sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Escolas

No futuro, as crianças serão os donos das escolas. Os miúdos serão treinados, desde pequenos, nos skills do empreendedorismo, gerindo os seus próprios negócios de ensino, contratando e despedindo professores, escolhendo as matérias curriculares que mais lhes convierem e dando azo a tudo o que a sua imaginação lhes sugerir. 
O financiamento deste sistema assentará numa espécie de bolsa-capital, que cada bebé receberá de uma entidade financeira. Com essa alcavala, as crianças poderão investir nas ações da sua própria escola, participando nas respetivas decisões de gestão empresarial e pedagógica e, quem sabe, um dia devolverem aos bancos o capital de que necessitaram para serem alunos-proprietários. Claro que alguns destes colégios do futuro irão à falência, impossibilitando as crianças de devolverem os empréstimos contraídos para serem donos das escolas. Mas neste caso, que acima de tudo servirá para distinguir as crianças com jeito para o negócio daquelas que não servem para nada, os miúdos pagarão as suas dívidas entregando as suas vidas às instituições financeiras. Tal como acontecia aos servos da gleba na idade média, o que de resto foi um notório progresso sobre o anterior modelo esclavagista. 
Infelizmente, o nosso governo não vê longe. A reforma do Estado do ministro Portas propõe apenas que os professores comprem as escolas e se dediquem à sua gestão. É interessante, de facto, que o executivo lute para extinguir as escolas públicas, que como se sabe são um veículo inconveniente para o desenvolvimento social, cultural e económico das sociedades.
Mas a privatização das escolas pelos docentes é uma reforma ainda tímida, porque os professores nasceram para ensinar e não propriamente para gerir as escolas onde lecionam. Um dia a história demonstrará que cabe aos próprios alunos a gestão mais eficiente e modernizante das escolas, retirando aos professores essa veleidade parva de julgarem que devem ser bons é a dar aulas. Até lá, esqueçam fazer uma reforma do Estado apostando num modelo de ensino como um espaço de coesão e crescimento do país e não como um negócio como qualquer outro. 
Tenho dito.

José Diogo Madeira
In: I online

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