A maioria dos alunos do 2.º ano de escolaridade que, em 2021, realizaram a prova de aferição de Português e Estudo do Meio revelou que “consegue escrever uma história, respeitando o tema”, mas revela dificuldades em seleccionar a informação pertinente para o desenvolvimento do texto e na sua organização, segundo mostra um novo estudo do Instituto de Avaliação Educativa (Iave), responsável pela elaboração e classificação das provas, divulgado publicamente neste sábado.
A prova de Português e Estudo do Meio foi realizada por 17.550 alunos do 2.º ano de escolaridade, em Junho passado. Neste ano as provas foram aplicadas a uma amostra de alunos e não à totalidade como costumava acontecer. A descrição qualitativa dos desempenhos agora divulgada pelo Iave abrangeu 72% dos alunos que fizeram a prova.
A parte relativa à escrita, onde se pedia aos alunos que escrevessem “uma aventura vivida por um gafanhoto num lugar desconhecido”, foi onde as crianças de sete anos se saíram melhor, não se registando desempenhos negativos em nenhum dos parâmetros avaliados. Já quando está em causa a “análise e avaliação do conteúdo” de um texto, “a percentagem média de acerto [respostas correctas] situou-se nos 19%”.
Com base no texto Um Salto de Gafanhoto, que começa com o insecto aos pulos na relva, pedia-se aos alunos, por exemplo, que explicassem porque razão não tinha o insecto voltado ao tapete verde no final da história. “Só 7,8% dos alunos responderam de forma completamente correcta, isto é, apresentaram uma explicação fundamentada, analisando as ideias e construindo um raciocínio.”
O Iave passou a integrar nos seus relatórios de análise várias sugestões dirigidas às escolas com o objectivo de as ajudar a resolver as dificuldades detectadas, explicou o presidente do instituto, Luís Santos, na apresentação deste último estudo realizada no sábado, dia 28.
O domínio da escrita foi também aquele onde os alunos do 2.º ciclo conseguiram o melhor desempenho, com uma percentagem de classificações médias de 59%. Na gramática este valor desce para 35,2%. Nas componentes de Oralidade e Leitura e Educação Literária as percentagens de classificações médias voltaram a estar abaixo dos 50%, sendo respectivamente de 46,6% e 48,4%.
Algumas das conclusões apresentadas pelo Iave: “Quanto aos domínios da Leitura e da Educação Literária, salientam-se as dificuldades na síntese/reconstituição e reorganização de informações textuais, neste último caso, sobretudo quando as informações em causa não se encontram ordenadas cronologicamente.”.
Esta prova de aferição foi realizada por 14.250 alunos do 5.º ano de escolaridade, tendo o Iave analisado os desempenhos de 77% destes estudantes.
E o que diz a análise dos desempenhos a Matemática nas provas de aferição realizadas, em 2021, por alunos do 2.º e 8.º anos de escolaridade? No relatório do Iave, a exposição da análise e os dados que a sustentam vão variando consoante as disciplinas e os anos de escolaridade, o que no caso da Matemática, por exemplo, torna difícil as comparações de desempenhos.
De forma geral, pode-se dizer que os alunos do 2.º e do 8.º ano partilham dificuldades na resolução dos problemas, um velho problema entre os estudantes portugueses. Outra das fragilidades, entre várias, é a “compreensão do sentido das operações” no 8.º ano, que no 2.º se traduz assim: mostraram dificuldades em utilizar o “sinal de igual como estabelecendo uma relação de equivalência”.
O número de alunos do 2.º ano que realizou a prova de aferição de Matemática é praticamente igual ao dos que fizeram a de Português. No 8.º ano, a prova foi realizada por 15.475 alunos, tendo sido considerados os desempenhos de 87% para a análise realizada pelo Iave.
Em 2021 realizaram-se também provas de aferição de Inglês no 2.º e 3.º ciclos e de Educação Artística e Educação Física no 1.º ciclo. Neste nível de escolaridade tanto as provas de Português como de Matemática incluíam conteúdos de Estudo do Meio.
No relatório sobre os resultados nacionais destas provas, apresentado em Setembro, o Iave dava conta de que, no 2.º ano, só houve dois domínios (Oralidade em Português e Tecnologia em Estudo do Meio) em que houve uma maioria de alunos que conseguiu responder sem problemas às questões colocadas.
No 5.º e 8.º ano o panorama foi bem pior: a percentagem de alunos que conseguiu responder sem problemas oscilou, consoante os domínios, entre 2,7% e 44,2%, sendo que na maioria dos domínios analisados ficou abaixo dos 20%.
Fonte: Público