terça-feira, 31 de julho de 2012

“Deficiências e Incapacidades” Em Encontro

A Rede Social de Coimbra organizou o I Encontro Interinstitucional sobre Deficiências e Incapacidades. Decorreu a 28 de Junho. 

Nesse dia senti o silêncio de instituições como: Paralisia Cerebral, Deficientes das Forças Armadas, Surdos–Mudos, instituições com representatividade e com importantes contributos à causa da deficiência. 

Em representação da AFSD, mais conhecida por Projecto Cavalo Azul, levei assuntos que considero de importância. 

A Organização Mundial de Saúde – OMS – estima que 10% da população mundial sofra de alguma deficiência, nas seguintes proporções: física 20%; auditiva 15%, visual 5%, mental 50%, outras 10%. A deficiência mental é a mais incapacitante. 

A estimativa da OMS aplicada ao concelho de Coimbra, para uma população aproximada de 150 mil habitantes, teremos 15 mil pessoas com deficiência no concelho, com uma distribuição que vai das deficiências ligeiras às deficiências mais profundas e incapacitantes. Estes mais retirados da sociedade, mais escondidos, mais excluídos, mais carentes de apoios que suavizem o isolamento. Na roda dos nossos conhecimentos podemos encontrar vários casos. 

A Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência veio ao assunto, uma das vezes com achegas Noémia Morais, jornalista da TSF, e de José Serôdio, presidente do INR, IP. 

Um estudo da Universidade de Coimbra, orientado pela professora Sílvia Portugal, alerta que a pessoa com deficiência é de “custos elevadíssimos”, 20 a 25 mil euros ano. Quem não tem rendimentos não dá ao familiar incapacitado os apoios de que precisa, acrescentando exclusão à exclusão. A tese “Vidas de Cuidados – Uma análise sociológica do papel dos cuidadores”, de Joana Margarida Alves, alerta para os custos não quantificáveis, como são as noites sem dormir, as incertezas do futuro, os disfuncionamentos familiares. 

A questão das “famílias” percorreu quase todas as intervenções. Há famílias que se interessam e outras que se alheiam da vida de um filho com deficiência. As famílias devem participar, conhecer, debater serem informadas de tudo o que diga respeito ao seu educando. As famílias devem ser envolvidas na educação e na reabilitação, devem ter informação dos métodos de trabalho, participar na definição e programação das ocupações. O apoio às famílias é um direito. 

Sónia Guadalupe, assistente social e investigadora, do Instituto Miguel Torga, que dissertou sobre o conceito de “Rede”, reforçou a importância da família. A “rede” é a envolvência que acompanha a vida de uma pessoa. A envolvência alargada e diversificada atenua a exclusão, favorece a inclusão. A envolvência com diversidade de situações e de relações dá mais estímulos à pessoa com deficiência. A envolvência de relações exíguas limita, condiciona, reforça a exclusão. 

Há deficientes com suporte alargado numa rede de familiares disponíveis para compreender, marcar presença, partilhar trabalhos e ansiedades, disponíveis para aligeirar a “exclusão”. E há deficientes que por perto têm um deserto árido de abandono, carregando muitas exclusões. São as exclusões dos rendimentos que não chegam para uma vida digna, nos limites de uma pensão de incapacidade de 212 euros mês que proíbe apoios necessários para uma vida de inclusão. 

Preste-se atenção aos casos, e são muitos, pai ou mãe, quase sempre a mãe, a ficar em casa, impedida de trabalhar, porque os cuidados com o filho a isso obrigam. 

Numa família de rede curta, sem o suporte de avós e de outros familiares, vencem os impedimentos à realização dos sonhos, dos projectos de vida social ou profissional do familiar ou do deficiente. 

A aproximação às situações e a disponibilidade para ouvir despertam sensibilidades, indispensáveis para quem anda nesta causa.

Manuel Miranda 

miranda.manel@gmail.com

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Os perigos de um diagnóstico errado!

O Raul era um menino que frequentava o 4.º ano de escolaridade, com algumas retenções pelo meio. Este "caso" nunca tinha chegado até mim. 


Um dia, quando fui ao território para dar apoio a Vânia e a Eliana, a professora da sala de aula vizinha abordou-me falando das graves dificuldades de aprendizagem do Raul: 

- Não sei mais o que fazer com ele! Já tentei tudo!, dizia-me a professora, angustiada! 

Não fiquei indiferente e fui ter com o aluno. 

Quando o Raul me viu, senti-lhe o corpo a tremer. Ele não sabia quem eu era. 

Perguntei-lhe, ternamente, se me poderia sentar na sua carteira e, muito timidamente, respondeu que sim. 

Apresentei-me e disse-lhe que estava ali para o ajudar a ler e escrever melhor. 

Ah! Como estavas assustado Raul! 

Passei-lhe as mãos pelo cabelo, agarrei-lhe as mãos e expliquei o queria dele. Perguntei-lhe, de seguida, se estava disposto a colaborar. Ele, sem saber o que se estava a passar, respondeu, muito baixinho, que sim. 

O Raul falava muito baixinho e fixava-se morosamente no meu rosto! Não achei "normal"! 

Lembras-te, Raul? 

Foi numa segunda-feira, pedi-te para me descreveres por escrito o teu fim de semana, em jeito de composição. Tremulamente e muito agitado, escreveste apenas três linhas. Observei a tua caligrafia (disgrafia) e os erros ortográficos cometidos. Porém, o que mais me doeu foi a confirmação da tua "dor" ainda por explicar. 

Acabando a minha análise, sorri-te e dei-te "os parabéns", preparando-te, assim, para a tarefa seguinte. Pedi-te que lesses o que tinhas escrito. E tu, e tu... não conseguiste, não entendias a tua própria escrita. 

Eis quando me perguntaste: 

-Não diz nada? Não diz que está mal? Eu sei que sou burro! 

Ah, Raul como estas tuas palavras mexeram comigo! 

E eu respondi-te: 

- Tu não és burro! Ninguém é burro! Nunca mais voltes a dizer isso de ti próprio! Eu vou ajudar-te Raul... eu vou ajudar-te! 

Sem nenhuma observação depreciativa ao teu trabalho, sem nenhum comentário negativo, apenas com o meu sorriso, com o poder dos afetos e com a minha " fé" que poderia ajudar-te, ficaste feliz. Reconheci-te o "desespero" na imensa vontade que tinhas em aprender e na tua "não aceitação" em não conseguires estar ao nível dos teus pares. 

Peguei na folha e fui-me embora, tinha outros meninos à minha espera... Em casa voltei a analisar "a folha". Não era dislexia com toda a certeza... as dúvidas persistiam... 

Li os relatórios dos professores anteriores: "Desinteressado; está sempre na lua; não participa; não faz os trabalhos de casa; alienado..." 

Tinha de conhecer a tua mãe! Alguma "coisa" não batia certo! Pedi-lhe que me descrevesse o filho e em "tom triste" reiterou as suas dificuldades de aprendizagem. Perguntei-lhe se o filho tinha tido algum problema de saúde, se o parto fora normal, aquelas perguntas do costume, mas fundamentais. 

- Não! Respondeu imediatamente a mãe. 

E no meio de tanta pergunta, de tanta ponta solta, a mãe lembrou-se: 

- Ah, espere! Lembrei-me agora, ele já foi operado aos ouvidos, mas foi em pequenino! Acrescentou. 

Deu-me imediatamente aquele "clique". Perguntei-lhe então se achava que o Raul ouvia bem.  

- Acho que sim, embora às vezes eu falo com ele e parece não ouvir, mas é porque é distraído! 

(Quero salientar que esta mãe nunca descurou do seu filho. Acompanhava o seu percurso escolar e levava-o frequentemente ao médico de família porque ele se queixava de fortes dores de cabeça.) Aconselhei-a ir o mais rapidamente possível a um otorrino. Que estúpida que fui! Nem me tinha lembrado das barreiras económicas daquela mãe. Mas, lá consegui uma consulta! Eu tinha prometido ao Raul que o iria ajudar e foi o que fiz! 

Foi no hospital da cidade que lhe diagnosticaram um nível de audição muito abaixo do normal.  

Vês, Raul? Afinal tu nunca foste burro! Como não ouvias, como poderias tu aprender? Nunca foste distraído! E quando te fixavas no rosto das pessoas, não eras "estranho", apenas tentavas fazer a leitura labial! 

Começámos a tua "aprendizagem" novamente e hoje já tens o teu curso (CEF). Se assim não fosse, eras mais um a abandonar a escola. 

Fiquei tão revoltada com o sistema! Como foi possível aquele menino andar anos a fios sem nunca ninguém ter percebido do seu real problema?!: um nível de audição muito abaixo do "normal". 

Imaginem só, caros leitores, o grau de sofrimento silencioso daquela criança ao sentir-se revoltado por não aprender como os outros. Ele não aprendia porque não ouvia. E claro está, que ele nunca teve a perceção que ouvia mal, pois sempre "ouviu" assim. 

São estes alguns dos "perigos" de diagnósticos nem sempre bem "diagnosticados" que... deixam marcas irreversíveis, na vida dos nossos filhos!

Manuela Cunha Pereira 

In: Educare

Sistema para ajudar deficientes

Um investigador francês desenvolveu um sistema para escrever e desenhar num ecrã de computador utilizando apenas o movimento dos olhos, o que poderá permitir a deficientes profundos "recuperar a criatividade". 
Jean Lorenceau, do Centro de Investigação do Instituto do Cérebro e da Medula Espinal (ICME), em Paris, contou que trabalha com doentes com esclerose lateral amiotrófica, que perderam a capacidade de usar os membros e a capacidade de deglutição.
Nestes casos, explicou o especialista em neurociências cognitivas, "a única coisa que mantêm é muitas vezes a mobilidade dos olhos".
O sistema agora desenvolvido, que é apenas um protótipo ainda não comercializado, apresenta ao utilizador uma página em branco, na forma de um ecrã de computador, na qual a pessoa pode escrever com letra manuscrita, desenhar e assinar apenas com o movimento do olho. O sistema utiliza um dispositivo já conhecido que capta os movimentos dos olhos com uma câmara.


sábado, 28 de julho de 2012

Modelo inovador ajuda alunos no sucesso escolar

Antes de o colocar no papel e depois de o aplicar na parte prática da sua tese de doutoramento, que apresentou na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, Maria Amélia Dias Martins, especialista em insucesso escolar, já tinha testado o modelo em contexto real em algumas escolas do país, durante vários anos. O modelo NEERE - Modelo de Não Exclusão pela Eficácia da Remediação Educativa - propõe um ensino supervisionado e diferenciado nas disciplinas teóricas de Português, História, Ciências, Matemática e Inglês, para as crianças com dificuldades de aprendizagem. 

É um modelo inovador, económico, fácil de gerir e com premissas bem definidas. Um professor ansioso, por exemplo, não pode ensinar um aluno hiperativo. Os docentes são escolhidos em função dos alunos com quem irão trabalhar. "Um professor ansioso não pode ter um aluno que se porta mal", especifica a especialista, que acrescenta que é importante ter professores exigentes consigo próprios e com os seus alunos. A seleção é um passo importante do processo. "Escolher professores que no seu percurso escolar tenham demonstrado bons resultados com alguns alunos que desenvolvem problemas e dificuldades de aprendizagem". Os docentes recebem formação adequada para aplicar o modelo NEERE.

Os resultados são reveladores. Adequadamente aplicado, o novo modelo educativo pode aumentar, em mais de 50%, o sucesso escolar das crianças com dificuldades acentuadas na aprendizagem, de uma forma mais eficaz e economicamente viável. No âmbito da tese de doutoramento, Maria Amélia Dias Martins comprovou que os alunos aprendem melhor, têm mais confiança em si próprios e, em cem por cento dos casos, passaram de ano com aproveitamento. 

Este modelo de ensino pretende aproveitar recursos já existentes e ajudar alunos com insucesso escolar. Durante um ano letivo, a especialista aplicou o modelo de educação pioneiro para crianças com dificuldades escolares acentuadas. Selecionou 24 crianças com insucesso escolar, em transição do 1.º para o 2.º ciclo, dividindo-as por um grupo experimental de 11 crianças, no qual foi aplicado o modelo NEERE, e um grupo de controlo de 13, onde vigorou o modelo de currículo comum. Os 13 alunos do grupo de controlo foram distribuídos por diferentes turmas de 5.º ano do ensino regular. Os 11 alunos do grupo experimental foram inseridos numa turma de 5.º ano, mas separados dos restantes elementos da turma nas disciplinas de Português, História, Ciências, Matemática e Inglês, com um professor por disciplina, selecionado para o estudo. 

Nas aulas em que o modelo NEERE foi seguido, os docentes tiveram liberdade de utilizar métodos e materiais que consideravam mais adequados à sua área de especialidade. Esta intervenção educativa esteve subordinada aos mesmos conteúdos programáticos dos restantes alunos e a sua avaliação decorreu da mesma forma. Após um ano de aplicação, os efeitos da intervenção são visíveis. O estudo demonstra que os resultados relativos ao rendimento escolar foram positivos no grupo experimental, enquanto que no grupo de controlo continuaram negativos quando comparados com os do início do ano escolar. 

No final do ano letivo, 100% dos alunos do grupo experimental transitaram para 6.º ano, o que só se verificou com 38% dos alunos que seguiram um currículo comum. Em relação à dimensão afetiva, a estabilidade emocional das crianças era considerada semelhante no início do estudo. Já a confiança dos alunos nas suas capacidades era mais elevada no grupo de controlo; o grupo experimental considerava-se menos capaz de desempenhar tarefas escolares. 

No final do ano de escolaridade, as crianças ensinadas pelo modelo NEERE, apesar de ainda estarem instáveis a nível emocional, registaram um aumento significativo na sua autoconfiança. O grupo a quem foi aplicado o modelo convencional manifestou, no final do ano, mais sinais de instabilidade emocional e um nível muito mais baixo de confiança nas suas capacidades. Os resultados são claros: os alunos chegaram ao final do ano com melhor rendimento escolar, maior estabilidade emocional e uma maior confiança na sua capacidade de trabalho, em comparação com os seus colegas abrangidos pelo método de ensino atualmente em vigor. 

Para Maria Amélia Dias Martins, educação é educação e ponto final. O termo educação especial é, em seu entender, subjetivo. "As escolas têm de estar equipadas para serem capazes de responder a todos os alunos que lhe aparecem", refere. O modelo acabou por surgir no final da década de 90 depois de olhar à volta e de constatar como funciona a realidade. "Há necessidade de rentabilizar, por um lado, os professores e, por outro, de os alunos se sentirem motivados entre os seus pares", comenta. As necessidades dos alunos não são colocadas de lado e os patamares de desenvolvimento são respeitados. "Todo o currículo é lecionado de acordo com o desenvolvimento da criança". 

"O segredo está na supervisão, além da avaliação diagnóstica prévia", sublinha. A supervisão permanente faz toda a diferença no modelo NEERE que envolve todos os atores - professores, alunos, pais, comunidade educativa - no processo. Um modelo transversal, que se concentra sobretudo numa altura delicada do percurso escolar dos alunos, ou seja, na transição do 1.º para o 2.º ciclos. "É fundamental criar capacidades e conhecimentos e não há competências sem capacidades e sem conhecimentos", afirma Maria Amélia Dias Martins.

Neste momento, o modelo NEERE não está a ser aplicado em nenhuma escola.

Sara R. Oliveira
In: Educare

terça-feira, 24 de julho de 2012

Veículo elétrico para cidadãos em cadeira de rodas

A fabricante de automóveis húngara Kenguru desenvolveu um veículo elétrico feito especialmente para os utilizadores de cadeira de rodas. O carro já está em fase de produção e começará a ser comercializado em breve na Europa e nos EUA.

O Kenguru, é o primeiro carro elétrico do género criado com o propósito de aumentar a mobilidade dos cidadãos impossibilitados de se locomover, permitindo-lhes conduzir.

Não possui bancos, sendo estes substituídos por um "casulo" em fibra de vidro, muito compacto, cujo peso chega aos 550 quilos, onde a cadeira de rodas entra sem problemas. A entrada no carro é feita através de uma porta traseira, a única existente, que se abre por controlo remoto.

O veículo atinge uma velocidade máxima de 45 quilómetros por hora e uma autonomia entre 70 a 110 quilómetros, tenho sido desenhado com vista à realização das curtas viagens no interior das cidades.

De acordo com a imprensa internacional, o preço do carro, cuja venda deverá começar nos próximos 6 a 12 meses, vai rondar os 25 mil dólares (cerca de 20 mil euros).



segunda-feira, 23 de julho de 2012

Autismo carece de diagnóstico

O autismo afecta 67 milhões de pessoas em todo o Mundo. Em Portugal não há números oficiais, mas os dados indicam que há 100 mil crianças e jovens com perturbações do desenvolvimento, onde se inclui o autismo. 

Os sinais da doença nem sempre são valorizados pelos pais, que atribuem a mimos ou surdez. O autismo é "uma perturbação neurobiológica complexa", designada, atualmente, de Perturbação do Espetro Autista (PEA). A partir de dados norte-americanos, a proporção de casos é de 1 em 80, explica o neuropediatra Nuno Lobo Antunes.

A doença não tem cura e afeta mais o sexo masculino. "Não existem medicamentos que curem o autismo, embora sejam úteis devido à probabilidade de ansiedade. Utilizam-se técnicas comportamentais para tentar melhorar o comportamento das crianças. Quanto ao género predominante, há quem afirme que os rapazes têm até dez vezes mais do que as raparigas", refere.

As PEA começam antes dos três anos de idade e permanecem durante a vida da pessoa. "Um diagnóstico precoce permite uma intervenção rápida, com apoio de um psicólogo, terapeuta da fala e técnico psicomotricista. Há que interpretar os sinais de alerta para melhorar a sociabilização dos doentes", refere a presidente da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo de Lisboa, Maria Paula Figueiredo. Para as associações do autismo, o problema reside no número de crianças sem diagnóstico que são afastadas de qualquer resposta social.

"NASCE-SE AUTISTA", Nuno Lobo Antunes, Neuropediatra

Correio da Manhã - Qual a perturbação do desenvolvimento que mais afeta as crianças portuguesas?

Nuno Lobo Antunes - O défice de atenção, mais associado à dislexia, lidera o topo das disfunções de desenvolvimento. Logo a seguir vem o autismo.

- A origem do autismo também está nas emoções?

- Não há ligação definida entre aspetos emocionais na gravidez e o aparecimento do autismo. Nasce-se autista, resulta de uma disfunção cerebral.

- Ter já um filho autista aumenta a probabilidade?

- Têm um maior risco, cerca de 3%, incidência semelhante à que se verifica nos gémeos falsos.

O MEU CASO: CATARINA ABREU

"A CATARINA SÓ COMEÇOU A FALAR AOS 5 ANOS"

Catarina Abreu, de oito anos, teve a confirmação de que era portadora de autismo quando tinha dois anos. Antes disso, com 18 meses, a sua educadora já identificara os sinais de alerta.

A menina vive em Torres Vedras, onde frequenta o ensino regular e tem apoio estruturado. Adora brincar sozinha e os legos são a sua brincadeira preferida. "A Catarina só começou a falar aos cinco anos. Ela fala mas não conversa connosco. Isola-se e não aprende porque se distrai muito", conta a mãe, Andreia Abreu.

A primeira dificuldade começa logo pela manhã. A Catarina ainda não tem autonomia para tomar banho, lavar os dentes ou vestir-se sozinha. "Espero pelo dia em que a minha filha será independente. Tive receio quando estava grávida do meu segundo filho [Tiago, de cinco anos], de que ele também viesse com autismo", refere a mãe. Por outro lado, o gasto em terapias é elevado. "São 250 euros para a neuroterapia e a equitação terapêutica. O resto, ela tem na escola". O futuro é, por isso, uma preocupação para os pais da Catarina. "Tenho medo que ela não arranje emprego. Um autista adulto não se insere em lado nenhum. Deviam criar programas de empregos para eles".


Recomendação sobre o prolongamento da escolaridade universal e obrigatória até ao 12.º ano ou até aos 18 anos

O Conselho Nacional de Educação emitiu a Recomendação n.º 3/2012 sobre o prolongamento da escolaridade universal e obrigatória até ao 12.º ano ou até aos 18 anos.
Embora não aborde em concreto a modalidade de educação especial, destaco algumas alíneas das recomendações, embora considere que todo o documento mereça uma leitura atenta:



d) É preciso regulamentar as condições em que se vai processar a universalização do acesso à nova escolaridade obrigatória, mormente as condições da sua gratuitidade, desde o acesso e frequência das várias alternativas de ensino e formação, até à ação social escolar, à mobilidade entre vias e percursos e à certificação, pois é fundamental não deixar de fora da escolarização aqueles que à partida revelam maiores dificuldades de acesso e sucesso;

f) Se gerem oportunidades educativas de qualidade para todos os alunos, o que requer que os agrupamentos escolares, as escolas e os centros de formação estejam apetrechadas com os adequados recursos e que se preparem com tempo e muita ponderação para flexibilizar a gestão curricular, pois torna -se necessário enfrentar uma grande heterogeneidade social e cultural, que vai aumentar, e motivar os alunos, combatendo o insucesso que ainda é bastante elevado;

r) Se resolva o desajustamento que existe entre a idade legal de acesso ao trabalho (16 anos) e o novo limite etário para o cumprimento da escolaridade obrigatória (18 anos), cumprindo o disposto na Lei n.º 85/2009, de 27 de agosto, relativo à necessidade de aprovar legislação complementar (artigo 6.º);




sexta-feira, 20 de julho de 2012

Funcionamento dos cursos profissionais de nível secundário

O Despacho n.º 9815-A/2012, vem introduzir alteração ao despacho n.º 14758/2004 que define algumas das condições de funcionamento dos cursos profissionais do nível secundário de educação. 

Do novo ordenamento criado por este diploma, destaco o seguinte:

26.1 — As turmas de cursos profissionais do nível secundário de educação que integrem jovens com necessidades educativas especiais de caráter permanente, sem necessidade de adequações curricularescujo programa educativo individual assim o determine são constituídas por um número máximo de 20 alunos, não podendo incluir mais de dois alunos naquelas condições.

Governo reforça em 50% vagas para cursos profissionais

O objectivo é apostar no ensino dual, assegurando que 30 mil jovens têm formação em empresas.

A aposta no ensino dual é apontada como uma das receitas de sucesso da indústria e economia alemãs. O modelo prevê que os alunos, sem vocação para prosseguir estudos, sejam encaminhados para um ensino profissional que lhes garante a aprendizagem nas empresas. Na Alemanha, actualmente, cerca de 80% dos estudantes do ensino secundário frequentam esta modalidade de formação.

O Governo português anunciou, ontem, que pretende expandir este sistema de ensino em alternância aumentando em 50% o número de beneficiários. Para já serão asseguradas, em Setembro, cerca de 30 mil vagas nestes cursos, contra as 18 mil actuais. Uma formação dada em centros do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), sendo a componente de formação trabalho desenvolvida nas empresas. Cada um destes estudantes deverá receber uma bolsa de 419 euros, durante o período de formação profissional. Podem concorrer a estes cursos jovens dos 15 aos 24 anos, bastando para isso inscreverem-se na página do IEFP.

Para reforçar a aposta no ensino profissional, o Governo pretende ainda identificar um conjunto de Escolas de Referência de Ensino Profissional, que para além de assegurarem os cursos profissionais deverão ter "ambientes empresariais para a realização de estágios", anunciaram, ontem, os secretários de Estado do Emprego e da Educação numa conferência de imprensa conjunta.


Publicação dos estatutos do Instituto Nacional para a Reabilitação

A Portaria n.º 229/2012, vem aprovar os estatutos do Instituto Nacional para a Reabilitação, I. P., também conhecido por INR, I. P. 
Da sua estrutura consta a Unidade de Investigação, Formação e Desenvolvimento, a quem compete, entre outras funções:
a) Realizar estudos e pareceres técnicos na área da reabilitação e acessibilidades;
f) Divulgar as tecnologias de apoio de promoção da autonomia das pessoas com deficiência;
g) Assegurar a certificação ao nível científico e tecnológico de produtos premiados na área da reabilitação;
h) Apoiar a divulgação e elaboração de um catálogo de produtos de apoios;
j) Promover e desenvolver a formação na área da reabilitação e das acessibilidades;
m) Desenvolver ações de informação relacionadas com a política nacional de prevenção, reabilitação, habilitação e participação das pessoas com deficiência; (...)

À semelhança de outros organismos públicos, penso que seria importante promover alguma descentralização na realização das atividades, designadamente, a formativa. O INR possui um plano de formação interessante. No entanto, centraliza as ações quase exclusivamente na capital.





Implante ocular inovador devolve visão de imediato

Um implante ocular revolucionário tem potencial para devolver, de imediato e com grande simplicidade, a visão a pessoas cegas. A inovação, denominada Bio Retina, é implantada sob anestesia local e oferece ao paciente a capacidade de ver a preto e branco como num monitor de computador.

Para já ainda é um protótipo, mas a empresa Nano-Retina, que está a desenvolver o implante, adianta que os ensaios clínicos poderão começar já no próximo ano.

De acordo com o jornal Daily Mail, o dispositivo em questão foi especificamente concebido para doentes que sofram de degeneração macular - um problema que causa perda da visão central - relacionada com o envelhecimento, bem como de glaucoma e cataratas.

Citada pelo diário britânico, a companhia explica que este incorpora vários minúsculos componentes do tamanho da unha de uma criança. 

"A implantação do dispositivo demora 30 minutos, requerendo apenas anestesia local, uma pequena incisão e a sua 'colagem' à retina danificada", esclarece a empresa. Depois do procedimento, a visão é recuperada instantaneamente, sendo o tempo de recuperação de cerca de uma semana. 

Este sistema surge como algo revolucionário porque, atualmente, todos os que estão a ser estudados "exigem anestesia geral e uma operação de seis horas para implantar cirurgicamente peças de 'hardware' no olho, ligando-as entre si, ou para inserir um implante ligado a um fio que passa através do crânio do paciente", conclui a Nano-Retina.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Que prioridades para a educação?

Os professores que resistem e recusam perder a sua profissionalidade, aqueles que estão presentes e aceitam os novos desafios, são muitas vezes olhados como heróis sociais pelo modo como enfrentam o embate das mudanças, das pressões e das críticas injustas, por vezes acumuladas por mais de uma geração.


Porém, o amontoar dessas pressões, a que por vezes se juntam períodos profissionais menos estimulantes, conduzem a que muitos docentes se confrontem com crises da sua profissionalidade, com impacto profundamente negativo no modo de agir dentro da escola.

Essas crises de identidade profissional podem surgir quando os professores são chamados a abandonar o que sabiam fazer bem, para se dedicarem a outras tarefas em que não acreditam ou para as quais se sentem mal preparados, já que tecnicamente as dominam mal. Ou seja, quando são coagidos a substituir o seu “saber-fazer” por um “saber-mais-ou-menos-isso”.

Outras vezes, essas crises revelam-se quando se alargam os horizontes espaciais de actuação do docente. A geografia de actuação dos docentes foi profundamente alterada nas últimas décadas, sem que isso tenha revertido numa significativa alteração dos processos de formação inicial de professores. A quase totalidade dos docentes foram (e ainda continuam a ser) formados para agir quase exclusivamente dentro da sala de aula. As competências profissionais que lhes são exigidas estão confinadas a saberes e procedimentos que apenas fazem sentido em situação de classe. Os formadores de professores dedicam mais de noventa por cento das suas actividades de supervisão para recolher dados de avaliação através da observação de aulas. O (futuro) professor pode claudicar à porta da sala de aula. Será impensável que o faça dentro dela.

Esta história e estas memórias da formação fazem com que muitos dos professores portugueses prefiram o trabalho individual (isolado) à formação em parceria, porque lhes fizeram acreditar que a sua sala de aula é um local sagrado inexpugnável e que o seu trabalho profissional se esgota com o fechar da porta dessa sala.

Muitos de nós fomos e somos apenas preparados para agir em situação de classe, menos na escola, raramente na aldeia digital e na comunidade parental. Aí, começam as fobias, os preconceitos, as reservas e os desencantos. Aí, os discursos começam sempre a ser menos pedagógicos e mais defensivos de uma neutra profissionalidade que nem sempre sabemos definir ou que, por ausência de outro modelo, definimos com base na tradição e no pior do discurso oral. Sobretudo quando a tutela obriga, com tem vindo a obrigar, a que os professores se desmultipliquem em tarefas e todos os objectivos que as famílias e a sociedade não conseguem (ou não querem?) solucionar…

O alargamento das tarefas e funções dos docentes obrigam-no a intervir numa nova geografia pedagógica, pressionam-no a caminhar em terrenos e a traçar percursos em que ele nem sempre se sente profissionalmente confortável. Obriga-se a que o professor também seja tutor e educador, quando ele, de facto, foi, sobretudo, formado para instruir, em contacto directo com os seus alunos, sem intermediários, designadamente os intermediários das aprendizagens a distância.

Por tudo isso, relevo a importância da formação permanente dos docentes, a qual deveria envolver verbas e meios significativos, porque se trata da manutenção da qualidade do maior bem de uma nação: a qualidade do seu sistema educativo. Mas não creio que seja para aí que as prioridades economicistas da actual tutela estejam viradas.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt

terça-feira, 17 de julho de 2012

Educação e deficiência: uma sentença justa contra uma medida injusta

Perante as notícias sobre a deliberação do Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga, relativamente à realização provas de exames a nível de escola pelos alunos com necessidades educativas especiais, referido em textos anteriores, divulgo um artigo de opinião, publicado no jornal Público, em suporte de papel, do Eurodeputado Paulo Rangel.

É fundamental que se repense a ideia de que não deve haver exames adaptados aos alunos com necessidades especiais

1- Muitas vezes tenho dito o quanto aprecio a política educativa do Governo e, em especial, a liderança conhecedora, firme e realista do ministro Nuno Crato. Em questões localizadas, porém, o efeito automático de decisões administrativas do Ministério da Educação tem-se revelado fonte de graves injustiças. É o caso, de sobremaneira chocante, da submissão dos alunos com necessidades especiais – em particular, com deficiências cognitivas – ao modelo único de exames nacionais (sem qualquer consideração pela sua situação concreta).
De há muito, contra ventos e marés, que defendo um aumento gradual, mas sensível, do rigor e exigência no ensino. De há muito que preconizo a actual linha política de generalizar a prática da avaliação também por exames. Só um ensino rigoroso e exigente pode promover a inclusão, a igualdade de oportunidades e a mobilidade social. O laxismo e o facilitismo acabam sempre por se revelar como mecanismos de reprodução das desigualdades sociais.

2. Mas a defesa de uma certa “padronização” e “homogeneização” de procedimentos, decerto ditada pelo reforço da exigência, não pode pôr em causa os direitos dos alunos com deficiência. As crianças e adolescentes com necessidades especiais têm direito ao ensino e ao desenvolvimento da sua personalidade – direitos fundamentais garantidos pela Constituição. Sabemos que as deficiências, físicas e cognitivas, são as mais diversas e requerem respostas muito diferenciadas. Sabemos que o grau de certas deficiências, especialmente cognitivas, obriga mesmo a um ensino especial, já fora do sistema geral.
Mas grande parte das deficiências cognitivas – e a fatia de leão das deficiências físicas – é perfeitamente compatível com o sistema geral de ensino, desde que efetuadas adaptações. E é também sabido que o grau de progresso educativo e de realização pessoal destes alunos é tanto maior quanto mais estejam integrados no dito sistema geral. De resto, para todos os estudantes, a presença nas turmas de colegas com necessidades especiais é uma experiência humana e pedagógica altamente formativa – algo que, portanto, mesmo com custos e desvantagens, o Estado e os pais em geral devem fomentar.

3. Uma parcela dos alunos com deficiência, já integrados no sistema geral de ensino, desenvolve os seus estudos no quadro de um “programa educativo individual”. Programa que se traduz, desde logo, numa adaptação às suas capacidades e ao seu historial das metas curriculares de cada disciplina e dos processos de avaliação. Definido esse programa no contexto escolar e homologado pela entidade competente, o aluno é geralmente isento de exames nacionais e as suas provas de exame, que carecem de adaptação, são integralmente realizadas ao nível da escola.
Contra todas as expectativas, foi emanado, já em Abril, um despacho normativo que passou a sujeitar estes alunos, que frequentassem o 4.º e o 6.º anos, aos exames nacionais. Excecionou, e só para este ano lectivo, os alunos que frequentassem o 9.º ano, assim introduzindo uma discriminação injustificável entre o 9.º ano e o 4.º e 6.º anos. Nos 4.º e 6.º anos, foram ressalvadas algumas deficiências físicas graves, mas não as cognitivas. E as exceções previstas, aparentemente, vigoram para este ano, mas não valerão daqui em diante…

4. Perante uma tão flagrante injustiça, um aluno com necessidades especiais e seus pais interpuseram uma intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias – que é uma ação urgente, raras vezes bem sucedida nos nossos tribunais. A sentença, justa e digna, representa um grande passo no reconhecimento dos direitos fundamentais aos cidadãos com deficiência. Considera que aquele despacho é inconstitucional porque viola o direito ao ensino – enquanto direito análogo a direitos, liberdades e garantias –, viola a proteção da confiança (altera as regras a meio do jogo) e viola o princípio da igualdade (alunos em situações idênticas têm direitos que outros não têm). Vou mais longe ainda: por detrás da conceção que inspira uma sentença tão lapidar, está a admissão de que esse despacho “nivelador” rasga o direito ao livre desenvolvimento da personalidade e à proteção legal contra a discriminação. 
É fundamental que o Ministério da Educação – em lugar de entrar na espiral de recursos, useira e vezeira na nossa praxe administrativa – execute esta sentença e tire dela todas as consequências. É fundamental que repense a ideia, aparentemente em voga, de que não deve haver exames adaptados a cada aluno com necessidades especiais. É, aliás, importante que acompanhe a aplicação dos programas individuais e a feitura dos respetivos exames, para garantir que, no nível adequado, a exigência também se estende aos alunos com deficiência. Com tantos professores com “horário-zero”, não será seguramente difícil, de futuro, contemplar as situações das crianças com necessidades educativas particulares…

5. Tive conhecimento desta sentença porque a dita intimação foi proposta em tribunal por dois colegas meus. Ao contrário do que, por lapso, no sábado dizia este jornal, não patrocinei esta acção nem intervim nela. Mas tive, de facto, conhecimento da mesma e do seu resultado pelo exemplo extraordinário dos pais deste adolescente e dos seus advogados, com quem partilho a profissão há vários anos. Não se vergaram ao conformismo, à inércia e ao desânimo. E tendo tido conhecimento desta jurisprudência, não posso calar a minha indignação e a minha alegria. Nenhuma política de exigência implica o distanciamento dos cidadãos com deficiência. Eles fazem parte da nossa vida, do nosso mundo e da nossa escola e tornam a vida, o mundo e a escola melhores e mais humanos do que seriam sem eles.

Paulo Rangel
Eurodeputado (PSD). Escreve à terça-feira
paulo.rangel@europarl.europa.eu

Texto original publicado no jornal Público em suporte de papel disponível aqui.





Problemas da fala em crianças em idade pré-escolar

Um instrumento criado pela Universidade de Aveiro (UA) permite detetar deficiências da fala em crianças em idade pré-escolar, como falar à ‘sopinha de massa’ ou trocar os sons das letras, facilitando a correção. 

"A partir dos quatro ou cinco anos, o discurso da criança deve ser compreensível, mas há casos de crianças que, apesar de não terem qualquer problema cognitivo, têm dificuldade em se fazer entender pelos adultos, devido à omissão ou troca de sons no seu discurso", explicou Marisa Lousada, da Escola Superior de Saúde da UA.

Segundo a investigadora, o teste fonético-fonológico para avaliação de linguagem pré-escolar (TFF-ALPE) permite analisar a capacidade de produção de sons orais das crianças portuguesas e a correção atempada pela terapia da fala.

"Há imensos adultos que falam à 'sopinha de massa' e nunca aprenderam a colocar a língua na posição correta, o que lhes cria dificuldades no dia-a-dia e limita as suas escolhas profissionais. Veja-se o exemplo de um apresentador de televisão ou de um ator", exemplificou Marisa Lousada.

Na maior parte dos casos, são perturbações articulatórias (incapacidade de produzir determinado som) ou fonológicas (não utilização dos sons devidamente em determinados contextos) que podem ser solucionadas antes de a criança ir para a escola, se forem detetadas precocemente, disse.

Os instrumentos até agora utilizados não possuem dados normalizados relativos às crianças falantes do português europeu e é essa lacuna que o TFF-ALPE vem colmatar, pelo que se assume como um teste fundamental no rastreio, avaliação e diagnóstico das perturbações articulatórias e fonológicas das crianças portuguesas.

A sua conceção recorreu a elementos comuns a 768 crianças com desenvolvimento normal, do continente e ilhas, para definir os dados padrão, sendo o teste constituído por um livro de imagens (que induzem a produção nas crianças) e pelas respetivas folhas de registo dos resultados.

"É essencial fazer uma avaliação nesta faixa etária, entre os três e os cinco anos, porque os problemas que ocorrem nestas idades em termos fonético-fonológicos podem, mais tarde, ter uma repercussão na aprendizagem da leitura e da escrita", reforçou Marisa Lousada.

Segundo a responsável pelo TFF-ALPE, ela própria terapeuta da fala, educadores de infância, psicólogos e outros profissionais de saúde e da educação podem usar essa ferramenta para fazer o despiste das perturbações entre as crianças e, caso seja necessário, encaminharem-nas para os terapeutas poderem intervir".

Descoberta fundamental para desenvolvimento de terapêuticas eficazes para doenças neurodegenerativas

Um estudo científico na área da biofísica, liderado por investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), em colaboração com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), pode tornar-se uma peça fundamental no desenvolvimento de novos fármacos para várias doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, Parkinson, ou Paramiloidose (Doença dos Pezinhos).

A importância desta descoberta já foi reconhecida a nível internacional, depois da revista Journal of Biological Chemistry ter considerado o artigo «Paper of the week», isto é, como pertencendo à selecção dos dois por cento melhores artigos que a revista publica num ano.

A equipa de investigadores do ICBAS, em colaboração com o Departamento de Engenharia Química da FEUP, criou um novo modelo biofísico que permite compreender a formação de fibras de amilóide, ou seja, agregados das proteínas que se depositam nos tecidos e que se encontram associadas ao desenvolvimento de patologias como o Alzheimer, Parkinson ou a Paramiloidose, também conhecida como Doença dos Pezinhos.

O desenvolvimento de fármacos para o tratamento destas doenças pode ser feito com base na medição das velocidades (ou cinéticas) de formação destas fibras em laboratório, em condições próximas das que acontecem ‘in vivo’. O trabalho agora publicado apresenta um modelo matemático universal e simples que, de uma forma objetiva e concreta, descreve a sequência de acontecimentos envolvidos na fibrilização e o modo como estes são afetados pela ação de eventuais fármacos.

"Conseguimos descrever todos os passos através de um modelo matemático simples e universal, cuja utilização é facilitada pelo número reduzido de parâmetros envolvidos", explica Pedro Martins, docente e investigador do ICBAS.

E acrescenta: "Este tipo de modelos é muito importante na compreensão de vários fenómenos e em particular para o desenvolvimento de novos medicamentos. Trata-se de uma ferramenta que descreve e prevê o que acontece no caso da formação de fibras de amilóide, na presença ou ausência de inibidores".

O artigo «A generic Crystallization-Like Model that describes the kinetics of amyloid fibril formation» foi publicado no Journal of Biological Chemistry e considerado «Paper of the week». Um reconhecimento internacional, uma vez que coloca o estudo entre os melhores do ano.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Deficientes empacotam porcas e parafusos para as eólicas

Doze utentes da APPACDM de Viana integram este mês o corpo laboral da multinacional alemã Enercon. Contam e empacotam peças que entram na produção de pás para as eólicas.
A Europart fornece em contínuo 150 artigos distintos para a Enercon. 12 desses artigos irão ser subcontratados à APPACDM. Associação já trabalha para outras empresas. Esta tarefa enquadrada legalmente como "atividade socialmente útil" não é pioneira na instituição de Viana do Castelo. "Eles adaptam-se muito bem e o que mais gostam é de trabalhar", garante um dos responsáveis da APPACDM.

Ver conjunto de fotografias com legendas em JN online.

domingo, 15 de julho de 2012

MEC condenado a proporcionar provas de escola a aluno com deficiência

A propósito do texto anterior, divulgo o conteúdo da notícia publicada no jornal Público, em suporte de papel, do dia 14 de julho. Existe uma retificação a fazer, na medida em que PEI é a sigla de Programa Educativo Individual. 


Tribunal de Braga considerou que o Ministério da Educação e Ciência violou garantias constitucionais de direito ao ensino e ao sucesso escolar ao obrigar aluno com NEE a fazer exame nacional do 6.º ano

Até ao início do próximo ano lectivo, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) terá de criar condições para que L., um jovem de 16 anos com Necessidades Educativas Especiais (NEE), faça as provas finais do 2.º ciclo a nível de escola, uma possibilidade que lhe foi recusada pelo Júri Nacional de Exames (JNE). Este é o resultado de uma sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Braga, que condena o MEC por violação da garantia constitucional do direito à igualdade de oportunidades de acesso ao ensino e de êxito escolar.

A sentença, com data de 10 de Julho, pode ser decisiva na luta que este ano lectivo foi travada pelos pais e associações representativas dos alunos com NEE contra o ministério de Nuno Crato. Ainda que recorra da decisão do tribunal, o MEC terá de recuar no que respeita à decisão de obrigar L. a fazer o exame nacional do 6.º ano. Este jovem, que tem síndrome do X frágil e défice cognitivo, terá a possibilidade de fazer provas de Matemática e de Português adequadas às suas capacidades.

Nos termos da legislação em vigor, o agrupamento de escolas que L. frequenta (na zona de Braga) havia elaborado para aquele aluno um Plano de Estudos Individual (PEI). Trata-se de um documento que fixa e fundamenta as respostas educativas e as formas de avaliação dos alunos com necessidades especiais. Neste caso, o próprio documento (elaborado por uma equipa integrada pelos encarregados de educação, o director de turma, o Conselho Pedagógico e o director do agrupamento) definiu que L. seria avaliado, no fim do 6.º ano, através de provas de escola e, concretamente, que não deveria participar nas provas nacionais.

Aquela situação viria a ser alterada pelo despacho normativo 6/2012, de Abril deste ano, que impõe a L. e a todos os alunos do 4.º e 6.º anos nas suas circunstâncias a realização dos exames nacionais, sem qualquer adaptação. O próprio despacho define uma excepção: os alunos do 9.º ano com NEE permanentes do domínio cognitivo, com adequações individuais curriculares e do processo de avaliação, poderiam este ano realizar, ainda, provas finais a nível de escola para conclusão do 3.º ciclo.

Sucesso comprometido

Na sentença da acção, a juíza do TAF de Braga considera que aquela alteração é susceptível de lesar o direito fundamental de L. ao ensino e ao sucesso escolar. Isto na medida em que todos os intervenientes na elaboração do PEI orientaram a sua acção e a preparação de L. no pressuposto de que ele faria provas a nível de escola. Este facto, refere, teve reflexos na possibilidade de L. ver comprometido o sucesso nas provas nacionais e, consequentemente, também a transição do 6.º para o 7.º ano de escolaridade e do 2.º para o 3.º ciclo.

A excepção criada para os alunos em circunstâncias semelhantes às de L. que este ano lectivo frequentavam o 9.º ano também foi considerada na sentença. A juíza considerou que o regime excepcional à sujeição a provas nacionais lesou o direito fundamental de L. ao ensino, na medida em que é violadora da garantia que lhe é constitucionalmente conferida de igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar.

Em resposta a questões colocadas pelo PÚBLICO, o MEC limitou-se a informar que "o acórdão está a ser analisado". Acrescentou ser impossível fornecer dados, neste momento, em relação ao número de alunos se encontram em circunstâncias semelhantes às de L. Certo, segundo os advogados que interpuseram a acção, Francisco Nazaré e Benedita Lacerda (da sociedade de advogados Cuatrecasas, Gonçalves Pereira), é que um eventual recurso não suspenderá, neste caso, a sentença. Antes do próximo ano lectivo L. fará as provas de escola.





sábado, 14 de julho de 2012

Decisão judicial sobre a realização dos exames nacionais a nível de escola

Os pais são, sem dúvida, os parceiros privilegiados da escola no desenvolvimento do processo educativo dos alunos. Compete-lhes, entre outras coisas, assegurar a defesa dos seus direitos. 

Relativamente à questão da realização dos exames nacionais a nível de escola pelos alunos com necessidades educativas especiais, houve um pai que, em última instância, recorreu à justiça. 

Este processo foi desencadeado no seguimento da introdução das provas finais nacionais no 6º ano de escolaridade. Em março de 2012, dirigiu um requerimento ao Júri Nacional de Exames, solicitando que fosse permitido ao seu educando a realização das provas finais a nível de escola, pois ficaram definidas no Programa Educativo Individual, elaborado no início do ano letivo (e eram permitidas aos alunos cegos e surdos profundos), mas essa entidade indeferiu o meu requerimento. Intentou a Intimação para Proteção de Direitos, Liberdades e Garantias no Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga, que embora sendo um pouco tardia, fez inteira Justiça. 

Assim, divulgo a decisão de uma sentença proferida pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga que condenou o Ministério da Educação a adotar todas a formalidades necessárias com vista à realização do requerente, no presente ano letivo 2011-2012, das provas finais a nível de escola, nas disciplinas de Matemática e de Língua Portuguesa. 
A cópia da sentença, disponível abaixo, apresenta os nomes "truncados" com a finalidade de proteger a identidade dos intervenientes.

Sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga aqui.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Plano de Ação do Conselho da Europa para as Pessoas com Deficiência - 2006-2015

Em 13 de Junho de 2012, o Comité de Ministros do Conselho da Europa adotou a Recomendação CM/Rec(2012)6, sobre proteção e promoção dos direitos das mulheres e raparigas com deficiência, com a contribuir para a execução do Plano de Ação do Conselho da Europa para as Pessoas com Deficiência - 2006-2015, particularmente, nos seus aspetos transversais, na esteira do contemplado no ponto 4.2 ( Mulheres e raparigas com deficiência/incapacidade),

Perante a constatação de que as mulheres e raparigas com deficiência são vítimas de dupla discriminação, tendo por base a deficiência e o género, situação que dificulta a sua participação nos diversos domínios da sociedade e exercício dos seus direitos em igualdade com os restantes cidadãos, esta Recomendação vem identificar medidas a ter em conta pelos Estados-Membros, aquando do desenvolvimento das politicas e dos programas "mainstream" sobre a deficiência, que se inserem nas seguintes áreas de intervenção:

- Legislação para a igualdade e não-discriminação;

- Dados estatísticos;

- Participação na vida política e pública;

- Educação e formação;

- Emprego e situação económica;

- Cuidados saúde e reabilitação;

- Acesso à proteção social e serviços sociais;

- Direitos sexuais e reprodutivos, maternidade e vida familiar;

- Acesso à justiça e proteção de abuso e violência;

- Participação na cultura, desporto, lazer e turismo;

- Sensibilização e mudança de atitudes.

Pode consultar em anexo:

In: INR

Novo 'software' converte olhar em rato de computador

Investigadores do College de Londres desenvolveram um sistema que permite interagir com o monitor do computador através do olhar. Esta nova tecnologia, apresentada quinta-feira na publicação «Journal of Neural Engineering», do Institute of Physics, é composta por um dispositivo que rastreia o movimento dos olhos e umsoftware inteligente que permite aos usuários controlar o cursor sem necessidade de rato, só com o movimento dos olhos. Esta invenção pode ser uma ajuda importante para milhares de pessoas com dificuldades de mobilidade, como doentes com esclerose múltipla, parkinson, distrofia muscular, lesões medulares ou pessoas sem membros. Assim, passariam a interagir com os computadores sem problemas.

Formada por duas câmaras de vídeo e um par de óculos, a tecnologia é simples. As câmaras obtêm constantemente imagens dos olhos, captando o lugar para onde se dirigem as pupilas; a partir o programa determina para que parte do ecrã está a pessoa a olhar.
Mais, através da tecnologia 3D é capaz de aferir a distância a que se olha, o que permite, noutros contextos, a mobilidade apenas com o olhar (por exemplo, pessoas em cadeiras de rodas podem pôr a cadeira a dirigir-se para determinado sítio, apenas olhando para ele).
Para demonstrar a eficácia e a funcionalidade do dispositivo, os investigadores puseram um grupo de pessoas a jogar «Pong» (o clássico da Atari), sem nenhum tipo de comando a não ser o olhar.
A tecnologia poderá começar a ser comercializada dentro de dois ou três anos, estando concebida especialmente para pessoas que sofrem de paralisia. Mesmo assim, não está descartado o seu uso para o público em geral. O preço, adiantam os investigadores, rondará os 60 euros.


Concurso anual de mobilidade interna

Foi publicado o Aviso n.º 9653-A/2012 relativo ao concurso anual de mobilidade interna com vista ao suprimento de necessidades temporárias de pessoal docente, para o ano escolar de 2012 -2013.

Este concurso é destinado a docentes de carreira da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário com vista ao suprimento de necessidades temporárias de pessoal docente, para o ano escolar de 2012 -2013.

Nele se refere que a habilitação para a educação especial é conferida por uma qualificação profissional para a docência acrescida de uma formação na área da Educação Especial titulada pelos cursos constantes na Portaria n.º 212/2009, de 23 de fevereiro.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Stephen Hawking testa aparelho que lê a mente

O físico britânico Stephen Hawking, que se encontra quase completamente paralisado, está a testar um aparelho que permite transformar pensamentos em discurso. 

Stephen Hawking, um dos mais famosos físicos e cosmólogos do mundo, encontra-se a experimentar um aparelho, o iBrain, que pretende permitir a comunicação apenas com o uso do pensamento.

O iBrain grava atividade cerebral a partir de um determinado ponto da cabeça, usando depois um algoritmo para extrair informação dessa atividade. O futuro passa por desenvolver o aparelho de forma a permitir que este possa transformar a informação do cérebro em discurso, escrito ou falado, conforme o desejo de quem controla o iBrain.

Nos testes iniciais foi pedido a Hawking que imaginasse que estava a mover as mãos e os pés, e os investigadores conseguiram identificar esses movimentos através das alterações na sua atividade cerebral.

Hawking sofre de uma distrofia neuromuscular chamada de Esclerose Lateral Amiotrófica que o deixou quase totalmente paralisado, sendo que a doença tem tendência a avançar. Atualmente a única forma que o britânico tem de comunicar é através de contrações para selecionar palavras num ecrã, um processo bastante lento. O avanço da doença pode pôr em causa este sistema de comunicação.