É relativamente frequente ouvir relatos sobre jovens considerados sobredotados que, entre os onze e os quinze anos, apresentam uma série de problemas decorrentes desta sua condição: perfeccionismo, competitividade exacerbada, visão narcisista e exagerada das suas capacidades, rejeição (pelos outros jovens), confusão face aos diferentes feedbacks que recebem em relação às suas capacidades e pressão social e parental para serem extraordinariamente bem-sucedidos, bem como frustração face a currículos escolares pouco desafiantes. Alguns destes jovens têm dificuldade em fazer (e manter) amigos, em escolher um curso no Secundário e, finalmente, no Ensino Superior, em fazer uma opção de carreira. E a todos estes problemas "específicos" dos sobredotados somam-se, amplificadas, as questões com as quais todos os adolescentes se deparam.
Os pais destes alunos, bem como os seus professores, devem, em primeiro lugar, contabilizar e apreender os problemas com que eles se deparam. Cabe-lhes depois ajudar estes jovens a assumir e desenvolver as suas capacidades extraordinárias, bem como a tentar compreender e ultrapassar os obstáculos que irão encontrar.
Identifiquemos então alguns dos obstáculos que estes adolescentes poderão ter de ultrapassar.
• Autoconfiança e/ou assumir/reconhecer as suas qualidades/defeitos
Os adolescentes sobredotados parecem, simultaneamente, "assumir" plenamente e questionar profundamente a validade das capacidades que obviamente detêm. Alguns pedagogos identificaram, em jovens adultos sobredotados, o chamado "síndroma do impostor", que assenta na dúvida e na falta de autoestima por parte do indivíduo. A pressão dos seus pares para se integrar num todo homogéneo pode levar estes adolescentes a negar, de forma mais ou menos intensa, qualquer característica que os destaquem, o que é mais evidente naqueles cuja sobredotação não foi precocemente diagnosticada.
Outro aspecto que pode constituir um factor de pressão é a sensação de que os "dons" destes adolescentes devem ser uma dádiva para aqueles que os rodeiam: pais, professores e até a sociedade em geral.
• Dissonância
Estes jovens sobredotados admitem ser perfeccionistas. Aprenderam a exigir sempre mais e a tentar superar as melhores expectativas. O desejo infantil de executar uma tarefa com total perfeição esbate-se na adolescência. É o próprio adolescente que constata (de forma mais clara do que os próprios pais e/ou professores) a diferença existente entre aquilo que planeava fazer e o que, efectivamente, no final, "lhe saiu".
• Correr riscos
Curiosamente, enquanto as crianças sobredotadas tendem a arriscar mais do que as restantes, ao chegarem à adolescência essa tendência diminui, o que faz com que sejam adolescentes menos temerários do que a média. Uma explicação possível para este facto é a necessidade de ter o controlo em todas as situações, o que os leva a recusar desafios, no que diz respeito às relações pessoais, ao desempenho académico ou desportivo.
• Competição intensa
Por um lado, todos os adolescentes são muito susceptíveis a críticas e sugestões feitas por outrem. Por outro lado, no caso dos adolescentes sobredotados, a maior parte das pessoas que os rodeiam – pais, amigos, irmãos, professores – acabam por projectar no seu percurso académico/profissional os seus próprios sonhos e expectativas, elevando bastante uma fasquia "naturalmente" já alta. É por isso normal que nos cheguem aos ouvidos relatos feitos por estes jovens nos quais eles contam como, ao tentar ir ao encontro das expectativas de todos os que os rodeavam, tentando ser sempre "o melhor", eram corroídos pela dúvida e pelo desespero de não conseguirem estar à altura. Ser um adolescente "normal" e vencer desafios sucessivos, cada vez mais exigentes, esgota as energias (desviando-as, por exemplo, da agitada vida social de um adolescente típico), podendo levar a um estado de frustração e desalento.
• Impaciência
Tal como a maioria dos adolescentes, os sobredotados são impacientes: seja quando tentam encontrar a resposta para uma pergunta difícil, seja quando tentam agradar aos seus amigos ou quando, colocados perante várias alternativas, escolhem "a mais rápida". Esta predisposição para tomar decisões impulsivas, aliada ao talento que os caracteriza, pode originar nestes adolescentes especiais reacções negativas relativamente a situações ambíguas. Ao reagirem a estas situações de forma precipitada, encontrando respostas que muitas vezes não existem, acabam frequentemente por cometer erros. Erros que os seus pares lhes podem relembrar quando, como qualquer adolescente normal, lhes querem dizer que ele "não é assim tão esperto".
• Consciência precoce da identidade
Devido às pressões que sofrem, à competição muito presente no quotidiano e à sua falta de tolerância face a situações de ambiguidade, estes jovens tendem a tentar emancipar-se mais precocemente do que os seus pares.
Como ajudar estes jovens a lidar com todas estas questões?
Eis algumas estratégias simples que os adolescentes sobredotados podem adoptar (em função da idade – e estamos a falar de jovens entre os onze e os quinze anos –, o sexo e o nível de participação nas actividades) e que cabe aos pais/professores recomendar:
• Fingir que não sabes tanto sobre determinados assuntos quanto efectivamente sabes.
• Agir mesmo como se fosses o "génio lá do sítio". Decerto que te deixarão em paz.
• Evitar participar em programas que anunciam aos quatro ventos serem exclusivamente dirigidos a "alunos sobredotados". Mas, por outro lado, se tiveres autoconfiança suficiente, deves inscrever-te sem hesitar em programas concebidos para alunos "mais adiantados".
• Ajusta o teu vocabulário e nível de linguagem aos dos teus colegas/amigos.
• Tenta participar em projectos comunitários nos quais a idade não é um critério determinante.
• Desenvolve as tuas características/dons mais evidentes em actividades fora da esfera de influência da escola.
• Não tenhas receio de desenvolver relações de amizade com alguns adultos que merecem a tua confiança e a dos teus pais.
• Não tenhas medo de ser amigo (apenas) de outros sobredotados.
• Assume as tuas capacidade e ajuda os teus colegas/amigos a terem um melhor rendimento escolar (isto não quer dizer que lhes faças os trabalhos de casa).