Aquando da organização do simpósio “Psicopatologia do Desenvolvimento” no Congresso Nacional de Psiquiatria, as ideias sobre os conteúdos a abordar rapidamente se condensaram em torno de duas patologias: Perturbações do Espetro do Autismo (PEA) e Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA).
Tratando-se, evidentemente, de síndromes totalmente distintos na gravidade das suas manifestações clínicas e no grau de incapacidade de que se revestem, estas duas patologias não deixam ainda assim de ter muito em comum. Ambas são fenótipos com início na infância e ambas se prolongam até à idade adulta. Em ambas a comorbilidade é a regra e não a exceção. Em ambas o diagnóstico correto pode ser difícil, sobretudo nos casos que apenas na idade adulta chegam à atenção médica.
Com efeito, a metamorfose da psicopatologia ao longo do desenvolvimento e a comorbilidade neuropsiquiátrica quase universal colocam o adulto com PEA ou com PHDA não diagnosticadas em risco de não diagnóstico, de omissão de tratamentos eficazes, ou de exposição a tratamentos desnecessários ou mesmo nocivos.
Este risco é multiplicado pela flagrante ausência deste grupo de patologias no típico percurso de formação do psiquiatra de adultos, exclusivamente centrada nas perturbações mentais comuns e nos grandes síndromes psicopatológicos da psiquiatria hospitalar. Em nenhuma outra patologia o risco de erro de diagnóstico e de tratamento desnecessário ou errado será porventura tão elevado como nas PEA.
Não raramente vemos adultos com PEA não diagnosticadas receber um diagnóstico de psicose esquizomorfa sem qualquer fundamente que não a bizarria do quadro clínico. Por outro lado, os sintomas psicóticos podem complicar o quadro psicopatológico das PEA, frequentemente na presença de comorbilidades neurológicas como a epilepsia.
No que respeita à PHDA, a subtileza da apresentação no adulto, a crescente popularidade do conceito de PHDA do adulto - sem a correspondente formação da maioria dos psiquiatras - e ainda a facilidade de prescrição de estimulantes têm como resultado um elevadíssimo risco de sub e sobrediagnóstico, com prescrição de estimulantes a quem não precisa, e diagnósticos desadequados ou redutores a quem poderia beneficiar daquela forma de tratamento.
In: Diário online
Tratando-se, evidentemente, de síndromes totalmente distintos na gravidade das suas manifestações clínicas e no grau de incapacidade de que se revestem, estas duas patologias não deixam ainda assim de ter muito em comum. Ambas são fenótipos com início na infância e ambas se prolongam até à idade adulta. Em ambas a comorbilidade é a regra e não a exceção. Em ambas o diagnóstico correto pode ser difícil, sobretudo nos casos que apenas na idade adulta chegam à atenção médica.
Com efeito, a metamorfose da psicopatologia ao longo do desenvolvimento e a comorbilidade neuropsiquiátrica quase universal colocam o adulto com PEA ou com PHDA não diagnosticadas em risco de não diagnóstico, de omissão de tratamentos eficazes, ou de exposição a tratamentos desnecessários ou mesmo nocivos.
Este risco é multiplicado pela flagrante ausência deste grupo de patologias no típico percurso de formação do psiquiatra de adultos, exclusivamente centrada nas perturbações mentais comuns e nos grandes síndromes psicopatológicos da psiquiatria hospitalar. Em nenhuma outra patologia o risco de erro de diagnóstico e de tratamento desnecessário ou errado será porventura tão elevado como nas PEA.
Não raramente vemos adultos com PEA não diagnosticadas receber um diagnóstico de psicose esquizomorfa sem qualquer fundamente que não a bizarria do quadro clínico. Por outro lado, os sintomas psicóticos podem complicar o quadro psicopatológico das PEA, frequentemente na presença de comorbilidades neurológicas como a epilepsia.
No que respeita à PHDA, a subtileza da apresentação no adulto, a crescente popularidade do conceito de PHDA do adulto - sem a correspondente formação da maioria dos psiquiatras - e ainda a facilidade de prescrição de estimulantes têm como resultado um elevadíssimo risco de sub e sobrediagnóstico, com prescrição de estimulantes a quem não precisa, e diagnósticos desadequados ou redutores a quem poderia beneficiar daquela forma de tratamento.
In: Diário online
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