Estudo da Área Metropolitana do Porto, realizado nos 16 municípios, avisa que as Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) não podem ser planeadas como tratando-se de “mais-escola”.
O estudo Avaliação do Impacto Social e da Implementação de Projetos de Atividades de Enriquecimento Curricular na Área Metropolitana do Porto envolveu 107 agrupamentos, 197 escolas do 1.º ciclo do ensino básico e 257 turmas, dos 16 municípios, durante o ano letivo de 2011/2012. A pesquisa foi conduzida pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, em parceria com o Instituto Superior de Ciências da Saúde – Norte. Foram selecionadas nove das 19 AEC oferecidas nas escolas primárias da Área Metropolitana do Porto (AMP), mais concretamente inglês, música, atividade física e desportiva, expressão plástica, expressão dramática, tecnologias da informação e comunicação, dança, prevenção rodoviária e pequenos engenheiros. O estudo feito para a AMP conclui que as AEC potenciam o desenvolvimento global do aluno e de aprendizagens inovadoras, estimulando, ao mesmo tempo, competências para outras atividades desenvolvidas em contexto escolar.
O estudo, que abrangeu 10 126 pessoas – 4751 alunos do 1.º ciclo, 3587 pais, 1443 professores, 352 assistentes operacionais -, conclui também que as AEC “têm um impacto muito positivo junto de todos os membros da comunidade educativa”. Com esta análise, a AMP pretendeu fazer uma reflexão crítica sobre o trabalho desenvolvido pelos 16 municípios nesta área. “Julgamos ser dificilmente refutável a conclusão de que as AEC vieram preencher uma função importante de inclusão social das crianças. Uma função que estava ausente do sistema de ensino à escala que agora encontramos”, sustentam os autores que assumem que as conclusões podem, com as devidas reservas, ser extrapoladas a nível nacional.
Os alunos do 1.º ciclo, na sua maioria com idades compreendidas entre os 6 e os 9 anos, estão satisfeitos com as AEC. Afirmam que aprendem coisas novas e que as atividades depois das aulas contribuem para o seu desenvolvimento e para outras aprendizagens escolares. O estudo refere, aliás, que as AEC “cumprem uma função essencial de suporte e inclusão” e que a sua oferta é diversificada - ao todo, 19 atividades diferentes. A análise definiu cinco indicadores principais: satisfação e atitude dos atores do contexto-escola em relação às AEC, impacto percebido das AEC em dimensões do desenvolvimento do aluno, impacto social das AEC na vida das famílias, qualidade do contexto-escola para implementação das AEC, impacto da implementação das AEC nas competências e atribuições dos municípios no contexto educativo.
“As AEC são fortemente valorizadas por todos enquanto dispositivo pedagógico promotor de um espetro alargado de competências e de ‘experiências desenvolvimentais’ às quais, muito provavelmente, muitas crianças não teriam acesso a não ser pela via das AEC”, lê-se no estudo disponível no site da AMP, que revela, a propósito, que cerca de 40% dos pais admitem que de outra forma seria improvável ou muito improvável proporcionar aos filhos experiências semelhantes às AEC. E não são apenas os constrangimentos materiais e económicos das famílias que estarão associados à exclusão social da família, já que as dinâmicas e estruturas familiares também explicam as dificuldades em conciliar as preocupações dos pais com a educação e desenvolvimento dos filhos que frequentam o primeiro nível de ensino. O carácter marcadamente lúdico e o facto de não haver avaliação de desempenho nas AEC são duas características consideradas importantes do ponto de vista do potencial impacto no desenvolvimento dos mais novos. A preparação para aprendizagens futuras, a satisfação pela frequência das AEC, a garantia de “guarda segura” e a gratuidade são as principais razões que os pais apontam para a inscrição dos filhos nessas atividades extracurriculares.
“Seja qual for o domínio a que as AEC se reportem, estas surgem num período particularmente relevante no que concerne à construção de representações sobre várias áreas do saber e das profissões que lhe estão associadas”, revela o estudo. Os resultados indicam, por outro lado, que estas atividades “não podem ser concebidas, planeadas, estruturadas e implementadas como tratando-se de ‘mais escola”. A análise sugere, portanto, que qualquer reformulação ao modelo de implementação das AEC deve merecer uma profunda reflexão.
A avaliação que os profissionais fazem em relação a vários parâmetros relacionados com o exercício das suas funções não é, na prática, “nem positiva nem negativa”. É moderadamente positiva em relação a dimensões importantes como materiais pedagógicos para a implementação das AEC, oportunidades de participação dos pais ou relação dos professores de AEC com a entidade patronal.
O estudo sublinha que a implementação das AEC implica um forte investimento por parte dos municípios e que essas atividades têm um papel importante na aproximação entre a comunidade educativa e a comunidade local. “Na generalidade dos modelos de implementação das AEC, os municípios da AMP incluíram o envolvimento ativo da comunidade local na operacionalização das atividades que são proporcionadas às crianças (por exemplo, associações ou grupos com a atividade sociocultural relevante no município, associações de pais, juntas de freguesia, empresas, etc.)”, sustenta.
In: Educare por indicação de Livresco
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