Documentário mostra como o jogo de arcada ajuda este jovem canadiano a conquistar a sua independência — e a fazer amigos.
Keith Elwin, Andrei Massenkoff, Cayle George, Andy Rosa e Helena Walter — se não é fã de pinball, talvez estes nomes lhe sejam estranhos, mas foram os que Robert Gagno, um canadiano de 27 anos, aprendeu a admirar durante anos. Agora, é o seu próprio nome que fica famoso: é autista e sagrou-se campeão mundial neste jogo de arcada. O título é o resultado de muitos anos de prática.
Robert vive com os pais, Maurizio e Kathy, em Burnaby, na área metropolitana de Vancouver. Aos dez anos, oferecem-lhe a sua primeira máquina de pinball, uma Whirlwind, conta a BBC. Desde então que o canadiano dedica cerca de duas horas por dia a treinar. À primeira máquina juntam-se agora, na garagem de sua casa, mais 11. Todas rodeadas por troféus arrecadados nas competições em que Robert participa desde os 19 anos.
O primeiro encontro com o pinball aconteceu aos cinco anos. “Levei-o a comer um hambúrguer e havia uma máquina de pinball na esquina. Ele estava mais interessado naquilo do que na comida. Eu e a minha mulher percebemos que poderíamos realmente aproveitar para comer e relaxar enquanto ele jogava”, conta o pai à BBC.
Cada defesa e ataque sobre a bola reproduzia sons e luzes que se refletiam nos óculos de Robert. Foi o fascínio por este espetáculo audiovisual que o levou a apaixonar-se pelo jogo.
Aos três anos, o canadiano foi diagnosticado com autismo. “Ele era um rapaz doce e divertido, mas precisava de muita supervisão”, conta a mãe, Kathy, que desde cedo desconfiou que algo no seu filho soava diferente. Robert gostava de girar em torno de si mesmo, era fascinado por sinais de “saída”, demorava mais do que o normal para uma criança da sua idade para falar — com um discurso confuso — e ficava frustrado quando não era compreendido.
Robert encontrou no pinball uma forma de conquistar alguma independência. O talento foi crescendo, ajudando-o com a sua autoestima. A determinada altura, passou a jogar em locais públicos. Fez amigos. “[O pinball] ajudou-o com coisas como iniciar uma conversa com os outros e deu-lhe a oportunidade de fazer amizades”, explica Kathy.
“Gosto de jogar com outras pessoas da liga. Há bons jogadores em Vancouver e é divertido tentarmos bater os recordes uns dos outros, ou mesmo ensinar aos novos jogadores como se joga”, disse o atual número um mundial de pinball à BBC.
Quando decidiu entrar em competições, aos 19 anos, Robert estava longe de imaginar que se tornaria campeão mundial. As provas têm lugar na Europa, no Canadá e nos EUA, mas a competição mais prestigiada é a PAPA (World Professional and Amateur Pinball Association) Pinball Championship, na Pensilvânia. Foi aqui que Robert enfrentou, em 2016, a final contra um dos melhores jogadores do mundo, Zac Sharp, cujo recorde foi batido por Robert. Momentos depois, o canadiano segurava a taça.
“Gosto de provar às pessoas que estão erradas sobre mim”, conta.
Apesar da doença, Robert considera que ser autista lhe tenha dado vantagens sobre outros jogadores. “Consigo focar-me numa só coisa durante muito tempo e tenho uma forte memória visual. Por isso, só preciso de jogar uma vez uma máquina para me lembrar. Também consigo concentrar-me em muitas coisas que acontecem ao mesmo tempo e rapidamente calcular para onde é que a bola vai”, explica.
Mas o autismo é, claro, também uma grande dificuldade. “Sou mais suscetível a ficar ansioso e tenho dificuldades em me concentrar se ficar zangado ou preocupado. Quando isso acontece, não jogo tão bem”, esclarece Robert. Contudo, diz estar agradecido pelo apoio dos pais — o pai, Maurizio, funciona como o seu treinador, ajudando o filho a manter-se calmo nas alturas mais críticas.
Robert continua a jogar sobre as luzes da ribalta, mas agora diz estar mais focado em conquistar a sua independência. O canadiano trabalha num banco duas manhãs por semana. Uma vez por semana, dedica-se a aulas de programação informática.
Entretanto, o jovem de 27 anos vai correndo o país a contar a sua história, agora imortalizada num documentário, Wizard Mode, produzido pelos realizadores Nathan Drillot e Jeff Petry, que acompanharam cada passo do jogador até ao título mundial. A longa-metragem estreou no Festival Hot Docs, em Toronto, em Maio.
Fonte: life&style do Público