quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Vocacional: a via da inclusão ou da exclusão?

Cerca de 50% dos alunos dos países da União Europeia escolhem vias profissionais e profissionalizantes, ou seja, vocacionais. Mas a percentagem reflete alunos que por dificuldades de aprendizagem saíram das vias regulares, garantem os especialistas nesta área. São, pelo contrário, sinónimo do prestígio e qualidade de ensino atingida lá fora por estes cursos. Portugal tem figurado nas estatísticas como detendo mais alunos a frequentar o ensino geral em detrimento do profissional. Mas o cenário pode vir a mudar.

O início do ano letivo de 2012/2013 foi marcado pela criação da modalidade de ensino vocacional no 2.º e 3.º ciclos. Segundo dados do CEDEFOP, organismo europeu que monitoriza a educação e formação de adultos, na maioria dos países da EU, estas vias de ensino são introduzidas ao nível do secundário superior (10.º, 11.º, 12.º anos) e, em menor número, no secundário inferior (7.º, 8.º, 9.º anos). 

Por cá, o Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho, estabeleceu os princípios orientadores desta nova oferta formativa que funcionará este ano letivo enquanto experiência-piloto em 12 escolas pública e privadas do país. Mas o objetivo do Ministério da Educação e Ciência (MEC) é alargar a oferta a outros agrupamentos a partir de 2013/2014.

Opção ou punição?
O ensino básico vocacional foi pensado para os alunos a partir dos 13 anos de idade que, segundo o diploma, "manifestem constrangimentos com os estudos do ensino regular e procurem uma alternativa a este tipo de ensino". Em especial, os "alunos que tiveram duas retenções no mesmo ciclo ou três retenções em ciclos diferentes". Mas a opção de fazer do ensino vocacional uma alternativa para os alunos repetentes tem levantado muitas dúvidas entre os especialistas da educação. A questão é simples: poderão outros alunos com sucesso escolar também optar por esta via?

Mesmo para quem tem "constrangimentos" nos estudos, o encaminhamento não é obrigatório e exige o acordo dos pais, garante o MEC. Ainda assim, só pode ser feito após "um processo de avaliação vocacional, por psicólogos escolares, que mostre ser esta a via mais adequada às necessidades de formação dos alunos", diz o diploma.

Entretanto, em comunicado na sua página oficial, o bastonário da Ordem dos Psicólogos, Telmo Mourinho Baptista, alertou para a possibilidade de a oferta ser mal recebida: "Caso os cursos sejam percecionados pelos alunos, pelos pais e pela comunidade como um elemento punitivo do insucesso escolar, a medida corre o risco de se tornar prejudicial." E frisou a importância do envolvimento dos psicólogos para garantir que tanto os pais como os alunos estejam "devidamente informados sobre as várias alternativas de ensino e respetivas implicações na vida escolar profissional e dos jovens".

Do lado das escolas, os diretores reclamaram há semanas junto do ministro Nuno Crato, mais autonomia na decisão sobre quais os alunos a encaminhar para o ensino vocacional e a deixar seguir o regular. Em declarações ao Diário Económico, o coordenador do Conselho de Escolas, Manuel Esperança, pediu "vontade política" para entregar às direções das escolas a responsabilidade da orientação do aluno e sugeriu a criação de "critérios nacionais" que impeçam a frequência do ensino regular a alunos que não tenham aproveitamento às disciplinas de Português e Matemática ao longo de vários anos letivos. 

Currículo geral e prática simulada
Tanto no 2.º como no 3.º ciclos, o plano de estudos do ensino básico vocacional é modular e contempla disciplinas de formação geral (Português, Matemática, Inglês e Educação Física), complementar (História e Geografia, Ciências Naturais, Físico-Química e uma segunda língua, não obrigatória, apenas no 3.º ciclo) e vocacional (atividades vocacionais e prática simulada). 

Em termos de carga horária, a formação geral terá um total anula de 400 horas efetivas, no 2.º ciclo e de 350 no 3.º ciclo. As disciplinas complementares perfazem um total de 130 e 180, em cada um dos ciclos, respetivamente. Por último, a componente vocacional terá em ambos os ciclos uma duração de 360 horas dedicadas às atividades vocacionais e 210 horas para a prática simulada, preferencialmente, em empresas.

Das três componentes, a vocacional será, porventura, a que levantará mais dúvidas aos pais e alunos. É também a que distingue estes cursos e a que apresenta menos definições legais. Ao definir o objetivo da criação desta modalidade, o MEC esclarece no decreto-lei que esta deve levar os jovens a "desenvolver capacidades práticas que facilitem futuramente a sua integração no mundo do trabalho". 

Sem duração fixa estabelecida, o diploma estabelece que os cursos devem ser adaptados "ao perfil de conhecimentos do conjunto de alunos" que neles estiver reunido. Caberá às escolas escolher o tipo de atividades vocacionais destes cursos, "desde que cumpridas as metas e perfis de saída". Qualquer que sejam as ofertas, o MEC pretende que "se articulem as necessidades e expectativas [do aluno], com os projetos educativos da escola e com as características do tecido empresarial".

Retorno ao nível geral de ensino 
Na União Europeia, muita da discussão em torno do ensino vocacional se faz tendo em conta o grau de integração que esta via proporciona no nível de ensino geral e a possibilidade de continuação dos estudos no ensino superior, garante o CEDEFOP, no mais recente relatório publicado sobre educação e formação vocacional inicial [IVET -Initial Vocational Education and Training]. 

Em causa está a possibilidade de o aluno ser transferido para o ensino geral tendo optado anteriormente por uma via profissional ou profissionalizante (vocacional). Em Portugal, o recém-criado ensino básico vocacional assegura o prosseguimento de estudos, mas determina algumas regras para que um aluno possa regressar à via regular, após a conclusão do 6.º ano e do 9.º ano. 

Assim, os alunos que terminem o 6.º ano no ensino vocacional podem voltar ao regular desde que tenham aproveitamento nas provas finais nacionais do respetivo ano. Bem mais fácil, é a continuidade dos estudos na via vocacional. A passagem para o 7.º ano na via vocacional não requer a realização das provas nacionais, apenas que o aluno tenha concluído 70% dos módulos lecionados no conjunto das disciplinas da componente geral e complementar, mas obriga a 100% de sucesso na componente vocacional.

Já os alunos dos cursos vocacionais que concluam o 9.º ano podem optar, para além das vias regular e vocacional, também pelo ensino profissional. De novo, a transferência para o ensino secundário regular implica aproveitamento nas provas finais nacionais do 9.º ano. Continuar na via vocacional no secundário (ainda sem regulamentação) será também mais fácil. As regras são iguais às estabelecidas para o acesso ao 7.º ano: não é necessária a realização das provas nacionais, tendo os alunos apenas de conseguir aproveitamento em 70% dos módulos geral e complementar e a 100% na componente vocacional. Por fim, a transferência para o ensino profissional secundário implica apenas o aproveitamento a todos os módulos do curso. 

Independentemente do número de módulos concluídos com aproveitamento, os alunos dos cursos vocacionais podem sempre candidatar-se às provas finais nacionais.

Integração no mundo laboral
Ligar a escola às empresas parece ser uma condição essencial, ainda que não obrigatória, para o cumprimento dos objetivos propostos pela criação da via vocacional. A ligação tem por finalidade "sensibilizar os jovens para a realidade empresarial envolvente e possibilitar o estreitamento entre os universos empresarial e escolar". 

No Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho, o MEC determina que "serão estabelecidas parcerias entre as direções regionais de educação, os agrupamentos de escolas e as escolas privadas [que compõem já a experiência-piloto que arrancou este ano] e empresas, entidades ou instituições sediadas na área geográfica respetiva". Do diploma para as escolas, a importância da ligação ao mercado de trabalho vai depender da variedade dos programas profissionalizantes oferecidos aos alunos. 

Recentemente, no relatório "Os jovens e as competências: pôr a educação a trabalhar", a UNESCO alertou para o risco de exclusão dos alunos que optam pelo ensino vocacional. Agregar em turmas vocacionais os alunos com insucesso escolar aumenta a desigualdade social, garante a organização. Sobretudo pelo facto de muitos destes cursos não agradarem aos empresários. 

No relatório, a UNESCO condena ainda a diminuição do investimento em educação na sequência da crise financeira mundial que desde 2008 dita reduções orçamentais a vários níveis no setor público. Por outro lado, o documento relembra que face à atual situação económica, geradora de níveis de desemprego nunca antes registados, sobretudo entre os jovens, aumenta a necessidade de adequar as aprendizagens escolares ao mundo do trabalho.

Por cá, só o futuro dirá qual o impacto do ensino vocacional na economia portuguesa. Quanto aos resultados da experiência-piloto que decorre em 12 escolas do país, o MEC constituiu no final de outubro um grupo de trabalho para avaliar todos os cursos. Os resultados serão conhecidos já no final deste ano letivo.

Andreia Lobo
In: Educare

UCoimbra cria interface que descodifica pensamentos

A Universidade de Coimbra acaba de anunciar a criação de um interface cérebro-computador que confere uma nova autonomia e mobilidade a pessoas com deficiências motoras graves. Este equipamento, que descodifica sinais do cérebro em ações, foi criado por Gabriel Pires, do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) da universidade.

Graças a este aparelho tarefas diárias como conduzir uma cadeira de rodas, ligar luzes, acionar alarmes, ligar a televisão e até falar no Skype serão mais fáceis de executar. O mecanismo, que já foi validado clinicamente e está a ser desenvolvido desde 2007, permitirá assim que doentes com esclerose lateral amiotrófica (ELA), pessoas tetraplégicas e com paralisia cerebral tenham mais autonomia.
O interface funciona através da recolha de ondas cerebrais, usando um método não invasivo de eletroencefalografia (EEG), que é descodificado por um conjunto de algoritmos de processamento de sinal e aprendizagem automática que seleciona letras, permitindo a construção de frases que, por sua vez, podem ser transformadas em ordens.
Em comunicado (...), o cientista português explica que o interface “é uma ferramenta de assistência muito poderosa que, quando entrar no mercado, terá um forte impacto social porque permitirá às pessoas com deficiências motoras muito graves obter mais autonomia".
Para que o interface fosse aprovado foram realizados teste clínicos em de portadores de esclerose lateral amiotrófica, acompanhados no Serviço de Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (HUC-CHUC), em utentes do Centro de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC) num homem tetraplégico e num doente de Duchenne.

Já esteve num concerto com escuridão completa?

Um casal de músicos cegos do Mali vai estar em Lisboa para um concerto que promete ser inolvidável: vai decorrer na total escuridão, sem luzes ou focos no palco ou fora dele. A intenção de Amadou & Mariam, invisuais desde muito novos, passa por tentar que a assistência absorva a música da mesma forma que eles a ouvem e sentem. "Se não consegues ver, a tua perceção do som é mais apurada", afirmou Amadou Bagayoko, cantor de 58 anos cego desde os 16.
O espetáculo intitula-se "Eclipse" e terá lugar no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a 18 de Novembro, um domingo, às 19 horas. Prevê-se uma experiência sensorial assinalável. Até as luzes de "saída de emergência" estarão apagadas. Além da ausência de qualquer luz, os nossos sentidos serão exacerbados com a propagação de aromas no ar. Consta que a sala será perfumada com um odor que recria o cheiro a terra quente de Bamako, a capital do Mali. Mais ainda: a perceção da temperatura ambiente também vai oscilar entre 15 e 30 graus celsius.
É claro que um espetáculo desta natureza acarreta medidas execionais. Por exemplo, toda a equipa de sala vai estar equipada com um sistema de visão noturna. "Em caso de emergência, desconforto, indisposição ou desorientação que provoque a necessidade de sair da sala, deverá o espetador agitar o programa no ar. Um assistente irá imediatamente ao seu encontro e prestará o auxílio necessário", lê-se no site da Fundação. Além disso, e "para garantir o êxito do espetáculo", afigura-se obrigatório respeitar determinadas regras: sacos, malas e casacos devem ser deixados no bengaleiro; "todos os equipamentos passíveis de emitir luz, som ou vibração (telemóveis, relógios, etc.) deverão estar desligados e é absolutamente proibido "qualquer dispositivo de gravação vídeo ou som". Após o início do concerto, não será possível a entrada ou reentrada na sala. 
"Eclipse" terá a duração de 75 minutos e apresentará um repertório que pretende contar o trajeto de vida e obra da dupla. Com mais seis músicos em palco (entre os quais, Mamadou Diabaté, primo do magnífico Toumani Diabaté), não vão faltar as canções mais emblemáticas, que na última década têm conquistado fãs em todo o planeta. Amadou & Mariam são das mais entusiasmantes propostas do continente africano e já colaboraram com nomes como Manu Chao ou Damon Albarn, dos Blur. Fazem uma espécie de pop colorida e soalheira temperada com ritmos tradicionais do Mali e aberta a ramificações várias. 

Ainda há bilhetes à venda no site da Fundação Calouste Gulbenkian

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A Dislexia em Tese - Encontro Nacional

A Dislexia (e as perturbações que podem estar associadas - disortografia, disgrafia, discalculia) é descrita como disfunção neurológica (em áreas específicas do cérebro) que requer um envolvimento diferenciado. Alguns casos de dislexia parecem ter uma etiologia genética, mas inúmeros outros ocorrem de lesões cerebrais intrauterinas ou provocadas por infeções. Pode manifestar-se em alunos com inteligência normal ou superior, com órgãos sensoriais intactos, liberdade emocional, motivação, incentivo e que podem ter tido ensino adequado. Há estudos que comprovam que, no ensino básico - 1.º ciclo, só a dislexia afeta 5,4 % de crianças.
Considerando o possível impacto nos projetos de vida destes alunos, urge aprofundar e refletir sobre o envolvimento que a escola lhes terá de oferecer para minorar os efeitos nefastos. Neste simpósio aborda-se a temática, a partir de estudos científicos e daí o título "A Dislexia em Tese".
O encontro realiza-se no dia 10 de novembro no auditória da escola Superior de Educação Paula Frassineti.
Para mais informações, aqui.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Tertúlia “das nove às cinco” sobre integração das crianças com necessidades especiais

A Associação Diferentes e Especiais (ADE), composta por pais, familiares e amigos de crianças e jovens com deficiência e/ou doença crónica, encontra-se a organizar, em parceria com a Sala dos Afetos2, unidade de multideficiência do Mega Agrupamento de Vagos, a primeira edição do ciclo de tertúlias, que irá decorrer até ao final de 2013, sobre temáticas diversas. Estas tertúlias tem como objetivo alertar a comunidade para a realidade das famílias de crianças e jovens com deficiência e/ou doença crónica.

Esta tertúlia, intitulada “Das nove às cinco”, aborda o tema da inclusão e integração de crianças com Necessidades Especiais em equipamentos sociais ou no sistema educativo. Pretende-se introduzir o tema com testemunhos de ambos os lados: dos pais e dos profissionais.

Espera-se, com esta tertúlia, compreender as diferentes posturas perante a mesma situação e entender as emoções e sentimentos que afloram nesta etapa da vida familiar.

O evento vai decorrer no dia 31 de outubro, pelas 21h00, na Escola Secundária de Vagos. A entrada é aberta a toda a comunidade e tem o custo de 1€ e inclui café e bolo. Os fundos angariados revertem a favor das entidades organizadoras.

Para mais informações visite o site www.diferenteseespeciais.org, envie e-mail para geral@diferenteseespeciais.org ou contacte através do número 962387144 para a coordenadora da atividade Ana Catarina Ferreira.

Educação e Instrução

Nos nossos dias, o discurso político tende a associar as políticas de educação e formação, suscitando nos educadores uma reflexão cuidada sobre a proximidade dos dois conceitos, apreciando as suas afinidades e, também, as suas diferenças.
De algum modo, retoma-se uma dialética muito mais antiga, quando esse esforço de distinção incidia sobre dois outros conceitos que, na altura, faziam parte do léxico político.
Referimo-nos ao tempo em que, por motivos bem evidentes para os que então se preocupavam com estas questões, na linguagem dos políticos tanto se falava de educação como de instrução.
Vale a pena, por isso, recordar o que distinguia um conceito do outro.
Como se lê no Dicionário da Língua Pedagógica de Paul Foulquiè, a palavra educar vem do latim 'ducere' que significa 'conduzir para fora de'.
Daí que, etimologicamente, educar significa 'fazer com que a criança saia do seu estado primitivo', ou 'fazer com que saia dela (tornar ato) o que possui virtualmente'.
Nesta última referência, situa-se a lógica educativa orientada para o pleno desenvolvimento da criança, ao mesmo tempo que se fundamenta a ideia de alargar o conceito a jovens e adultos, pois as virtualidades (e as exigências) educativas se estendem por toda a vida.
Bem diferente deste conceito de educação, aparece o conceito de instrução quando, no Dicionário referido, se lhe comete o significado de 'atividade que tem em vista a aquisição das qualidades morais e das virtudes sociais'.
Mas o certo é que, na linguagem comum, os dois conceitos, por vezes, apareciam um tanto assimilados, ainda que os estudiosos tentassem distingui-los no apuramento que fazem de um e outro.
É assim, por exemplo, que Dupanloup escreve que a 'educação e a instrução são duas coisas profundamente distintas'.
Com efeito, acentua ele que 'a educação desenvolve as faculdades (enquanto) a instrução dá conhecimento', 'a educação eleva a alma (enquanto) a instrução alimenta o espírito'; 'a educação é o fim (enquanto) a instrução não é mais que um dos meios'.
Mais incisivamente, escreveu Gandhi: 'na minha opinião, a educação consiste em extrair globalmente da criança e do homem tudo o que têm de melhor, quer se trate do corpo, da inteligência ou do espírito. Saber ler e escrever não é o fim da educação (...). Este conhecimento é um dos meios que permitem educar a criança, mas não deve ser confundido com a própria educação'.
Dentro deste pensamento de distinção entre educação e instrução, por vezes surgiram expressões radicais, naturalmente justificadas pela preocupação de separar os conceitos, sem se reconhecer que, na prática, quase sempre se encontram lado a lado.
Repare-se, por exemplo, no que escreveu E. Renan, ao dizer que 'a instrução dá-se na aula, no liceu, na escola; a educação recebe-se na casa paterna'. Ou ainda, no que referiu E. Faguet ao escrever que 'a criança, nas mãos de um professor (...) aceita a instrução instintivamente, com um instinto que talvez não seja mais do que a voz da educação ancestral, e de modo nenhum aceita a educação'.
Num caso e noutro, é notório o exagero, aliás em correspondência a um conceito de escola que lhe reservava meras funções de instrução pública ou privada. No entanto, essa conceção afigura-se profundamente redutora, pois o papel da escola, para além da transmissão de conhecimentos, tem uma outra dimensão educativa que não pode ser ignorada.
Uma coisa é reconhecer que é aos pais que compete, em exclusivo, escolher a educação que desejam para os seus filhos; outra, bem diferente, é admitir que só eles participam na concretização dessa escolha.

Albano Estrela

in: Educare

"A inclusão está a passar por aqui"

Realizou-se no passado dia 13 de outubro o Encontro: “Práticas de Inclusão” promovido pela Câmara Municipal de Sintra que decorreu na Escola Secundária Padre Alberto Neto em Queluz. 
A Pin-ANDEE foi convidada pela divisão de educação da Câmara Municipal de Sintra para participar no evento. É neste âmbito que surge esta reflexão do encontro pois coube-me a mim o comentário final sobre o mesmo. 
Não deixa de ser curioso este Encontro ter começado com o PIN – (nome escolhido pela nova equipa do Progresso Infantil) e terminar com a PIN – Pró Inclusão – Associação Nacional dos Docentes de Educação Especial. Tal como o PIN, referido pelo Dr. Nuno Lobo Antunes também a Pin da Pró Inclusão-ANDEE se prende ao peito, um objeto frágil, simbólico, porém, já com mais idade do que o atual PIN. 
A Pin da Pró Inclusão foi criada em 2008, após um percurso feito no FEEI (Fórum de Estudos de Educação Inclusiva). Este grupo de trabalho resolveu criar uma associação com o objetivo de por um lado apoiar a profissionalidade dos docentes de educação especial nas práticas, na investigação e politicas e paralelamente promover educação de qualidade para alunos com necessidades educativas especiais no âmbito dos valores da Inclusão. 
Foram ainda referidos os eventos e as publicações da nossa associação deixando obviamente o convite para que nela participem de forma a tornar-se cada vez mais um espaço de reflexão e partilha. Não pude deixar de aludir a minha presença como dois em um, tal como se de um shampoo se tratasse… 
Por um lado represento a Pin-ANDEE (enquanto elemento da direção) e por outro represento-me a mim própria, enquanto docente de educação especial, pois obviamente uma não vive sem a outra. 
A alusão ao shampoo de modo nenhum foi arbitrária. Aquele lava as cabeças e a minha função no comentário final foi de agitar as cabeças dos presentes ou pelo menos a minha. Porque de facto todos os painéis do encontro agitaram cada um de nós com momentos bem merecedores de que isso acontecesse. 
A tarefa de um comentário final nunca é tarefa fácil, ainda mais quando se está a absorver tudo o que foi abordado. A ideia não era a de um resumo, portanto optei, de modo sintético, por dar apenas uma piscadela de olho em cada um dos painéis aludindo ao que de mais pertinente salientei como ponto de reflexão: 
Impossível ficar-se indiferente à comunicação sobre a tríade: Criança/Escola/Família com palavras conhecedoras, porém recheadas de algum humor discutível com que nos presenteou o Dr. Nuno Lobo Antunes. 
A palavra entrelaçar, muito bem escolhida, para partilhar as Práticas das escolas Ferreira de Castro e D. Maria II, como promotoras de inclusão efetiva. 
A capacitação das famílias na importância de lhes dar voz, porque são elas de facto quem melhor conhece os seus filhos e só elas mesmo, sem pudermos sequer imaginar, vivem na pele a a experiência. 
A importância da música no desenvolvimento do individuo. As oficinas ricas na sua diversidade e partilha. Não esquecendo a visita à exposição Imagina Lá onde foi possível ver os trabalhos realizados e o escolhido para o cartaz de divulgação do evento. 
Após um riquíssimo leque de painéis a que tivemos acesso, recordei a citação de Walter Eigner, referida em 1995 na sua obra: “A educação inclusiva é uma questão de bom senso”, em que o autor expressava que não deveria ser necessário lembrar a Declaração de Salamanca para reconhecer que a Educação Inclusiva é ela, fundamentalmente, um direito elementar numa escola de qualidade com reflexo numa sociedade mais humanitária. 
Passados alguns anos, daquela citação (mais precisamente dezassete anos – uma citação quase, quase com idade adulta que refere a declaração Salamanca, esta sim de idade adulta), o hiato temporário que nos separa e a maturidade destes conceitos, por incrível que pareça, ainda não fizeram eco em alguns céticos face à inclusão. Existem mesmo alguns indivíduos (vindos não se sabe de que planeta) que consideram não só o termo, em si, utópico, como duvidam do sentido do seu significado. 
O que é pena, pois a inclusão nada tem de extraordinário. Luísa Beltrão enfatizou neste encontro a importância da escola: “quanto mais não fosse pelo benefício da socialização…” 
É tão simplesmente aceitar que todos têm direitos, pois é de direitos humanos que se fala em primeira instância. 
Muitos professores, infelizmente, é verdade, e outras classes profissionais ainda desconhecem o termo e ao que ele se refere na prática. 
Talvez a solução passe pela formação dos profissionais e essencialmente motivação da sociedade para a aceitar o outro incondicionalmente. Penso que neste encontro foi visível essa motivação, no modo de compreender e intervir na diferença, refletindo essencialmente o que é em si mesmo a diferença, pressupondo esta uma conceção homogénea do ser humano, bem longe do que é a realidade. 
Diferença é o que distingue a exclusividade do individuo, é sinónimo de criatividade. Na sociedade atual conturbada é necessário mesmo alguma dose de criatividade para que nos aproximemos uns dos outros, nos tornemos mais autênticos, necessitando mesmo de ser criativos face aos desafios atuais. 
Cabe, a cada um de nós encontrar o sentido desta medida educativa após um percurso educacional de doze anos de escolaridade. Ainda estou a tentar entender esta medida e o seu sentido e creio não estar sozinha na busca do seu entendimento. Foi referido neste encontro que alguns alunos estão atualmente em casa sem resposta face à atual portaria… “Surge um deserto de respostas após doze anos de escolaridade”, referiu Júlia Serpa Pimentel. 
Procuremos neste âmbito e em outros, uma reflexão do que melhor se faz para tornar a educação, toda ela, mais justa e equalitária. Porque foi, aliás, de práticas de inclusão que se falou durante todo o encontro. 
Sérgio Godinho dizia numa canção“ A liberdade está a passar por aqui”. Sobre esse pensamento com certeza todos teremos também algumas reflexões na conjetura atual, mas foi adaptando aquele pensamento que deixei o repto: 
A inclusão está a passar por aqui. Ela acontece de facto nas escolas! 
Mas deixa rasto ou não? É temporária? Fictícia? 
Não podemos deixar de nos interrogar sobre o modo como está a ser entendida esta e outras medidas educativas. 
Mais tempo para que, quer a declaração de Salamanca ou a citação que mencionei, faça eco na sociedade. 
Acredito que é possível. Por isso mesmo estive presente neste encontro, agradecendo a todos o que o tornaram possível, deixando aqui o meu testemunho. 
Posso ainda acrescentar que, algumas famílias e docentes, após o meu comentário final, referiram que também eles acreditam que a inclusão existe e é irreversível! 
Luís Fernandes (psicomotricista) pegando nestas provocações de metáforas à inclusão também ele lembrou a frase de Bernardo Fachada numa canção que refere “que a liberdade já passou por aqui mas estava mal ensinada “ 
Quanto à inclusão, acreditamos, não está mal ensinada, pelo contrário, ela faz-se em muitas partilhas, como foi este encontro que, ainda nas palavras de Luís Fernandes, constituem uma pedrada no charco. 
Pela parte que me toca, atiremos então com mais pedras para o charco! 

Elvira Cristina Silva 
(Direção da Pin-ANDEE)

Editorial da newsletter da 2ª quinzena de outubro da Pin-ANDEE

Menor tem doença rara e precisa de ajuda

Filipe Ferreira tem seis anos e sofre de Síndrome de Norrie, doença rara que o torna completamente dependente das ajudas e dos cuidados de terceiros. O menino, que mora em Avintes, Vila Nova de Gaia, não vê, não anda, não fala, sofre de irritabilidade e não consegue sequer controlar as necessidades fisiológicas. A família pede ajuda para que o menino possa fazer uma série de terapias que podem melhorar a sua vida.
Cada sessão, que decorre no Hospital Privado de Guimarães, custa seis mil euros. Filipe já fez uma sessão em Março deste ano, mas a família não possui dinheiro para continuar com o tratamento, uma vez que apenas o pai do menino trabalha.
"Cuba tem uma parceria com o Hospital Privado de Guimarães. São 28 sessões seguidas, que podem levar a que o Filipe fale e consiga andar", conta a mãe, Maria Ferreira.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Professores da Educação Especial substituídos por outros de História, Francês ou EVT

O jornal Público dá eco ao tema do recrutamento de docentes de educação especial, abordado no texto "Professores de educação especial pedem intervenção do ministro". Trata-se de uma questão polémica, na medida em que beneficia uns em detrimento de outros, mas necessária!

A ameaça do desemprego estará a provocar a completa renovação dos professores de Educação Especial (EE) nas escolas, com os mais experientes naquela área a serem substituídos por outros, que, apesar de terem mais tempo de serviço no ensino regular, nunca contactaram com crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE).
A denúncia é feita por um grupo de docentes ultrapassados no concurso que agora pedem que seja dada prioridade a quem tem experiência na área. A solução, contudo, não é pacífica.

“Este ano foi o descalabro e temos mesmo de nos mexer” – é assim que Sofia Barcelos explica o afã de meia dúzia de professores que, em poucos dias, escreveram uma carta aberta ao ministro da Educação, Nuno Crato; criaram uma página no Facebook; lançaram uma petição e pediram audiências às mais diversas instituições para as sensibilizar para o problema. “Um exemplo” – aponta a docente – “um professor contratado que dê aulas de História ou de Educação Visual e Tecnológica (EVT) há sete anos e que tenha feito agora uma pós-graduação em EE, passa à frente de uma pessoa que seja professora de EE há seis anos. Não é admissível”, insurge-se. 

A situação não é nova: verifica-se desde 2009. E os números mostram por que Sofia Barcelos fala em “descalabro”. Quando aquele grupo de recrutamento foi criado, há seis anos (na sequência do processo anterior de inclusão das crianças como NEE nas escolas públicas) não havia profissionais qualificados em quantidade suficiente. Uma situação que mudou de forma drástica: 2010 houve 1556 candidatos, no ano seguinte fizeram parte das listas 2977 e, este ano, a lista definitiva de ordenação naquele grupo de recrutamento de docentes já tinha 4615 nomes. Todos eles com licenciaturas noutras áreas e especializações em EE, já que não existe formação de base.

O que aconteceu para o trabalho com crianças com NEE se tornar tão atrativo? “O aumento do desemprego dos professores contratados que legitimamente procuram trabalho. E o facto de o Ministério da Educação e Ciência não aplicar a lei”, responde João Paulo Silva, da Federação Nacional dos Professores (Fenprof). Segundo explica, nos restantes grupos de recrutamento o tempo de serviço é contado de forma diferente antes e após a profissionalização, para efeitos de ordenamento nas listas. A Fenprof defende que o mesmo tem de ser aplicado neste caso, tendo como referência o momento da especialização em EE: meio valor para o tempo de serviço anterior àquela e um para o prestado depois. 

O grupo de Sofia Barcelos, no entanto, pretende mais do que isso: quer que quem tem experiência tenha prioridade sobre todos os outros (na linha do que aconteceu entre 2006 e 2009). Argumenta que “não se trata de uma questão meramente laboral, mas de garantir os direitos dos alunos”. “Este trabalho é especial, requer uma avaliação pedagógica, observação de comportamentos e de funcionalidade apurada, conhecimento aprofundado de diversa legislação, elaboração de documentos específicos e experiência de ensino com alunos de diversos diagnósticos clínicos”, pode ler-se, na carta aberta dirigida ao ministro.

Professores sem experiência

Laurinda Coelho de 39 anos, residente em Évora, é uma das professoras que trabalhava há quatro anos com o mesmo grupo de seis crianças com multideficiência e défice cognitivo severo. Conta que durante este período fez mestrado na área do sistema aumentativo de comunicação (através de símbolos) já que “apenas uma das crianças possuía linguagem natural e, mesmo assim, rudimentar”. Este ano, essas mesmas crianças ficaram com duas professoras, uma de 1.º ciclo e outra de EVT, sem qualquer experiência em EE. “E eu, que investi na minha formação, estou em casa, desempregada. Faz sentido?”, pergunta.

“Não faz”, concorda José Alberto Rodrigues, presidente da Associação de Professores de EVT. Diz que tem “de admitir que aquelas são crianças especiais, com NEE, e que a experiência dos docentes naquela área específica é valiosa”. Mas não condena os professores que ocuparam esses lugares: “É dramática a situação em que o MEC colocou os professores contratados. As pessoas precisam de trabalhar, é natural e legítimo que aproveitem todas as oportunidades”, avalia (...). Abel Ribeiro reage com indignação. Com 37 anos de idade e nove de serviço como professor de EVT está a cumprir o 10.º numa unidade de multideficiência “com competência”, assegura. “Tenho experiência acumulada, especialização em EE e não me sinto menos capaz do que colegas com mais experiência na área. Se o MEC criou esta possibilidade, que me obrigou a investir milhares de euros e a deslocar-me para uma cidade que fica a 500 quilómetros de casa para ter um horário anual e completo, não pode, agora, alterar as regras do jogo”, argumenta. 

Maria José Salgueiro, coordenadora do grupo de EE da Confederação Nacional de Associações de Pais e Encarregados de Educação (Confap), afirma que a questão “é complexa”. Na sua perspetiva “não há uma resposta linear”. Não tem dúvidas “de que não é admissível desperdiçar a experiência das pessoas que trabalham nesta área” e que “estão a ser empurradas para fora do sistema”. Mas frisa que “a Confap recebe, muitas vezes, queixas de pais em relação a professores que optaram pela EE desde o início e que não revelam a sensibilidade necessária para lidar com as crianças”. “O ideal seria uma forma de seleção diferente”, sugere, sem adiantar qual.

O que fica mais barato? 

A questão pode, no entanto, não se colocar para o ano. “Não quero fazer o papel de advogado do diabo, mas fica muito mais barato ao Estado investir numa formação de meia dúzia de meses nos professores dos quadros de forma a eliminar ausências de componente letiva e fazer face às necessidades dos grupos do EE do que contratar docentes deste grupo de recrutamento”, escreveu, quinta-feira, Arlindo Ferreira no blogue, DeAr Lindo, que é diariamente seguido por milhares de professores. 

O professor lembra, por outro lado, que “o espectro da mobilidade especial” faz com que muitos docentes dos quadros estejam já a fazer a especialização à sua custa e pretendem mudar para aquele grupo no próximo concurso, “sem pensar duas vezes”

Este ano, dos 51.209 docentes sem vínculo que se candidataram à contratação inicial e renovação de contratos, ficaram colocados, para dar aulas por um ano, em horário completo e desde o início do ano lectivo, 7600 pessoas. Menos 5147 do que no ano anterior. De entre os professores do quadro, 2763 iniciaram o ano lectivo com horário zero. É a estes que se refere Arlindo Ferreira.
(...)

Por Graça Barbosa Ribeiro

Parâmetros nacionais para a avaliação externa da dimensão científica e pedagógica e constituição de bolsa de avaliadores externos

O Diário da República de hoje publica novidades relativamente ao processo de avaliação de desempenho docente.
O Despacho n.º 13981/2012, de 26 de outubro, estabelece os parâmetros nacionais para a avaliação externa da dimensão científica e pedagógica a realizar no âmbito da avaliação do desempenho docente.
A avaliação externa do desempenho docente incide sobre a dimensão científica e pedagógica, realiza -se em sala de aula e tem como objetivo reconhecer a qualidade do desempenho dos docentes para valorização e progressão na carreira.

Por outro lado, o Despacho Normativo n.º 24/2012, de 26 de outubro, regulamenta o processo de constituição e funcionamento da bolsa de avaliadores externos, com vista à avaliação externa da dimensão científica e pedagógica.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Workshop - Procura Ativa de Emprego

A Associação Salvador vai promover, nos dias 13 e 14 de Novembro, das 10:00h às 17:30h, no Hotel Fontana Park, em Lisboa, a iniciativa "Workshop Procura Ativa de Emprego".
Esta iniciativa com duas sessões distintas destina-se a pessoas com deficiência motora e tem como objetivos desenvolver competências que potenciem a integração profissional de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
A participação é gratuita, com obrigatoriedade de inscrição até 31 de Outubro, com vagas limitadas aos lugares existentes.
Para mais informações adicionais poderá aceder ao link da Associação Salvador
In: INR


Burnout: quando o trabalho se transforma em doença

Não são só os alunos que sofrem de burnout. Os professores também:. “O burnout dos professores é uma das causas do burnout nos alunos”, frisa João Marôco. 

O fenómeno tem sido investigado nos docentes, que “estão cada vez mais expostos a factores de stress”, refere o autor deste estudo e professor universitário.

Renato Albuquerque ainda gosta da profissão mas este professor de 53 anos confessa já não investir o que devia por não se sentir recompensado. Diz sentir “uma grande instabilidade” devido a todas as medidas que vão sendo tomadas pelo Ministério da Educação. “As salas estão cada vez mais cheias de alunos, e depois pedem para explicar [a matéria] várias vezes. À terceira, já perdi a paciência”, revela o professor do ensino secundário.

De acordo com Rui Gomes, professor na Escola de Psicologia da Universidade do Minho, este é um sinal de burnout. “A mudança no estatuto da carreira docente contribuiu para o aparecimento do burnout nos professores”, afirma. Estes deixam de olhar para os alunos como pessoas, tratando-os como objetos, clarifica.Outra das características do burnout é o absentismo: “o professor deixa de dar aulas”, aponta João Marôco.

Foi o que aconteceu com Maria Abranches. Devido à indisciplina de um dos alunos, esta professora do 1.º ciclo ficou um mês em casa de baixa a tomar anti-depressivos. “A indisciplina continua a ser um dos maiores precursores de burnout nos professores”, refere Rui Gomes.

Outra das causas é a falta de envolvimento dos pais no ensino. Maria pode confirmá-lo: “A criança fazia o que queria e os pais não queriam saber”. “Tinha todos os dias, à porta da escola, a polícia por causa da indisciplina do menino. Ficava numa grande ansiedade e com palpitações”, continua a professora de 41 anos. A situação que vivia acabou por se refletir na sua saúde – uma úlcera no estômago. “Além disso, não me podiam dizer nada na escola que eu desatava a chorar”, acrescenta. 

Se não fosse o apoio do marido e dos pais, e a obrigação que sentia de não poder falhar em relação aos filhos, Maria não teria recuperado. A rede social de apoio é “extremamente importante na atenuação do burnout”, conclui João Marôco.

Por Vanessa Batista

O texto pode ser consultado na íntegra em Público online.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Professores de educação especial pedem intervenção do ministro

Professores de educação especial que ficaram desempregados dirigem uma carta aberta ao ministro da Educação, Nuno Crato, pedindo que avalie a sua situação e a alegada contratação de docentes com menos experiência nesta área.

"O que está a acontecer desde há dois anos é vergonhoso, caótico e profundamente injusto", disse à agência Lusa a professora Sofia Barcelos.
A docente queixa-se de ter ficado em casa, com quase seis anos de experiência, enquanto vê colocados professores que considera não terem a habilitação necessária para lidar com estas crianças.
"Este ano letivo o descalabro é total", escrevem os professores num documento enviado às redações, em que dão conta de "grandes falhas", a nível geral, no concurso de professores.
Estes docentes dizem ser preteridos na contratação de escola por "quem não tem experiência" neste grupo ou tirou a pós-graduação/especialização há pouco tempo.
"Pedimos ao ministro que reflita sobre esta matéria, porque deitar fora toda a experiência que um grupo de professores adquiriu ao longo dos anos não é uma medida positiva", afirma.
Segundo a mesma fonte, estarão em causa "algumas centenas" de professores.
Entre estes docentes, circula também um apelo para que se mobilizem, no sentido de "por fim às sucessivas ultrapassagens" na lista de ordenação do concurso de docentes de educação especial, que "ano após ano são ultrapassados por professores oriundos de outros grupos de recrutamento".
No documento enviado à comunicação social, alegam que a forma como estes professores se relacionam com os alunos e encarregados de educação "não é equiparável com o ensino regular".
O cerne da questão, dizem, é a "substituição de professores com experiência em educação especial por professores sem experiência nesta área, mas com mais anos de serviço noutras áreas e que, para garantirem os seus postos de trabalho, concorrem a este grupo de recrutamento".
In: Educare

Entretanto, hoje, dia 25 de outubro, recebi o seguinte esclarecimento relativamente ao tema do texto acima: Nós nunca dissemos que há professores colocados que não têm a habilitação necessária para lidar com estas crianças. A questão é a ultrapassagem de Professores com anos de experiência na Educação Especial por colegas recém Pós-Graduados/Especializados.

O documento do grupo "Em defesa da educação especial" pode ser consultado aqui.

Recusa em falar

O Pedro foi encaminhado para o Serviço de Psicologia e Orientação, porque estava permanentemente agitado, não se concentrando na sala de aula. A mãe dissera-me que o pai abandonara a família e que, desde que fora trabalhar para o estrangeiro, nunca enviara dinheiro para o sustento dos filhos. Segundo a perceção da mãe do Pedro, este agia com indiferença à ausência do pai. Ao longo dos atendimentos, percebi que o Pedro sofria bastante com a distância da figura paterna e chorava sempre que falava nele. A perceção do Pedro de que a mãe sofria com o abandono do pai levava-o a ocultar a sua própria dor, para que a mãe não sofresse ainda mais.

A Catarina era uma aluna muito fechada, que causava preocupação aos professores, devido ao seu ar sempre muito triste. Vivia desde muito pequena com uma tia paterna, porque a mãe a abandonara. Ao longo de um ano, tentou que eu acreditasse que se sentia feliz na companhia desta tia. O hálito a álcool e a frieza com que a tia falava da sobrinha levaram-me a montar um cenário completamente diferente daquele que a Catarina sempre me procurou transmitir. Foi preciso um ano para que esta criança ganhasse confiança em mim e me revelasse o que eu já há muito tempo lera nas entrelinhas: álcool e maus tratos. O medo de represálias remeteu-a para o silêncio.

A recusa em falar pode ter subjacentes causas diferentes. O Pedro e a Catarina são apenas exemplos verídicos disso. Na maioria das vezes tenho constatado que é mais fácil para as crianças e até para os adultos falarem sobre os seus problemas com desconhecidos ou com pessoas que não estejam a viver tão de perto um determinado problema. O silêncio é, muitas vezes, a estratégia escolhida para tentar minimizar o sofrimento de todos aqueles que, visivelmente, já estão a sofrer bastante com uma dada situação. Se a mãe e o pai estão sempre a chorar pelos cantos, os mais novos evitam que as suas próprias lágrimas tornem tudo ainda mais penoso.

Se a criança tem uma relação muito positiva com um determinado amigo da família ou com um familiar, por exemplo um tio, os pais podem pedir o apoio, no sentido de estes tentarem ajudar a quebrar o silêncio, que na verdade pode ser fonte de grande sofrimento. Sempre que uma criança apresenta perturbações comportamentais na sequência de uma situação problemática, ela poderá estar a transmitir silenciosamente um pedido de socorro. Note-se que, até que falem, algumas crianças precisam de muito tempo, paciência e de uma relação bem construída. A Catarina é um bom exemplo disso.

Como pôr a falar um adulto que se recusa? É sem dúvida uma missão difícil! Como não há nenhuma referência aos motivos de tal recusa, ainda mais. Porque é que este adulto não quer falar?

O Pedro admitiu que só chorava na minha presença. A Catarina confessou que só me revelara os seus problemas familiares, porque encontrara um adulto em quem podia confiar. Sem querer dar receitas, um ouvinte que esteja suficientemente distante do problema e que inspire confiança pode ser a chave para transformar o silêncio em palavras.

Adriana Campos
In: Educare

A "escola moderna" é a que ensina que a "vida não é só alegria", diz Nuno Crato

A “escola moderna” é aquela que ensina que a “vida não é só alegria”, defende o ministro Nuno Crato, sublinhando que o futuro do país passa pela qualificação e pela ciência.
"O país precisa de toda a gente qualificada, o nosso futuro é de certeza pela qualificação, pela educação e pela ciência”, declarou o ministro Nuno Crato, durante a inauguração do novo centro educativo das Lagoas, em Ponte de Lima, esta quarta-feira. (...)
“A escola moderna é onde se aprende, onde se respeitam os professores, é a que tem metas claras de aprendizagem, onde se avalia, onde se ensina os jovens que a vida não é só alegria, a vida é muito trabalho”, sustentou Nuno Crato.
Em declarações aos jornalistas, o ministro sublinhou, contudo, a necessidade de as escolas formarem pessoas “mais bem preparadas”, nomeadamente para “enfrentar a vida”, mas enfatizou que, apesar das dificuldades, Portugal “precisa de todos os jovens, de todas profissões”.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cérebro: Estímulos na infância favorecem formação

Além de promover uma maior autonomia intelectual, uma infância rodeada de livros e brinquedos educativos favorece a formação da estrutura do cérebro, revela um estudo norte-americano que se prolongou por quase 20 anos e cujos resultados foram divulgados na reunião anual da Sociedade para a Neurociência dos EUA.

A investigação liderada pela neurocientista Martha Farah, da Universidade da Pensilvânia, aponta para um “período sensível”, no início da vida, durante o qual o desenvolvimento do cérebro é fortemente influenciado por fatores ambientais. De acordo com este estudo, quanto maior for a estimulação mental das crianças até aos 4 anos, mais desenvolvidas serão as partes do cérebro que lidam com linguagem e ações cognitivas durante a sua adolescência.

Através de estudos com gémeos idênticos e não idênticos, a ciência já tinha provado que os genes desempenham um papel importante no desenvolvimento do córtex cerebral, a estrutura fina que suporta funções mentais superiores. Mas pouco se sabia sobre a forma como as experiências iniciais de vida influenciam o desenvolvimento do córtex.

Para investigar, a equipa da Universidade da Pensilvânia recrutou 64 meninos e meninas de estratos sociais mais baixos e acompanharam as crianças desde o nascimento até ao final da adolescência. Os investigadores visitaram, em sua casa, as crianças quando tinham 4 anos idade e, depois, aos 8 anos para avaliar o ambiente, registando dados como o número de livros e brinquedos educativos presentes em casa e o nível de apoio que recebiam dos pais.

Mais de 10 anos depois da segunda visita à casa dos participantes, que entretanto se tornaram adolescentes, os investigadores realizaram ressonâncias magnéticas para obter imagens detalhadas dos seus cérebros. Os resultados indicam que o nível de estimulação mental que uma criança recebe em casa com a idade de 4 anos determina a espessura de duas regiões do cérebro na adolescência tardia, sendo que uma maior estimulação torna o córtex mais fino. 

A pesquisa mostrou que o ambiente de casa aos oito anos tem um menor impacto sobre o desenvolvimento dessas regiões cerebrais, enquanto outros fatores - como a inteligência da mãe e a qualidade da educação - não resultou em qualquer alteração morfológica do cérebro.

À medida que o cérebro se desenvolve produz mais sinapses, ou conexões neuronais, que são necessárias, explica. as ligações cerebrais que não são precisas são depois eliminadas num processo conhecido como “poda sináptica” (synaptic pruning, em inglês) que é altamente dependente da experiência pessoal.

Os resultados sugerem que a estimulação mental no início da vida aumenta o grau em que ocorre a poda sináptica no lobo temporal lateral. A poda reduz o volume de tecido do córtex. Isto faz o córtex mais fino, mas também torna o processamento da informação mais eficiente.

“Como em todos os estudos observacionais, não podemos realmente falar sobre a causalidade, mas parece provável que a estimulação cognitiva experimentada no início da vida levaram a alterações na espessura cortical”, disse a investigadora citada pelo jornal online ScienceNow.

Martha Farah acrescenta, no entanto, que a pesquisa ainda está em fase inicial e que mais trabalho é necessário para obter uma melhor compreensão de como exatamente a vida inicial e as experiências têm impacto na função cerebral.

Estudos anteriores já tinham provado que as experiências adversas, como a negligência infantil, abusos e pobreza podem impedir o crescimento do cérebro. a nova investigação confirma que a infância é um período de “extrema vulnerabilidade e que os pais podem ajudar as crianças a desenvolver suas habilidades cognitivas, proporcionando um ambiente estimulante.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

"O elogia da diferença" - reportagem sobre quatro jovens que lutam contra o preconceito

No domingo passado, a reportagem da SIC olhou para os cidadãos portadores de deficiência. Quase dez por cento dos portugueses têm algum tipo de deficiência e, destes, mais de cem mil sofrem de incapacidade intelectual. É o caso dos protagonistas desta reportagem. Toda a vida tiveram de lutar contra os rótulos e contra si próprios e, apesar disso, trabalham e são quase auto suficientes. "O Elogio da Diferença" é a grande reportagem!

domingo, 21 de outubro de 2012

Special Olympics. Em vez de metal, estas medalhas têm outro sabor

Ela nem sequer ia correr. Membro de pleno direito das equipas de basquetebol e futebol, foi apenas por acaso que Maria de Abreu resolveu entrar na prova dos 100 metros daqueles Jogos Mundiais de Atenas. Saiu de lá com uma medalha de prata, mas não quer repetir. “Ai, odeio correr! Se for num jogo de futebol ainda vá, agora correr a direito para o nada… Tudo menos isso!” Se isto fosse alta competição, quase podíamos apostar que a Maria iria continuar a correr, gostasse ou não. Mas isto são os Special Olympics – “a diferença é que aqui não participam só os melhores, participam todos, tenham jeito ou não”, explica a vice-presidente da organização em Portugal, Regina Mirandela da Costa.

Aqui estão 10 associações e cerca de 100 atletas. Há elementos de ambos os sexos, que jogam juntos, e as idades vão dos 20 aos 40. O que os liga é o facto de terem todos deficiência intelectual. Uns têm perturbações mentais, outros sociais, alguns com um grau maior, outros com menos. O torneio, organizado pela CERCICA (Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Cascais), tem clubes de várias zonas do país, da Covilhã ao Montijo. As modalidades incluídas são a natação, a petanca (uma espécie de cruzamento entre o chinquilho e o bowling), o basquetebol e o futebol, de longe a mais popular entre os participantes.

“As raparigas também sabem jogar futebol!”, assegura Maria. Foi isso que a fez inscrever-se na equipa da CERCICA, para provar que também tinha jeito. Com 23 anos, era a única mulher no meio de tantos homens e ao fim de um ano já estava farta da situação. Daí que não descansou até trazer uma amiga da instituição para experimentar um treino. A amiga, também de nome Maria, gostou e acabou por ficar. “É uma chatice para nos distinguirem’”, conta-nos entre risos. Se para os dois Carlos da equipa já se arranjou a solução Carlão e Carlitos, para estas Marias-rapaz ainda não há alcunhas à vista. Exceto nas camisolas: uma tem lá escrito Maria de Abreu e a outra tem um original Di Maria.

Na equipa B da CERCICA está também João Guimarães. O colega da Maria tem a mesma idade dela e é igualmente falador. Tímidos ao início, depois de arrancar não param, embora raramente nos olhem nos olhos. Mas se Maria é mais sossegada, João não pára quieto e salta de um assunto para o outro. “Em casa tenho para aí umas cinco medalhas!”, avisa. “Olha-me estas caneleiras, são muita fixes, nunca me aleijo”, acrescenta, enquanto baixa uma meia para nos mostrar. “Sabes, eu hoje ‘tou um bocado elétrico, já estive a tomar o meu cafezinho da manhã.” O café do João é sagrado: todos os dias bebe um Nespresso em casa, ou toma um na rua. “O médico deixa, por isso é na boa.” Depois apanha o 413 no Largo de Manique e sai na última paragem, no Estoril. Vai para o Centro de Congressos, onde trabalha graças a uma parceria conseguida pela associação. João ajuda a montar palcos, a levar cadeiras, a deixar tudo pronto antes de cada sessão. “Até tenho uma farda! É assim creme e preta.” E o ambiente no trabalho não é nada mau. “Até já me deram uma alcunha, vê lá! Um é o Alentejano, porque é do Alentejo, outro é o Careca, porque não tem cabelo, e eu sou o Pinguim.” Porquê? “Não sei!”, confessa com ar de satisfação.

UMA QUESTÃO EMOCIONAL 
Antes da eventual profissão há o meio académico, um dos maiores obstáculos que enfrentam. “Estes são miúdos que geralmente nunca brilharam em nada na vida”, explica Ana Flores, responsável da CERCICA há 12 anos. “No desporto têm essa hipótese, por isso é natural que adorem isto e que alguns até sejam ligeiramente gabarolas.” Ninguém lhes leva a mal. Da mesa, alguém grita para as bancadas um “não chamas nomes aos atletas!” Os ânimos exaltam-se, como em qualquer prova desportiva, mas os técnicos tentam dosear a competitividade. No fundo, a importância de ganhar relaciona-se mais com uma questão de reconhecimento e auto-estima. Assim o prova a reacção da Maria quando recebeu a sua medalha. “Eu nunca vi uma miúda tão feliz”, assegura Regina. “Até quebrei o protocolo e deixei-a ligar ao pai a contar. Ela só repetia ‘Já tenho a minha medalha…’”

“Hoje, se os meus pais estivessem aqui faziam a festa toda”, diz ela. Como muitos outros, os pais da Maria não podem faltar ao trabalho, daí que o pavilhão dos Lombos, em Carcavelos, esteja a meio-gás. O mesmo se passa com os pais do João. “Eu logo quando chegar a casa vou estar sozinho, que a minha mãe ainda não chegou do trabalho. Entretenho-me a jogar PlayStation e vou ao Hotmail ver se alguém me mandou alguma coisa pela internet.” Mas a relação entre as famílias e as instituições é por vezes complicada. Há associados órfãos a viver nas residências, há outros com famílias ausentes e até alguns cujos pais têm pulseiras eletrónicas. No extremo oposto estão aqueles que dependem por completo dos progenitores que não conseguem cortar o cordão umbilical. “Por isso é ótimo quando os conseguimos levar para competições no estrangeiro”, explica Regina. “Eles cumprem os horários, vestem a roupa que mandamos, comem o que dizemos e fazem tudo isso sozinhos. Depois chegam mais autónomos e alguns pais não lidam bem com isso.”

A dependência entre pais e filhos assenta também nas óbvias questões de saúde, mas ali não são problema. Enquanto conversamos, um jogo de basquetebol tem de ser interrompido porque um dos atletas está a ter uma convulsão. Os bombeiros aproximam-se, os treinadores e árbitros ajudam – é uma situação quase banal e já todos sabem lidar com isso. Pouco tempo depois já está tudo bem e todos os olhos se voltam de novo para o campo. No basquetebol, a CERCICA domina. No futebol, o equilíbrio é mais precário. “A Maria resolve, que ela marca golos a sério!” A garantia é do João, colega de equipa dedicado. Meia hora depois, ali está a confirmação. Maria inaugura o marcador para a CERCICA e tem uma equipa inteira a festejar à volta dela. Bem melhor do que qualquer medalha, apostamos.
Por Cátia Bruno

Crianças mais medicadas

Ricardo era um miúdo irrequieto que, aos cinco anos, dificilmente conseguia concentrar-se ou cumprir uma tarefa até ao fim. Mais complicado ainda, conta o pai, era conseguir «que obedecesse a qualquer ordem dos adultos».

Até que, desesperados, os pais decidiram consultar um psiquiatra. Diagnóstico: hiperatividade e défice de atenção. Tratamento: algumas gotas, várias vezes ao dia, de um fármaco chamado Ritalina – o mais famoso dos três psicoestimulantes comercializados em Portugal e cujo consumo em crianças disparou nos últimos anos.

Segundo dados da consultora IMS Health (...), nos primeiros nove meses deste ano, foram comercializadas nas farmácias quase 164 mil embalagens destes medicamentos, mais 21 mil do que no mesmo período do ano passado. E o aumento tem sido constante nos últimos anos. Em 2011, foram vendidas 203.523 embalagens, quase o dobro das transacionadas quatro anos antes.

Os números estão a preocupar a comunidade médica, que alerta para os perigos do excesso de diagnósticos, e dividem os pais, com alguns a temerem os efeitos de um medicamento que interfere no sistema nervoso central dos filhos durante o crescimento e que causa, entre outros efeitos secundários, a perda de apetite e a dificuldade em adormecer. Aliás, muitos decidem mesmo não seguir as recomendações médicas.

Foi o caso dos pais de Ricardo que, há um ano, optaram por experimentar outras terapias. «Com a Ritalina, ele começou a ter tiques. Mexia constantemente no nariz e balançava-se em onda», lembra António, o pai, explicando que a falta de apetite tinha-se tornado outro obstáculo. Além disso, acrescenta, «a personalidade dele também mudou, tornou-se mais apático».

Até agora, a experiência de lidar com um filho «mais difícil» que as duas irmãs mais velhas, sem medicação, «está a correr bem»: «No quinto ano, o Ricardo teve alguns cincos e vários quatros, conseguiu ter notas medianas». Quanto ao comportamento, ainda está longe de ser perfeito: «Continua a ter dificuldade em lidar com ordens e tivemos de estabelecer regras muito definidas, ajudá-lo a treinar o traço, a lidar com a frustração. Tem de ser um dia de cada vez».

Cem mil hiperativos
Ricardo, hoje com 11 anos, é uma das 100 mil crianças portuguesas em idade escolar diagnosticadas com hiperatividade e défice de atenção (o número de rapazes sinalizados é quatro vezes superior ao das raparigas), segundo dados da Associação Portuguesa da Criança Hiperativa.

Grande parte estará medicada com o metilfenidato, o princípio ativo do medicamento indicado nestas situações e que, em Portugal, é comercializado sob os nomes de Ritalina, de Conserta e de Rubinefe. «Apenas metade destas crianças sofre do distúrbio. Diria 50 mil, no máximo», avisa a presidente e fundadora da associação, Linda Serrão.

Mãe de três crianças hiperativas– e que cresceram a tomar os três fármacos que atuam de formas diferentes no organismo –, Linda Serrão conhece bem os métodos de tratamento disponíveis em Portugal e a evolução dos números nos últimos anos. E é peremptória: «Há demasiadas más avaliações. Muitas crianças têm outros problemas, como a dislexia, por exemplo, e são diagnosticadas com hiperatividade, e muitas outras são hiperativas e nunca chegam a ser diagnosticadas. Isto é muito preocupante».

A dificuldade na avaliação da doença é, aliás, um dos problemas apontados pelos especialistas que falam numa «epidemia de hiperatividade»: «Passa-se o mesmo do que com as depressões. Se as pessoas estão tristes, a tendência é para apontar logo para uma depressão», avisa Fernando Santos, diretor do serviço de pedopsiquiatria do Hospital da Luz, em Lisboa.

A questão, explica o médico, é que «não há nenhum exame que determine se a criança é hiperativa ou se tem outro problema».

Daí que seja «fundamental excluir outros distúrbios com sintomas semelhantes, como é o caso da depressão ou de traumas por que a criança passe, como um divórcio, que também provocam agitação, por exemplo», acrescenta o especialista.

A cautela no diagnóstico é sublinhada pelos vários especialistas. Mónica Pinto, pediatra do neurodesenvolvimento do Centro Diferenças, especializado neste tipo de distúrbios, defende que «deve haver um grande cuidado na avaliação», especialmente nas «crianças em idade pré-escolar [altura em que se faz a maior parte dos diagnósticos], uma vez que há crianças agitadas que aos 6-7 anos normalizam e não precisam de medicação».

Para a médica, o aumento dos casos diagnosticados tem uma justificação: «Houve um período em que a hiperatividade foi a ‘doença da moda’». Por isso, avisa: «Devem primeiro esgotar-se outras formas de intervenção».

Consumo controverso
O facto de o consumo destes medicamentos ser controverso tem criado conflitos nas próprias famílias. Nuno, pai divorciado de um rapaz de 12 anos, tem dificuldades em lidar com a decisão da mãe de dar Ritalina ao filho, apesar da sua oposição. «Há três anos, achou que ele andava muito nervoso, agitado, que tirava más notas», conta, considerando ser fácil perceber o motivo da agitação: «Foi pouco depois de nos separarmos!».

Mas a pedopsiquiatra concordou com mãe e diagnosticou ao menor hiperatividade e défice de atenção numa fase ligeira. Desde então, Tomás faz tratamentos diários com as famosas gotas. Mesmo no tempo em que está com o pai, o tratamento não é interrompido.

Nuno vive cheio de dúvidas e medo dos efeitos da Ritalina a longo prazo. «Ele fica demasiado parado, não parece o mesmo», lamenta. E, acrescenta, «custa-me estar a dar-lhe estas coisas tão novo, que interferem no sistema nervoso».

Os médicos, porém, garantem que estes psicoestimulantes não deixam sequelas no crescimento. Mas admitem outros efeitos. «Há a possibilidade de comprometer em um ou dois centímetros a estatura final em alguns casos», diz a pediatra Mónica Pinto.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Criação das unidades flexíveis e constituição das equipas multidisciplinares da Direção-Geral da Educação

A Direção-Geral da Educação, através do Despacho n.º 13608/2012, procede à criação de uma série de unidades orgânicas flexíveis e equipas multidisciplinares.

Assim, são criadas as seguintes unidades orgânicas:
- A Divisão de Educação Pré-Escolar e do Ensino Básico (DEPEB);
- A Divisão de Ensino Secundário (DES);
- A Divisão de Educação Artística (DEA);
- A Divisão de Material Didático, Documentação e Edições (DMDDE);
- A Divisão de Desporto Escolar (DDE);
- A Divisão de Gestão Orçamental e Patrimonial (DGOP);
- A Divisão de Recursos Humanos (DRH);
- A Divisão de Sistemas de Informação e Infraestruturas Tecnológicas (DSIIT).

São criadas ainda as seguintes equipas multidisciplinares, funcionalmente integradas na DGE:
- A Equipa de Projetos de Inclusão e Promoção do Sucesso Educativo (EPIPSE);
- A Equipa de Recursos e Tecnologias Educativas (ERTE);
- O Gabinete de Apoio Jurídico (GAJUR).

Apesar da criação da Equipa de Projetos de Inclusão e Promoção do Sucesso Educativo, o articulado não faz qualquer referência à educação especial, que é uma modalidade educativa, ou aos alunos com necessidades educativas especiais.
À Equipa de Projetos de Inclusão e Promoção do Sucesso Educativo compete genericamente conceber, desenvolver, concretizar e avaliar iniciativas mobilizadoras e integradoras no âmbito da inclusão e promoção do sucesso educativo, cabendo-lhe em particular:
a) Coordenar, acompanhar e propor orientações, em termos pedagógicos e didáticos para a promoção do sucesso e a prevenção do abandono escolar;
b) Apoiar e assegurar o desenvolvimento de projetos e programas específicos de intervenção quer ao nível da organização da escola e do alargamento e diversificação da sua oferta quer da intervenção em áreas curriculares específicas;
c) Propor, coordenar, acompanhar e avaliar atividades dirigidas às escolas, designadamente as desenvolvidas em parceria, que promovam o alargamento das ofertas educativas.



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Exercício ajuda no défice de atenção

As crianças com Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA) apresentam melhores resultados na escola se fizerem exercício físico. De acordo com um estudo publicado no “Journal of Pediatrics”, bastam 20 minutos de atividade para que estas crianças consigam concentrar-se melhor (e distrair-se menos) nas aulas. Segundo os autores do estudo, da Michigan State University, nos EUA, esta conclusão pode ter um impacto significativo nas crianças com PHDA: “o exercício físico pode ser uma ferramenta muito importante entre as nossas opções não medicamentosas para tratar a PHDA. Pode ser a primeira abordagem e é essa a recomendação que fazemos aos psicólogos do comportamento”.
A investigação envolveu 40 crianças, 20 das quais com PHDA, com idades entre os oito e os 10 anos, e permitiu verificar que ambos os grupos apresentaram melhores resultados em testes de matemática e compreensão depois de fazerem 20 minutos de exercício. A concentração é um dos maiores desafios das crianças com défice de atenção e, com base nestes dados, os investigadores aconselham as escolas a aumentarem e integrarem diversas atividades físicas nos horários escolares.

Novos manuais e livros para alunos invisuais e disléxicos

Como lê uma criança cega ou com baixa visão? Através de audiolivros. Estes chegam também, e pela primeira vez, aos alunos com dislexia. O projeto, uma parceria do Ministério da Educação, da Fundação Vodafone Portugal e da Porto Editora, é apresentado esta quinta-feira em Lisboa.

O projecto DAISY 2012 – a sigla inglesa Digital Accessible Information System, um sistema digital de acesso à informação – é apresentado na secundária Maria Amália Vaz de Carvalho, Lisboa. O objetivo é oferecer a alunos e a professores um software de última geração, o EasyReader, para leitura de audiolivros digitais. 

O programa criado em 2005 e que até agora contemplava apenas alunos cegos e com baixa visão, estende-se agora aos estudantes com dislexia que passam a poder ler e ouvir em simultâneo, facilitando-lhes a compreensão do que leem. O programa informático tem como objetivo facilitar a leitura e permite ao estudante controlar a velocidade de leitura, mas também escolher o tipo e o tamanho da letra, mudar a cor de fundo e utilizar atalhos no teclado. Por exemplo, um aluno com baixa visão pode aumentar o tamanho da letra até conseguir lê-la ou um disléxico pode mudar a cor do fundo do texto de maneira a facilitar-lhe a leitura.

Esta versão “reformulada e melhorada do EasyReader”, permite que os os estudantes tenham acesso a manuais escolares ou outros livros de leitura recomendada, usados por milhares de estudantes portugueses, explica Filomena Pereira, diretora de serviços de educação especial da Direção-Geral de Educação (DGE). 

Ao todo estão a ser produzidos cerca de quatro dezenas de manuais escolares e obras de leitura recomendada, que deverão chegar ainda este ano letivo a largas centenas de alunos cegos ou com baixa visão e com dislexia, informa o gabinete de comunicação da Vodafone. Dos audiolivros produzidos destacam-se os manuais das disciplinas de História, Ciências Naturais, Tecnologias de Informação e Comunicação e obras de leitura recomendada, como Os Lusíadas, Os Maias e Viagens na Minha Terra. 

Portanto, com o novo software os alunos com necessidades educativas especiais deixam de estar limitados à oferta disponibilizada pela DGE e passam a ter acesso a outro tipo de literatura portuguesa e estrangeira. O acesso “torna-se universal” congratula-se Filomena Pereira. 

Já os professores podem produzir conteúdos áudio para os seus alunos, através do uso deste programa. Para esta produção de conteúdos especializados, a DGE vai promover ações de formação. 

300 licenças gratuitas

A partir do dia de hoje vai estar aberto um concurso na página online da DGE, para que alunos e professores das várias escolas do país possam concorrer e adquirir este software. Para o efeito, serão disponibilizadas 300 licenças de forma gratuita. Filomena Pereira prevê “receber imensos pedidos do ensino secundário e 3.º ciclo” e espera conseguir “satisfazer todos os alunos cegos ou de baixa visão”. 

No caso de alunos com dislexia não faz antevisões, uma vez que o DAISY “é um projeto experimental em Portugal” e a “utilização do software tem de ser devidamente acompanhada”. Vão ser os professores a fazê-lo, com monitorização, acrescenta. 

Segundo Filomena Pereira, o “projeto é crucial no acesso à informação destes alunos”, pois tal como “qualquer pessoa, os invisuais e disléxicos têm direito à informação, a estar informados”. 

À parceria entre a DGE e a Fundação Vodafone junta-se a Porto Editora. O objetivo é garantir a sustentabilidade do projeto: a DGE supervisiona a adaptação dos manuais a produzir, a Porto Editora fornece os conteúdos digitais e a Vodafone financia integralmente a produção das respetivas matrizes e suporta o custo das licenças do software EasyReader. 

O projeto DAISY pretende “contribuir para o desenvolvimento da Sociedade de Informação, combater a infoexclusão, o insucesso escolar e difundir as novas tecnologias em Portugal”.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Cadeira de rodas inovadora consegue subir escadas

Uma cadeira de rodas com "pernas" que é capaz de subir escadas poderá vir a revolucionar a vida das pessoas com mobilidade reduzida que se debatem com obstáculos a cada esquina. A invenção desenvolvida no Chiba Institute of Technology, no Japão, ainda está em fase de protótipo, mas os resultados conseguidos até ao momento estão a animar os seus criadores.


De acordo com a Diginfo.tv, o robô, que tem quatro rodas, é capaz de completar uma grande variedade de movimentos. Além de circular normalmente, como uma cadeira convencional, é capaz de ultrapassar obstáculos caso se depare com um degrau ou outro impedimento do género, fazendo as rodas funcionar como "pernas".

Além disso, quando o utilizador da cadeira de rodas está a deslocar-se num terreno que não é plano, esta consegue controlar o assento, garantindo que o mesmo se mantém estável. Tudo o que é preciso fazer é dizer-lhe, através de um comando, em que direção deve ir, e o robô adapta-se e reconhece automaticamente o local em volta, movendo-se de forma adequada.

"O robô tem sensores nos 'pés' para detetar se existe algo perto de si. Também consegue calcular a que distância está de um degrau e, usando de forma coordenada vários componentes, é capaz de estimar a altura do degrau", explica Shuro Nakajima, que liderou a equipa responsável pela criação.

Cadeira vai ser testada por utilizadores com deficiência

"Se o robô detetar um degrau, é capaz de calcular se consegue ou não levantar a 'perna' mais próxima. O levantamento das 'pernas' não é imediato, o sistema faz alguns movimentos preparatórios para garantir a estabilidade da cadeira", assegurando também a segurança do utilizador, acrescenta Nakajima em declarações à DigInfo.tv.

Segundo os seus mentores, esta cadeira inovadora dispõe ainda de um sistema que lhe permite rodar sobre si própria, o que permite uma inversão de marcha fácil, até em espaços apertados. "O meio mais eficiente de nos deslocarmos em superfícies pavimentadas é usar rodas, como acontece com os carros. Portanto, o nosso robô usa maioritariamente rodas, mas rodas que se conseguem transformar em rodas", salienta o coordenador.

O próximo passo do projeto, adianta Nakajiama, será "disponibilizar o robô a um grupo de pessoas com mobilidade reduzida para o avaliarem, de forma a afinar a experiência do utilizador". Entretanto, a equipa continuará a apresentar o conceito ao mundo, mostrando-se satisfeita com os benefícios que já concluiu que esta cadeira pode oferecer.