Associação de Surdos diz que "o artigo está na Constituição mas a sua transição para a prática ainda não foi feita de forma totalmente satisfatória para a comunidade surda”.
A Língua Gestual Portuguesa foi reconhecida há 16 anos mas a Associação de Surdos do Porto lamenta hoje que a mesma não passe de uma ferramenta e defende a sua “maior visibilidade” numa sociedade que ainda “mantém o preconceito”.
Foi em 1997 que a Constituição da República Portuguesa reconheceu a Língua Gestual Portuguesa (LGP), cujo Dia Nacional é assinalado a 15 de novembro, tendo então ficado definida a sua proteção e valorização “enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de oportunidades”.
Para os surdos, porém, a LGP não é encarada como uma ferramenta de apoio ao sistema educativo, mas sim como a sua “língua natural” e “própria”, que lhes permite “uma perspetiva diferente da sociedade e do mundo” e, por isso, devia “ter maior visibilidade”, conta, entre gestos, Joana Cottim, membro da direção da Associação de Surdos do Porto.
“O artigo está na Constituição mas a sua transição para a prática ainda não foi feita de forma totalmente satisfatória para a comunidade surda”, acrescenta.
São 21:30 de uma sexta-feira e no centro de convívio da associação, no Porto, onde o som das palavras é substituído pelos muitos gestos - e onde quem não vê é como quem não ouve - a conversa não é fácil e implica o recurso a uma intérprete, Isabel, que ora traduz as perguntas para Língua Gestual, ora verbaliza as respostas de Joana, 27 anos, surda desde os dois anos.
Estas “barreiras comunicacionais”, como lhes chama Joana, estão em todo o lado e a comunidade surda portuguesa, que engloba cerca de 80 mil cidadãos, acaba por não ter “acesso aos mesmos bens e serviços” que os ouvintes.
“Falta ainda estabelecer muitas pontes para o trabalho e para uma vida social normal”, assinala Joana Cottim para quem a LGP “devia ser oficial nas escolas” uma vez que “é uma língua oficial da comunidade surda” portuguesa.
E se na “comunidade ouvinte a percentagem de desemprego aumentou”, a comunidade surda é afetada “no dobro” pela crise, com “imensos surdos desempregados” e com a “maioria das ofertas de emprego” no país a serem “para call centers”, às quais “os surdos não podem concorrer”, ironizou.
In: I online por indicação de Livresco
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