A Rede Social de Coimbra organizou o I Encontro Interinstitucional sobre Deficiências e Incapacidades. Decorreu a 28 de Junho.
Nesse dia senti o silêncio de instituições como: Paralisia Cerebral, Deficientes das Forças Armadas, Surdos–Mudos, instituições com representatividade e com importantes contributos à causa da deficiência.
Em representação da AFSD, mais conhecida por Projecto Cavalo Azul, levei assuntos que considero de importância.
A Organização Mundial de Saúde – OMS – estima que 10% da população mundial sofra de alguma deficiência, nas seguintes proporções: física 20%; auditiva 15%, visual 5%, mental 50%, outras 10%. A deficiência mental é a mais incapacitante.
A estimativa da OMS aplicada ao concelho de Coimbra, para uma população aproximada de 150 mil habitantes, teremos 15 mil pessoas com deficiência no concelho, com uma distribuição que vai das deficiências ligeiras às deficiências mais profundas e incapacitantes. Estes mais retirados da sociedade, mais escondidos, mais excluídos, mais carentes de apoios que suavizem o isolamento. Na roda dos nossos conhecimentos podemos encontrar vários casos.
A Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência veio ao assunto, uma das vezes com achegas Noémia Morais, jornalista da TSF, e de José Serôdio, presidente do INR, IP.
Um estudo da Universidade de Coimbra, orientado pela professora Sílvia Portugal, alerta que a pessoa com deficiência é de “custos elevadíssimos”, 20 a 25 mil euros ano. Quem não tem rendimentos não dá ao familiar incapacitado os apoios de que precisa, acrescentando exclusão à exclusão. A tese “Vidas de Cuidados – Uma análise sociológica do papel dos cuidadores”, de Joana Margarida Alves, alerta para os custos não quantificáveis, como são as noites sem dormir, as incertezas do futuro, os disfuncionamentos familiares.
A questão das “famílias” percorreu quase todas as intervenções. Há famílias que se interessam e outras que se alheiam da vida de um filho com deficiência. As famílias devem participar, conhecer, debater serem informadas de tudo o que diga respeito ao seu educando. As famílias devem ser envolvidas na educação e na reabilitação, devem ter informação dos métodos de trabalho, participar na definição e programação das ocupações. O apoio às famílias é um direito.
Sónia Guadalupe, assistente social e investigadora, do Instituto Miguel Torga, que dissertou sobre o conceito de “Rede”, reforçou a importância da família. A “rede” é a envolvência que acompanha a vida de uma pessoa. A envolvência alargada e diversificada atenua a exclusão, favorece a inclusão. A envolvência com diversidade de situações e de relações dá mais estímulos à pessoa com deficiência. A envolvência de relações exíguas limita, condiciona, reforça a exclusão.
Há deficientes com suporte alargado numa rede de familiares disponíveis para compreender, marcar presença, partilhar trabalhos e ansiedades, disponíveis para aligeirar a “exclusão”. E há deficientes que por perto têm um deserto árido de abandono, carregando muitas exclusões. São as exclusões dos rendimentos que não chegam para uma vida digna, nos limites de uma pensão de incapacidade de 212 euros mês que proíbe apoios necessários para uma vida de inclusão.
Preste-se atenção aos casos, e são muitos, pai ou mãe, quase sempre a mãe, a ficar em casa, impedida de trabalhar, porque os cuidados com o filho a isso obrigam.
Numa família de rede curta, sem o suporte de avós e de outros familiares, vencem os impedimentos à realização dos sonhos, dos projectos de vida social ou profissional do familiar ou do deficiente.
A aproximação às situações e a disponibilidade para ouvir despertam sensibilidades, indispensáveis para quem anda nesta causa.
Manuel Miranda
miranda.manel@gmail.com