domingo, 31 de janeiro de 2021

Monitorização Global da Educação: Inclusão e educação - todos, sem exceção


O Relatório GEM 2020 (Global Education Monitoring) é motivado pela necessidade de garantir uma educação de qualidade, inclusiva e equitativa a todas as crianças e jovens e de promover a aprendizagem ao longo da vida para todos. Lança um alerta para a contínua desigualdade de oportunidades educacionais. Muitos alunos ainda se deparam com barreiras a uma educação de qualidade. Antes da pandemia, um em cada cinco jovens e crianças estava totalmente excluído do sistema educativo. Além disso, a existência de estigmas, estereótipos e discriminação excluem outros das salas de aula. A crise atual irá perpetuar ainda mais essas diferentes formas de exclusão. Mais de 90% da população estudantil mundial foi afetada pelo fecho das escolas e perante as diferenças sociais e digitais os mais desfavorecidos correm o risco de ter perdas de aprendizagem ou de abandonar a escola.

A recomendação central do Relatório da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), para todos os atores do sistema de educação, é a inclusão de todos os estudantes nos processos educativos, independentemente da sua identidade, origem ou das suas capacidades de aprendizagem. Trata-se de um apelo à ação que deve ser considerado enquanto é aberto caminho para sociedades mais resilientes e igualitárias no futuro.

A diversidade dos estudantes não deve ser encarada como um problema, mas como um desafio, identificando os talentos individuais em todas as suas formas e criando condições para a sua evolução.  Infelizmente, grupos mais desfavorecidos são excluídos ou afastados dos sistemas de educação por meio de decisões que levam à exclusão dos currículos, a objetivos de aprendizagem irrelevantes, a estereótipos em livros didáticos, à discriminação na alocação de recursos e avaliação, à tolerância, à violência e à negligência em relação às verdadeiras necessidades. Fatores de contexto, como política, recursos e cultura, podem conferir ao desafio da inclusão uma aparência de variação nos diversos países. Na realidade, o desafio é o mesmo, independentemente do contexto.

Os sistemas educativos têm que tratar todos os estudantes de forma digna, para superar barreiras, aumentar as realizações dos indivíduos e melhorar a aprendizagem. Devem evitar rotular os estudantes, com o pretexto de facilitar o planeamento e a obtenção de resultados na educação. Os estudantes têm identidades múltiplas e não há características associadas a uma capacidade predeterminada para aprender.

A inclusão é para todos. A educação inclusiva é comumente associada às necessidades das pessoas com deficiência e à relação entre educação especial e a modalidade regular. No entanto, a inclusão tem um âmbito mais alargado. Os mesmos mecanismos excluem não apenas as pessoas com deficiência, mas também com fundamento no gênero, idade, local onde vivem, pobreza, etnia, indigeneidade, língua, religião, estatuto de migração, orientação sexual ou expressão de identidade de gênero, encarceramento, crenças e atitudes. O sistema e o contexto não levam em consideração a diversidade e a multiplicidade de necessidades. São a sociedade e a cultura que determinam regras, definem a normalidade e percebem as diferenças como desvio. As barreiras à participação e à aprendizagem devem ser substituídas pelo conceito de necessidades especiais. A educação inclusiva é um processo para atingir o objetivo da inclusão social.

Na Europa, a construção de sociedades inclusivas e coesas através da educação, formação e cultura é uma prioridade da Comissão. O Pilar Europeu dos Direitos Sociais, destaca a importância das dimensões social, educativa e cultural das políticas europeias para construir um futuro europeu comum. O seu primeiro princípio sublinha que “Todas as pessoas têm direito a uma educação inclusiva e de qualidade, a formação e aprendizagem ao longo da vida, a fim de manter e adquirir competências que lhes permitam participar plenamente na sociedade e gerir com êxito as transições no mercado de trabalho.”  A Comissão Europeia considera domínios prioritários, no contexto da educação e da formação, a educação inclusiva, a igualdade, a equidade, a não discriminação e a promoção das competências cívicas.

Ignorar a inclusão significa contrariar os esforços de quem luta para construir um mundo melhor.

O adolescente, o psicólogo e os pais

Em psicologia, a conversa com os adolescentes permite criar um espaço íntimo, reservado e de confiança para identificar as suas necessidades de apoio e construir a ajuda para a satisfação das mesmas, de modo a que se sintam bem nos espaços das suas relações com os pais, amigos e outros à sua volta. O artigo de hoje foi desenvolvido em conjunto com a Inês, uma adolescente que me pediu ajuda quando tinha 15 anos e que acompanhei durante um ano e meio, e que, agora, neste momento da nossa conversa, tem 20 anos.

Algumas vezes, a decisão de ir ao psicólogo/a é do adolescente, outras dos pais, outras de ambos, sendo, normalmente esta última a mais facilitadora da tomada de decisão para pedir ajuda. Quando perguntei à Inês quem tinha decidido que era importante ela vir às minhas consultas, ela respondeu-me: “Eu própria sentia que precisava de me ‘resolver’ em alguns assuntos... Os meus pais também abordaram o assunto e foi mais fácil de decidir”. Frequentemente, os jovens não sabem muito bem o que é ir ao psicólogo, ou se isso os vai ajudar. A Inês diz ter vindo porque “gostava de perceber como é que era a experiência”. O adolescente pode ir a uma primeira consulta, sem compromisso, e depois decidir se quer continuar, se se sentiu bem com o profissional, se era aquilo que esperava.

Muitas vezes, os pais têm uma boa relação com os filhos, mas é mais fácil para os adolescentes falarem com “alguém de fora” do que com os pais ou com os amigos, como a Inês, que procurou “ter essa ajuda por parte de alguém que estivesse fora” do seu círculo mais próximo.

O objetivo destas consultas é o de promover a participação ativa dos adolescentes na resolução dos seus próprios problemas, proporcionando-lhes a informação necessária para poderem tomar decisões, criar alternativas para a sua vida, atuando o psicólogo/a como consultor e facilitador, descobrindo as potencialidades do adolescente.

A primeira finalidade da consulta é identificar a queixa e o domínio do problema. Escutar o pedido de ajuda, ou como diz Inês: “Saber que podia pôr por palavras o que sentia, apesar de não ser tarefa fácil.” A ideia da escuta corresponde a ouvir o adolescente, dando-lhe espaço e tempo para que ele “desabafe”, o que a Inês reconheceu na nossa relação: “Ouvia. E não julgava. E isso é o que as pessoas procuram. Alguém que esteja disponível para as ouvir e tentar perceber a nossa perspetiva das coisas”. Escutar corresponde a ouvir os seus problemas, as suas inseguranças e amarguras, permitindo, sobretudo, “ter a sensação de ‘descarregar’ os pesos que na altura sentia”, o que a ajudava a sentir-se “mais leve de cada vez que saía de uma consulta”. O foco de alguém que tem problemas e sente que precisa de ajuda para os resolver é sempre aproveitar a pessoa que está disposta a ouvir.

Quando partilha os problemas, o adolescente sente-se menos sozinho: “Ir ao psicólogo é como se fosse libertar todos os pensamentos que ficam presos na nossa cabeça e a sensação é que os deixamos para trás de certa forma (...) Acho que a partilha de problemas com o psicólogo é exatamente aquilo que nos move a procurar um. Esta partilha é precisamente importante porque permite que as pessoas sintam que estes seus problemas estão a ser deixados de parte com a conversa, ou, pelo menos, é essa a sensação”.

Os problemas que levam os jovens a pedir ajuda são muito variados. No caso da Inês, ela sentia-se “em baixo” por achar “que não era valorizada” pelos amigos, pelo menos da forma como ela os valorizava. Muitas vezes o que desencadeia a ansiedade é um incidente na escola, em casa, ou como refere Inês: “Comecei a sentir-me assim depois de uma confusão que houve numa viagem com a escola. Na verdade, acho que esta viagem foi um ponto de partida para o que eu sentia, mas, ao longo do tempo, este sentimento foi prevalecendo e aqui acho que já não tinha propriamente a ver com esta situação específica, mas sim com a falta de confiança e overthink de tudo que acabou por se instalar na minha cabeça de forma mais constante”.

Depois de escutada e de se sentir mais leve, Inês reconheceu o valor de ir ao psicólogo/a, por ter tido acesso a “sugestões e dicas” acerca de como poderia lidar com as pessoas à sua volta. “Na verdade, estratégias de comunicação que me permitissem gerir os meus sentimentos face aos meus amigos/família da melhor forma, e sem me prejudicar, de forma saudável para mim.”

A escuta e aconselhamento têm que ser prolongadas no tempo, o “tempo” do adolescente: “Ao fim de cerca de meio ano de consultas, comecei a sentir-me melhor e mais ‘livre’ dos sentimentos que estava a ter e que, de certa forma, estavam a ser ‘pesos’ para mim”.

A partilha dos problemas com o psicólogo permite também salvaguardar os pais. Muitas vezes os filhos não lhes conseguem contar realmente os seus problemas, para não os preocupar. O testemunho de Inês: “Acho que às vezes podia ser uma estratégia de defesa. Falo por mim, eu até tenho uma relação relativamente próxima com os meus pais, mas às vezes sinto que não vale a pena estar a ir ao fundo de todas as questões com eles, e que se os ‘poupar’ de pormenores (por exemplo. como me senti com uma certa situação do meu dia) é melhor para ambos.”

A conversa entre os adolescentes e o psicólogo/a pode, de facto, ser uma ajuda grande para promover o seu bem-estar e, por via disso, da sua relação com os seus pais, amigos e outros à sua volta.

Eva Delgado-Martins

Fonte: Público

O passaporte da minha avó

Tenho à frente o passaporte da minha avó materna, nascida em 1911, ano em que foi publicada a lei da separação das Igrejas do Estado. O referido passaporte, emitido na década de 30 do século passado, invoca as viagens marítimas realizadas entre Portugal e o Brasil (Santos), contendo os necessários carimbos da polícia política do Estado Novo (à época designada Polícia de Vigilância e Defesa do Estado). O regresso definitivo ao território nacional ocorreu entre os derradeiros dias de Agosto e o início de Setembro de 1939. Eis, por conseguinte, a minha avó no meio do Atlântico, provavelmente temerosa com a passagem do Equador, enquanto deflagrava a II Guerra Mundial (1 de Setembro).

Chegava, assim, ao fim uma aventura iniciada uns anos antes, em circunstâncias pouco ou nada favoráveis, pois o crash da bolsa de Nova Iorque, em 1929, desencadeara uma das maiores crises financeiras, políticas e sociais, com ramificações a nível mundial. O repatriamento para Portugal, enquanto “indigente” (como figura no passaporte), comprova o que acabei de dizer. Alguns meses depois nasceria a minha mãe, filha de mãe solteira e de pai incógnito, numa remota aldeia do interior beirão. E penso que não serão necessárias mais palavras para o leitor imaginar o profundo estigma que à época recaiu sobre essa mulher recém-chegada do Brasil, de olhos castanhos, com 1,51m de altura e, como era comum na época, sem nunca ter desfrutado do privilégio de frequentar a escola para aprender a ler e a escrever…

Enquanto jovem, mal tive a oportunidade de conhecer a minha avó materna, mas hoje, já na casa dos 40, penso muitas vezes nesta destemida mulher e no drama da sua vida, passada a tratar das pesadas lides domésticas e agrícolas, próprias ou alheias, para à noite regressar a um casebre de granito, sem água, sem luz ou gás, onde o vento e a chuva faziam sentir a sua presença. Mas sempre com os velhos baús de madeira, vindos do Brasil, presentes no espaço nobre da sala improvisada... 

À medida que os anos transcorrem, o estudo do indivíduo e das suas circunstâncias insiste em fascinar-me cada vez mais. O exercício biográfico proporciona-nos, desde logo, um “encontro” com o ser humano, nas suas várias facetas e realidades quotidianas, quer enquanto personalidade pública ou simples cidadão anónimo. Quando se estuda um Homem, o local e o global entrelaçam-se de um modo tão inextricável, que é impossível compreender um sem mobilizar o outro. O exemplo concreto da minha avó e das circunstâncias dramáticas nas quais o mundo estava mergulhado quando ela procurou viver a aventura do Brasil poderão ajudar o leitor a compreender melhor o que pretendo afirmar. Outro exemplo concreto poderia passar pela participação dos portugueses na I Guerra Mundial: imaginar um dos meus conterrâneos beirões, “serranos”, nas trincheiras da Flandres, entre 1917 e 1918, é um pouco como se me fosse permitido contemplar o momento em que a história do indivíduo e a história do mundo deram as mãos (a obra de Isabel Pestana Marques — Das Trincheiras com saudade — é a este respeito uma sugestão de leitura incontornável).

É nesta mesma linha que gostaria de partilhar o entusiasmo que vivi recentemente, enquanto lia sofregamente um livro intitulado História Global de Portugal, dirigido por Carlos Fiolhais, José Eduardo Franco e José Pedro Paiva. Trata-se de um conjunto de 93 textos produzidos por cerca de 80 autores, integrados em cinco partes aglutinadoras: Pré e Proto-História, Antiguidade, Idade Média, Época Moderna e Época Contemporânea.

Um dos aspectos surpreendentes da obra, com um total de 660 páginas, reside, desde logo, na sua estrutura coerente e rara limpidez textual. Os textos individuais, com cerca de seis páginas, podem ser lidos nos momentos mais banais do quotidiano, trazendo-nos um conjunto de sínteses, que colocam em causa vários mitos que continuam erradamente a ser repetidos até à exaustão. Apenas alguns exemplos: a associação simplista dos Montes Hermínios à Serra da Estrela, bem como da Lusitânia ao actual território português ou até mesmo a pouco sustentada associação de Fernão Magalhães a um suposto projecto de circum-navegação do Mundo, quando, de acordo com as fontes disponíveis, o seu objectivo passou isso sim por atingir as Molucas (ou ilhas de “Maluco”), na Indonésia. Poderia também destacar teses particularmente interessantes, como sejam as sucessivas movimentações humanas, já desde a Pré-História, a emissão de gás metano antes da Revolução Industrial (século XVIII), o entrelaçamento entre o mundo atlântico e o mundo mediterrânico, pelo menos desde a Idade do Bronze (III milénio a.C.), bem como alguns apontamentos interessantes a respeito da presença dos Viquingues no território que actualmente integra Portugal ou ainda um actual exercício de síntese a respeito da peste negra, no século XIV, que teria provocado a morte de aproximadamente 50 milhões de pessoas, das cerca de 80 milhões que à época viveriam na “Europa” (p. 272), bem como uma interessante entrada sobre o estudo da cultura do arroz em Portugal (pp. 347-351).

Este esforço, ainda pouco comum mesmo na comunidade científica nacional, de congregar um número elevado de investigadores à volta de um projecto comum, procurando entrelaçar o local e o global afigura-se-me meritório, sendo que a obra em causa passa a constituir uma ferramenta de trabalho quase obrigatória, quer na mesa de outros investigadores, professores ou simples curiosos pela compreensão do mundo em que vivem.

A reflexão que agora procuro desenvolver ajuda-me também a recordar um antigo professor universitário chamado Saul António Gomes, um historiador especializado na Época Medieval, ao qual, se bem me lembro, ouvi repetidamente — durante as aulas de Paleografia e Diplomática — sustentar que era forçoso ultrapassar a velha dicotomia entre o local e o nacional/mundial, pois os designados “estudos locais” ainda eram frequentemente percepcionados de um modo particularmente pejorativo. Não posso assegurar que eram exactamente aquelas as palavras utilizadas pelo aludido docente, mas aquela ideia continua, cerca de duas décadas depois, bem presente no meu espírito e esta também é, por conseguinte, uma das melhores homenagens, que, segundo creio, posso continuar a prestar-lhe.

Entre os aspectos mais discutíveis da obra, talvez seja importante destacar os seguintes: associação, frequentemente forçada, do tema em estudo a um suposto e quase obsessivo carácter global, o que, como teve oportunidade de assinalar Diogo Rama Curto numa crítica particularmente incisiva (p. 401), se traduziu, por vezes, em exercícios que roçam o anacronismo; uma perspectiva, porventura, demasiado decalcada da interpretação eclesiástica do fenómeno das “Aparições” de Fátima (1917), apresentada pelo historiador do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima, Marco Daniel Duarte (pp. 573-578), parecendo ignorar, por exemplo, a transformação da própria mensagem apresentada pela Igreja Católica (os designados “segredos”) ao longo do século XX (ver, a este respeito, os estudos do historiador Luís Filipe Torgal ou numa perspectiva mais teológica as obras do proscrito padre Mário de Oliveira, bem como os “inflamados” textos de Tomás da Fonseca). Destaque-se, ainda, a quase omissão dos Açores (abordados superficialmente), que, à semelhança do que sucedeu com a Madeira, bem mereciam um texto individualizado; a integração do Estado Novo, num período situado logo a partir de 1928 (p. 359), o que, em certo sentido, escamoteia as especificidades da Ditadura Militar/Nacional (1926-1932); a ausência de notas de rodapé, o que se por um lado permite uma leitura mais fluida dos textos, por outro lado impede a confirmação dos elementos mencionados e, neste sentido, dificulta o trabalho de outros investigadores que pretendam debruçar-se sobre o tema.

Estes e outros aspectos da obra, que mereciam ser discutidos e aprofundados, não obscurecem, no entanto, o seu inestimável valor e pertinência, justificando-se plenamente a sua leitura. Afinal, os tempos que vivemos revelam-se cada vez mais incertos e com perigosas e assustadoras similitudes com as décadas de 20 e 30 do século passado, no decurso das quais milhões de pessoas ansiaram por um salvador, que destruísse o sistema e voltasse a construir, do vazio, um mundo perfeito. O resultado monstruoso desse passado já muitos de nós o conhecem, mas qual será o resultado deste presente que agora vivemos? Qual será o desfecho desta tendência assustadora que leva a que, em várias freguesias portuguesas, a extrema-direita se torne numa das forças políticas mais votadas?

Os argumentos, os não-argumentos, a hipocrisia e a loucura dos novos potenciais ditadores que por aí pululam, alimentados pelos dramas que estamos a viver, apenas poderão ser combatidos com mais conhecimento científico e políticas inclusivas. Eu não conheço outra ferramenta que possa ajudar-nos tanto nesse combate como a História. É também por isso que, apesar de as contingências da vida me terem forçado a procurar a sobrevivência para além das suas fronteiras profissionais, continuo frequentemente a agradecer o privilégio de poder estudá-la. A agradecer a todos aqueles que me ajudaram a amá-la, em especial aos professores com os quais tive a sorte de cruzar-me. É também graças a essa ciência-narrativa que pude e posso diariamente compreender melhor aqueles que me rodeiam e rodearam, como a minha querida e saudosa avó materna, que um dia rumou para o sonho do Brasil, em busca de uma vida melhor, mas poucos anos depois foi forçada, também pelo terrível poder da crise global, a regressar ao país natal, no navio “Highland Princess” e a enfrentar uma sociedade ultraconservadora e machista, onde a mãe solteira era frequentemente alvo da chacota e da exclusão social…

Mais do que através de leis e mais papéis, a inclusão constrói-se com conhecimento e sabedoria, algo que dificilmente se poderá separar da História. Ignorar isto é continuar a alimentar os extremismos. E quem alimenta monstros, acaba por ser devorado por eles — é apenas uma questão de tempo…       

Referências bibliográficas: Carlos Fiolhais, José Eduardo Franco e José Pedro Paiva (direcção) — História Global de Portugal, 1.ª edição, Lisboa, Temas e Debates, 2020.

Renato Nunes (renato80rd8918@gmail.com)

sábado, 30 de janeiro de 2021

Dislexia: Dicas para pais XI

Sim, é bonito, mas onde estão as rodas? — perguntou o pequeno Albert quando viu pela primeira vez Maja, a sua irmã recém-nascida.

Na escola, o rapaz demorava tanto tempo a pensar antes de responder que os professores rapidamente se irritavam. Diz-se que tinha dificuldades de leitura, de escrita e de concentração, o que levou a que muitos nele identificassem a dislexia.

O seu sobrenome era Einstein. Em 1919 tornou-se mundialmente famoso devido ao reconhecimento científico da sua Teoria da Relatividade e em 1921 recebeu o prémio Nobel da Física.

Adaptado de Querido Professor Einstein
Edições ASA

Alunos de inteligência normal, ou até acima da média em determinados campos do saber, poderão ficar presos num quadro de dificuldade de leitura, que poderá ensombrar a sua vida académica e social. É importante conhecer melhor o que é a dislexia, para identificá-la precocemente e aprender a lidar com esta dificuldade específica de aprendizagem.

QUESTÕES FREQUENTES

O que é a dislexia?

É uma perturbação na aprendizagem da leitura e da escrita, que gera dificuldades de distinção ou memorização de letras ou grupos de letras e problemas na ordenação de frases.

A criança com dislexia apresenta dificuldades em organizar as palavras num código verbal.
Quando poderá ser detetada?

Aos 4-6 anos pode já detetar-se alguns indicadores primários da futura dislexia. A deteção precoce afigura- se muito importante para a prevenção dos efeitos de uma dislexia futura.

Ao nível do pré-escolar:

Problemas articulatórios.;
Pobreza de vocabulário.;
Dificuldades na compreensão verbal;
Dificuldades na perceção de cores, formas, tamanhos, posições.
Problemas na atenção.
Dificuldade em aprender rimas e canções.
Falta de interesse por livros impressos.

Escolar

Dificuldades na aquisição e automatização da leitura e da escrita .
Confusão entre letras, sílabas ou palavras com grafias semelhantes.
Exs.: a, o – h, n.
Confusão entre letras que representam sons acusticamente semelhantes, como d-t, c-q.
Inversão de sílabas.
Desatenção e dispersão.
Dificuldade em copiar do quadro.
Confusão entre direita/esquerda.
Dificuldade em decorar sequências.

Que tipo de apoio necessita uma criança com dislexia?

Os sintomas atrás indicados podem, por si só, indicar apenas um distúrbio de aprendizagem. Para diagnosticar a dislexia deverá procurar-se ajuda profissional.

Conselhos fundamentais para a vida escolar e doméstica

Os pais deverão respeitar a individualidade da criança e reforçar os seus pequenos êxitos.
Pode surgir com frequência um sentimento de tristeza e de auto-culpabilização, podendo o seu filho apresentar uma atitude depressiva diante das suas dificuldades. A perturbação na leitura e o frequente insucesso escolar podem prejudicar gravemente a autoestima do jovem. Torna-se, por isso, muito importante perceber a sua situação e incentivá-lo.

A leitura em voz alta pode ajudar a criança com dislexia.
Em casa, os pais poderão ler as instruções das questões em voz alta, ajudando a criança a perceber melhor o que se pretende com determinada atividade. A leitura de contos também ajuda a desenvolver as capacidades de leitura e escrita do seu filho.

É imprescindível motivar o seu filho

Estas crianças revelam frequentemente falta de atenção. O grande esforço intelectual que têm de despender para superar as dificuldades de perceção causa alguma fadiga, que, por sua vez, influencia a estabilidade do seu comportamento.
Estabeleça critérios concretos em relação às capacidades reais do seu filho.

Adeque os objetivos de determinado projeto às capacidades da criança.
Avalie os seus progressos em função das melhorias registadas desde a fase inicial do trabalho.
Repita a informação.
Devido aos frequentes problemas de distração dos jovens com dislexia, convém repetir a informação, para assegurar que ela é compreendida.

Dê-lhes tempo para acabar as tarefas

Uma das grandes frustrações relaciona-se com a dificuldade que estas crianças têm em terminar as tarefas.
Deste modo, com mais tempo, o seu filho tenderá a ficar mais motivado e mais confiante nas suas próprias capacidades.
Não se esqueça das dificuldades práticas relacionadas com o problema da dislexia.
Os pais não se podem esquecer de que o seu filho tem uma dificuldade específica de aprendizagem, que pode afetar alguns aspetos do seu dia-a-dia. Ficam aqui algumas destas limitações, para que nelas possam agir a atenção e a compreensão.

Conhecendo-as, pais e filhos, poderão enfrentar melhor esta situação:
• confusões com as horas do dia;
• enganos acerca dos lugares onde a criança guarda as suas coisas;
• tendência para a desordem;
• distrações quanto aos horários.

Algumas estratégias que poderão ajudar estas crianças

• Reconto de histórias simples.
• Recitação de pequenos poemas.
• Execução de ordens simples, como o levantar do pé/mão esquerda/direita, para desenvolver a lateralidade.
• Realização de exercícios para distinção de letras – p/q; b/d; m/n.
• Resposta a perguntas sobre o horário escolar.
• Treinos de leitura.

A dislexia e a avaliação

No processo de avaliação da criança disléxica, é aconselhável pôr a tónica na oralidade, uma vez que é o domínio em que ela tem mais sucesso.

Isto não implica, contudo, que não se deva verificar a avaliação escrita.
Neste caso, porém, os erros não deverão ser motivo de penalização, uma vez que são característicos da própria dislexia.

José Matias Alves

Fonte: Blog Programa TEIP, via partilha no FB por Fátima Almeida

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

"Diversidade, Educação e Inclusão"


(Clicar na imagem para aceder)
O Centro Interdisciplinar de Estudos Educacionais (CIED) apresenta uma coleção de livros publicados online com temas relacionados com a investigação e a prática educativa dos docentes e discentes da Escola Superior de Educação de Lisboa. A inovação, a descoberta e a criação associadas aos cursos da Escola, aos fóruns de discussão/divulgação e a investigação empírica emergentes na Escola Superior de Educação de Lisboa ganham neste espaço uma janela para o mundo.
Do leque de publicações disponíveis, destaco, hoje, a obra recente "Diversidades, educação e inclusão" que pode ser descarregada gratuitamente no formato e-book.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Bullying: como pôr um ponto final?

Viu o filme What Lies Beneath (A Verdade Escondida)? Trata-se de um thriller americano de 2000, dirigido por Robert Zemeckis, que teve como principais protagonistas, Michelle Pfeiffer, Claire Spencer, e Harrison Ford, tal como Norman Spencer. No elenco, ainda estão os nomes de Diana Scarwid (Jody), Miranda Otto e Amber Valletta.

Porquê falar de um filme que já tem 14 anos de vida? Porque a história verídica de dois alunos do 4.º ano desenterrou-o da minha memória, embora aparentemente sejam duas histórias que nada têm em comum.

No filme citado, Claire Spencer imaginava levar uma vida perfeita até que descobre que, afinal, o marido, Dr. Norman Spencer, é uma ameaça à sua integridade, apesar de a relação entre ambos, aparentemente muito boa, nada indiciar nesse sentido.

No filme real, vivido por um aluno do 4º ano, o amigo preferido, excelente aluno, com quem partilhava a carteira e em quem confiava bastante, decide, de uma forma dissimulada, destruir-lhe a autoconfiança, com gestos e palavras destrutivas e com a manipulação de vários colegas da turma contra ele.

Claire Spencer e este aluno de que falo tiveram de enfrentar a dura questão: em quem posso afinal confiar? Se estes em quem eu confiava me traíram, então como saberei, no futuro, a quem revelar a minha intimidade?

Para este aluno, perceber que estava a ser alvo de bullying e conhecer os contornos deste fenómeno foi muito importante. Compreender que afinal ele não era a pessoa desprezível que o outro queria que ele acreditasse que era foi absolutamente fundamental. Foi igualmente decisivo refletir sobre as características que o tornavam o alvo perfeito: corava, chorava e nunca retribuía os insultos.

Para os pais desta criança, também protagonistas desta história, a sensação de estarem a viver um filme de terror deixou-os completamente perturbados e desorientados. O filho, anteriormente bem-disposto, feliz e com grande interesse e motivação pela escola, tornara-se, sem eles compreenderem porquê, numa criança pálida, de semblante carregado, com sinais de tristeza e apatia, aversão à escola e sintomas físicos, como dores de barriga e cabeça. À questão “O que se passa contigo?” a resposta era sempre a mesma “Nada”. Também estes pais, perturbados e ansiosos, precisaram de ajuda pois filmes com esta carga negativa ninguém deseja viver na primeira pessoa.

E a confiança? Como ajudar esta criança a recuperar a confiança nos outros, se o amigo mais íntimo se tornara o maior inimigo? Em quem poderia realmente confiar dentro daquele grupo de crianças que, manipuladas pelo outro rapaz, fugiam dele no recreio? Para ajudar a encontrar pistas e potenciais apoios, foi fundamental a aplicação de um teste sociométrico, instrumento muito útil para estudar a relação entre os diferentes elementos que constituem um grupo. As conclusões a que foi possível chegar foram que este menino era realmente muito aceite na turma e que havia colegas que claramente gostavam de estar com ele na sala de aula e no recreio. Ter percebido que afinal não era desprezível mas aceite por muitos colegas foi para ele um enorme alívio! A professora foi também envolvida em todo o processo, ficando igualmente estupefacta com o comportamento do agressor, que para ela estaria longe de qualquer suspeita.

O que fazer com o agressor e com os pais deste? Também eles serão envolvidos estando já agendados momentos em que tudo isto será analisado e estudado com eles, para que histórias como esta não se repitam.

Para finalizar um ramalhete de questões, que poderão parecer descontextualizadas. Quem trabalha estas problemáticas nas escolas? Quem tem formação para adequadamente chegar a todos os alvos envolvidos num processo que de simples só tem a aparência? Porque continuam as escolas sem psicólogos para responder a estas e a muitas situações que diariamente surgem? Até quando os que já estão colocados aguentarão tantas solicitações e a frustração de não conseguirem responder adequadamente ao que lhes é solicitado?

Adriana Campos

Fonte: Educare

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Situação de Pandemia - Procedimentos a adotar no âmbito da atuação das Equipas Locais de Intervenção do SNIPI

ENQUADRAMENTO

Na sequência da renovação do Estado de Emergência decretado pelo Presidente da República, mediante publicação do Decreto do Presidente da República n.º 6-B/2021, de 13 de janeiro em vigor entre as 00h00 do dia 15 de janeiro e as 23h59 do dia 30 de janeiro, o Conselho de Ministros aprovou o decreto que regulamenta as medidas a adotar para todo o território nacional continental.

Neste cenário, e face ao agravamento da situação de pandemia, através do Decreto n.º 3-A/2021, de 14 de janeiro, alterado pelo Decreto n.º 3-C/2021, de 22 de janeiro, o Governo determinou um conjunto de medidas extraordinárias que têm como objetivo limitar a propagação da pandemia e proteger a saúde pública, assegurando as cadeias de abastecimento de bens e serviços essenciais por um período de 15 dias a contar a partir do dia 22 de janeiro.

Nesta fase da pandemia em que o país se encontra a vivenciar uma situação de maior gravidade nas situações de infeção, existe o dever de recolhimento domiciliário sem prejuízo de se manterem as atividades consideradas essenciais nomeadamente no âmbito da Intervenção Precoce na Infância.

Assim, importa atualizar os procedimentos previstos na Orientação Técnica nº 1/2020, de 8/6/2020 relativa ao “Retomar da atividade presencial | Procedimentos a adotar no âmbito do Plano de Desconfinamento”, procurando disponibilizar orientações para a intervenção das Equipas Locais de Intervenção (ELI) do Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância (SNIPI) com o objetivo de assegurar o acompanhamento às crianças e suas famílias, especialmente aquelas que se encontrarem em situação de maior vulnerabilidade social.

PROCEDIMENTOS A ADOTAR

Neste contexto, em que as respostas sociais (ama, creche familiar e creche) e as atividades letivas nos estabelecimentos de educação pré-escolar se encontram suspensas, o acompanhamento das crianças e suas famílias pelas ELI deve continuar a ser assegurado presencialmente.

Conforme o previsto na Orientação Técnica nº 1/2020, de 8/6/2020, o acompanhamento deve ser previamente articulado com os pais/responsáveis legais da criança para aferir a melhor metodologia de implementação, salvaguardadas todas as medidas de higiene e segurança recomendadas pela Direção-Geral da Saúde “… e excecionalmente, e apenas em casos em que comprovadamente não se comprometa a qualidade e eficácia pedagógica do apoio, poderão prestar apoio com recurso a meios telemáticos.” de acordo com a redação do ponto 5, do artigo 31º.A, do Decreto nº3-C/2021, de 22 de janeiro.

Devem dar especial atenção às crianças e suas famílias que se encontram em situação de maior vulnerabilidade social, procedendo-se à articulação com os serviços e respostas consideradas como adequadas para cada caso.

Neste contexto, importa reforçar que no âmbito de um acompanhamento presencial, os profissionais das ELI devem continuar a observar as condições de proteção recomendadas pela DGS ao nível do uso de equipamento de proteção individual e de distanciamento social e já explanados na OT nº 1/2020, de 8/6/2020, reforçando-se que devem:
  • Manter ativos todos os procedimentos de segurança e contingência da propagação do vírus Sars- COV-2, de acordo com os Planos de Contingência de cada entidade.
  • Assegurar que estão implementados todos os mecanismos necessários à proteção dos profissionais, das famílias e das crianças com que contactam, assegurando a proteção de todos os envolvidos – através da utilização de EPI adequadas, da manutenção do distanciamento necessário e adequado a cada situação de acompanhamento e da utilização de gel desinfetante. (https://covid19.min-saude.pt\materiais_de_divulgação\)
  • Assegurar a utilização de máscaras e outro equipamento de proteção individual considerado necessário e adequado no acesso e permanência no domicílio onde o acompanhamento seja desenvolvido.
  • Deve ser garantida às famílias informação sobre o âmbito da intervenção técnica da ELI, e as normas a observar em contexto COVID-19.
  • Manter e/ou intensificar os contactos telefónicos ou da utilização de outros meios de comunicação à distância com as famílias, possibilitando um maior acompanhamento destas famílias e suas crianças.
  • Nas situações de crianças em IPI e com Processo de Promoção e Proteção, deve ser efetuada a imediata articulação com o gestor do processo, sempre que do contacto resultem indicadores que justifiquem a intervenção do Núcleo de Apoio a Criança e Jovem em Risco do ACES (NACJR), CPCJ ou da EMAT.
  • No cumprimento do direito à informação e participação das crianças e suas famílias, em todos os atos que aos mesmos respeitam, deverá ser providenciada a informação necessária e atualizada, utilizando metodologias de comunicação dinâmicas e adequadas à idade e grau de maturidade sobre:
    • A Pandemia e as obrigações impostas pela situação que vivemos e pelo dever cívico de recolhimento domiciliário estabelecido;
    • Imposição de requisitos nos contactos presenciais com a respetiva família ou outras figuras de referência;
    • Sublinhar a importância do papel e dos comportamentos de cada um. Os comportamentos individuais são críticos para conter a propagação do vírus, para nos protegermos a nós e aos outros.
Atendendo ao caráter essencial do apoio disponibilizado no âmbito do SNIPI, os profissionais com filhos ou outros dependentes a cargo, e cuja mobilização ou prontidão obste a que prestem assistência aos mesmos na sequência da suspensão prevista no art.º 31º.-B, do supra mencionado Decreto, poderão recorrer à rede de apoio a filhos dependentes dos trabalhadores de setores essenciais. A lista de equipamentos disponíveis encontra-se em http://www.seg-social.pt/apoio-social-a-populacao, sem prejuízo do contacto com as equipas de referência distritais do ISS,I.P..

O documento beneficiará de nova revisão e atualização, sempre que tal se mostre necessário face ao contexto epidemiológico COVID 19, tornando indispensável a consulta da legislação em vigor publicada.

Esclarecimentos, acesso a documentação, bem como articulações devem ser consultados em:
· Microsite COVID – 19 na página da internet da Direção-Geral de Saúde:º-
· Microsite COVID – 19 na página da internet da Segurança Social:
· Estamos ON:
https://covid19estamoson.gov.pt/

Consulta do documento original aqui

Novo confinamento: Guia de sobrevivência para os pais

É verdade, estamos todos confinados novamente. Pais e filhos. Sim, não é provável, que dure apenas 15 dias. Também já percebemos isso. Mas não entre já em desespero. Razão: este segundo confinamento poderá ser mais fácil do que o primeiro, acreditam os especialistas. "Tem duas caraterísticas diferentes: primeira, a experiência, não torna mais fácil mas é mais previsível, já sabemos o que vai ser e isso é um fator de proteção", diz (...) José Morgado, professor do departamento de psicologia da educação do ISPA.

Segunda: tem uma perspetiva de duração, o que não existia em março. "Tenho convicção de que não serão apenas 15 dias, mas o facto de sabermos que vai acabar torna-o menos pesado psicologicamente", admite o especialista. Mais um aspeto positivo: o facto de não haver ensino à distância, pelo menos nestas duas primeiras semanas. "Em março, os pais tiveram de assumir o papel de professores, para o qual não estavam preparados, agora não terão de o fazer", diz.

Assumindo as diferenças em relação a março, importa também "aprender com os erros do passado", alerta Bárbara Ramos Dias. "Percebermos o que desgastou a relação entre pais e filhos", diz a psicóloga de adolescentes. Magda Gomes Dias corrobora: "O primeiro confinamento deixou muitas família um trapo. Eu tive um aumento exponencial de consultas", revela a coach parental, autora do blogue Mum’s the boss.

A (...) preparou algumas dicas de sobrevivência para este novo lockdown com os filhos em casa. Não são só sugestões para entreter as crianças, mas sobretudo conselhos para os pais – para que ultrapassem este período sem enlouquecer. Há um que pode já reter: use a tecnologia a seu favor. "Não vale a pena criar mais sentimentos de culpa, os pais estão em trabalho remoto, não há hipótese. O importante é que defina um horário e uma duração", diz Magda Gomes Dias.

Organize-se e mantenha rotinas
É normal que em casa os tempos sejam diferentes dos da escola, mas é importante que se mantenha alguma consistência. "As rotinas são imprescindíveis", diz José Morgado. Os miúdos podem acordar um pouco mais tarde, mas têm de ter regras e tempos definidos para cada atividade. Bárbara Ramos Dias aconselha a que se faça esta organização através de um cronograma, que contemple as regras da família na quarentena, como a hora a que se acorda, em que trabalha, em que se estuda, etc. "No cronograma deve ter o chamado tempo para si próprio, o tempo para o trabalho ou para o estudo – é importante, mesmo em férias, os miúdos tirarem 1h para estudar –, o tempo para as redes sociais, o tempo em família, o tempo para os amigos, a criatividade e o exercício físico", enumera. 

Não se esqueça de si 
"Cuidamos muito melhor dos nossos filhos quando estamos a sentir algum equilíbrio e paz interior. Todos nós precisamos de uma pausa de vez em quando", diz à SÁBADO Clementina Almeida, psicóloga clínica, especialista em bebés. A ideia é que mesmo os pais possam ter um momento para si próprios, diariamente. "Hoje acordei com uma neura, então pus-me a fazer umas calças de ganga à boca de sino para o meu filho Vasco. Sei que quando estiverem acabadas me vai dar prazer. Chamo a isto costura criativa. É essencial para retirarmos o foco do que nos chateia e também para relaxarmos", conta Bárbara Ramos Dias. Não precisa de ser nada elaborado, "o importante é encontrarmos os nossos escapes. Pode ser apenas ler um livro enquanto bebe um chá", dá como exemplo a coaching parental.

Uma hora para estar ao colo dos pais
Um truque para chegar ao fim do dia sem gritar ou castigar os seus filhos é incentivá-los a portarem-se bem. "Substituir a crítica pelo elogio e não brigar mas sim incentivar. Ontem, estive o dia todo em consultas com o meu filho mais novo em casa. Disse-lhe que se se portasse bem, à tarde fazia uns jogos de tabuleiro com ele e foi o que aconteceu", conta Bárbara Ramos Dias. O tempo em família é importante, mesmo quando já são adolescentes, diz a psicóloga.

Não espere entretenimento de longa duração
Independentemente da faixa etária, uma estratégia é escolher com eles atividades de que gostem e que possam fazer de forma autónoma. "Ajuda os pais a não serem constantemente interrompidos e os filhos a entreterem-se", diz o professor do departamento de psicologia da educação do ISPA, José Morgado. Contudo, não espere que essa atividade dure uma manhã inteira, ressalva o especialista. Também é importante que os seus filhos não sintam que só os quer "despachar". "Ao meu neto de 7 anos se calhar posso dar-lhe um livro para ler, porque ele desenvolveu agora o gosto pela leitura, e depois conversamos sobre o livro. O mesmo com os mais velhos, incentivá-los a falar com os amigos e a falar connosco sobre isso depois", exemplifica.

Uma parede de escalada em casa
Não se assuste, pode parecer uma ideia fora da caixa mas é exequível até em casas mais pequenas. Basta ter uma parede livre. Não precisa de tanto espaço como um trampolim, que também é bom para relaxar e libertar energia, e tem vários benefícios, salienta Clementina Almeida. "Alguns estudos têm demonstrado que escalar numa idade jovem ajuda a aprimorar a consciência espacial e direcional e também aumenta as habilidades físicas, como o equilíbrio, coordenação de mãos e pés e até a agilidade", escreveu a especialista em bebés na sua página de Instagram. Já durante este segundo confinamento, a psicóloga construiu uma parede de escalada dentro da sua casa para a filha, de 8 anos. "É exequível a partir dos 2 anos, com supervisão", diz à SÁBADO.
https://www.instagram.com/forbabiesbrain.byclementina/?hl=pt

Jantares virtuais, porque não?
Usar a tecnologia a nosso favor também deve incluir o manter o contato com os amigos. "É um fator de proteção, trocar experiências acaba por minimizar o mal-estar", diz José Morgado. Sobretudo para os mais velhos, uma coisa que pode ser divertida é fazer um jantar (ou almoço) virtual uma vez por semana. "É uma ideia que podemos sugerir e que eles podem acolher com agrado", diz a especialista parental Magda Gomes Dias. E não é só para os filhos, também serve para os pais. "Eu rio-me tanto aqui a conversar com as minhas amigas. Ajuda a descomprimir", diz Bárbara Ramos Dias.

Fonte: Sábado por indicação de Livresco

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

ArtWorks Together – Candidaturas até 12 de fevereiro

A ArtWorks lançou um concurso internacional intitulado “ArtWorks Together”, destinado a pessoas com mais de 16 anos, com deficiência de aprendizagem e/ou autismo, que queiram mostrar os seus talentos artísticos. Esta organização artística, com sede em South Yorkshire, Reino Unido, oferece oficinas de artes para adultos com dificuldades de aprendizagem e autismo.

O prazo de inscrição é até ao dia 12 de fevereiro de 2021, através de formulário eletrónico. Consulte AQUI toda a informação (encontra toda a informação mas apenas em inglês).

A ArtWorks convoca artistas de todo o mundo para participar e aceita uma ampla variedade de meios de comunicação, desde desenho e pintura a filmes e performances.

São atribuídos prémios em dinheiro (que podem ser concedidos sob a forma de vouchers) aos vencedores do primeiro, segundo e terceiro lugar. Os trabalhos selecionados serão exibidos na Wentworth Woodhouse em South Yorkshire, bem como numa exibição 3D online que pode ser vista em todo o mundo.

Serão disponibilizadas algumas sessões de Zoom, durante as próximas semanas, que fornecerão mais algumas informações, bem como explicarão o site e o processo de envio, para quem precisar.

Para mais informações, envie um email para: gallery@artworks-sy.co.uk.

Fonte: INR

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Educação ou a guerra civil

No dia 24 de janeiro comemora-se o Dia Internacional da Educação, tendo este dia sido celebrado pela primeira vez em 2019, como forma de assinalar o papel fundamental da Educação para a paz e o desenvolvimento. Passados dois anos, num cenário mundial de pandemia absolutamente catastrófico, com milhões de pessoas a morrer enquanto uns se compadecem e se sacrificam e outros furam confinamentos numa atitude lamentavelmente egocêntrica, faz mais sentido do que nunca pensar e praticar uma Educação que nos resgate da iminência de uma guerra civil e do caos consequente.

Nestes tempos de disforia, de asfixia, de esvaziamento, de paradoxos e perplexidades sem fim, relembro as palavras de Bono Vox na “Vertigo Tour” em Chicago, 2005: “É urgente trazer a humanidade de volta à Terra.” Porque estamos a assistir a um défice de humanidade que nos menoriza, sendo urgente repô-la no centro da vida. E é acima de tudo pela Educação que podemos fazê-lo. Comecemos, pois, por trazer a humanidade de volta à Educação e às escolas. De que forma? Enuncio sete linhas de ação inadiáveis:

1. Educando para a transcendência
Educar deve significar abrir horizontes, fazer ver para além do óbvio. Reconhecer que a verdade é uma construção complexa e exigente dos sujeitos em interação com o mundo, que não cabe dentro de visões espartilhadas da realidade. E as escolas têm de ir para além do imanente, do tangível, das visões redutoras e reducionistas de quem se atém à lógica dominante. Ensinar a pensar. De forma livre e humanizada, dando lugar ao Eu e ao Outro.

2. Promovendo uma cultura do encontro
As escolas são, tantas vezes, lugares de desencontro. Lugares imensamente povoados, mas de uma larga solidão. Lugares de isolamento. Dos alunos que não conseguem aprender e se deixam excluir pelo sistema. Dos que não cabem na forma escolar. Dos professores que não conseguem ensinar e não encontram respostas coletivas para os problemas com que se deparam. Precisamos de uma cultura do encontro que nos permita conhecermo-nos e reconhecermo-nos. Para caminharmos juntos. Porque juntos, sabemos e podemos mais.

3. Praticando uma Educação integral
A escola empobreceu-se. A febre dos exames e dos rankings votou-a a um tecnicismo intelectualista que a tem vindo a centrar na inculcação de conceitos, na transmissão de conteúdos considerados nobres, deixando de parte toda uma paleta de saberes que a escola pode e deve proporcionar. É urgente fazer das escolas e dos territórios onde se inscrevem, oficinas de criatividade, de talentos, colocando em harmonia “as linguagens da mente, do coração e das mãos”.

4. Arriscando os voos que nos alentam
Arriscar ir para além do já sabido, das rotinas paralisantes, das nossas zonas de conforto. Ousar pensar diferente, questionar as nossas pseudo-certezas, experimentar, provocar, implicar. Para podermos ir mais ao encontro dos outros. Que são diferentes de nós e, por isso mesmo, nos desafiam e nos interpelam. Que nos incitam a uma navegação incerta, em todo o seu potencial revelador.

5. Abolindo os muros que nos cercam
A escola é um lugar de muros vários onde impera a lógica da divisão e da fragmentação: o currículo dividido em anos, os alunos divididos em turmas, as turmas divididas em salas, o saber dividido em disciplinas, os professores divididos por departamentos e grupos disciplinares, o tempo de aprendizagem dividido em minutos e horas partidos. Rígidos. Inflexíveis. Muros que dificultam a comunicação, a interação e a aprendizagem. Muros que urge abolir, em nome de uma escola efetivamente inclusiva.

6. Aprendendo a aprender
Fazer das escolas verdadeiras comunidades de aprendizagem. Onde o que importa, não só para os alunos, mas para todos os que a habitam, é aprender a aprender. Porque apenas o conhecimento sensível nos pode libertar e emancipar. E tem de ser esse, pois, o foco central das escolas: o de aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser, aprender a conviver.

7. Educando para a verdade, para o bem e para o belo
Promover um conhecimento amplo, plural, que que nos resgate dos dogmas e do fanatismo. Educar para a sensibilidade. Educar para os valores. Porque só assim se pode colocar o conhecimento ao serviço das pessoas, da verdade, do bem e do belo. Só assim se pode colocar o conhecimento ao serviço da convivência, da humanização, da liberdade e da dignidade.

Fazer das escolas (e dos territórios) lugares de humanidade. Porque não podemos resignar-nos a uma existência esvaziada de compaixão, dessa capacidade de nos aproximarmos dos outros, sentir o que sentem e compreendê-los. É isto que nos singulariza enquanto humanos. E é disto que não podemos abdicar. Principalmente nos tempos que vivemos. Como paradigmaticamente afirmou Rubem Alves: “Eu proponho, portanto, que o Homem seja definido como uma nova espécie: o homo compassivus. Àqueles a quem falta a compaixão, falta também a qualidade de humanidade. Não são meus irmãos.” Eis o grande desafio da Educação neste tempo caótico.

O título deste artigo é inspirado no título da obra de Philippe Meirieu e Marc Guiraud: L’école ou la guerre civile.

Ilídia Cabral

Fonte: Público por indicação de Livresco

domingo, 24 de janeiro de 2021

“Não há dinheiro que pague dois anos letivos com interrupções nos processos de aprendizagem”

As escolas fecham ao abrigo do “princípio de precaução”, face ao aumento do número de casos da variante mais contagiosa do SARS-CoV-2, explicou ontem o primeiro-ministro, António Costa, numa comunicação ao país. Os 15 dias de interrupção vão ser, todavia, compensados noutro período de férias. Haverá ainda medidas de apoio às famílias semelhantes às que vigoraram durante o primeiro confinamento de 2020.

Na comunicação que fez ao país, ao início da tarde de ontem, o primeiro-ministro garantiu que as escolas não contribuíram para o descontrole da situação pandémica. Elogiou os professores, as direções das escolas e os pais pelos esforços na preparação do novo ano letivo, em setembro. Falou “na frustração” de ter de encerrar os estabelecimentos de ensino e assumiu que a decisão teria “custos” que não poderiam ser compensados. “A interrupção da atividade letiva não é suscetível de compensação, ao contrário do que acontece com a atividade económica. Não há dinheiro que pague dois anos letivos com interrupções nos processos de aprendizagem.”

Antes da decisão de ontem, o primeiro-ministro tinha já assumido em Bruxelas que, se a prevalência da estirpe inglesa fosse relevante, teriam de ser tomadas “medidas perante uma nova realidade”. Mas tinha, igualmente, alertado para os custos sociais do encerramento das escolas.

“Convém não esquecer que todos sabemos hoje qual foi o custo social e no processo de aprendizagem para as crianças do encerramento das escolas no ano passado. E aqui não se trata de compensar as perdas económicas de uma empresa, porque essas são mais ou menos compensáveis - podemos não compensar tudo, e não temos dinheiro infelizmente para compensar a dimensão das perdas que estão a ter -, estamos a falar da formação de uma geração, e este é um dano cujo preço a pagar não é hoje, é um preço que pagaremos longamente ao longo dos próximos anos. Portanto é preciso ter muita serenidade, ter muita calma, recolher informação e tomar as decisões”, declarou.

No primeiro debate sobre política geral do ano, na Assembleia da República, realizado esta terça-feira, António Costa garantia que das 5.400 escolas em Portugal apenas 13 estavam encerradas por causa de surtos de SARS-CoV-2 e que mais de 39 mil alunos estavam em regime de aulas não presencial. O chefe do Executivo respondia à coordenadora do BE, Catarina Martins, que o interpelava sobre a razão pela qual o regime misto não estava já a ser aplicado em muitas escolas, considerando que “há tantos alunos em confinamento e que não têm, neste momento, resposta nenhuma”.

A deputada bloquista questionava os motivos por que - uma vez que o Ministério da Educação “tinha preparado” a possibilidade de passar a um regime de ensino misto no início do ano letivo - este regime ainda não tinha sido aplicado. Sobre este assunto, o primeiro-ministro respondia que “esta tipologia só se aplica a turmas” e “não existem turmas em regime misto, uma vez que o que tem acontecido é o isolamento de casos dentro da turma, tendo a escola a responsabilidade de continuar a oferta educativa dos demais alunos dessa turma”.

Autarquias pediam escolas fechadas
A realidade concelhia refletia a situação do país. Esta semana muitas autarquias começaram a avaliar a possibilidade de passar as escolas dos concelhos para o regime de ensino à distância. Caso de Évora, Guarda, Setúbal, Leiria, Viana do Castelo e Vila Real.

Em Viana do Alentejo, Évora, a Proteção Civil tinha, esta quarta-feira, proposto a passagem ao regime de aulas não presencial para todas as turmas do 3.º ciclo e do secundário do concelho. Uma situação despoletada, explicou à Lusa o presidente da câmara, Bernardino Bengalinha Pinto, quando apenas uma turma do 3.º ano de escolaridade da Escola Básica e Secundária Dr. Isidoro de Sousa, na sede de concelho, estava em isolamento e segundo informações do agrupamento de escolas, existiam cerca de três dezenas de alunos com contactos de alto risco em isolamento. Há alunos que ainda não frequentaram as aulas desde o início do 2.º período.

A Câmara Municipal de Pinhel também tinha pedido a suspensão das aulas presenciais em todos os ciclos de ensino, por considerar que o vírus de COVID-19 circulava “descontroladamente”. Ora, autorizar a realização das aulas em regime não presencial, desde o pré-escolar ao secundário, determinaria o confinamento obrigatório de 731 alunos, 129 professores e 65 assistentes operacionais do Agrupamento de Escolas de Pinhel, números a que acrescem mais 99 crianças e 21 funcionários do ensino pré-escolar da Santa Casa da Misericórdia de Pinhel”, explicava o presidente da autarquia, Rui Ventura. As atividades letivas presenciais nas escolas de Pinhel já tinham sido suspensas entre 04 e 18 de janeiro.

Também o presidente da Câmara Municipal da Guarda, Carlos Chaves Monteiro, apelava ao Governo para encerrar as escolas do concelho. O município contabilizava esta semana “doze turmas em isolamento profilático, de todos os níveis escolares, desde o 1.º ciclo do ensino básico ao secundário”, afetando mais de 200 alunos. O presidente da autarquia defendia a suspensão imediata das atividades letivas e a “recalendarização do ano escolar”. “O ano escolar termina em meados de junho mas, interrompendo já as aulas, quando a evolução fosse positiva, poderíamos retomá-lo e estendê-lo até ao dia 31 de julho”, sugeria o autarca.

A Câmara Municipal de Setúbal foi outra das autarquias que, esta semana, tinha solicitado ao Governo que decretasse o fecho imediato das escolas para quebrar as cadeias de transmissão da pandemia. O autarca setubalense, Carlos Rabaçal, afirmava que muitas escolas do concelho estavam com problemas em se organizarem, porque as aulas - devido aos sucessivos casos de infeção de professores, pessoal auxiliar e alunos -, acabam por funcionar de forma intermitente. “A Escola Secundária Lima de Freitas, por exemplo, já tem 45% dos alunos em casa. Mas há problemas semelhantes em quase todas as escolas”, disse.

Com 10,4% dos alunos já em casa, em virtude da pandemia, o presidente da Câmara de Leiria pedia o encerramento das escolas do concelho. “Cada dia que passa é um dia de atraso na necessidade do seu encerramento”, afirmou à agência Lusa Gonçalo Lopes remetendo para dados que davam conta da existência de 1456 alunos do município que estavam em casa de um total de 14 060. Dito de outro modo: das 668 turmas do concelho, 31 estão em casa. O presidente salientava que estes são indicadores “muito significativos de como a comunidade escolar nesta fase já tem muita gente em casa e que, por isso, é urgente tomar medidas relativamente ao encerramento das escolas”.

Em Viana do Castelo, o presidente da Câmara de Ponte da Barca juntava-se às vozes de autarcas que durante toda a semana tinham apelado ao encerramento das escolas, face ao agravamento da situação epidemiológica na comunidade escolar, com 20 novos casos de infeção pela COVID-19 detetados em dois dias. Em declarações à agência Lusa, Augusto Marinho explicava que o agrupamento de escolas é composto por 1198 alunos, 137 professores e 86 auxiliares de ação educativa e que já esta terça-feira dos 408 testes rápidos à COVID-19 realizados, dez tiveram resultado positivo, todos alunos. Na quarta tinham sido realizados 201 despistes e sido detetados oito alunos e dois professores infetados. A estes acresciam os testes realizados, na semana passada, em 86 auxiliares de ação educativa, tendo sido detetados dois infetados. Mas a contabilidade não se ficava por aqui. Segundo Augusto Marinho, a estes números acrescentavam-se 250 estudantes que já não estavam a ir à escola por se encontrarem em confinamento obrigatório ou isolamento profilático.

A Câmara de Valpaços, distrito de Vila Real, tinha também solicitado à Direção-Geral da Saúde o encerramento de todas as escolas do concelho. Em Boticas estavam já suspensas as aulas presenciais para os alunos do 3.º ciclo. O Agrupamento de Escolas de Valpaços acolhe cerca de 1200 alunos divididos entre o pré-escolar e o secundário e 335 docentes e não docentes. Segundo a autarquia, o Centro Escolar, com um total de 276 crianças, integrado naquele agrupamento, inspirava maior preocupação, com 19 casos de COVID-19 entre pessoal docente e não docente e duas turmas em isolamento num total de seis casos entre alunos. A Câmara de Valpaços alertava ainda para a “ausência imprevista de assistentes operacionais” que poderia “colocar em causa as condições de acompanhamento, vigilância e segurança dos alunos, bem como a garantia imprescindível de toda a logística inerente à higienização e desinfeção”.

Fonte: Educare

sábado, 23 de janeiro de 2021

“Preocupa-me a saúde mental dos miúdos”

Margarida Gaspar de Matos é psicóloga especializada em jovens, psicoterapeuta e professora catedrática da Universidade de Lisboa na Faculdade de Motricidade Humana.

Faz sentido esta interrupção das aulas durante 15 dias sem recorrer ao ensino à distância? 
Nós estamos mesmo, como dizia Kundera, a viver a vida sem “ensaio geral”. O Governo tentou atrasar o fecho das escolas ao máximo, por se considerar a escola um risco menor , e pelos riscos psicossociais deste encerramento em populações mais vulneráveis ....depois tornou -se inevitável o fecho, mas foi considerado uma interrupção de emergência !

Os privados queriam manter-se a funcionar com ensino à distância mas o Governo proibiu. Por que razão, na sua opinião?
Entendo a relutância dos privados ... mas justamente os privados não tem internamente as iniquidades que há no público ! Da maneira que eu vejo a situação , o Governo está a tentar não criar maiores clivagens entre a população escolar “regular” e todas as crianças com vulnerabilidades ... que existem no serviço público ... o Governo preferiu andar passo a passo ...e certamente se daqui a 15 dias não for possível abrir , haverá ensino a distância! Não se pode comparar as contingências do ensino público e privado ... há muito mais miúdos no público , são uma população muito mais diversa e com muito mais vulnerabilidades . E parece-me que a ideia é criar “cenários” que não facilitem exclusões sociais.

A demora do Governo em fechar as escolas deve-se à ideia de que o ensino à distância prejudica as crianças mais pobres?
O ensino a distância é e será sempre um plano B. A escola é um ecossistema de aprendizagem mas também de socialização e bem estar! O online será sempre um plano B. Este plano B implica computadores , acesso a net, algum apoio em casa, condições em casa para o acesso e a concentração ... as crianças com menor estatuto sócio-económico têm menos frequentemente estas condições em casa. Mas não é só uma questão de pobreza ... há situações de convívio com violência doméstica, problemas de saúde mental dos progenitores, alcoolismo ... por isso tudo o tal plano B perturba (ainda) mais as crianças mais vulneráveis ...

O Governo prometeu que haveria material para que o ensino à distância corresse o melhor possível.. Isso aconteceu?
O primeiro confinamento apanhou (por todo o mundo) as escolas desprevenidas! Aqui em Portugal até se recuperou a “telescola “ uma iniciativa até original na Europa. A questão terrível desta pandemia é que se tem sempre que trabalhar por “cenários “. Daqui por 15 dias talvez (eu tenho pouca expectativa mas...) talvez as escolas tenham as condições de segurança para as aulas voltarem a ser presenciais ... ou no mínimo haverá melhor preparação para uma oferta ampla online. Mas as escolas abrirem presencialmente e mais de metade dos professores estarem em isolamento profiláctico também não é uma boa solução ... 

Consegue prever o que se vai passar nas escolas quando passarem estes 15 dias de “férias"?
Ainda hoje estou a assistir a apresentações de projectos de doutoramento dos nossos alunos! Muitos deles são professores e também estão a achar difícil regressarem logo daqui por 15 dias! São jovens professores e estão confiantes. Referem que as plataformas já são muito mais usadas e professores e alunos estão mais treinados! Neste momento estava a gerar-se tanta “incerteza” que este fecho vai permitir recuperar um registo de “serenidade”, para os miúdos, pais e professores! E o Ministério tem 15 dias para criar cenários e planos de acção para cada um desses cenários! Se tiverem de ir "todos para casa”, temos que considerar a sério as vulnerabilidades de que já falámos! A mim preocupa-me agora e em primeiro lugar, fazer barreira a este aumento terrível da transmissão do vírus! Esta inquietação perturba-nos a todos, é potencialmente letal para todos e a incerteza é difícil de gerir! Em segundo lugar preocupa-me a segurança física, mental e alimentar de algumas crianças para as quais a escola é um cenário de segurança. Dizia-me um miúdo "come-se sempre melhor na escola”. Esta afirmação foi para mim assustadora, até porque do nosso estudo sabemos que em geral os miúdos não gostam mesmo da comida do refeitório da escola... imagine agora miúdos para quem aquela comida terrível é considerada a melhor opção alimentar por alguns.... ainda neste nosso estudo verificamos que há miúdos que referem violência em casa... Uma das coisas a garantir é a segurança alimentar e física/mental. Accionar a distribuição alimentar (está a ser feito) e as comissões de protecção...

Preocupa-me a saúde mental dos miúdos... para além dos miúdos com vulnerabilidades específicas.... há aqui muita carga de incerteza ...de fadiga pandémica, de desesperança, de falhas importantes na socialização própria destas idades... do receio pela saúde física deles e dos familiares ( em especial Covid) do receio pelo futuro da situação profissional dos pais... muita preocupação e incerteza para um período de vida com outras tarefas de desenvolvimento mais desejáveis....

Por fim (apenas em quarto lugar) estou preocupada com as aprendizagens! Este é um assunto muito sério a ser levado muito a sério num futuro muito próximo... mas para mim o mais simples de resolver e o menos urgente! Talvez até venha a ser uma mais-valia, obrigando a uma revisão curricular e didáctica que todos clamam!

Fonte: Público

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Implicações da suspensão das atividades letivas e não letivas

Pela publicação do Decreto n.º 3-C/2021de 22 de janeiro, precede-se à alteração da regulamentação do estado de emergência decretado pelo Presidente da República.

O Decreto n.º 3-C/2021 (cf. artigo 31.º-A) refere que se excetuam à suspensão das atividades letivas e não letivas, sempre que necessário, os apoios terapêuticos prestados nos estabelecimentos de educação especial, nas escolas e pelos Centros de Recursos para a Inclusão, bem como o acolhimento nas unidades integradas nos Centros de Apoio à Aprendizagem, para os alunos para quem foram mobilizadas medidas adicionais, sendo assegurados, salvaguardando-se as orientações das autoridades de saúde.

Neste contexto, procura-se assegurar, sempre que necessário, apenas o apoio terapêutico considerado determinante para o desenvolvimento do aluno e desde que asseguradas as devidas condições de higienização e segurança. Assim, as escolas devem efetuar o levantamento dos alunos que, necessariamente, carecem dos referidos apoios terapêuticos e assegurá-los.

Já foi referido que estes dias de suspensão de atividades letivas e não letivas vão ser compensados ou repostos com alteração do calendário escolar, designadamente no período do Carnaval e da Páscoa e no final do ano letivo. A serem repostos os dias de atividades letivas e não letivas agora suspensos, os alunos veem assegurados os apoios não vitais pelo tempo previsto no início do ano.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Orçamento de Estado para 2021: Principais medidas relativas às Pessoas com Deficiência

O Orçamento de Estado para 2021, publicado pela Lei n.º 75-B/2020, de 31 de dezembro, incluiu várias medidas relativas à promoção dos direitos das Pessoas com Deficiência, em matérias como as acessibilidades físicas e digitais, o apoio ao emprego e formação profissional, o alargamento e requalificação dos equipamentos sociais e o acesso das Pessoas com Deficiência aos serviços públicos.


Fonte: INR

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

“Kit Básico de Saúde Mental”

Tendo em consideração a pertinência da temática, divulga-se informação no âmbito do “Kit Básico de Saúde Mental”, iniciativa integrada no Programa Nacional para a Saúde Mental.

Sessões formativas sobre saúde mental, preparadas pela ManifestaMente (https://www.manifestamente.org/) em conjunto com a Direção-Geral da Saúde – Programa Nacional para a Saúde Mental, encontram-se disponíveis online.

A ManifestaMente é uma iniciativa cidadã pela Saúde Mental empenhada em FALAR e inspirando as pessoas a falar sobre saúde mental, tendo desenvolvido o “Kit Básico de Saúde Mental”.

Este kit disponibiliza gratuitamente uma sessão com a informação essencial sobre saúde mental para a população em geral, nomeadamente:
• o que é saúde mental
• como podemos cuidar da nossa saúde mental
• quais são os sinais de preocupação relativamente à saúde mental
• o que é a doença mental
• quais são os recursos que estão disponíveis se precisarmos de ajuda
• como é que podemos ajudar outras pessoas

Para a realização deste “Kit básico de saúde mental” é necessária a inscrição na plataforma da ManifestaMente.

Fonte: DGE