terça-feira, 26 de setembro de 2023

Ministério da Educação assegura psicólogos nas escolas

Bastonário dos psicólogos tinha alertado para o risco de despedimento devido ao corte no financiamento do PRR, mas a tutela esclarece que a contratação dos profissionais é alheia a esse programa.

“A continuidade dos psicólogos que se encontram atualmente colocados nas escolas não está posta em causa. Por isso, nem se coloca a questão se o ME pretende renovar os contratos”.

O esclarecimento é do Ministério da Educação (ME), em informação enviada esta segunda-feira (...). Em causa, o alerta feito pelo bastonário da Ordem dos Psicólogos que, em declarações (...), afirmava estar em risco o despedimento de cerca de 500 psicólogos que tinham sido contratados ao abrigo do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR). Francisco Rodrigues dizia ter informações que essa linha de financiamento iria terminar no final deste ano letivo. Mas, segundo esclareceu esta manhã o Ministério da Educação, “a referência ao financiamento via PRR não está correta, porquanto [as contratações desses psicólogos] não se encontram ao abrigo deste Programa”.

O esclarecimento do ME chegou esta manhã à (...) redação, embora tivesse sido pedido na sexta-feira durante a tarde.

A notícia em causa, publicada na edição em formato de papel, no sábado, com base em declarações do bastonário da Ordem dos Psicólogos, dava conta que cerca de 500 psicólogos, contratados pelo ME, através de um programa financiado pelo PRR, estavam risco de despedimento no final do ano letivos. Em causa, segundo Francisco Rodrigues, a informação de que o financiamento não iria ser renovado.

Nos últimos seis anos aumentou de 700 para cerca de 1800 o número de psicólogos nas escolas. Este aumento de profissionais colocou Portugal em termos de ratio psicólogo/aluno, ao nível dos melhores da Europa. Segundo o ME, os psicólogos vão continuar nas escolas sem o risco de despedimento, mantendo o apoio aos alunos e às famílias.

Fonte: Novo por indicação de Livresco

domingo, 24 de setembro de 2023

Para além do visível: desmistificar os sintomas da esclerose múltipla

À medida que o mundo evolui, as doenças neurodegenerativas tornaram-se uma preocupação constante e a necessidade de as compreender é cada vez mais imprescindível. A esclerose múltipla (EM) é uma dessas doenças, desafiando os médicos e investigadores a descobrir os seus mistérios e sintomas imprevisíveis.

Ao falarmos sobre esclerose múltipla (https://www.publico.pt/2022/04/04/ciencia/noticia/estudo-realizado-coimbra-permite-avanco-diagnostico-esclerose-multipla-2001294) a maioria das pessoas associa-a a sintomas físicos, como a dificuldade de locomoção. Contudo, há um aspeto muitas vezes invisível aos nossos olhos – o défice cognitivo.

Para aqueles que vivem este sintoma, as suas consequências são deveras impactantes. A capacidade de processar informação, a concentração e a memória ficam comprometidas, levando à perda precoce de emprego e afetando a qualidade de vida das pessoas com esclerose múltipla (https://www.publico.pt/2023/05/30/sociedade/noticia/atleta-estudante-enfermagem-diagnosticada-esclerose-multipla-doenca-fezme-vontade-2051382). É aqui que o trabalho liderado pela professora Adelaide Fernandes (https://www.publico.pt/2012/01/25/ciencia/noticia/premiados-projectos-sobre-cancro-da-mama-esclerose-multipla-e-colapso-pulmonar--1530565), da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, onde se insere o meu projeto de doutoramento, ganha relevância e se torna crucial para todos nós. O nosso principal objetivo é desvendar os mecanismos subjacentes a este sintoma impercetível, mas presente em mais de 50% dos doentes com esclerose múltipla.

Sabemos que o aparecimento de défices cognitivos está associado às componentes imunitária e inflamatória que ocorrem no sistema nervoso central. Estudos mostraram que doentes com esclerose múltipla têm redes neuronais danificadas, e que a presença de células imunitárias e da glia contribuem para o agravamento do dano neurológico. Daí a nossa curiosidade em perceber os possíveis mecanismos moleculares da interação entre estas células e a sua relevância na remoção excessiva de sinapses, cruciais para a cognição, num contexto de desmielinização.

Para atingir este objetivo, tivemos acesso a amostras post mortem da região do hipocampo de doentes com esclerose múltipla, com ou sem défice cognitivo, através do biobanco dos Países Baixos. Estes estudos iniciais confirmaram a presença das células da microglia e linfócitos T CD8 em áreas de desmielinização, nomeadamente em doentes que apresentam défice cognitivo.

Em paralelo com estes estudos, e em colaboração com outro instituto, estamos a implementar um modelo tridimensional de mini-esferas cerebrais. Este modelo será criado a partir de células pluripotentes induzidas provenientes de doentes com esclerose múltipla (https://www.publico.pt/2023/08/09/ciencia/noticia/nova-vacina-epsteinbarr-virus-quase-eficaz-ratinhos-2059633) para aproximar à biologia e tipologia de cada doente. Acreditamos que este modelo possa ser uma plataforma inovadora no sentido de uma medicina personalizada, abrindo portas para tratamentos mais direcionados.

Para além da investigação, este trabalho permitiu-me conhecer pessoas que vivem, diariamente, com a realidade da esclerose múltipla. Estas experiências motivaram-me a fazer mais e melhor, enquanto cientista, trabalhando para compreender a patologia da doença, bem como as reais necessidades destes doentes e, assim, transformar a vida das pessoas com esclerose múltipla. É essencial que a sociedade apoie e promova a investigação nesta área, pois só assim poderemos avançar na luta contra as doenças neurodegenerativas. Juntos, podemos fazer a diferença na vida de milhões de pessoas.

Catarina Barros

Fonte: Público

sábado, 23 de setembro de 2023

Telemóveis nas escolas. Sim ou não?

Já lá vão seis anos desde que a Escola EB 2/3 António Alves Amorim, em Lourosa, Santa Maria da Feira, proibiu o uso de telemóveis em todo o recinto. A recente explosão mediática do caso – os responsáveis garantem que os alunos, hoje, socializam mais – tem vindo a instalar um debate na sociedade que está longe de ser consensual. Neste ano letivo, os agrupamentos de Almeirim também o vão proibir nas escolas do 1.º ciclo, seguindo uma recomendação do Conselho Municipal de Educação. Uma petição pública pelo caminho e o próprio ministro da Educação já pediu um parecer ao Conselho das Escolas sobre o uso de telemóveis dentro dos estabelecimentos de ensino, por se tratar de um “tema complexo”. Tão complexo que divide até os especialistas.

“O debate é totalmente pertinente, sendo certo que não concordo absolutamente nada com a exclusão total dos smartphones, nem na sala de aula porque pode ser um instrumento valioso, nem no recreio.” João Nuno Faria, psicólogo e coordenador do núcleo de intervenção no comportamento online na clínica PIN – Partners in Neuroscience, conhece bem as consequências do uso excessivo do telemóvel por jovens (lá iremos), mas defende que a proibição é “uma imposição altamente artificial”, “corre-se o risco de se criar uma realidade distópica dentro da escola”. Na verdade, lembra, os próprios adultos usam os telemóveis nas pausas do trabalho quando poderiam estar à conversa com os colegas. Porém, a questão primordial está em olhar para as escolas, “que são iguais à realidade dos anos 1980 ou 1990”. “As crianças hoje são diferentes, os estímulos mudaram, o conhecimento sobre o Mundo das crianças e jovens mudou, mas o recreio e a sala de aula são os mesmos.”

Mas quais são as vantagens do telemóvel na escola? Dentro da sala de aula, pode ser um instrumento pedagógico para pesquisar informação, para uma aprendizagem ativa, “se devidamente utilizado”. “Há uns anos valentes fui convidado para ir conhecer uma escola em Lisboa e um aluno do quarto ano veio mostrar-me o seu caderno, onde estava colado um QR code ao lado de uns apontamentos. Passando o tablet ou o telemóvel sobre esse código, dava acesso a um vídeo de uma nave espacial a romper a atmosfera e a entrar no Espaço, coisa que nenhum livro tem a capacidade de fazer.” A opinião de João Nuno Faria não é diferente quando o assunto é o recreio, que “já devia ser mais interativo, com códigos QR espalhados para caças ao tesouro, para exploração de interesses musicais, as possibilidades são gigantescas, mesmo para estimular a interação, e está-se a desperdiçar uma tecnologia que podia ser usada com benefícios”.

O psicólogo que trabalha com problemas de excessos, de adições online, não é alheio aos riscos das utilizações abusivas de smartphones ou de redes sociais. Longe disso. “Mas a proibição que se está a fazer não é pelo uso excessivo, é porque se olha para o recreio e se vê os jovens todos conectados. Mas qual é a alternativa? O contexto não é rico. Os recreios na maior parte das escolas em Portugal são ambientes estéreis, tirando um campo de futebol.” Além disso, sublinha, os casos de uso excessivo de smartphone são cerca de 2%. E os casos de risco andam perto dos 10%. “As consequências do uso desregrado são taxativas e preocupantes, uma delas é a queda do rendimento escolar, mas não corresponde a todos os jovens que usam smartphones.”

Riscos, os pais e os limites aos ecrãs

Olhemos, pois, para essas consequências. Estar fixamente a olhar para um smartphone não só traz problemas físicos como um conjunto de falta de experiências que a interação humana cara a cara proporciona, “é um vazio ao nível do treino de competências sociais não verbais”. As redes sociais também entram nos perigos, estão construídas com um algoritmo “que entrega aquilo que o indivíduo gosta, que atesta o que ele pensa e confirma as suas ideias sobre o Mundo, o que não estimula o espírito crítico”. Claro que há muita criatividade no TikTok, muito conhecimento a circular no Instagram ou no Facebook, mas a navegação vai bem além disso. E há dois aspetos ainda mais preocupantes para João Nuno Faria. A falta de desenvolvimento emocional, espelhado em “terminar relações por mensagem, sem o confronto cara a cara, sem sentir o impacto da dor no outro, o afastamento do humanismo”. E a questão da espera. “As interações pessoais implicam saber esperar, para um jogo de futebol entre amigos é preciso compatibilizar horários, esperar que toda a gente se equipe, se organize, é muito diferente do online em que o jogo começa imediatamente. As crianças hoje não treinam a espera.”

Certo é que os pais têm de entrar neste debate, conhecer os perigos, procurar serem modelos de uma utilização regrada, estar atentos a uma utilização excessiva. Só que perceber quando é que a utilização passa os limites não é tarefa fácil num mundo cada vez mais tecnológico. As orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) têm por base o sedentarismo e a atividade física. Até aos dois anos, segundo a OMS, ecrãs é melhor não. Depois, entre os dois e os cinco anos, sugere-se uma hora por dia no máximo e não mais de duas horas entre os cinco e os 17. “Se pensarmos na realidade atual, pondo todos os ecrãs dentro deste saco, é irrealista. Se virmos um filme na escola esgota-se aí o plafond? Há ecrãs e ecrãs. Os ecrãs passivos, onde entra um programa de televisão, um vídeo no Youtube, um filme, uma série. E os ativos, que são aqueles que devolvem alguma coisa de acordo com a interação, como as redes sociais e videojogos. Estes últimos têm muito maior potencial aditivo e é preciso estar-se mais atento”, avisa João Nuno Faria.

Voltemos ao recinto escolar. Para Iolanda Ribeiro, professora na Escola de Psicologia da Universidade do Minho e coordenadora do grupo de investigação em Linguagem, Leitura e Escrita, que desenvolve programas para escolas, muitos deles digitais, além de jogos interativos de leitura ou atividades digitais para pais e filhos, a pergunta que tem de ser feita é “por que é que as crianças precisam de um telemóvel na escola?”. A partir do 2.º ciclo, afirma, a questão é pertinente, mas até lá “não há razão nenhuma”.

Não é só o isolamento e a menor interação social, é o menor desenvolvimento de competências, as alterações do sono. “Isto implica pensar não só na escola, mas em todos os contextos da vida da criança e no facto de os pais lhes darem telemóveis tão cedo. Não o fazem por mal, fomos todos submersos pelo digital, mas há aqui um papel fundamental da família”, refere a investigadora. Até as crianças entrarem para o 1.º ano, alerta, é preciso muito controlo.

E pondo os olhos no debate que se acendeu nos últimos tempos, Iolanda Ribeiro assume que uma proibição generalizada nas escolas pode ser exagerada, “não podemos ignorar que as crianças nascem num ambiente digital, mas pode ser boa para abrir uma discussão mais alargada”. Uma discussão que tem de envolver sociedade, Ministério, escola, família, ciência. “Não sei se vai ser possível proibir os telemóveis em todas as áreas da escola. Mas definir regras parece-me fundamental, até pelos impactos neurológicos que os estudos têm vindo a apontar. A ciência também tem de ajudar a clarificar o caminho. É óbvio que há coisas no digital fantásticas, pode ser muito útil para a aprendizagem com atividades orientadas, mas o seu uso tem de ser controlado”, atesta.

Lá fora e as dúvidas entre proibir e sensibilizar

Olhemos para a Europa. Nomeadamente para a Suécia, onde o governo está a recuar na aposta que tinha na digitalização total do ensino, as escolas estão a voltar a recorrer mais aos livros e a reduzir o tempo dedicado às pesquisas nos tablets. Em França, a proibição de telemóveis nos estabelecimentos de ensino foi adotada em 2018. Nos Países Baixos, a mesma medida avança no próximo ano. Lia Raquel Oliveira, professora universitária de tecnologia educativa, tem vindo a mudar de opinião. “Antigamente, achava que os telemóveis deviam ser usados também na escola. Hoje não. Acredito que, pelo menos até ao sexto ano, não deve haver telemóveis nas escolas. A partir daí há que haver bom senso, criar caixas para guardar os equipamentos em determinados momentos. Já temos informação suficiente para sabermos que nos distraem completamente, que nos tiram o foco, pior ainda nos mais jovens. E o uso tem de ser cauteloso.”

Do 6.º ano para a frente, a docente do Instituto de Educação da Universidade do Minho não é defensora da proibição, mas, tal como João Nuno Faria, acredita que é preciso abandonar a escola pós-industrial e criar a escola do século XXI, para se pensar em como se encaixam os telemóveis. “É inglório e absurdo pensar na questão dos telemóveis sem pensar a escola, os currículos, para que existe, como se faz.”

Júlio França conhece bem os corredores das escolas. É psicólogo da educação numa secundária e faz uma ressalva antes de tudo: “O telemóvel não é o diabo em si. Sei que há professores que recorrem a jogos digitais, que usam esta ferramenta na aula, e que os alunos até se sentem mais motivados quando o podem usar.” O problema é a vida para lá das paredes da sala de aula, são as horas infinitas de olhos nos ecrãs nos recreios e em casa. “Vemos, muitas vezes, que os alunos acabam por não socializar nos intervalos. Estão sentados, cada um a olhar para o seu telemóvel e isso promove o isolamento social.” Não é só, há consequências físicas, de saúde mental, “e a questão do bullying nas redes sociais, um fenómeno que se vê a acontecer e que é muito facilitado porque o telemóvel está mesmo à mão”.

Apesar de tudo, a proibição taxativa não lhe parece a receita milagrosa, “o fruto proibido é o mais apetecido, cada escola ou agrupamento deve poder decidir no seu regulamento interno”. Até porque, lembra, “o comportamento nas escolas não é diferente daquele que todos nós temos socialmente, a vida na escola não faz mais do que refletir o que se passa fora”. O caminho, acredita, é o da sensibilização e os profissionais da educação têm de entrar neste jogo. “Hoje, a escola é responsabilizada por tudo e mais alguma coisa, mas neste tema pode de facto haver um papel importante na promoção de hábitos saudáveis nos intervalos.” Sendo certo que as famílias não podem ser desresponsabilizadas, não se podem demitir de um trabalho necessário, “não podem ter medo de definir limites aos filhos, não podem continuar a fazer o que se vê nos restaurantes, a entregar o telemóvel aos miúdos para eles se entreterem”. Embora o psicólogo admita que “hoje é praticamente impossível fugir a isso” e que é difícil contrariar estes hábitos.

Júlio França não é adepto de verdades absolutas quanto ao tempo de ecrã por dia, depende de família para família, mas dá uma dica. “O uso do telemóvel, do computador, da Playstation, da Nintendo não pode ser o tempo maior da vida da criança. Precisa de se mexer, de ter atividade física, de interagir com outras crianças e adultos. A exposição aos ecrãs não pode ser a fatia principal do bolo do dia a dia da criança.”

Há uma certeza, as crianças e jovens de hoje serão adultos necessariamente diferentes em termos de comportamento daqueles que passaram a infância a jogar à bola. Mas ainda não há consenso nem tampouco fórmulas mágicas sobre o caminho a seguir dentro das escolas.

Fonte: Notícias Magazine por indicação de Livresco

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Pais que estudam pelos filhos

Dizia-me uma mãe: "Não me posso demorar, tenho de ir gravar um resumo das aulas para o meu filho ouvir." Esta mãe lê a matéria que o filho aprende na escola, resume-a, grava um áudio e o filho apenas tem de o ouvir.

Estará esta mãe a ajudar o seu filho?

Os pais que fazem as coisas pelos filhos (e não com os filhos) acabam por evitar que estes se confrontem com as dificuldades e os desafios próprios da vida - e falamos aqui da vida como um todo, e não apenas da vida escolar.

Será esta forma de exercer a parentalidade promotora de um crescimento saudável?

A resposta é não.

Muitos pais substituem-se aos filhos quando estudam e fazem os trabalhos de casa por eles. Diria que estamos perante um problema em confiar e uma enorme necessidade em assumir o controlo, acabando por proteger de uma forma excessiva e que não facilita o desenvolvimento das necessárias competências de trabalho e hábitos de estudo.

Assistimos também, muitas vezes, a pais que vivem o percurso escolar dos filhos com elevada ansiedade, demasiado centrados no rendimento académico e na competição. Há pais que já se questionam sobre a universidade onde os filhos irão estudar, quando estes frequentam ainda o 1.º ciclo. Pais demasiado exigentes acabam ainda por potenciar estados de ansiedade nas crianças, que se manifestam quando têm de ir ao quadro, falar perante a turma ou realizar uma avaliação. Temos crianças que choram quando recebem um "Bom", porque os pais querem (ou exigem) um "Muito Bom". Crianças que crescem a acreditar que não são suficientemente boas, com o natural impacto negativo que isto tem em termos de autoestima e aceitação de si mesmas.

É fundamental que os pais ajudem os filhos a vivenciar a escola de uma forma construtiva e securizante, palco também de relações interpessoais e de aprendizagens informais. Não são apenas as notas dos testes e aquilo que é afixado na pauta que interessa.

Os pais devem ainda estimular a autonomia e a independência, orientar e guiar, mas permitindo o erro, a frustração e a desilusão que, afinal de contas, fazem parte da vida de todos nós.

Rute Agulhas

Fonte: DN

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

"Se o seu filho sabe como usar um smartphone aos 2 ou 3 anos, não é porque seja inteligente, é porque o engenheiro que desenhou o smartphone é inteligente"

A canadiana, perita em educação, Catherine L'Ecuye esteve em Portugal, no início do mês, para promover os seus livros onde desmistifica algumas teorias da pedagogia que se foram cimentando nos últimos anos. Acredita, acima de tudo, que as crianças precisam de tempo para brincar sem ecrãs e que "perdemos muito tempo e recursos em métodos que não estão respaldados pela ciência e há muitos gurus que se aproveitam da ignorância dos pais".
Editora planeta

A conversa com a psicóloga especialista em educação, Catherine L'Ecuye, com o SAPO24 acabou por acontecer por email uma vez que a agenda da autora internacional não permitiu que o encontro fosse presencial. Canadiana, a viver em Barcelona, tem feito da educação o seu dia-a-dia, lançando livros e conferências por todo o mundo, sendo consultora de educação em vários países, como o México.

Em Portugal é editada pela Planeta e a conversa com o SAPO24 girou muito em torno dos seus livros Educar na Realidade, e Educar na Curiosidade, onde, com base em conhecimento científico validado, partilha com os encarregados de educação estratégias para criar crianças mais saudáveis e melhores adultos. Ficou por responder se tornar as crianças a parte central de uma família, permitindo-lhes tudo o que pedem, é impedi-las de crescer na realidade. E também como fazer que uma criança atinja aquilo a que a escritora chama de motivação transcendente, uma vez que acredita que a motivação externa, tão comum na educação, criou jovens apenas preocupados consigo mesmos.

Com um doutoramento em educação e psicologia, mãe de quatro filhos, diz ser essencial que as crianças tenham contexto e um sentido para as ordens e regras que lhes são dadas. Os diálogos com as crianças são várias vezes referidos ao longo dos livros, tantas quantas as vezes em que acredita ser um exagero a exposição que hoje as crianças têm à tecnologia.

As crianças têm hoje falta de tempo e espaço para se aborrecerem e se tornarem criativas?

Tolstoi dizia que o aborrecimento é "desejar desejar". É importante que os nossos pequenos tenham tempo livre para brincar. Hoje enchemos as suas agendas até ao ponto de parecerem pequenos executivos stressados. A educação infantil converteu-se numa carreira. As aulas estão estão cheias de métodos, mas esquecemo-nos do que precisa uma criança com menos de seis anos, e de como aprende: através das relações interpessoais e das experiências sensoriais. É a partir dos seis anos que a criança começa a desenvolver o pensamento abstrato e tem um sentido de aprendizagem mais formal.

Diz que devemos educar as crianças com realismo. Acha que sobreprotegemos as crianças? Quanto do mundo real lhes devemos mostrar sem os prejudicar? Como, por exemplo, falar-lhes de guerra, doença e morte?

"Educar na realidade" não quer dizer ensinar tudo às crianças e converter a aula numa amostra do que há no mundo. O mundo está louco, tanto que basta vermos os telejornais para comprová-lo. Eu quero que a aula seja um lugar sagrado, como um claustro, um lugar resguardado, e onde protegemos a criança do mal que se passa no mundo. Tem que ser um ambiente preparado adaptado às etapas da infância, dos seus ritmos, da sua inocência, da sua sede de beleza, de natureza, de silêncio, de mistério. Quando falo de "educar na realidade", refiro-me, entre outras coisas, à importância da educação offline.

Em Portugal, houve no ano passado pais que fizeram greve às provas de aferição do 2º e 4º ano por serem em computadores. E, este ano, há já algumas petições para que sejam proibidos os telemóveis nos recreios. Isto é benéfico para as crianças ou impede-as de crescer "no seu tempo"?

Não há nenhum conjunto de evidências que prove os benefícios do uso de tecnologia nas aulas. O conceito da inovação responde a uma lógica comercial, não educativa. No relatório Students, Computers & Learning (2015), fica claro que o uso de computadores acima da média da OCDE leva a piores resultados educativos. O próprio Steve Jobs admitiu que a tecnologia não ia solucionar os problemas educativos. Na minha opinião piora esses problemas porque dissipa a atenção.

Num mundo em que as crianças são constantemente estimuladas, como as proteger dos estímulos típicos do mundo moderno que, segundo diz, as fazem ficar "apáticas"?

Quando sobre estimulamos uma criança, a sua tenção arterial sobe. Torna-se apático e deixa de perceber estímulos mais discretos, mas não menos importantes, como o som de um pássaro, um pôr de sol, a reclamação de um ente querido, etc. É importante que os sons e as imagens se harmonizem com a ordem interior da criança. Temos de readaptar os nossos filhos ao mundo real, quotidiano. Caso contrário, aborrecem-se com as imagens nas aulas e em casa, serão incapazes de se concentrar e de manter uma conversa tranquila.

Diz que os pais impediram as crianças de ter desejos por lhes darem tudo o que pedem. Como pode um pai dizer não ao pedido de uma criança que usa como chantagem ser a única da turma que ainda não tem determinada coisa?

Temos de ajudar os nossos filhos a fazer estatísticas. Dizem que "toda a gente tem", mas não é assim. Na maioria das vezes são dois ou três. Temos de falar com os restantes pais e mães para criar um ambiente diferente e mais próximo do nosso estilo educativo. Por exemplo, não faz falta dar 20 presentes a uma criança no dia de anos, tão pouco faz falta comprar um smartphone a uma criança de 12 anos ou passar os fins-de-semana num parque de diversões. Nós passamos o dia a trabalhar para comprar. Temos de voltar a um consumo mais responsável e dedicar mais tempo a planos familiares simples, tranquilos. A única coisa que as crianças precisam é de passar tempo com os seus pais.

Refere que as crianças crescem cada vez mais rapidamente e perdem partes importantes de ser crianças. Mas se os pais as puserem em contacto mais tarde com algumas tecnologias, ou realidades, não fazem delas menos evoluídas em relação a crianças da mesma idade? Como atingir este equilíbrio?

Não é assim. Os futuros empreendedores não precisam de ser adultos viciados no telemóvel. Precisam de ser pessoas capazes de escutar, e de ter a atenção focada durante muito tempo. Não querem ser pessoas incapazes de inibir os estímulos externos ou encantados pela irrelevância. Precisam de ter autocontrolo, temperança, força interior e critério. Não é preciso ter um smartphone aos 12 anos para saber usar o Word e o Excel com 22 anos. Temos de formar os nossos jovens tendo em atenção o Office, claro, mas não é necessário converter o tablet num método educativo para o atingir. Se o seu filho sabe como usar um smartphone aos 2 ou 3 anos, não é porque seja inteligente, é porque o engenheiro que desenhou o smartphone é inteligente. A tecnologia está desenhada para ser 'plug&play'.

É costume vermos crianças a fazer refeições enquanto vêem desenhos animados ou brincam nos tablets. Isto entra na categoria de "multitarefa" que diz ser prejudicial à criança?

Nunca deveríamos relacionar o uso e abuso de tecnologia com a refeição. Quando uma criança come, come. Recompensar a criança que come com mais ou menos tecnologia pode contribuir para o desenvolvimento de distúrbios alimentares.

Diz que a escola mais tecnológica pode não ser a mais benéfica para uma criança. Quais, então, os critérios que os pais devem ter em conta na hora de escolher uma escola para os filhos?

Não há evidência que relacione a qualidade educativa com o uso de tecnologia. Escolher um colégio é uma tarefa complicada e muito pessoal. Depende do projeto familiar de cada lugar. Em 2024, vou lançar o ensaio novelado "Conversas com a minha professora", que está pensado para ajudar os pais a definir o seu projeto educativo para melhor escolherem a escola dos filhos.

Como se pode aumentar o tempo de concentração de uma criança respeitando os seus limites?

As crianças concentram-se quando encontram atividades ou desafios que se ajustam às suas capacidades. Quando o desafio é demasiado fácil, aborrecem-se. Isso acontece com ecrãs. Quando o desafio é demasiado difícil, sentem ansiedade. Quando há um equilíbrio entre as capacidades e as dificuldades da criança, então a criança entra num ritmo (flow) em que pode estar atento até três horas (o Montessori diz isso, e podemos comprová-lo nas suas aulas) sem se modificar.

Refere a importância da cultura e da beleza na primeira infância, esta é uma realidade apenas atingível para pais com dinheiro, ou que já eles próprios tenham noção da importância da cultura?

A beleza é gratuita. Um pôr do sol, a natureza, um sorriso amável. A beleza encontra-se em museus e catedrais, mas também se encontra na rua. Não creio que tudo o que seja belo sempre se compre com dinheiro. Temos de saber distinguir entre elitismo intelectual e elitismo económico. Temos de aspirar a que a cultura seja para todos, independentemente do nível económico.

Como é que um pai se pode proteger dos "neuromitos da educação" que lhes são mostrados todos os dias, muitas vezes mascarados de ciência? Como distinguir ciência de pseudo-ciência?

Não é verdade que "tudo se molde entre os zero e os três anos" (este é o mito dos primeiros três anos), não é verdade que se tenha que "sobre estimular os miúdos ao máximo" (o mito do enriquecimento), não é verdade que existam períodos críticos para a aprendizagem (o mito dos períodos críticos). Há 15 anos que me dedico a defender a educação baseada em evidências. É uma pena que tenhamos tanto interesse pela homeopatia educativa. Perdemos muito tempo e recursos em métodos que não estão respaldados pela ciência e há muitos gurus que se aproveitam da ignorância dos pais. Por isso escrevi o "Conversas com a minha professora", nesse livro explico de onde vêem os métodos que se usam hoje nas nossas aulas. O prólogo será de Nuno Crato, que tem feito um longo trabalho, em Portugal, a defender a educação baseada em evidência.

Para terminar, tem quatro filhos, as estratégias que usou com os quatro foram as mesmas? Onde entra o feitio de cada criança na educação? Como pode um pai adaptar-se?

Claro que cada criança é um mundo. Para saber o que resulta melhor com cada filho tem que se passar tempo com ele. A educação requere tempo. Por isso é que se têm multiplicado os livros de "receitas" de como educar. Parece-me terrível que exista a "indústria do conselho encaixotado" (como chamamos a esse tipo de livros). Isso acontece porque os pais têm pouco tempo, uma pena. Temos de voltar a conectarmos com as necessidades de cada um dos nossos filhos. A sensibilidade parental vale mais que qualquer livro de crianças.

Fonte: Sapo24

terça-feira, 19 de setembro de 2023

“Uma Escola de TODOS – Utopia ou Realidade?”

A Associação de Solidariedade Social dos Professores e a Delegação de Setúbal vêm por este meio divulgar o Seminário subordinado ao tema “Uma Escola de TODOS – Utopia ou Realidade?”, a realizar no próximo dia 14 de outubro de 2023, no Auditório da Escola Secundária Sebastião da Gama em Setúbal, incluído nas Jornadas Pedagógicas “Outubro - Mês do Professor”.

O Seminário “Uma Escola de TODOS - Utopia ou Realidade?” surge integrado na realização das Jornadas Pedagógicas em Setúbal, uma iniciativa da Delegação de Setúbal da ASSP, apoiada pela Direção Nacional da ASSP, em colaboração com os Agrupamentos de Escolas do Concelho, Câmara Municipal e Instituto Politécnico de Setúbal.

O Seminário decorrerá no dia 14 de outubro 2023, no Auditório da Escola Secundária Sebastião da Gama, sede do Agrupamento do mesmo nome.

Com a realização deste Seminário a ASSP pretende proporcionar aos Professores momentos de reflexão, análise e discussão sobre os grandes desafios que a Escola e todos os agentes educativos enfrentam diariamente na procura da melhoria da qualidade das práticas pedagógicas que concorrem para as aprendizagens de TODOS os alunos e para o seu sucesso educativo.

Uma Escola de TODOS – Utopia ou Realidade? trará a Setúbal conferencistas que nos poderão ajudar a pensar uma Escola mais justa e equitativa para TODOS.

O Seminário está creditado como uma ACD de 6 horas.

Para frequentar o Seminário terá de se inscrever na fiche de inscrição : .https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfUKFsWDwdUwQLc4VEnezfLCRtG0vZDvW_c_Mb8-MnraoFwng/viewform

Para estudantes e associados, o seminário é gratuito .Para não associados o valor é de 10€


domingo, 17 de setembro de 2023

São as políticas, e não o absentismo ou as aposentações, que causam a falta de professores

Milhares de alunos meses a fio sem professor a pelo menos uma disciplina, ou com constantes substituições dos precários que os ensinam, são sinais preocupantes para as democracias; por cá, tornaram-se indisfarçáveis desde 2017. Como se regista nos EUA, no RU e em vários países europeus (os nórdicos resistiram porque têm classes médias maioritárias e consistentes), é nos territórios com mais problemas sociais ou isolados, ou atingidos pela especulação imobiliária, que cresce a falta de professores.

Aliás, ser professor já só motiva uma minoria interessada na formação em educação básica. É o resultado das reformas neoliberais, sintonizadas com a OCDE, que visaram a sustentabilidade económica dos estados. A forte redução dos orçamentos da educação exigiu políticas de engenharia social que incluíram a descredibilização da escola pública e dos seus professores. Em regra, os governos seleccionaram uma forma de manipulação para popularizar as decisões: destaques mediáticos especulativos das estatísticas do absentismo dos professores e da sua massa salarial.

A bem dizer, Portugal chegou tarde a este processo. Mas acelerou-o a meio da década de 2000. Aplicou a eito, com pouca consistência teórica e sem estudos empíricos, um conjunto de políticas extremistas na carreira dos professores, e na sua avaliação, sustentadas por um modelo autocrático de gestão das escolas. As históricas contestações dos professores (2008 e 2013) - reconhecidas pelas oposições nas campanhas eleitorais, mas "esquecidas" logo que tomaram o poder -, anteciparam a crise vigente.

Acima de tudo, a inacção dos sucessivos governos desconvocou a esperança, instalou o desalento e eliminou a capacidade de contestação dos professores. Mas criou uma casta que se acomodou e que usa um argumentário que suaviza a consciência dos governos.

Para além disso, o marketing partidário manipulou os dados dos resultados dos alunos para certificar o caminho certo. A melhoria no PISA (OCDE), ou a "natural redução do abandono escolar" numa sociedade que se desenvolveu e escolarizou, serviu para discursos oportunistas nivelados pelas contendas sobre os rankings nacionais.

No essencial, as finanças passaram a supervisionar a educação. Como confessou Alexandra Leitão (teve pastas na AP e na Educação) ao Expresso de 19 de Agosto de 2022, "o sistema de avaliação da AP é injusto. Tentei modificá-lo e não consegui. Não houve abertura do Ministério das Finanças. Não vale a pena dizer outra coisa."

De resto, estabeleceu-se um silêncio estrutural sobre uma organização que "adoecia os professores" e os mergulhava num tríptico bem documentado: exaustão, amargura e indignação. Até quem experimentou o exercício, identificou de imediato os procedimentos parciais e arbitrários.

Tudo isto foi fatal. Não só promoveu a fuga dos professores, como transformou as escolas em laboratórios de controlo social e favoráveis ao caciquismo local. Aliás, é já só neste universo que encontramos "dinossauros" a dirigir a mesma escola durante cerca de duas décadas, ou até três ou mais, e que ainda são aplaudidos pela corte do sistema que faz assim tábua rasa da mais elementar ética republicana.

Por isso, a comparação da actualidade com 2010, como fez o actual ministro da Educação, regista a subida do absentismo e da mobilidade por doença sem a necessidade de inundar os leitores com números. Há causas transversais à AP (exaustão, envelhecimento e milhares de aposentações na década de 2020 que os governos ignoraram) e é igualmente consensual o efeito devastador das políticas.

Em suma, as democracias estão numa encruzilhada e aumenta a apreensão com o crescimento das desigualdades educativas e das escolas para ricos.

E antes do mais, sublinhe-se que a aceleração do digital na pandemia demonstrou a imponderabilidade da substituição de professores por máquinas (ou por qualquer modelo de tele-escola) tão desejada pelos ministérios das finanças, pela OCDE e pelas gigantes tecnológicas.

Mas um sinal sonoro da aflição europeia foi dado por Macron: "nenhum professor receberá menos do que 2000 euros líquidos mensais". Por cá, é matéria indiscutível. O debate não abre, nem com as ameaças frequentes de Bruxelas de levar Portugal a "tribunal se não acabar a “discriminação” dos professores contratados" que "auferem sempre o salário mínimo da carreira independentemente do número de anos de serviço" (que pode chegar às duas dezenas). E recorde-se: a carreira em Portugal é a que tem mais travões na AP e os professores são os únicos que não recuperaram a totalidade do tempo de serviço. Aliás, tornou-se agora mais evidente como eram parciais as contas das finanças.

"Uma mudança de políticas" permitiria, no mínimo, sonhar. Desde logo, tentar que o problema não se agrave e eternize. Recuperaria professores profissionalizados desistentes, revigoraria os que existem e oxigenaria a atractividade do exercício. Mas não há sinais nesse sentido; pelo contrário.

Nesta fase, a acção do Governo centra-se num recuo da lei das habilitações para algo semelhante ao que acontecia no início do milénio. Essa decisão provocou o tradicional debate sobre a melhor formação. Concorda-se com quem defende que a habilitação própria seja equivalente à que permite aceder ao mestrado profissionalizante essencial para a entrada nos quadros das escolas.

Resumidamente, não se ensina violino, basquetebol, gramática ou álgebra, sem se saber violino, basquetebol, gramática ou álgebra. Ajuda muito se se estudar Piaget, Freud, Hannoun, Erikson, Bruner, Ausubel, Sandel, Markovits e por aí fora. É também fundamental que a profissionalização seja em exercício nas escolas (plurianual de preferência) e não num apressado ensino à distância. Estes domínios são mais determinantes do que os debates que diminuem as pessoas porque se formaram depois de Bolonha, ao mesmo tempo que se omite a descida ocorrida com o absolutismo das Ciências da Educação.

E nunca é excessivo repetir que ensinar é difícil. Necessita de um clima de confiança e de boas condições de leccionação. Requer preparação e energia, e exige a desafiante adaptação da personalidade aos estilos de ensino. Inscreve estudo para a vida e convoca a esperança e o optimismo.

Acima de tudo, urge o regresso de aquilo que as políticas vigentes anularam: professores satisfeitos com uma escolha profissional digna que não os esgota em burocracia e em procedimentos digitais repetidos e inúteis, livres para ensinar e aprender e com tempo para a cidadania.

Paulo Prudêncio

Fonte: Blog Correntes por indicação de Livresco

sábado, 16 de setembro de 2023

Ministro da Educação quer lançar debate "ponderado" para reorganização do ensino secundário

O ministro da Educação quer lançar um “debate ponderado” sobre o que “pode ser uma futura organização do ensino secundário”. Num artigo de opinião no Observador, João Costa explica que “o ensino secundário científico-humanístico está organizado em cursos relativamente estanques”, apesar de os anos terem, desde 2019, a possibilidade de “permutarem disciplinas entre cursos”.

Porém, defende, “o conhecimento já não está arrumado em gavetinhas de fronteiras bem delimitadas”. “Entender fenómenos como as alterações climáticas ou pandemias convoca conhecimentos de várias áreas disciplinares. Por este motivo, queremos lançar um debate ponderado sobre o que pode ser uma futura organização do ensino secundário”, afirma o governante.

Ao fazer um balanço do arranque do novo ano letivo, que diz ter arrancado “com a alegria normal do regresso às aulas” de mais de um milhão crianças e jovens, João Costa assinala as três áreas a que o Governo pretende dar particular atenção, além do ensino secundário: a transição digital, a recuperação das aprendizagens devido às marcas deixadas pela pandemia nos alunos e o ensino para os migrantes, com a necessidade de mais formação e apoios para a “inclusão de todos”.

Para terminar o artigo publicado esta quinta-feira no Observador, o governante deixou uma mensagem aos que “dizem que nada foi feito”, destacando 11 medidas que foram implementadas já este ano como, por exemplo, a “vinculação de mais de 8 mil professores, o valor mais alto desde que há registo, cumprindo o compromisso de combate à precariedade” ou a “alteração das condições para a vinculação, passando a reconhecer-se o tempo de serviço acumulado independentemente da natureza ou duração dos contratos”.

Na “maior parte” das medidas para o setor, afirma João Costa, “a decisão final incorporou sugestões dos representantes dos professores de forma bastante significativa”. “Sem intransigências, mas sempre com responsabilidade”, conclui.

Fonte: Observador por indicação de Livresco

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Iris já tem escola

Iris, 12 anos, é aluna com notas dignas de quadro de mérito. No portal das matrículas, por mais refresh que o pai dela fizesse à página, a mensagem era: “A Aguardar Colocação". Depois de a CNN Portugal ter revelado a história, Iris passou a ter escola

Iris e o pai respiram de alívio depois de semanas de angústia e incerteza sobre o próximo ano letivo. Iris Lopes, aluna de quadro de mérito, transitou do 6º para o 7º ano e só ficou a saber que escola vai frequentar no dia em que o Ministério da Educação deu arranque ao ano escolar para cerca de 1.300.000 alunos e já depois de ser notícia num artigo da CNN Portugal.

“Acabou esta indefinição e este desespero. Sobretudo para ela, que começa agora a ter alguma estabilidade tão necessária para este ano letivo, que já de si é exigente”, resume o pai, Pedro Lopes, em conversa telefónica com a CNN Portugal.

A escola de Vale de Milhaços foi a terceira hipótese colocada pelo encarregado de educação de Iris aquando da matrícula no portal do Ministério da Educação. Mas nem isso diminui a felicidade da jovem de Corroios, que fica agora a saber que vai frequentar a escola onde terminou o 6º ano, “uma escola que conhece, onde já é conhecida, onde gostou de estar e onde toda a gente gosta dela, pelo seu comportamento e pela sua postura”.

“Aliás, só não coloquei esta escola em primeiro lugar porque tem poucas turmas de 7º, 8º e 9º e disseram-me que tem tão poucas vagas que nem valia a pena tentar. E eu sei que turmas na Vale de Milhaços estão no limite de alunos. Olhe, vão ter de pegar numa turma já no limite e inventar lugares e quem sabe inventar mesas e cadeiras, que a gente sabe que as escolas muitas vezes também não fazem mais porque não podem”, lamenta Pedro Lopes.

Iris ainda não sabe, portanto, qual vai ser a sua turma, mas sabe que agora já pode tratar dos manuais e comprar o material escolar necessário para os próximos nove meses.

Fonte: CNN Portugal por indicação de Livresco

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

A criança com deficiência que vai à escola pela primeira vez

Esta semana, milhares de crianças entram pela primeira vez numa sala de aula. Chegam a um espaço novo, com regras e pessoas diferentes, que constitui um amplo território de possibilidades e desafios. Muitos desses alunos possuem algum tipo de deficiência.

Se o meu filho não fala, como vai explicar que tem sede? Se a minha neta não caminha, como vai brincar com os outros meninos no pátio? Se a minha enteada tem medo, como poderá comunicar às assistentes as próprias emoções? Será que a diferença funcional da minha criança será explicada à turma, facilitando a integração e evitando estigmas? O coração de um cuidador pode estreitar-se e ficar tão compacto como um grão de milho.

Num discurso proferido em 1981, a escritora Toni Morrison (https://www.publico.pt/2019/08/06/culturaipsilon/noticia/morreu-escritora-toni-morrison-cronista-america-negra-premio-nobel-literatura-1882537) fez o elogio das narrativas que só alguns estão em posição de elaborar. “Se existe um livro que queiras muito ler, mas que ainda não esteja escrito, então tens de escrevê-lo”, disse no Conselho de Artes de Ohio, nos Estados Unidos, a primeira autora negra a ganhar o Nobel da Literatura.

Tânia Vargas é mãe de um menino autista com duas síndromes raras e incuráveis: a osteogénese imperfeita (também conhecida como doença dos ossos de vidro) e síndrome de Ehlers-Danlos. Escreveu o livro infantil O Pardalito Gonçalinho (https://www.amazon.com/Pardalito-Gon%C3%A7alinho-Portuguese-T%C3%A2nia-Vargas/dp/B0BSJBWWXT) (2022) precisamente para incorporar a experiência do filho numa história que promovesse a inclusão. Nesta publicação independente, com ilustrações de Vanessa Ribeiro, parte-se de condições médicas ou neurológicas muito específicas para chegar a um território mais amplo, que é o da deficiência na infância.

Marta Soares é mãe da Matilde, uma menina cujo diagnóstico ainda não está fechado (apesar dos múltiplos esforços dos médicos e da família). Acaba de publicar, também de forma independente, A Primeira Aula (https://www.amazon.co.uk/primeira-aulaMarta-Soares/dp/B0CDNPTTTB), com ilustrações de Catarina Rodrigues. A obra aborda diversas questões — naturais e legítimas — que as crianças fazem em relação à diferença dos seus pares. Valida a curiosidade, dissolve o constrangimento e adianta respostas que facilitam o entendimento mútuo. A apresentação do livro (https://www.instagram.com/p/Cw5xmFmsfE9/) está agendada para a tarde deste sábado, dia 16 de Setembro, no Centro de Desenvolvimento Deslocar Palavras, no Barreiro, em duas sessões.

A criança que eu fui não leu livros com personagens com deficiência. Hoje não faltam títulos sobre o tema. E, quando não existem textos sobre condições específicas, as novas plataformas de publicação facilitam que sejam escritos e partilhados. É um motivo de contentamento.

A representação das crianças com deficiência nos produtos culturais ocupa um papel significativo no desenvolvimento infantil. Isto porque ajuda os pequenos leitores a compreender melhor a realidade que os rodeia, oferecendo-lhes a oportunidade de cultivar a empatia e o respeito pelas diferenças, sejam elas físicas, funcionais, religiosas ou culturais. Gosto de pensar que esta multiplicidade de narrativas pode ajudar a tornar o primeiro contacto com a escola mais rico e seguro.

Andréia Azevedo Soares

Fonte: Público

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Webinar: O Direito a SER nas Escolas – Uma Escola Inclusiva, Uma Escola de Bem-estar!

A Direção-Geral da Educação e a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género vão promover no dia 27 de setembro, entre as 17h30 e as 18h30, um webinar de divulgação e exploração do guia “O Direito a Ser nas Escolas”, orientações destinadas a pessoal docente e não docente com vista a uma Escola mais inclusiva que foi publicado no final do mês de junho.

Todas as crianças e jovens têm direito à educação, o que requer, necessariamente, que se sintam em segurança e em proteção nos espaços educativos que frequentam.

Enquanto elementos fundamentais para uma cultura inclusiva nas escolas, os e as profissionais de educação, necessitam de conhecimentos e competências profissionais que lhes permitam compreender, tomar decisões e intervir junto de toda a comunidade educativa, de modo a prevenir situações de discriminação e violência, bem como encontrar respostas adequadas e fundamentadas para os problemas que se colocam no dia a dia da vida em meio escolar. Só assim assegurarão a proteção e garantia dos direitos humanos de todas as pessoas, em particular das crianças e jovens, nesse contexto.

Neste sentido, afigura-se como estrutural capacitar/formar o pessoal docente sobre o conhecimento da legislação em vigor e a sua aplicação prática, assim como sobre formas de prevenção e atuação perante situações de discriminação ou violência (física, verbal, psicológica, sexual, presencial ou digital), de modo que garantam o respeito pelos princípios da igualdade e da não discriminação, em contexto escolar.

Para assistir, inscrição obrigatória e gratuita AQUI.

Nota: A participação neste webinar não pressupõe a emissão de certificado/declaração de participação, nem o envio de documentação.

Fonte: CIG por indicação de Livresco

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

A mais bela profissão do mundo

Reinício do ano lectivo, tempo de examinar as doenças da escola e sondar o mal-estar dos professores. Um jornal, com vocação crítica desde o seu nascimento, fala da “crise dos professores” e analisa as causas do desinteresse pela “mais bela profissão do mundo”. As aspas, não sou eu que as coloco por estar a citar o dito jornal; é o jornal que se encarrega, através das aspas, de dizer que está a citar uma frase que nos foi transmitida pela tradição. Mas neste caso as aspas também significam outra coisa: que a expressão já não pode ser dita sem recuo, e só um ingénuo ousaria repeti-la sem aspas. A “mais bela profissão do mundo”, é dito logo no início do artigo, deixou de ser interessante e, por isso, atrai cada vez menos candidatos e provoca cada vez mais o abandono dos que nela entraram, por causa de condições de trabalho cada vez mais difíceis e uma remuneração pouco atractiva.

O jornal em questão não é português, é francês, chama-se Libération e analisa o estado da “Éducation nationale”, o mito republicano por excelência. Mas também podia ser um jornal português (https://www.publico.pt/2018/10/20/sociedade/entrevista/professores-sao-vitimas-organizacao-trabalho-1848122), espanhol, italiano, alemão (sim, até a escola alemã se debate com uma imensa falta de professores e uma degradação das condições de trabalho que leva muitos a abandoná-la). A escola, a mais bela instituição do mundo (sem aspas), ainda que as suas práticas tenham sido tantas vezes criminosas, perdeu os atractivos da beleza e ganhou a imagem de um cúmulo de deficiências e problemas.

Como toda a gente passou pela escola, toda a gente tem qualquer coisa a dizer sobre ela. Mas em Portugal ninguém sabe muito bem o que se passa no seu interior, é tudo exterior. Há pouco tempo, um estudante italiano, tendo concluído o exame de maturità que dá acesso à Universidade, escreveu um testemunho cruel da sua experiência, publicado num jornal. Por cá, estamos a precisar deste tipo de testemunhos, tal como precisamos de um discurso dos professores mais analítico, não exclusivamente centrado sobre questões sindicais e as condições pragmáticas de trabalho (por mais legítimo que seja este discurso, ele é insuficiente). (...)

António Guerreiro

Fonte: Continuação da notícia em Público

sábado, 9 de setembro de 2023

3.º Webinar de sensibilização aos operadores económicos sobre a acessibilidade a espaços e estabelecimentos comerciais

O Instituto Nacional para a Reabilitação (INR, I.P.) e a Estrutura de Missão para a Promoção das Acessibilidades (EMPA) realizarão no dia 20 de setembro o terceiro webinar do âmbito da Medida 1.1.9 - Dinamização de ações de sensibilização aos operadores económicos sobre a acessibilidade a espaços e estabelecimentos comerciais, incluída no Eixo Estratégico 2 - Promoção de um ambiente inclusivo da Estratégia Nacional para a Inclusão das Pessoas com Deficiência 2021 - 2025 (ENIPD 2021-2025).

Estes webinares têm como objetivo sensibilizar os operadores económicos para as questões da acessibilidade física, da informação e da comunicação.

O webinar será transmitido no canal YouTube do INR, terá a duração máxima de 2h00 e espaço para questões da assistência.

Programa provisório:

3.º Webinar (18h30 – 20h30)

18h30 – Sessão de abertura – Marta Lima Basto – Subdiretora-Geral da DGAE (Direção-Geral das Atividades Económicas)

18h35 – Enquadramento Legal – Ana Maria Monterrozo Carneiro (EMPA – Estrutura de Missão para a Promoção das Acessibilidades)

18h45 – Enquadramento Económico – Sofia Nunes (EMPA)

18h55 – Acessibilidade física – Paulo Galindro (INR)

19h20 – Acessibilidade da informação e comunicação – Ana Patrícia Santos (INR)

19h45 – Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC) – exemplos de boas práticas

20h00 – Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) - exemplos de boas práticas

20h15 - Questões/Debate

20h25 - Sessão de encerramento – Rodrigo Ramos – Presidente do INR (Instituto Nacional para a Reabilitação)

Fonte: INR

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Reclamações disparam 39%. Ministério da Educação concentra queixas.

A uma semana do arranque do novo ano letivo, o Portal da Queixa analisou as principais reclamações relacionadas com o regresso às aulas. Falta de vagas, problemas com matrículas e com os manuais escolares gratuitos motivaram as mais de 500 reclamações registadas pelos pais nos últimos dois meses, um crescimento na ordem dos 39%, em relação a 2022. O Ministério da Educação é o principal alvo das queixas.

Numa altura em que toda a comunidade escolar se prepara para mais um arranque do ano letivo, uma análise feita pela equipa do Portal da Queixa revela quais os problemas que marcam o setor da Educação e que se traduzem, sobretudo, na inquietação de vários pais.

Entre o mês de julho e o início de setembro, o Portal da Queixa recebeu um total de 579 reclamações dirigidas ao setor da Educação, verificando-se um aumento de 39,5% face ao período homólogo do ano passado, que registou apenas 415 queixas.

A motivar as principais reclamações dos pais/encarregados de educação estão as dificuldades na utilização do Portal das Matrículas - o site através do qual se processaram as matrículas ou renovação -, a gerar 24.3% das queixas recebidas no período em análise.

A falta de vagas, com especial enfoque no pré-escolar, é o segundo motivo mais reportado. Uma realidade grave - que espelha a indignação e desespero de vários pais que não conseguiram colocação para os filhos neste ano letivo -, retratada em 20.9% das reclamações.

As dificuldades na obtenção dos livros escolares, relacionadas com os vouchers MEGA (Manuais Escolares Gratuitos) que são disponibilizados pelo Ministério da Educação (ME), ocupam uma fatia 17% das queixas sobre o acesso, falta ou atraso dos vouchers.

A absorver 16.8% das reclamações estão (ainda) os problemas com a devolução dos manuais escolares, onde os pais contestam a regra de devolução dos manuais, a recusa ou não aceitação da devolução dos livros pela entidade competente.

Segundo aferiu a análise, a maioria das reclamações registadas, nos últimos dois meses, estão concentradas no Ministério da Educação, que foi alvo de 52.3% das queixas. Já a plataforma MEGA, foi responsável por 14.7% das ocorrências registadas.

Relativamente às marcas que comercializam os materiais escolares - que se encaixam nas categorias Hipermercados, Livrarias, Material de Escritório e Consumíveis, Tecnologia e Eletrónica de Grande Consumo, Impressão e Publicidade -, estas acolheram 33% das reclamações, entre julho e setembro. Correspondem a casos de consumidores que se queixam do atraso na entrega dos materiais escolares/manuais adquiridos na loja.

Pedro Lourenço, fundador do Portal da Queixa e CEO da Consumers Trust, destaca: “Infelizmente, todos os anos, a marcar o regresso das aulas, constatamos na plataforma o avolumar de relatos de experiências negativas de pais e encarregados de educação, quer relacionadas com as dificuldades na utilização dos canais digitais do estado (portal das matrículas e plataforma MEGA), quer referentes ao acesso aos Vouchers e entrega dos respetivos manuais gratuitos e, na minha opinião ainda mais preocupante, os casos onde pais reportam a falta de vagas nas creches, com verdadeiros relatos de desespero e indignação. De lamentar também o aumento de 39.5% do número de reclamações, em comparação com o mesmo período homólogo de 2022, facto que revela o cenário de maior insatisfação por parte dos consumidores: alunos, pais e encarregados de educação. Antevemos ainda que, este mês, a tendência de crescimento do volume de reclamações se vá manter devido à subida de 14% do preço do material escolar, motivo que certamente vai gerar muitas queixas na plataforma.”

Recorde-se que, este ano, o preço do material escolar voltou a aumentar e um cabaz de oito artigos essenciais para os alunos custa agora mais 14% do que em 2022.

Por este motivo, Sónia Lage Lourenço, CEO do Portal da Queixa, adverte: “É sempre importante pesquisar antes de comprar, comparar marcas e produtos, procurar experiências públicas de outros consumidores, acompanhar preços e analisar bem as promoções, para assim o consumidor aproveitar realmente as oportunidades de poupança que podem surgir."

Fonte: Recebido por correio eletrónico de Comunicar-se

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Requisitos de formação científica das áreas disciplinares dos grupos de recrutamento de docentes titulares de cursos pós-Bolonha em procedimentos de contratação de escola

O Decreto-Lei n.º 80-A/2023, de 6 de setembro, define os requisitos de formação científica das áreas disciplinares dos grupos de recrutamento de docentes titulares de cursos pós-Bolonha em procedimentos de contratação de escola.
Do preâmbulo, destaca-se:
Neste sentido, considerando que o recrutamento de docentes com habilitação própria, nos quais se incluem os titulares de licenciaturas pós-Bolonha, através de procedimentos concursais de contratação de escola, tem permitido dar resposta a necessidades do sistema educativo e existindo evidências que permitem antever que tais necessidades se irão manter nos próximos anos, mostra -se necessário adotar medidas legislativas que permitam trazer previsibilidade e segurança aos estabelecimentos de ensino e às respetivas comunidades educativas, enquanto inexistirem docentes com qualificação profissional em número suficiente para suprir as necessidades temporárias do sistema de ensino público. 
O presente decreto-lei prevê ainda mecanismos de acompanhamento e de acesso a formação destinados à integração e ao desenvolvimento do conhecimento destes docentes nas várias temáticas relacionadas com a prática pedagógica e didática na docência.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

A Inteligência Artificial na Educação

Nos últimos meses aumentou a preocupação de que a IA (https://www.publico.pt/inteligencia-artificial) possa substituir os professores e torne o seu papel obsoleto. Apesar de ser compreensível, esta é uma visão redutora sobre o potencial das ferramentas que temos à nossa disposição. Os avanços na tecnologia trazem finalmente a oportunidade para que os professores e os alunos se possam focar naquilo em que realmente fazem a diferença: a aprendizagem com significado e o desenvolvimento de competências pessoais. Estas ferramentas não são um substituto, mas sim um complemento ao trabalho dos professores no processo complexo que é a educação. E são, potencialmente, um grande equalizador social: imagine-se que todos os alunos, independentemente da situação económica da família, tivessem acesso a um explicador pessoal, sempre disponível, gratuito e com toda a paciência do mundo.

O impacto do desenvolvimento e implementação destas ferramentas pode ser muito grande, apesar de ainda estarmos relativamente no início desta era. Mas não podemos perder tempo. Temos uma obrigação para com as gerações futuras de liderar esta mudança, o que requer coragem para inovar e correr riscos.

Já há algumas aplicações interessantes de IA na educação que nos podem servir de inspiração.

Na Universidade de Harvard, (https://www.publico.pt/2012/05/04/p3/noticia/mit-e-harvard-oferecem-cursos-gratis-online-1813287) o famoso curso CS50 (Computer Science), que conta com mais de 40.000 alunos online e centenas on-campus, planeia a utilização de IA para ensinar programação, corrigir trabalhos e dar feedback personalizado a cada aluno. Com o desenvolvimento deste assistente virtual, o objetivo é dar aos alunos um apoio mais personalizado e rápido e, ao mesmo tempo, libertar tempo dos assistentes para que possam fazer mais sessões individuais com os alunos.

Um outro exemplo que nos inspira é o Khanmigo, um tutor para os alunos e um assistente para os professores lançado pela Khan Academy. Para quem não conhece, a Khan Academy é uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo disponibilizar educação de qualidade para todos. O que é particularmente interessante é que este assistente virtual não foi criado com o objetivo de dar respostas mas sim de ajudar os alunos a pensar e colocá-los na direção certa para resolver os problemas. Um exemplo dado pelo fundador da Khan Academy (https://www.publico.pt/2023/04/10/impar/opiniao/videos-educativos-sera-funcionam-2045234), Salman Khan, durante uma TED Talk, mostra uma aluna a utilizar o Khanmigo para interagir diretamente com a personagem do livro The Great Gatsby e perguntar-lhe diretamente “porque é que continuas a olhar para a luz verde do outro lado do lago?”. Também é referido como um outro aluno é guiado na multiplicação de polinómios, sem que lhe seja dada a solução mas apenas pistas para corrigir os seus erros. Ou como outro aluno pode utilizar este assistente para co-criar uma história de terror, onde ambos vão desenvolvendo ideias e escrevendo o livro.

Na Miles in the Sky, uma startup que lançámos há dois anos, estamos também a utilizar IA para criação de conteúdos, análise do progresso e dificuldades dos nossos alunos e gestão das nossas comunidades. Estamos igualmente a desenvolver um chatbot assistido por IA que permite fornecer feedback personalizado ao aluno, facilitar a exploração de conceitos e registar as dificuldades para que o professor/tutor consiga agir sobre elas. O aluno pode pôr as suas questões diretamente ao chatbot, recebendo uma resposta acompanhada de um pequeno tutorial que o ajudará na compreensão e exploração do tema em que há em comum em todos estes exemplos é a preocupação em ajudar os alunos, através de uma experiência melhor e mais adaptada às suas necessidades individuais, permitindo aos participantes (professores, pais, gestores de comunidade, etc) mais tempo para se dedicarem a outras atividades com maior impacto.

“The big picture”

A nossa educação tem sido direcionada para aquilo que conseguimos medir, seja em testes ou em exames. O dia a dia dos alunos e dos professores é dedicado, em grande parte, à preparação para este tipo de exames. Ainda que isto possa não parecer um problema, podemos olhar para exemplos como o de Singapura, para perceber que a longo prazo é muito relevante. Em Singapura, durante vários anos, existiu um foco em que os alunos fossem os melhores em todo o tipo de exame.

De forma consistente, os alunos de Singapura ficam nos primeiros lugares dos exames internacionais (e.g PISA - Program for International Student Assessment; (https://www.publico.pt/2016/12/06/sociedade/noticia/o-que-e-o-pisa-1753796) TIMSS - Trends in International Mathematics and Science Study). O problema atual é que as diferentes áreas de negócio em Singapura estão a mover-se para trabalhos mais criativos e, ao fazê-lo, percebeu-se que os alunos não estão a conseguir adaptar-se. No livro “Lifelong Kindergarten”, um empresário explica ao autor, Mitchel Resnick, que os seus colaboradores conseguem executar de forma exemplar tarefas bem definidas, semelhante ao que aprenderam na escola. Porém, quando situações novas surgem, mesmo os alunos que tiveram excelentes resultados nestes exames internacionais têm muita dificuldade em adaptar-se a novas realidades e problemas. O Ministério da Educação de Singapura percebeu isto e fez um esforço para implementar medidas que pudessem mudar a situação.

As escolas estão agora a experimentar novas formas de ensino, num esforço para introduzir novos elementos no dia a dia destes alunos.

Algo que devemos ter em atenção: o que conseguimos medir nem sempre é o que deveríamos ensinar. A IA dá-nos a oportunidade de resolver este desencontro porque expande o que conseguimos medir. Podemos assim transformar a avaliação tradicional numa ferramenta de feedback positivo para que os alunos possam melhorar a sua experiência, em vez de ser um fim em si mesmo. Na Universidade de Wharton, um Professor de Empreendedorismo colocou o ChatGPT a dar feedback a “pitches” de negócio feitos pelos alunos. Podemos disponibilizar aos alunos tutores virtuais que estejam preparados para desafiá-los a nível de pensamento crítico, de auto-consciência ou mesmo da criatividade.

Sabemos que o meio sócio-económico dos alunos tem sido determinante no seu sucesso escolar. Ter pais com curso superior, poder pagar explicações ou ter acesso a uma escola privada cria uma vantagem enorme. A IA pode permitir que todos os alunos tenham acesso a uma educação personalizada de qualidade, independentemente do seu background familiar. Se considerarmos que estas ferramentas podem realmente ser disponibilizadas em larga escala, temos à nossa frente a capacidade de tornar alunos médios em alunos excelentes. O impacto social seria enorme. A educação poderia ser finalmente o elevador social com que tanto sonhamos.

O que devemos fazer agora

As possibilidades que temos para melhorar o nosso sistema de ensino são tantas que pode ter o efeito perverso de acabar por não mudar nada. Gostávamos de apresentar algumas ideias para os vários atores no sistema educativo. Para os professores, acreditamos que é importante preparar e abraçar uma mudança naquilo que são as suas responsabilidades. O papel de um professor é ainda mais importante nesta altura mas não da forma que tem sido tradicionalmente. Não é tanto serem os detentores da informação e conhecimento, mas sim serem catalisadores de motivação e curiosidade dos alunos. Ajudá-los a descobrir estas ferramentas e como utilizá-las melhor para as suas necessidades individuais. Cabe a cada um dos professores ser um elemento positivo, tomar riscos e experimentar abordagens novas enquanto ajudam as suas respectivas instituições de ensino a adotar estas novas metodologias. É desafiante mas será possível se, ao utilizarem IA para algumas das tarefas atuais, libertarem tempo para outras.

Para as instituições de ensino, o objetivo é bastante simples, ainda que não seja necessariamente fácil: ajudar os professores e os alunos a terem acesso a estas inovações. Isto implica uma grande mudança de atitude das escolas: procurar modelos alternativos e correr riscos.

Por fim, para os alunos e as suas famílias, importa perceber que a educação de amanhã vai ser radicalmente diferente. As necessidades e características de um profissional não são as mesmas que foram até hoje e, portanto, precisam de caminhar numa direção diferente. Precisam de aprender a aprender. Perceber que têm a responsabilidade de aprender e que isso não se resume aquilo que se passa na sala de aula. Existe imenso talento e capacidade de desenvolver soluções que nos podem colocar na liderança da educação a nível mundial.

Pedro Santa Clara e Ricardo Pereira

Fonte: Público

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Dia Nacional do Psicólogo: reconhecer a ciência e o profissional

4 de setembro é assinalado, em Portugal, como o Dia Nacional do Psicólogo. Esta comemoração representa o reconhecimento da ciência psicológica e da profissão do psicólogo, que muito tem contribuído em resposta aos desafios da nossa sociedade.

Não há dúvida de que a pandemia nos deixou um legado positivo no que diz respeito aos cuidados de saúde psicológica, havendo, atualmente, maior aceitação pela sociedade para a procura de um profissional de saúde mental, rompendo, embora ainda não totalmente, com o forte estigma associado à esta profissão.

Os psicólogos prestam um importante e diversificado papel junto de indivíduos, grupos e contextos populacionais, como sejam as escolas, os centros de saúde, as prisões, as clínicas e hospitais, os lares e os centros de reabilitação, as empresas, etc.. No âmbito individual, prestam serviços especializados junto de crianças, adolescentes e adultos, incluindo os mais velhos. O trabalho destes profissionais tem vindo a ser cada vez mais reconhecido e valorizado tanto por quem dele beneficia, como por outros técnicos de saúde, que compreendem a sua contribuição para a melhoria do utente.

Qualquer pessoa pode, em qualquer momento da sua vida, precisar da ajuda de um psicólogo; esta é a expressão da nossa vulnerabilidade enquanto seres humanos. Circunstâncias próprias do nosso desenvolvimento ou situações de crise, onde se incluem os problemas relacionais e emocionais, uma perda repentina, um divórcio conflituoso, a integração num novo contexto social, educacional ou laboral, um acidente grave, uma experiência dolorosa, etc., podem ser mais difíceis de lidar para algumas pessoas, sem que isso signifique que são fracas ou incapazes, mas que, por algum motivo, naquele momento não estão a conseguir dar uma resposta que traga bem-estar.

Tomar a decisão de olhar para dentro de si e de pedir ajuda demonstra coragem e pode ser libertador. Um psicólogo pode fornecer uma resposta especializada através de uma intervenção com base numa abordagem teórica ajustada. A psicoterapia pode ajudar a criar flexibilidade e romper com a rigidez que pode paralisar a pessoa, contribuindo, ainda, para atenuar o impacto da adversidade e ajudá-la a encontrar a forma que considera mais ajustada para lidar com a situação, com recurso às suas competências.

Não obstante o reconhecimento da profissão do psicólogo, infelizmente, ainda encontramos confusão entre um profissional que desenvolve o seu trabalho com base na ciência e outras pessoas que tentam passar por profissionais de saúde mental, mas que na verdade não o são e até podem prejudicar quem recorre aos seus serviços. A psicologia é uma ciência praticada por um profissional devidamente inscrito e credenciado pela ordem dos psicólogos portugueses (OPP). Além disso, a ciência psicológica é baseada na evidência científica, no cumprimento do Código Deontológico dos Psicólogos e em conhecimentos e técnicas próprias, com eficácia comprovada. Por outro lado, importa clarificar, para não correr o risco de agravar o problema e prejudicar a sua saúde mental, que as pseudociências, também conhecidas como terapias alternativas ou de bem-estar, não têm evidência científica e não são prestadas por profissionais de saúde mental qualificados. Segundo a ordem dos psicólogos portugueses, tratam-se de “crenças e práticas supostamente resultantes do método científico, mas que, na verdade, adoptam métodos de investigação problemáticos ou distorcem os resultados e evidências disponíveis”. Pode ser consultado aqui (https://psicarreiras.ordemdospsicologos.pt/o-perigoso-caso-da-pseudociencia).

Qualquer pessoa pode, em qualquer momento da sua vida, precisar da ajuda de um psicólogo; esta é a expressão da nossa vulnerabilidade enquanto seres humanos. Circunstâncias próprias do nosso desenvolvimento ou situações de crise, onde se incluem os problemas relacionais e emocionais, uma perda repentina, um divórcio conflituoso, a integração num novo contexto social, educacional ou laboral, um acidente grave, uma experiência dolorosa, etc., podem ser mais difíceis de lidar para algumas pessoas, sem que isso signifique que são fracas ou incapazes, mas que, por algum motivo, naquele momento não estão a conseguir dar uma resposta que traga bem-estar. Tomar a decisão de olhar para dentro de si e de pedir ajuda demonstra coragem e pode ser libertador. Um psicólogo pode fornecer uma resposta especializada através de uma intervenção com base numa abordagem teórica ajustada. A psicoterapia pode ajudar a criar flexibilidade e romper com a rigidez que pode paralisar a pessoa, contribuindo, ainda, para atenuar o impacto da adversidade e ajudá-la a encontrar a forma que considera mais ajustada para lidar com a situação, com recurso às suas competências.

Note-se que, em média, um psicólogo especialista possui cerca de dez anos de experiência profissional, com no mínimo de cinco anos de formação académica, um ano de estágio profissional e pelo menos mais quatro anos de prática profissional numa área específica da Psicologia. A especialidade serve, assim, como a garantia de que este profissional tem formação e experiência numa área particular da prática psicológica. Existem três áreas de especialidade que o psicólogo pode escolher: Psicologia Clínica e da Saúde, Psicologia da Educação, Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações.

Naturalmente, não basta ter uma licenciatura e a inscrição na ordem para ser um bom profissional. Porém, um psicólogo cuja atividade é regulada apresenta maior probabilidade de oferecer um serviço de qualidade através de competências técnicas e científicas e da garantia de confidencialidade. Em acréscimo, a participação destes profissionais em equipas onde há troca de saberes contribui para uma intervenção mais eficaz.

Posto isto, ao escolher um psicólogo preste atenção a alguns aspectos que podem fazer a diferença:

Procure ou peça referências credíveis sobre a competência do psicólogo. Por exemplo, verifique a sua identidade profissional e se está inscrito na OPP. Pode encontrar o directório de psicólogos, aqui (http://www.ordemdospsicologos.pt/pt/membros).

Certifique-se de que a especialidade do psicólogo que escolheu é a mais adequada à sua situação.

Lembre-se que um psicólogo não é um amigo, nem um amigo poderá servir de psicólogo. Ter alguém com quem conversar é imprescindível a uma boa saúde mental, porém, os amigos tentam ajudar-nos com palavras de incentivo baseadas na sua experiência de vida ou opinião pessoal, mas não usam (nem devem usar!) as competências próprias de um técnico de saúde mental que possui preparação para ajudar-nos a obter um conhecimento mais aprofundado de nós próprios e a desenvolver um conjunto de competências e recursos que nos podem ajudar a lidar com acontecimentos de vida adversos.

Caso não se sinta confortável com alguma técnica ou atitude deverá falar abertamente sobre o assunto com o seu psicólogo. Se considerar que as práticas usadas são abusivas, contacte a OPP.

Se identificar alguém que se intitula psicólogo, mas na verdade não o é, deve denunciar a situação à OPP.

Vera Ramalho

Fonte: Público