No futuro, as crianças serão os donos das escolas. Os miúdos serão treinados, desde pequenos, nos skills do empreendedorismo, gerindo os seus próprios negócios de ensino, contratando e despedindo professores, escolhendo as matérias curriculares que mais lhes convierem e dando azo a tudo o que a sua imaginação lhes sugerir.
O financiamento deste sistema assentará numa espécie de bolsa-capital, que cada bebé receberá de uma entidade financeira. Com essa alcavala, as crianças poderão investir nas ações da sua própria escola, participando nas respetivas decisões de gestão empresarial e pedagógica e, quem sabe, um dia devolverem aos bancos o capital de que necessitaram para serem alunos-proprietários. Claro que alguns destes colégios do futuro irão à falência, impossibilitando as crianças de devolverem os empréstimos contraídos para serem donos das escolas. Mas neste caso, que acima de tudo servirá para distinguir as crianças com jeito para o negócio daquelas que não servem para nada, os miúdos pagarão as suas dívidas entregando as suas vidas às instituições financeiras. Tal como acontecia aos servos da gleba na idade média, o que de resto foi um notório progresso sobre o anterior modelo esclavagista.
Infelizmente, o nosso governo não vê longe. A reforma do Estado do ministro Portas propõe apenas que os professores comprem as escolas e se dediquem à sua gestão. É interessante, de facto, que o executivo lute para extinguir as escolas públicas, que como se sabe são um veículo inconveniente para o desenvolvimento social, cultural e económico das sociedades.
Mas a privatização das escolas pelos docentes é uma reforma ainda tímida, porque os professores nasceram para ensinar e não propriamente para gerir as escolas onde lecionam. Um dia a história demonstrará que cabe aos próprios alunos a gestão mais eficiente e modernizante das escolas, retirando aos professores essa veleidade parva de julgarem que devem ser bons é a dar aulas. Até lá, esqueçam fazer uma reforma do Estado apostando num modelo de ensino como um espaço de coesão e crescimento do país e não como um negócio como qualquer outro.
Tenho dito.
In: I online
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