada por uma equipa coordenada por Robert Naviaux que deu, este mês, a conhecer os resultados da investigação através de um estudo publicado na revista científica PLOS ONE. 

"A nossa teoria sugere que o autismo acontece porque as células ficam 'presas' num metabolismo defensivo que as torna incapazes de comunicar normalmente umas com as outras, o que pode interferir com o desenvolvimento e função do cérebro", explica o professor de medicina Naviaux em comunicado divulgado pela universidade norte-americana. 

"Utilizámos um tipo de fármaco que já existe há quase um século para tratamento de outras doenças com o objetivo de bloquear o sinal de 'perigo' [que as células recebem e que desencadeia a postura defensiva] em ratinhos e conseguimos que as células retomassem o metabolismo normal e que a comunicação celular fosse restaurada", revela o investigador. 

Ensaio clínico com humanos arranca em 2014

Durante a investigação, o fármaco corrigiu 17 sintomas da doença, normalizando a estrutura sináptica do cérebro, o envio de sinais entre as células, o comportamento social, a coordenação motora e o metabolismo mitocondrial.

Robert Naviaux admite que, "obviamente, mesmo sendo capazes de corrigir falhas em cérebros de modelos animais geneticamente modificados, continuamos a estar longe de uma cura eficaz para humanos". No entanto, os especialistas estão esperançados e planeiam dar continuidade à investigação, desta feita com pessoas, já em 2014. 

"Sentimo-nos suficientemente encorajados para testar esta abordagem num pequeno ensaio clínico com crianças autistas no próximo ano", desvenda o docente. "Acreditamos que esta terapia [denominada terapia antipurinérgica, APT na sigla em inglês] oferece um caminho novo e entusiasmante que poderá levar ao desenvolvimento de fármacos para tratar o autismo", garante.

Segundo o coordenador da investigação, a eficácia demonstrada no estudo quanto à utilização deste tipo de terapia para "reprogramar a resposta das células ao perigo e reduzir a inflamação" constitui-se, portanto, "como uma oportunidade de desenvolver novos anti-inflamatórios para tratar esta e outras doenças".

Clique AQUI para aceder ao estudo completo (em inglês).