Segundo as conclusões de um estudo realizado recentemente pela Associação para o Planeamento da Família (APF) e o Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, intitulado "A Educação Sexual dos Jovens Portugueses: Conhecimentos e fontes", os jovens iniciam a sua vida sexual cada vez mais cedo. A idade média da primeira relação sexual, nos rapazes, é de 14 anos e nas raparigas é de 15 anos. Segundo o mesmo estudo, a principal fonte de informação dos jovens neste âmbito são os pares. Os jovens conversam mais sobre sexualidade com os amigos (quase entre os 50% e 70% fazem-no relativamente a todos os temas). Estas conclusões, embora não me surpreendam, mais uma vez me levam a pensar que a educação sexual continua de mãos dadas com muitos tabus e preconceitos. Não tenho dúvidas de que ainda há muitos educadores que não são capazes de abordar este tema com naturalidade e clareza e que se refugiam na já gasta desculpa de que não têm formação neste âmbito.
Dizem os estudos que a idade média para a primeira relação sexual tende a ser mais elevada se houver uma educação sexual eficaz. Se assim é, então teremos de repensar a forma como este tema é abordado em diferentes contextos, nomeadamente na escola. Na Alemanha, o Centro Federal para a Saúde apresentou materiais variados para que seja possível a implementação da educação sexual nos jardins-de-infância. Essas ferramentas, colocadas ao serviço de educadores e crianças, têm por objectivo ajudar estas a tomarem consciência do seu corpo e dos papéis de identidade de género. Todo o currículo é centrado em aspectos positivos como a amizade, a família, a ternura e o amor. As crianças são ainda informadas sobre concepção, gravidez e nascimento.
Embora em muitos países a educação sexual, em termos formais, não comece tão cedo, parece-me que deve ser preocupação dos pais iniciar essa educação dos filhos numa idade precoce, uma vez que há evidências claras de que a comunicação aberta desde muito cedo é a forma mais eficaz de prevenir uma saúde sexual deficiente, incluindo nesta as infecções sexualmente transmissíveis e a gravidez indesejada em idades muito precoces. Quando os pais ficam alerta para estas questões e decidem abordá-las com os filhos, porque estes já estão "crescidinhos", o que habitualmente acontece é que os mais novos sentem vergonha em falar sobre este tema. A única forma de evitar todas estas resistências é começar desde muito cedo a abordar as questões da sexualidade, de forma que as próprias crianças as encarem com naturalidade.
O facto de os jovens obterem informações sobre questões de âmbito sexual através dos pares é outro dado já conhecido e que também não constitui novidade. Apesar de não ser novo é fundamental para repensar a melhor forma de fornecer informação correcta aos jovens. Face a isto, é fundamental incentivar o desenvolvimento e implementação de programas de educação de pares. Embora esta seja uma medida muito pouco instituída em contexto escolar, penso que um trabalho a este nível poderia surtir bons frutos, uma vez que só 15 a 18% dos jovens procuram os profissionais de saúde para falarem de sexualidade.
Como conclusões do estudo que tenho vindo a citar, gostaria de sublinhar que ele aponta factos positivos associados à educação sexual: diminuição de alguns aspectos negativos na vivência das relações sexuais e favorecimento de alguns comportamentos preventivos e da capacidade de pedir ajuda, quando necessário. Face a isto, parece-me urgente que os pais assumam um papel importante na educação sexual dos filhos, pois, embora na escola já se tenham quebrado muitas barreiras nesta área, ainda existem muitíssimas a quebrar.
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