terça-feira, 31 de agosto de 2021

Estratégia Nacional para a Inclusão das Pessoas com Deficiência 2021-2025


A Estratégia Nacional para a Inclusão das Pessoas com Deficiência para o período de 2021-2025 (ENIPD 2021-2025) assenta em oito eixos estratégicos:

a) Eixo n.º 1: «Cidadania, igualdade e não discriminação»;

b) Eixo n.º 2: «Promoção de um ambiente inclusivo»;

c) Eixo n.º 3: «Educação e qualificação»;

d) Eixo n.º 4: «Trabalho, emprego e formação profissional»;

e) Eixo n.º 5: «Promoção da autonomia e vida independente»;

f) Eixo n.º 6: «Medidas, serviços e apoios sociais»;

g) Eixo n.º 7: «Cultura, desporto, turismo e lazer»;

h) Eixo n.º 8: «Conhecimento, investigação, inovação e desenvolvimento».

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Kit Básico de Saúde Mental

Tendo em consideração a pertinência da temática, divulga-se informação no âmbito do “Kit Básico de Saúde Mental”, iniciativa integrada no Programa Nacional para a Saúde Mental.

Sessões formativas sobre saúde mental, preparadas pela ManifestaMente (https://www.manifestamente.org/) em conjunto com a Direção-Geral da Saúde – Programa Nacional para a Saúde Mental, encontram-se disponíveis online.

A ManifestaMente é uma iniciativa cidadã pela Saúde Mental empenhada em FALAR e inspirando as pessoas a falar sobre saúde mental, tendo desenvolvido o “Kit Básico de Saúde Mental”.

Este kit disponibiliza gratuitamente uma sessão com a informação essencial sobre saúde mental para a população em geral, nomeadamente:

• o que é saúde mental
• como podemos cuidar da nossa saúde mental
• quais são os sinais de preocupação relativamente à saúde mental
• o que é a doença mental
• quais são os recursos que estão disponíveis se precisarmos de ajuda
• como é que podemos ajudar outras pessoas

Para a realização deste “Kit básico de saúde mental” é necessária a inscrição na plataforma da ManifestaMente.


Fonte: DGE

domingo, 29 de agosto de 2021

Educação pré-escolar para todos: impactos e efeitos de longo prazo

Frequentar o pré-escolar compensa. No curto prazo, as vantagens para o desenvolvimento cognitivo e sócio emocional das crianças têm sido sistematicamente corroboradas por diversos estudos. Mas, e o longo prazo? Quais os efeitos e impactos que uma educação pré-escolar pode ter na vida de uma pessoa?

Um trabalho muito recente, publicado no National Bureau of Economic Research, vem debruçar-se precisamente sobre esta questão, através de uma análise feita a um programa de generalização do ensino pré-escolar em Boston, nos Estados Unidos da América.

O estudo de Gray-Lobe e coautores mostra que a generalização da pré-escola pública pode ter importantes impactos na vida das crianças, a longo prazo. Apesar de o estudo ser dos primeiros a usar uma amostragem aleatória para investigar os impactos de longo prazo do ensino pré-escolar, os resultados são em muito semelhantes aos de outros estudos recentes e que se basearam em métodos diferentes. Estudos randomizados anteriores focaram-se em programas de alta intensidade aplicados em pequena escala, tais como o Perry Preschool ou Carolina Abecedarian, lançados nos anos 60 e com amostras de cerca de 150 crianças de famílias muito pobres, ou com uma análise limitada a resultados de curto prazo. Outros estudos que examinaram programas de larga escala focaram-se em programas pré-escolares destinados a populações pobres – como, por exemplo, o programa americano “Head Start” – e usaram comparações entre irmãos, a introdução em pequenas áreas geográficas ou o design da regressão descontinuada.

O estudo de Gray-Lobe e coautores comparou crianças que entraram na pré-escola aos quatro anos de idade, entre 1997 e 2003, através de um sorteio de acesso a programas de pré-escola com um número de candidatos superior às vagas disponíveis – ou seja, com fila de espera. Relativamente a outras crianças que estavam também em fila de espera, as crianças que foram (aleatoriamente) selecionadas para a pré-escola registaram uma probabilidade mais alta de inscrição na universidade, em cursos preparatórios para acesso à universidade, uma melhoria nos testes de acesso à universidade e uma probabilidade mais elevada de completar o ensino secundário no tempo certo. A frequência da pré-escola também diminuiu várias medidas disciplinares, como o encarceramento juvenil. No entanto, não houve nenhum impacto detetável nas pontuações dos testes de desempenho entre os terceiro e oitavo anos de escolaridade.

Uma análise de subgrupos mostra ainda que estes efeitos na inscrição na universidade, na realização de testes preparatórios para acesso à universidade e na prevenção de medidas disciplinares foram maiores para rapazes do que para raparigas, e não se registaram diferenças por nível socioeconómico.

O programa estudado por estes autores é especialmente interessante pelas semelhanças com o modelo pré-escolar público oferecido em Portugal e em muitos outros países europeus. A pré-escola pública em Boston é universal, sendo aberta a todas as crianças que residam nesta região, independentemente do rendimento familiar, e com um horário de seis horas por dia. Na prática, o programa atraiu uma população estudantil relativamente desfavorecida, com grande proporção de alunos não brancos e famílias de baixo rendimento.

Há ainda escassa evidência para compreender como os programas universais de pré-escola afetam os participantes no longo prazo. A evidência disponível de programas contemporâneos na Europa sugere que a expansão do acesso à educação pré-escolar e a creches formais ainda pode beneficiar o desenvolvimento cognitivo e socioemocional da criança. No entanto, a evidência está apenas disponível para países de rendimentos mais elevados, como, por exemplo, as expansões feitas pela Noruega nos anos 70 e 90 do século XX, e pela Alemanha.

Embora documentando impactos positivos em medidas comportamentais e de desempenho escolar, Gray-Lobe e coautores deixam em aberto os mecanismos através dos quais este programa se traduz em impactos positivos, tal como muitos dos estudos referidos. Várias hipóteses têm sido colocadas para ilustrar possíveis mecanismos, no entanto, para tal, seriam necessários estudos mais detalhados que incluíssem informação acerca do ambiente familiar e da qualidade da pré-escola.

Há várias possibilidades em aberto. Primeiro, a frequência da pré-escola pública pode ter dado às crianças acesso a um ambiente educativo melhor do que a alternativa sem pré-escola pública; contudo, não é possível saber se a alternativa seria uma pré-escola de pior qualidade ou simplesmente o cuidado pela mãe ou avós. Segundo, as mães podem ter (re)entrado no mercado de trabalho, por terem a possibilidade de colocar as crianças na pré-escola, e isto poderá ter levado um aumento do rendimento familiar e, consequentemente, reduzir o stress em casa. Finalmente, é possível que os pais tenham aprendido novas e melhores formas de interagir com os seus filhos em casa através do contacto com a pré-escola, e que isso tenha propiciado um melhor ambiente em casa.

Rita Ginja

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Estudo confirma a importância da fluência da leitura

Um estudo acabado de publicar na revista científica Reading and Writing confirma a importância crucial da capacidade de descodificação dos textos e das capacidades linguísticas para a compreensão do que se lê.

Traduzido por miúdos, isto significa que os fatores principais da compreensão do que se lê são dois: a velocidade/precisão da leitura — ou seja, a tradução em palavras, dos símbolos escritos — e o domínio da linguagem. O estudo incidiu sobre alunos do segundo ano de escolaridade, altura em que se espera que as crianças consigam descodificar palavras e texto e comecem a ler com maior à vontade e segurança.

As conclusões do estudo podem parecer triviais, mas não o são, de facto. A ideia de que a descodificação e a compreensão da oralidade são essenciais para a compreensão do que se lê, a chamada “visão simples da leitura”, tem vindo a ser questionada. Segundo críticos desta visão, seria necessário priorizar as chamadas funções executivas – ou seja, capacidades como a memória de trabalho, a flexibilidade cognitiva, o planeamento e a atenção seletiva. Por essa razão, muitos críticos salientam a necessidade de intervenções socio-comportamentais para ajudar as crianças a desenvolver a capacidade de leitura.

O estudo agora publicado utiliza uma metodologia estatística sofisticada para comparar a influência diferencial das capacidades de descodificação e de expressão oral, por um lado, e de um conjunto alargado de funções executivas, por outro, na compreensão de texto. Numa abordagem experimental, com 184 crianças romenas, os resultados evidenciam que a descodificação e a linguagem oral explicam 92% da variância da compreensão na leitura. O peso das funções executivas é, por isso residual.

O estudo foi feito com o Romeno, uma língua foneticamente transparente, com poucas irregularidades grafo-fonémicas e ortograficamente consistente. Em 2017, um estudo feito por uma equipa da Universidade do Minho, com uma língua relativamente transparente, o Português Europeu, chegou a conclusões semelhantes. O estudo incidiu sobre crianças do 2.º ano de escolaridade, que foram testadas, novamente, no 4.º ano.

Será necessário ter cuidado na extrapolação das conclusões destes estudos para idiomas menos transparentes, como é o caso do Inglês, e para fases mais avançadas de escolaridade.

De qualquer maneira, estas análises confirmam a importância decisiva de duas áreas para a compreensão de texto: a fluência de leitura e a capacidade de compreensão e expressão oral.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

O aluno com discalculia e a aprendizagem diferencial

Trabalhar com crianças todos os dias rima com lidar com aprendizagem diferencial todos os dias.

Referimo-nos a aprendizagem diferencial em vez de dificuldades de aprendizagem, porque somos todos diferentes e com estilos de aprendizagem diferentes, tendo a palavra dificuldade a conotação negativa que se quer evitar quando ensinar é o nosso mester.

Neste campo, a área da aprendizagem diferencial em Matemática foi sempre de interesse. Talvez por experiência própria. Com uma mãe professora de Matemática e não sendo a Matemática o meu forte, ou assim pensava, não consigo deixar de me surpreender hoje em dia com a facilidade com que memorizo números, datas, códigos, assim como a rapidez na análise de dados e as conclusões tiradas à velocidade da luz diante de folhas de Excel sem fim.

Por via dos bons genes maternos, ou será antes por intervenção divina como recompensa de noites sem fim diante de explicações também sem fim, depois de mais um “Satisfaz” e um “Satisfaz” nunca satisfaz? A verdade é que ler números, hoje em dia, não é apenas fácil, é essencial para o desempenho de funções de coordenação na direcção de uma escola em Londres: os bons genes maternos, portanto.

Mas voltemos ao nosso assunto: por ensino diferencial entenda-se crianças com discalculia. Discalculia? Sim, discalculia ou a dificuldade na memorização de números, no cálculo e no raciocínio lógico-matemático.

Deste modo, crianças com discalculia apresentam muitas dificuldades na conversão de medidas, como são exemplo o peso ou as distâncias, dificuldades com o conceito de tempo, incluindo dias da semana e a rapidez com que se esquecem dos dias da semana ou dos meses do ano, aniversários ou mesmo da data de nascimento.

Para além disto, acrescentamos dificuldades em actividades do dia-a-dia, como a realização de compras e o cálculo mental necessário para pagar produtos e efectuar um simples troco.

A noção de tempo e a ciclópica tarefa de sair de casa a horas para chegar a horas à escola é isso mesmo, ciclópica, para não dizer impossível, para desespero próprio e desespero dos pais destas crianças.

Incapazes de desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo num universo onde a organização e a lógica são afinal ramos da Matemática, estas são crianças que se distraem facilmente, que se esquecem facilmente e que, portanto, são bem capazes de se perder no caminho de e para casa ou não fossem os transportes públicos regulados por números, rotas e tabelas. Para estas crianças, as operações matemáticas básicas não são básicas. Porque não sabem a tabuada de cor – desde quando 7 x 8 são 56 e, ainda mais importante, porque é que 7 x 8 são 56 e porque é que ninguém nos explica? Ainda hoje, porque é que ninguém nos explica?

E o que dizer do cálculo de percentagens, num mundo onde os impostos são ainda tão certos como a morte, onde há produtos em promoção e estatísticas apresentadas nos telejornais de todos os dias?

A leitura de mapas e a orientação pelos pontos cardeais é igualmente um mistério da natureza, onde se inclui a orientação no interior e entre localidades e assim se explica porque nos perdemos nos percursos diários.

Reconhecem algumas destas características no vosso dia-a-dia? Não é por acaso, a discalculia não é exclusiva das crianças e se nas mesmas está subdiagnosticada, o que dizer dos adultos?

Do ponto de vista neurológico, crê-se estar a discalculia associada a alterações no sulco infra-parietal e no córtex pré-frontal. Sendo o diagnóstico efectuado por psicólogos educacionais e testes neuropsicológicos, fica a pergunta: o que fazer e como ajudar o aluno com discalculia?

Tendo vivido com Matemática dentro e fora de casa, para ajudar o aluno com discalculia, mas igualmente todos os alunos, nada como mexer na Matemática, pesar e medir a Matemática através de modelos, blocos, figuras geométricas, jogos, exemplos.

Nada como trazer os meses do ano e exemplos dos mesmos para a sala de aula enquanto se atribuem actividades e funções aos dias da semana e se divide o dia em horas entre relógios analógicos, digitais, em papel e em 3D.

Nada como trazer dados e dominós para a sala de aula, de modo a promover o reconhecimento de padrões entre a adição e subtração.

Nada como deixar de lado as fichas de trabalho numa aula onde os desafios e jogos matemáticos devem ter a primazia. Porque o medo da Matemática é o maior inimigo do aluno, mas também do adulto de amanhã, e cultivar o gosto pela Matemática é vital.

A planificação de aulas onde cada tarefa é dividida em pequenas etapas e cada passo é constantemente revisto reveste-se de igual importância, cabendo ao professor não só incentivar, mas celebrar com o aluno cada aprendizagem e cada objetivo atingido.

O uso de exemplos de todos os dias bem como o uso de calculadoras, de aplicações para telemóveis ou ferramentas de conversão são instrumentos igualmente relevantes e, ainda mais importante, disponíveis na era digital.

Mas, tal como referi anteriormente, para tudo isto é preciso que a criança, e com a criança o adulto, entre na sala de aula. Porque a Matemática não é, nem pode ser, um bicho-papão. Porque a ansiedade e o medo de falhar só se vão embora quando o professor, e com o professor os pais e com os pais a família, está presente, todo ele apoio e sem juízos de valor.

Porque a auto-estima, ou a falta dela, anda connosco de mão dada para a vida. Na Matemática, mas também nas restantes disciplinas, dentro, mas também, e especialmente, fora da escola.

João André Costa

Fonte: Observador

A escola em tempo de férias

Nesta altura em que os professores estão de férias, vão pensando nas velhas estratégias de sempre e em novas maneiras de inovarem e motivarem não só os alunos, mas também eles próprios.

Uma das janelas de oportunidade é identificar o futuro que já aconteceu — tal como referia Peter Drucker a propósito das organizações empresariais ou sociais —, encontrar os sinais que fazem tendências e teorizar sobre as práticas que se têm vindo a utilizar durante estes dois anos de pandemia e mesmo já antes dos confinamentos. Esta é uma tarefa útil em todos os tempos e este que vivemos, não é excepção.

Na educação, como em qualquer outra área, a observação da realidade e dos dados que temos é de extrema importância para preparar o futuro, prever inovação e potenciar a criatividade. Acumular dados e estatísticas apenas por gosto de nada serve. Transformar dados em informação que possa ser utilizada para solucionar problemas, ou permitir novas abordagens, é trabalho útil e que não deve ser menosprezado. São vários os exemplos que podemos ter desde a interpretação do último Censos, para saber que população escolar vamos enfrentar nos próximos anos, até à necessidade de processos mais ou menos sistematizados e ajustados a grupos de população, passando por ambiguidades e incongruências e ainda pelos sucessos ou fracassos esperados com a continuidade de determinados procedimentos.

Em tempo de férias escolares é importante observar como os alunos, de qualquer grau de ensino, aprendem. A tal aprendizagem do currículo oculto, tão falado aqui há uns bons anos. O que os motiva, de que falam, quais os canais por onde procuram informação, que conhecimentos afinal demonstram ter e como os relacionam.

É interessante reconhecer que a televisão deixou de ser fonte de entretenimento para os mais novos, e muito menos de conhecimento. Quanto muito, a televisão funciona como canal de transmissão de conhecimento que se procura na Internet. Qualquer smartphone ou no máximo um tablet ou computador funciona como fonte de informação, de conhecimento e ainda de consulta de informação útil no momento. Séries, filmes, documentários e jogos são estratégias de aprendizagens de línguas estrangeiras, de história, de ciência, de exemplos de vida e de superação.

Reconhecer que a tecnologia veio substituir muitos procedimentos e cálculos necessários para se aprender determinadas matérias, é permitir que muitos outros em que se insiste ainda hoje estão igualmente obsoletos. Como exemplo temos a técnica da tinta-da-china, que tantas dores de cabeça deu a alguns e que deixou de fazer qualquer sentido o seu ensinamento há já uns anos, e ainda muitos cálculos matemáticos que aplicações e programas de computador fazem hoje com um simples click. Quantas outras aprendizagens não continuarão desajustadas e desprovidas de qualquer utilidade?

Sabemos que muitos de nós, se não mesmo a maioria, continuamos a aprender pela vida fora. O século XX foi prodigioso em mostrar-nos que constantemente precisamos de nos actualizar e aprender novos conhecimentos. Para tal, é preciso cultivar a humildade, a curiosidade, o trabalho em equipa, a criatividade e inovação e de nos conhecermos a nós próprios. A humildade para sabermos que estamos continuamente a aprender e que há outros que sabem mais do que nós, como sejam os nossos alunos, e que ganhamos imenso se aprendermos com eles.

A curiosidade para persistir na aprendizagem, com gosto e gozo: fruição do conhecimento que nos leva a uma vida melhor. O trabalho em equipa: ter como certo que a diversidade nos completa e que em equipa superamos a nossa riqueza individual e a soma do potencial de todos: vamos mais longe.

A criatividade e inovação para melhorar procedimentos, instrumentos, análise, estratégias e outros pontos de vista, para viver com maior bem-estar e felicidade.

Conhecermo-nos a nós próprios para sabermos os nossos pontos fortes e potenciá-los à excelência e as nossas limitações, para encontrar parceiros de equipa que nos completem. Na educação, quais são as tendências nos dias de hoje? Como aprendem os nossos alunos? A questão não é como queremos que eles aprendam, mas sim observar o modo como aprendem. Nada de novo. Qualquer professor percebe que isto tem de ser observado e feito, se queremos ter resultados. E os resultados são, antes de mais dos alunos.

Querermos resultados significa que queremos que os alunos adquiram conhecimentos e que mostrem que o adquirem, que aprendem. Na era em que a aprendizagem ao longo da vida está na ordem do dia, ensinar como aprender, em qualquer área, deve ser a prioridade. Que dados na educação e para a educação nos mostram o futuro que já aconteceu?

Margarida Marrucho Mota Amador

Fonte: Público

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Exposição ‘De Dentro para Fora’

A exposição ‘De Dentro para Fora’ pretende dar a conhecer o quotidiano das pessoas com deficiência durante o período de confinamento causado pela Pandemia e vai ser inaugurada dia 27 de agosto, sexta-feira, às 18h15, nos claustros da igreja da antiga Sé, em Bragança.

“A atualidade marca as nossas vidas de incertezas e de medos. Uma forma de cultivar a esperança é manter a janela aberta e olhar para fora. Esta exposição relata um pouco do que foi o nosso quotidiano durante o período de confinamento”, assinala Teresa Silva, diretora técnica na Academia do Centro Social Paroquial dos Santos Mártires.

O Centro Social Paroquial Santos Mártires explica que os artistas da sua academia, em Bragança, em conjunto com os artistas da CERCIMAC, em Macedo de Cavaleiros, vão dar a conhecer o seu “olhar particular e as suas vivências” durante o tempo em que permaneceram confinados devido à pandemia Covid-19.

Na exposição vão apresentar trabalhos de pintura e desenho, e uma série de fotografias – ‘Confinarte’ – que retratam a encenação de quadros de pintura de artistas famosos.

‘De Dentro para Fora’ vai ser inaugurada às 18h15 do dia 27 de agosto, nos claustros da igreja da antiga Sé, em Bragança, e pode ser visitada gratuitamente até 1 de outubro.

Segundo o programa desta sexta-feira “segue-se um percurso pela igreja em linguagem fácil”, após a visita à exposição.

Para mais informações consulte o website do Centro Social Paroquial Santos Mártires.

Fonte: INR

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Universidade de Aveiro abre candidaturas a pioneiro curso para indivíduos com dificuldades intelectuais

A Universidade de Aveiro estreia este ano letivo, um curso destinado a indivíduos com Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais comprovadas e escolaridade obrigatória concluída. Resultado de uma parceria com o Grupo Jerónimo Martins, o “Programa Individual de Estudos Multidisciplinares” abre com seis vagas e arranca em outubro. As candidaturas decorrem de 1 a 7 de setembro.

Estudantes com Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais que, pela via tradicional, após frequência da escolaridade obrigatória não teriam acesso ao Ensino Superior, têm agora a oportunidade de frequentar um programa lecionado na Universidade de Aveiro, com a duração de dois anos letivos, que inclui dois estágios no Grupo Jerónimo Martins, em ambiente real de trabalho: um estágio após o 1.º ano curricular e um outro de conclusão do programa, no final do 2.º ano.

Na componente curricular do curso, os estudantes estudarão lado-a-lado com os seus pares universitários, em turmas regulares, sendo acompanhados por um coordenador-tutor e usufruindo dos serviços e apoios que a Universidade de Aveiro disponibiliza a todos os seus alunos, numa perspetiva inclusiva e emancipatória, assente na crescente autonomia dos alunos e contingente com as competências e necessidades de cada um. Trata-se, assim, de um programa duplamente inclusivo: no meio académico e no mercado de trabalho.

O apoio do Grupo Jerónimo Martins traduz-se no financiamento do coordenador-tutor e das propinas dos alunos, na colaboração na fase de candidatura e seleção dos alunos, no acompanhamento e monitorização, e nos dois momentos de estágio. O Grupo une-se, assim, uma vez mais, à Universidade de Aveiro, num projeto pioneiro para a aproximação entre os meios universitário e empresarial, desta vez no âmbito da inclusão

O plano curricular do curso, todos os procedimentos de candidatura e critérios de seleção estão disponíveis em https://www.ua.pt/pt/formacao/estudos-multidisciplinares. Os resultados conhecem-se a 8 de outubro.

Quaisquer esclarecimentos adicionais podem ser solicitados ao ContinUA - Centro para a Aprendizagem ao Longo da Vida, pelo email: continua.formacao@ua.pt, ou pelo tel. 234 401 515

Fonte: UA

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Resultados escolares por disciplinas – 2.º e 3.º ciclos – 2019/2020 - Informação a partir dos resultados das escolas

Desde 2016, o Ministério da Educação tem investido na produção de indicadores que permitem uma análise mais integrada do desempenho do sistema educativo. Afastando-se de um olhar circunscrito aos resultados de provas de avaliação externa, como os exames, têm vindo a ser coligidos dados que permitem aferir qualidade, equidade, comparação entre coortes e entre disciplinas.

Este trabalho sistemático tem permitido analisar não apenas taxas absolutas de sucesso/insucesso, mas também o perfil de cada disciplina ou a variação entre anos. Com base nestas análises, tem sido possível estabelecer linhas prioritárias de atuação de que constituem exemplo as medidas orientadas para a promoção do sucesso escolar junto dos alunos mais desfavorecidos ou as medidas curriculares na área da matemática. Em conjunto com as provas de aferição que, desde 2016, cobrem as diferentes áreas curriculares, existe hoje informação muito mais detalhada sobre o comportamento das diferentes disciplinas, permitindo intervenções mais pormenorizadas, sem uma concentração apenas em duas disciplinas.

Os estudos da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), agora publicados, analisam os resultados escolares por disciplina nos 5.º e 6.º anos e nos 7.º, 8.º e 9.º anos, do ano letivo 2019/2020, tendo sido incluída, pela primeira vez, uma análise por género e escalão de Ação Social Escolar (ASE).

Da análise do estudo, destacam-se os seguintes resultados:
  • Intensificação, em 2019/2020, da tendência de subida das classificações médias e de redução da percentagem das classificações negativas, a todas as disciplinas, observada desde o início da série (2011/2012), o que mostra, à semelhança do que acontece em estudos internacionais, uma melhoria progressiva e consistente do sistema educativo português;
  • Matemática permanece como a disciplina com uma classificação média mais baixa e com uma percentagem de notas negativas mais elevada (ainda que com melhoria significativa face a 2018/2019);
  • Educação Física e a Educação Musical são as disciplinas que registam um valor mais elevado, com taxas residuais de classificação negativa e cerca de 70% dos alunos com nota de 4 e 5;
  • As classificações médias das raparigas são ligeiramente superiores às dos rapazes, em todas as disciplinas, exceto a Educação Física, na qual ocorre o oposto;
  • As classificações médias dos alunos sem ASE são superiores às dos alunos com ASE-B e as destes superiores às dos alunos com ASE-A, em todas as disciplinas;
  • As diferenças de médias em função da ASE são ligeiramente superiores em Matemática, Inglês e História e Geografia de Portugal;
  • Entre os alunos que transitaram com classificações negativas no ano anterior, mais de metade conseguiu obter positiva este ano, com a exceção da Matemática no 6.º, 8.º e 9.º anos;
  • Mais de 90% dos alunos retidos têm uma classificação negativa a Matemática;
  • A percentagem de alunos que recuperaram classificações negativas do ano anterior varia pouco com o facto de terem transitado ou repetido o ano (no caso do 5º ano, aliás, a transição teve um efeito positivo na recuperação da classificação negativa a todas as disciplinas, exceto a Matemática, em que o efeito foi neutro).
Este último resultado merece particular relevo, na medida em que atesta, uma vez mais, a baixa eficácia da retenção como medida para a melhoria dos resultados, sendo de estimular outras intervenções, conforme tem sido promovido no âmbito do Programa Nacional para a Promoção do Sucesso Escolar e nas medidas previstas no plano de recuperação das aprendizagens 21|23 Escola+.

Ficheiros:

Fonte: Governo

domingo, 22 de agosto de 2021

Prémios de investigação e desenvolvimento para a inclusão

Estão abertas as candidaturas à Edição de 2021 dos Prémios de Investigação e Desenvolvimento do Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P. (INR, I.P.), nas áreas da Inovação Tecnológica, das Ciências Sociais e Humanas e da mensagem gráfica.

Em 2021, para premiar o que de melhor se fez em investigação e desenvolvimento de projetos, o INR, I.P., conta com a colaboração das seguintes entidades com as quais estabeleceu acordos de parceria.
Se realizou projetos na área científica e da investigação, em prol da promoção dos direitos das pessoas com deficiência e da sua inclusão, consulte a informação.

Premeia o trabalho gráfico que, através de um cartaz, sensibilize e mobilize a opinião pública para o reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência, celebrado no dia 3 de dezembro, Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.
1.º Prémio no valor de 1.500 euros, atribuído pelo INR
2 Menções Honrosas

Candidaturas: 16 de agosto a 6 de outubro de 2021


Fonte: INR

sábado, 21 de agosto de 2021

Estudo revela que chumbar um aluno tem "pouca eficácia" na melhoria dos resultados

Os estudos realizados pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) analisaram os resultados escolares dos alunos dos 2.º e 3.º ciclos, ou seja, do 5.º ao 9.º ano de escolaridade.

Olhando para os alunos que passaram de ano com negativas na pauta, a maioria conseguiu recuperar no ano seguinte e em alguns casos a taxa de sucesso chegou quase aos 90%.

Numa comparação entre o efeito de reter o aluno ou deixar que passe de ano, as diferenças nos resultados também são poucas, segundo os dados dos dois relatórios, que analisam as notas de oito anos letivos (entre 2011/2012 e 2019/2020).

Por exemplo, entre os alunos que no 8.º ano tiveram negativa a Ciências Sociais, mas que passaram de ano, 87% conseguiram ter positiva à disciplina no ano seguinte, em 2019/2020.

Já entre os que chumbaram e por isso voltaram a ter aulas a Ciências Sociais - disciplina a que tinham tido negativa -, a taxa de sucesso foi de 88%, ou seja, apenas mais um ponto percentual em relação aos que passaram com negativa.

A exceção é a disciplina de Matemática nos 6.º, 8.º, e 9.º anos de escolaridade, onde recuperar aprendizagens e ter sucesso parece ser mais difícil.

Por exemplo, entre os alunos do 7.º ano que tiveram negativa a Matemática apenas 31% teve positiva no 8.º ano no ano letivo de 2019/2020.

As vantagens de passar os alunos parecem ser mais notórias no 5º ano, quando não reter os estudantes tem um efeito positivo na recuperação das negativas a todas as disciplinas. Também neste ano, a exceção volta a ser Matemática, disciplina em que, segundo o Ministério, passar ou chumbar tem um "efeito neutro".

Em comunicado, o Ministério da Educação considera que os resultados dos estudos confirmam "a baixa eficácia da retenção como medida para a melhoria dos resultados, sendo de estimular outras intervenções".

Nos últimos oito anos, notou-se uma tendência de melhoria das notas e de menos negativas a todas as disciplinas. Para o Ministério da Educação, este fenómeno "mostra uma melhoria progressiva e consistente do sistema educativo português".

Os estudos destacam ainda as disciplinas de Educação Física e de Educação Musical, por serem aquelas em que os alunos conseguem melhores resultados, com taxas residuais de negativas e cerca de 70% dos alunos com notas entre o 4 e 5 (em que cinco é a nota máxima).

Matemática continua a ser a disciplina em que os alunos têm mais dificuldades, sendo a que apresenta a classificação média mais baixa e a maior percentagem de notas negativas, apesar de ter melhorado no último ano em análise.

Olhando para os alunos que chumbaram, mais de 90% tiveram negativa a Matemática, segundo os dois estudos agora publicados.

Pela primeira vez, a DGEEC fez uma análise dos resultados escolares tendo em conta o género e a situação económica do agregado familiar (através do escalão de Ação Social Escolar - ASE) e os resultados vieram confirmar realidades já conhecidas.

Numa comparação entre sexos, as raparigas têm melhores desempenhos do que os rapazes a todas as disciplinas, à exceção de Educação Física.

No que toca ao ambiente socioeconómico, os estudos mostram que, regra geral, dificuldades económicas acabam por ser sinónimo de maiores dificuldades na escola.

As classificações médias dos alunos que não recebem qualquer apoio social (sem ASE) são superiores às dos alunos com ASE.

No entanto, também há diferenças entre os casos mais graves de carência, dos alunos de escalão A, e os que vivem em famílias com um pouco menos dificuldades (escalão B).

Normalmente, os alunos de escalão A tem notas inferiores a todas as disciplinas em relação aos alunos de escalão B, sendo a situação mais visível a Matemática, Inglês e História e Geografia de Portugal.

Por exemplo, a Inglês os alunos do 7.º ano sem ASE tiveram uma média de 3,8 valores, enquanto os alunos com ASE variaram entre os 3,2 (ASE A) e os 3,5 (ASE B).

A Matemática, os alunos com mais apoios (ASE A) não chegaram à positiva (2,9 valores) enquanto os alunos sem ASE tiveram uma média de 3,5 valores.

Em comunicado, o Ministério da Educação salienta ainda a opção por estudos alternativos que permitam analisar os resultados académicos e o desempenho do sistema educativo, afastando-se de analisar apenas os resultados obtidos em exames nacionais.

"Com base nestas análises, tem sido possível estabelecer linhas prioritárias de atuação de que constituem exemplo as medidas orientadas para a promoção do sucesso escolar junto dos alunos mais desfavorecidos ou as medidas curriculares na área da matemática", refere o comunicado.

Fonte: DN

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Investigadores de Coimbra criam prótese para atleta paralímpico

O paraciclista Telmo Pinão vai participar nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, que decorrem até 5 de Setembro, com uma prótese desenvolvida pelo Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC). “Se não fosse esta prótese, provavelmente deixaria de ser atleta de alta competição”, afirma Telmo Pinão, citado num comunicado daquela instituição de ensino enviado à agência Lusa.

O atleta, que em Junho se sagrou vice-campeão europeu de fundo em paraciclismo, na Áustria, vai participar na prova de pista, nos três mil metros de perseguição e no contra-relógio de estrada. “Como tenho confiança neste novo dispositivo, o meu objectivo é, no mínimo, trazer o diploma que me assegurará a ida ao Paris 2024”, salienta.

Segundo o ISEC, Telmo Pinão é um dos pioneiros do paraciclismo em Portugal. Foi amputado de parte da perna esquerda em 2002 e, em 2008, comprou uma bicicleta mesmo sem ter a certeza de que conseguiria pedalar. “A sua dedicação e o gosto pela modalidade levaram-no depois a apostar no ciclismo”, refere o comunicado.

O presidente do ISEC realça a importância de colocar a engenharia ao serviço da sociedade: “Queremos demonstrar a mais-valia de interagir com a comunidade desportiva neste projecto em concreto, mas desejamos também estender mais parcerias a outros domínios, desportivos ou não”. “Estamos a valorizar o ensino e a capacidade técnica de produzir componentes para uma actuação real. Estamos motivados para desenvolver soluções inovadoras com a indústria portuguesa e para colocá-las no mercado”, refere Mário Velindro.

Para os Jogos Paralímpicos, o ISEC desenvolveu e produziu nos seus laboratórios todos os componentes metálicos, em liga de alumínio de alta resistência, com a precisão a que este tipo de elementos obriga. “Maquinámos algumas novas peças para a sua ida a Tóquio porque queríamos dar-lhe garantias pessoais e de equipamento de que nada iria falhar”, explica Pedro Ferreira, professor de Engenharia Mecânica. Em Tóquio, Telmo “não terá de se preocupar com os dispositivos, que estão afinados, optimizados e enquadrados em termos de esforço”, afirma o docente.

A empresa RC Fibre Components, em articulação com o atleta e com a equipa de investigação, tem sido responsável pelo fabrico dos componentes em material compósito, “essenciais para garantir a leveza do dispositivo”. “É, por isso, um trabalho em parceria”, enfatiza Luís Roseiro, docente e coordenador do Laboratório de Biomecânica Aplicada do ISEC, salientando que os alunos também se envolveram no processo e “adquiriram competências em contextos e situações reais”.

Fonte: Público

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Homologação das Aprendizagens Essenciais de Matemática

O Despacho n.º 8209/2021, publicado em 19 de agosto, homologa as Aprendizagens Essenciais da componente de currículo/disciplina de Matemática inscrita na matriz curricular base dos 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico geral, constante dos anexos i a iii do Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho.

Nomeação da comissão de peritos do contingente especial para candidatos com deficiência no âmbito do Regulamento do Concurso Nacional de Acesso e Ingresso no Ensino Superior Público

O Despacho n.º 8208/2021, publicado em 19de agosto, procede à nomeação da comissão de peritos do contingente especial para candidatos com deficiência no âmbito do Regulamento do Concurso Nacional de Acesso e Ingresso no Ensino Superior Público para a Matrícula e Inscrição no Ano Letivo de 2021-2022.

Contra "escola mínima", famílias numerosas pedem revisão dos referenciais curriculares

"Incomoda-nos bastante ser uma medida que está a ser implementada sem a participação das famílias. Acho que ninguém está por dentro do que se está a passar e isso é grave, porque estamos perante uma alteração substancial". Ana Cid Gonçalves, secretária-geral da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN), manifestou (...) o descontentamento que reina entre os pares. A Associação emitiu esta semana um comunicado em que contesta o Despacho n.º 6605-A/2021, de 6 de julho, que define os referenciais das várias dimensões do desenvolvimento curricular, incluindo a avaliação externa, "e revoga todos os programas e metas curriculares vigentes", considera a associação.

De acordo com esta entidade, que representa 16 mil famílias em todo o país, "a medida, tomada no início das férias escolares, não foi alvo de qualquer debate nem esclarecimento público, impondo-se unilateralmente apesar das muitas vozes dissonantes que imediatamente se levantaram por parte de várias entidades que representam professores e áreas de estudo".

Em causa está um despacho do gabinete do secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, que diz respeito às "aprendizagens Essenciais", definidas no "perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória". O despacho, que entrará em vigor no início do próximo ano letivo, estabelece como "únicos referenciais curriculares das várias dimensões do desenvolvimento curricular a seguir pelas escolas" três documentos curriculares: o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória; as Aprendizagens Essenciais; a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania e os perfis profissionais/referenciais de competência".

Entretanto, "são revogados os demais documentos curriculares relativos às disciplinas do ensino básico e do ensino secundário com aprendizagens essenciais definidas", no que os críticos desta medida qualificam como uma machadada no sistema de ensino público e um impulso à aceleração da degradação do mesmo.

Mas a APFN contesta não só o teor do despacho como também o timing. "Este procedimento, de adotar medidas disruptivas na educação em época estival, sempre no sentido de um rebaixamento da excelência da escola pública, já tinha sucedido com os diplomas que servem de base a este mesmo Despacho, reiterando um padrão pouco dialogante e autocrático da governação", refere o comunicado da direção.

Por outro lado, a associação entente que o despacho em causa " torna desatualizados milhares de livros editados, muitos deles já selecionados para o próximo ano letivo, com evidente transtorno para o início escolar e provável prejuízo para muitas famílias".

"Com a entrada em vigor deste Despacho, tememos seriamente que se institua na escola pública portuguesa o que já se apelida de "educação mínima", cavando o fosso entre quem pode pagar uma escola privada e quem não tem recursos para tal", sublinha a APFN.

"Não podemos deixar de lamentar a forma como este processo foi conduzido e apelamos para uma revisão, com possibilidade de reversão para um modelo de ensino de qualidade, que possa sustentar uma verdadeira igualdade de oportunidades a todas as crianças e jovens de Portugal", considera a secretária-geral da Associação, para quem "a medida está a ser tomada de forma unilateral, com a preocupação das principais associações do setor. A maioria está muito preocupada com todo o processo".

E por isso pede "uma discussão pública alargada com as instituições do setor, no sentido de incluir a participação neste processo. É preciso ouvir as pessoas e corrigir as preopcupações que têm vindo a público e que não têm tido acolhimento."

O que diz o Perfil do Aluno

O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória foi homologado através de um despacho governamental em julho de 2017. "Constitui o documento de referência que estabelece a matriz de princípios, valores e áreas de competências a que deve obedecer o desenvolvimento do currículo, conforme previsto no Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho".
O documento define "o sentido de missão de todo o sistema educativo, apresentando um caminho curricular através do qual todos os alunos devem, ao longo dos seus 12 anos de escolaridade, desenvolver uma cultura científica e artística de base humanista, alicerçada em múltiplas literacias, no raciocínio e na resolução de problemas, no pensamento crítico e criativo, entre outras dimensões".

Ao mesmo tempo, o regime jurídico da educação inclusiva, "prevê que sejam criadas condições para que todos os alunos aprendam, maximizando o seu potencial, que se reforce a sua participação na vida da escola e que se priorize a centralidade do acesso ao currículo na definição das políticas e opções educativas".

Fonte: DN por indicação de Livresco

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Exposição recria pinturas famosas para serem sentidas pelos visitantes cegos

Os visitantes de uma exposição nos Países Baixos, intitulada Blind Spot, podem achar o nome pouco original – mas é suposto ser um elogio. O Museu Central de Utrecht lançou o projecto este mês, numa tentativa de tornar as suas ofertas mais acessíveis e agradáveis ​para pessoas com deficiências visuais.

A exposição recria pinturas existentes, mas com dimensões extra, como som e olfacto – o que inclui o cheiro a queijo apodrecido. E, pela primeira vez, os visitantes do museu podem tocar nas obras. Pessoas com visão também são incentivadas a participar, utilizando uma venda enquanto experimentam os trabalhos, incluindo uma versão de 1610 de Natureza Morta com Frutas, Nozes e Queijo, de Floris van Dyck.

“A primeira coisa que me surpreendeu foi o cheiro”, disse Farid el Manssouri, que é cego, sorrindo depois de passar as mãos sobre queijo, uvas e um rolo de pão que foram transformados em objectos reais a partir da obra original de Van Dyck. “Eu consegui sentir o cheiro do queijo e também toquei nele”, diz o visitante. El Manssouri questionou-se como a mesa estava inclinada, mas a comida não caiu: “Foi realmente surpreendente de sentir... Suponho que tenha sido muito bem colado.”

O artista Jasper Udink ten Cate e o designer Jeroen Prins explicam que a ideia surgiu quando serviam comida para acompanhar uma obra de arte e uma mulher cega que visitou a exposição ficou muito comovida. “Aquele momento foi o ponto de partida”, diz Ten Cate. Steffie Maas, responsável do museu para a inclusão, revela que Blind Spot foi uma experiência no caminho para a melhoria, com mais acessibilidade e instalações tão importantes quanto a exposição.

“Acho que é uma experiência incrível e é, a meu ver, bastante única nos Países Baixos”, disse Bas Suurland, outro visitante do museu. “(A experiência) activa outros sentidos, para além do visual.”

Fonte: Público

terça-feira, 17 de agosto de 2021

O aluno com discalculia e a aprendizagem diferencial

Trabalhar com crianças todos os dias rima com lidar com aprendizagem diferencial todos os dias. Referimo-nos a aprendizagem diferencial em vez de dificuldades de aprendizagem porque somos todos diferentes e com estilos de aprendizagem diferentes, tendo a palavra dificuldade a conotação negativa que se quer evitar quando ensinar é o nosso mester. Neste campo, a área da aprendizagem diferencial em Matemática foi sempre de interesse. Talvez por experiência própria. Com uma mãe professora de Matemática e não sendo a Matemática o meu forte, ou assim pensava, não consigo deixar de me surpreender hoje em dia com a facilidade com que memorizo números, datas, códigos mais a rapidez na análise de dados e as conclusões tiradas à velocidade da luz diante de folhas de Excel sem fim. Por via dos bons genes maternos, ou será antes por intervenção divina como recompensa de noites sem fim diante de explicações sem fim depois de mais um “Satisfaz” e um “Satisfaz” nunca satisfaz?

A verdade é que ler números hoje em dia não é apenas fácil, é essencial para o desempenho de funções de coordenação na direcção de uma escola em Londres: os bons genes maternos, portanto. Mas voltemos ao nosso assunto: por ensino diferencial entenda-se crianças com discalculia. Discalculia?

Sim, discalculia, ou a dificuldade na memorização de números, no cálculo e no raciocínio lógico-matemático. Deste modo, crianças com discalculia apresentam muitas dificuldades na conversão de medidas como são exemplo o peso ou as distâncias, dificuldades com o conceito de tempo, incluindo dias de semana e a rapidez com que se esquecem dos dias da semana ou dos meses do ano, aniversários ou mesmo a data de nascimento. Para além disto, acrescentamos dificuldades em actividades do dia-a-dia como a realização de compras e o cálculo mental necessário para pagar produtos e efectuar um simples troco. A noção de tempo e a ciclópica tarefa de sair de casa a horas para chegar a horas à escola é isso mesmo, ciclópica, para não dizer impossível para desespero próprio mais o desespero dos pais destas crianças. Incapazes de desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo num universo onde a organização e a lógica são afinal ramos da matemática, estas são crianças que se distraem facilmente, que se esquecem facilmente e que portanto são bem capazes de se perder de e para casa ou não fossem os transportes públicos regulados por números, rotas e tabelas. Porque as operações matemáticas básicas não são básicas. Porque não se sabe a tabuada de cor e desde quando 7×8 são 56 e, ainda mais importante, porque é que 7×8 são 56 e porque é que ninguém nos explica?

Ainda hoje, porque é que ninguém nos explica? E o que dizer do cálculo de percentagens num mundo onde os impostos são ainda tão certos como a morte mas onde ainda há tempo para promoções sem esquecer as estatísticas tão presentes nos telejornais de todos os dias?

A leitura de mapas e a orientação pelos pontos cardeais é igualmente um mistério da natureza dentro do qual se inclui a orientação dentro e entre localidades e assim se explica o porquê de nos perdermos nos percursos diários. Reconhecem algumas destas características no vosso dia-a-dia? Não é por acaso, a discalculia não é exclusiva das crianças e se nas mesmas está subdiagnosticada, o que dizer dos adultos?

Do ponto de vista neurológico, crê-se estar a discalculia associada a alterações no sulco infra-parietal e no córtex pré-frontal. Sendo o diagnóstico efectuado por Psicólogos Educacionais e testes neuropsicológicos, fica a pergunta: o que fazer e como ajudar o aluno com discalculia? Tendo vivido com matemática dentro e fora de casa, para ajudar o aluno com discalculia, mas igualmente todos os alunos, nada como mexer na matemática, pesar e medir a matemática através de modelos, blocos, figuras geométricas, jogos, exemplos. Nada como trazer os meses do ano e exemplos dos mesmos para a sala de aula enquanto se atribuem actividades e funções aos dias da semana e se divide o dia em horas entre relógios analógicos, digitais, em papel e em 3D.

Nada como trazer dados e dominós para a sala de aula de modo a promover o reconhecimento de padrões entre a adição e subtração.

Nada como deixar de lado as fichas de trabalho numa aula onde os desafios e jogos matemáticos devem ter a primazia. Porque o medo da matemática é o maior inimigo do aluno mas também do adulto de amanhã e cultivar o gosto pela matemática é vital.

A planificação de aulas onde cada tarefa é dividida em pequenas etapas e cada passo constantemente revisto reveste-se de igual importância, cabendo ao professor não só incentivar mas celebrar com o aluno cada aprendizagem e o atingir de cada objetivo.

O uso de exemplos de todos os dias bem como o uso de calculadoras, de aplicações para telemóveis ou ferramentas de conversão são instrumentos igualmente relevantes e, ainda mais importante, disponíveis na era digital.

Mas, tal como referi anteriormente, para tudo isto é preciso que a criança, e com a criança o adulto, entre na sala de aula.

Porque a matemática não é, nem pode ser, um bicho-papão. Porque a ansiedade e o medo de falhar só se vão embora quando o professor, e com o professor os pais e com os pais a família, está presente, todo ele apoio e sem juízos de valor. Porque a auto-estima, ou a falta dela, anda connosco de mão dada para a vida. Na matemática, mas também nas restantes disciplinas, dentro, mas também, e especialmente, fora da escola.

João Costa

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Crianças com ansiedade e depressão estão a chegar aos hospitais e falta capacidade de resposta

Das perturbações de ansiedade às alterações do comportamento ligadas ao sono e ao apetite, passando, nos casos mais graves, pela ideação suicida ou pelos comportamentos auto-lesivos, a pandemia está a fazer aumentar a procura de cuidados pedopsiquiátricos. No Centro Hospitalar Universitário do Porto, que engloba o Hospital de Santo António, houve um aumento dos episódios de urgência superior a 95%, entre Março e Maio deste ano, quando comparado com o mesmo período de 2019.

Este aumento, que surge depois de o número absoluto de episódios de urgência psiquiátrica ter descido quase para metade na fase inicial da pandemia, sente-se em todo o país. E o mais grave, como sublinha Pedro Caldeira, director de pedopsiquiatria do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, é que os serviços não estão preparados para responder a este aumento da procura. Resultado: os tempos de espera para uma consulta da especialidade estão a agravar-se. “Para a primeira infância, o tempo médio de espera é agora de dois meses, quando foi sempre abaixo de um mês. Para a segunda infância, são três a quatro meses e, para a adolescência, são mais quatro a cinco meses”, precisa o pedopsiquiatra, confirmando que às urgências do Dona Estefânia (que funcionam 24 horas por dia e sete dias por semana, e para onde confluem também os doentes do Algarve e do Alentejo) “estão a chegar cada vez mais miúdos na segunda infância, em idade escolar, com quadros de ansiedade e depressão, à semelhança dos adolescentes”. (...)

Fonte: Público

sábado, 14 de agosto de 2021

“A educação escolar está sufocada por enunciados românticos e complacentes”

A educação escolar contemporânea precisa ser repensada. Por várias razões. A tradição de transformar crianças em alunos e alunos em “orelhas”, que debitam informação em instrumentos de avaliação padronizados, continua a fazer escola. Os professores precisam de conquistar mais autonomia escolar e profissional e lançar mão de uma ferramenta essencial. A participação.

“A escola não se transformará enquanto se mantiver fechada sobre si própria e submersa nas culturas escolares seculares que moldam a sua vida organizacional e as vidas profissionais dos professores”, garante Pedro Patacho, professor do Ensino Superior, doutorado em Educação pela Universidade da Corunha, Espanha, vereador da Educação na Câmara de Oeiras, nesta entrevista (...) a propósito do seu livro “Pensar a Educação”.

Que projeto político é este a que chamamos escola? É uma das perguntas que faz no seu livro. Pedro Patacho recua ao passado, para analisar o presente, e pensar no futuro. Há pontos importantes a debater neste caminho umbilicalmente ligado ao desenvolvimento do país. Em seu entender, tomar decisões acerca da educação escolar implica disponibilidade para construir compromissos estáveis e duradouros de política educativa nacional. “Não podemos aceitar que os alunos mais desfavorecidos continuem a ter mais insucesso e dificuldades em construir uma experiência escolar positiva, sendo assim duplamente penalizados”, repara.

A justiça social, a descentralização e o neoliberalismo, a família, a comunidade, os professores, são alguns dos temas da sua obra. Há um longo caminho a fazer. “Não podemos aceitar aprendizagens essenciais decalcadas de programas curriculares muitos deles com 30 anos, sem um profundo trabalho de reflexão sobre os conteúdos culturais que são mais pertinentes para o trabalho escolar na atualidade”, observa.


EDUCARE.PT (E): “Pensar a Educação” é o título do seu livro. O que deve, em seu entender, ser pensado com urgência nessa dimensão tão maior e tão importante sempre colada ao desenvolvimento de um país? O que deve ser a educação, afinal?
PEDRO PATACHO (PP): A educação é um projeto político, coletivo, que transporta uma visão da sociedade, um modelo de pessoa educada. Se pensarmos que a última grande reforma da educação escolar em Portugal aconteceu em 1989, num processo iniciado em 1986, rapidamente chegamos à conclusão de que muita coisa precisa ser repensada. Por uma razão muito simples.

Estamos em 2021 e o mundo em que vivemos é muito diferente do mundo de 1989. Não havia Internet, as tecnologias de informação e comunicação davam os primeiros passos, não havia telemóveis, não havia televisão por cabo nem plataformas de conteúdos, o acesso à informação e ao conhecimento era completamente diferente, vivíamos a outro ritmo, tínhamos outras preocupações e centros de interesse, as vivências das famílias e das crianças eram completamente diferentes.

Mudaram as famílias, mudou a cultura, mudou a economia e o mundo do trabalho. É evidente que precisamos parar para pensar na educação escolar de que precisamos para fazer face aos desafios do presente, mas muito especialmente aos que emergem no horizonte e dos quais já percebemos os contornos.

E: Fala-se tanto do elevador social da escola, que nenhum aluno pode ficar para trás, do combate ao insucesso e abandono escolares, de um perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória. Os ideais em torno da educação são, de alguma forma, estereótipos repetidos até à exaustão?
PP: A educação escolar está sufocada por enunciados românticos e complacentes, um senso comum de certezas absolutas que ilude uma constatação que todos já perceberam: Não há vitórias fáceis. Porque é um projeto político coletivo, um bem público, tomar decisões acerca da educação escolar implica disponibilidade para construir compromissos estáveis e duradouros de política educativa nacional. Isto significa que todos os implicados têm de ceder nas suas posições de princípio.

Qualquer caminho de reforma estrutural requer escolhas ideológicas, desafios burocráticos e administrativos, riscos, planeamento de médio-longo prazo. O que tem acontecido em Portugal é uma gestão casuística dos problemas em função do Governo da ocasião. Enquanto for assim a educação escolar nunca será uma prioridade política, por muito que o digam. Não podemos aceitar que, por esse país fora, as escolas não estejam já todas reabilitadas e requalificadas.

Não podemos aceitar avanços, recuos e velocidade de tartaruga na modernização tecnológica das escolas, quando há mais de 20 anos que a Internet e as TIC se consolidaram como bases materiais da maior parte das nossas ações quotidianas e do funcionamento da nossa economia. Não podemos aceitar que o país não tenha uma estratégia para a formação de professores e para o rejuvenescimento e valorização da classe docente.

Não podemos aceitar aprendizagens essenciais decalcadas de programas curriculares muitos deles com 30 anos, sem um profundo trabalho de reflexão sobre os conteúdos culturais que são mais pertinentes para o trabalho escolar na atualidade. Não podemos aceitar que os alunos mais desfavorecidos continuem a ter mais insucesso e dificuldades em construir uma experiência escolar positiva, sendo assim duplamente penalizados. Não podemos aceitar muita coisa com que nos habituámos a conviver, não obstante os enunciados românticos, e não termos a coragem de construir o necessário compromisso político nacional para as resolver estrutural e permanentemente. É o desenvolvimento do país e o regime democrático que estão em risco. É o futuro das crianças e jovens, dos nossos filhos, que está em risco.

E: A escola, tal como é e está, continua resistente à mudança? A diversidade cultural e social dentro de uma escola tem sido olhada como uma oportunidade ou como um obstáculo?
PP: A escola da modernidade, herdeira do industrialismo, consolidada nas sociedades ocidentais há um par de séculos, baseia-se em estandardizações de todos os tipos. Na arquitetura escolar, na gestão curricular, nas práticas de avaliação, etc. Estamos a ter dificuldade de libertar-nos dessa tradição intelectual que transformou as crianças em alunos e estes em “orelhas”, cuja principal função é ouvir e acumular informação e conhecimento para debitar em instrumentos de avaliação padronizados. Não quero dizer que não sejam relevantes. Mas a escola não pode ser só isso.

Há exemplos positivos de mudança deste paradigma, excelentes exemplos, mas são uma minoria. E é claro que a formação de professores tem de ser repensada. Ainda estamos longe da rutura paradigmática. É evidente que este modelo não lida bem com a diversidade. Quanto mais diversidade – e ela aumentou imenso com a universalização do ensino e a extensão da escolaridade obrigatória – mais dificuldades e desafios para uma escola que não está estruturalmente preparada para lidar adequadamente com a diferença. Mas ao mesmo tempo é na diversidade que reside o maior potencial de transformação da educação escolar, quando começarmos a definir políticas educativas e curriculares mais adequadas à diversidade.

E: Professores desmotivados, cansados, exaustos, que se queixam de demasiada burocracia e da perda do reconhecimento social e profissional por parte da tutela e por parte da sociedade. O que está a acontecer? O que precisa ser revisto e repensado?
PP: A cada dia que passa são atribuídas mais tarefas às escolas e colocadas mais exigências sobre os professores. Consequentemente, os docentes são afastados daquilo que deveria constituir a sua preocupação dominante, ou seja, o trabalho com os seus alunos. É desgastante. Alem disso, os professores estão envelhecidos. Já são quase 45% os professores com mais de 50 anos de idade. É um desfasamento enorme de gerações numa sociedade de mudança intrageracional. E praticamente não têm apoio de outros profissionais.

Quando um agrupamento de escolas com mais de 1000 alunos tem um único psicólogo educacional, por exemplo, está tudo dito! Com todos os problemas sociais que hoje estão dentro das escolas, através dos alunos, com todas as solicitações que se dirigem às instituições educativas, e com as exigências de maior flexibilidade e diferenciação das experiências de aprendizagem, é necessário reforçar as equipas escolares com outros profissionais.

É tremendamente injusto continuar a responsabilizar os docentes por tudo e mais alguma coisa, em vez de criar uma nova atmosfera colaborativa que passe pela colocação nas escolas de outros técnicos. Os professores que estão nas escolas precisam de apoio para operar um processo de metamorfose da organização e funcionamento da educação escolar. Mas além disso é necessária uma nova estratégia para a formação dos novos professores.

E: O sistema de ensino, como base no que se aprende, com currículos definidos e metas de aprendizagem, com exames nacionais, está bem estruturado para as exigências de uma sociedade que se diz moderna e digital?
PP: A minha opinião é que não está. Há pouco referi-me às aprendizagens essenciais e explicava porquê. Decidiu-se agora fazer cair todas as orientações curriculares e programas, mantendo-se apenas em vigor as aprendizagens essenciais, lidas articuladamente com o perfil do aluno e os normativos da educação inclusiva. São avanços positivos e sinais de esperança. Mas claramente insuficientes. Estruturalmente tudo se mantém na mesma. O império das disciplinas não é minimamente questionado, nem as práticas de avaliação.

A questão que não está respondida e à qual os desenvolvimentos mais recentes também não respondem é somente esta: Em 2021, na era da informação e do conhecimento, que conteúdos culturais são os mais pertinentes e adequados para uma educação de qualidade que atenda a toda a diversidade? Encontrar a resposta requer um trabalho complexo, profundo e amplamente participado que ainda não foi feito.

E: Pais mais escolarizados e mais exigentes com quem ensina. Até que ponto a relação entre famílias e professores é fundamental para uma educação capaz, robusta e democrática?
PP: A investigação publicada nas últimas décadas, quer quantitativa, quer qualitativa, assim como várias metanálises, mostra de forma inequívoca que o envolvimento e a participação das famílias na vida escolar dos seus educandos, quer em casa, quer na escola, tem um impacto positivo e duradouro na qualidade da experiência escolar e nos resultados académicos dos alunos. Está demonstrado. Há vários modelos de trabalho testados para construir parcerias escolares com as famílias e a comunidade que tenham impacto nos resultados escolares e na qualidade do ambiente educativo.

Todas as famílias, independentemente do seu nível de instrução, podem constituir-se aliados poderosos dos professores e profissionais escolares. Claro que à medida que os níveis de escolarização das famílias se elevam vai haver cada vez mais pressão sobre as escolas e sobre os professores. As escolas têm de abrir-se às famílias e à comunidade. E o argumento democrático não pode ser ignorado, porque a educação escolar é um bem público e, portanto, as famílias e instituições da comunidade interessadas nas questões educativas têm o direito e o dever de participar. De maneira que o seu papel deve ser claro.

E: O que falta fazer para que o debate público sobre o que ensinar, o que trabalhar na escola com os alunos, e sobretudo porquê e para quê, aconteça verdadeiramente?
PP: Um segundo movimento de reforma semelhante ao que aconteceu a partir de 1986. Amplamente participado, gerador de um novo pacto social para a educação. Isto é extraordinariamente relevante. É necessário convocar todas as partes interessadas para um processo aberto e construtivo de debate dessas matérias, para o qual todos têm de ir com disponibilidade para fazer cedências e construir compromissos.

E: Os alicerces que construíram a Escola Pública continuam sólidos e firmes ou têm vindo a perder força e resistência?
PP: Nunca como hoje foi tão importante reforçar a solidez desses alicerces, assentes nos valores da justiça social enquanto concretização democrática. A rua e as relações de vizinhança praticamente desapareceram das vivências das crianças e jovens, que têm hoje existências hiper-reguladas. A escola, enquanto grande espaço público de encontro da diversidade, onde todos aprendem a respeitar-se, a cooperar e trabalhar juntos, a partilhar sonhos, ideais e projetos, de forma solidária e tolerante, não foi tão importante como na atualidade.

Os espaços públicos de escolarização são a melhor apólice de seguro do nosso modo de vida democrático e o maior instrumento para construir uma sociedade mais justa. No entanto, também nunca foram tão fortes como hoje as ameaças conservadoras e neoliberais a este modelo de escolarização. Mas este é um debate que tem sido constantemente minado por preconceitos ideológicos, quer à esquerda, quer à direita, que apenas lançam confusão onde deveria reinar a serenidade. É possível promover a integração das redes pública e privada de ensino sem beliscar os valores da justiça social que estão na base do ideal público de escolarização.

E: O ensino aprendeu alguma coisa com a pandemia? A sociedade aprendeu a valorizar a classe docente em tempos tão complexos, com escolas fechadas e alunos a aprender à distância?
PP: A pandemia não resolveu nada. E se há coisa que mostrou é que a educação escolar não dispensa a interação presencial profundamente humana na qual os professores têm um papel decisivo. Mas trouxe o mérito de trazer para o espaço público o debate da educação escolar. Não podemos perder esta oportunidade para criar uma plataforma de entendimento que permita construir um pacto social e político para um novo movimento de reforma estrutural da educação em Portugal, amplamente participado.

E: Na contracapa do seu livro, lança a pergunta “como podem os professores liderar a metamorfose da escola?” Devolvemos-lhe a questão. O que podem fazer?
PP: Precisam, desde logo, de conquistar mais autonomia escolar e profissional. Mas, sobretudo, lançar mão de uma ferramenta essencial: a participação. A escola não se transformará enquanto se mantiver fechada sobre si própria e submersa nas culturas escolares seculares que moldam a sua vida organizacional e as vidas profissionais dos professores.

A participação de outros atores é a chave da mudança da cultura escolar. Uma participação que só pode ser liderada pelos professores. Ao fazê-lo, enquanto líderes e organizadores de novos contextos escolares, reconquistarão o prestígio social e a autoridade profissional que tem vindo a esboroar-se. Não é tarefa fácil e levará tempo. Mas não podem esperar mais.

Fonte: Educare