O psicólogo norte-americano Burrhus Skinner defendia, nos anos 40, a ideia de que os professores deviam ser substituídos por máquinas de ensinar. Movia-o a convicção de que a relação de afectividade estabelecida na sala de aula afastava a atenção dos alunos do objecto de ensino. Acreditava que, sem distracções, os estudantes garantiriam melhores resultados.
À luz dos nossos dias, a proposta é, no mínimo, bizarra. Hoje, na era do "Magalhães", das máquinas de calcular, dos quadros interactivos, a questão que preocupa pais e educadores é, precisamente, a inversa: Poderá o uso excessivo de tecnologia comprometer o processo de aprendizagem? Estará a aquisição das competências clássicas, asseguradas pelo ensino tradicional, perdida para o facilitismo do uso das novas tecnologias?
Jorge Santos, docente do Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho, desmistifica "medos, fantasias e divagações" que enformam discursos exagerados sobre os efeitos nefastos do uso da tecnologia em geral. "Fragmenta o Mundo, mas comparado com meios mais clássicos não deixa de ser uma plataforma mais interessante do ponto de vista da aprendizagem", considera. O resultado do uso do computador "está muito mais próximo da aprendizagem e do desenvolvimento do raciocínio cognitivo do que uma situação de crianças e adultos sentados a ver televisão".
Oque assustará os mais cépticos será, porventura, a percepção do imenso poder das máquinas. "Os computadores são meios que influenciam a maneira de ver e de viver o Mundo", considera Albertino Gonçalves, investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho. Sem dramatizar, o sociólogo lembra como, no passado, a sociedade mudou radicalmente a forma de raciocinar e de sentir, primeiro a reboque da hegemonia da Imprensa enquanto meio de comunicação, depois pela entrada da televisão e do cinema na vida das pessoas.
O uso das tecnologias torna os jovens mais competentes ou mais limitados? A resposta não é linear. Ganham-se novas competências, perdem-se outras. Caminhamos, quase que por evolução natural, para a imposição da mentalidade pós-moderna, do transitório, do instantâneo, do labiríntico, do emocional. Nada que seja intrinsecamente prejudicial, antes evolutivo.
Os computadores, a navegação pela Internet e a participação em jogos amigáveis aguçam a intuição, desenvolvem a inteligência, a emotividade e a capacidade de participação. Já o raciocínio linear e abstracto ficam menos favorecidos, considera, ainda, Albertino Gonçalves. "O uso inadequado do computador na sala de aula, pode ter um efeito perverso", adverte. "Os alunos podem pensar que não é preciso esforço e que bastará um clique para cumprirem determinado objectivo, que não têm de perder tempo e esforço a pensar e a planear".
Para Clarinda Leite, coordenadora do Grupo de Ciências de Educação da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, a introdução das novas tecnologias da informação nas salas de aula é incontornável. A escola não pode viver à margem da sociedade. "Não se pode ignorar que o acesso à informação, apenas com suporte documental e físico não chega", diz, lembrando que há muito que o papel da escola deixou de ser, exclusivamente, o de reprodutora de conhecimento. Os estudantes são, hoje, convidados a "aprender a aprender". O desafio está não só do lado dos jovens, mas também dos professores.
"Os alunos quando estão frente a um computador e abrem um site, nunca estão perante uma só informação, mas ante uma orquestra de informações", reconhece Albertino Gonçalves. "É como se vinte professores falassem ao mesmo tempo". O conceito do "estar atento" terá, também, mudado completamente, estima o docente da Universidade do Minho. Na era do Messenger, do Hi5, dos fóruns e dos chats como se afere a atenção de um aluno silencioso atrás de um monitor?
Os professores deverão responder com o recurso a métodos pedagógicos que orientem a navegação na Internet e o uso de computadores. "As actividades devem ser muito orientadas e bem planificadas", explica Lurdes Lima, professora de matemática do Terceiro Ciclo e do Secundário e autora de uma tese de doutoramento sobre a utilização de webquest no ensino. O uso da máquina calculadora, por exemplo, não elimina o cálculo mental. "Se há uma raciocínio mais elaborado, com cálculos mais demorados, como a distância entre dois planetas, os alunos têm de utilizar a calculadora", adianta. "Mas têm de utilizar o cálculo mental obrigatoriamente, para desenvolver o raciocínio correcto".
O mesmo princípio aplica-se à utilização dos computadores e da Internet. "Os alunos têm de apresentar um produto, o resultado de todo um processo", assegura. As competências de raciocínio e de cálculo estão salvaguardadas. "Se não souberem fazer determinado problema, não adianta o computador".
Uma das conclusões do trabalho de investigação de Lurdes Lima aponta para a necessidade dos professores orientarem a aula no sentido de limitar a liberdade dos alunos para explorarem o computador sem supervisão.
Clarinda Leite acrescenta o desenvolvimento da autonomia, do sentido crítico e a integração numa comunidade de aprendizagem como outras das vantagens da utilização das novas tecnologias num ambiente de aula. A professora catedrática da Faculdade de Psicologia do Porto defende, também, uma "independência supervisionada" dos alunos. "Os professores não devem propor aos estudantes o simples cumprimento de uma instrução", considera. Não se pense que a utilização das máquinas motiva o isolamento dos jovens. "A adesão às tecnologias potencia a interacção e a troca de opiniões", garante Clarinda Leite, baseada na experiência da docência universitária com recurso às plataformas de aprendizagem on-line.
Jorge Sousa, optimista confesso das tecnologias de informação e de comunicação, antevê para breve grandes alterações na relação com os computadores. "Caminhamos para a utilização de interfaces que usam os movimentos que as pessoas fazem", considera. "E a tendência desta tecnologia é a de aproximar ainda mais o Homem e a máquina".
Folhear um livro num ecrã de computador, seleccionar um objecto colocando um dedo em cima da imagem tornará a interacção com as máquinas cada vez mais fácil, cada vez mais incontornável e democratizará o acesso às novas tecnologias. A ser assim, os jovens não estarão a perder competências devido ao uso excessivo de novas tecnologias. Estarão antes a preparar-se para a inevitável convivência com as máquinas.
À luz dos nossos dias, a proposta é, no mínimo, bizarra. Hoje, na era do "Magalhães", das máquinas de calcular, dos quadros interactivos, a questão que preocupa pais e educadores é, precisamente, a inversa: Poderá o uso excessivo de tecnologia comprometer o processo de aprendizagem? Estará a aquisição das competências clássicas, asseguradas pelo ensino tradicional, perdida para o facilitismo do uso das novas tecnologias?
Jorge Santos, docente do Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho, desmistifica "medos, fantasias e divagações" que enformam discursos exagerados sobre os efeitos nefastos do uso da tecnologia em geral. "Fragmenta o Mundo, mas comparado com meios mais clássicos não deixa de ser uma plataforma mais interessante do ponto de vista da aprendizagem", considera. O resultado do uso do computador "está muito mais próximo da aprendizagem e do desenvolvimento do raciocínio cognitivo do que uma situação de crianças e adultos sentados a ver televisão".
Oque assustará os mais cépticos será, porventura, a percepção do imenso poder das máquinas. "Os computadores são meios que influenciam a maneira de ver e de viver o Mundo", considera Albertino Gonçalves, investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho. Sem dramatizar, o sociólogo lembra como, no passado, a sociedade mudou radicalmente a forma de raciocinar e de sentir, primeiro a reboque da hegemonia da Imprensa enquanto meio de comunicação, depois pela entrada da televisão e do cinema na vida das pessoas.
O uso das tecnologias torna os jovens mais competentes ou mais limitados? A resposta não é linear. Ganham-se novas competências, perdem-se outras. Caminhamos, quase que por evolução natural, para a imposição da mentalidade pós-moderna, do transitório, do instantâneo, do labiríntico, do emocional. Nada que seja intrinsecamente prejudicial, antes evolutivo.
Os computadores, a navegação pela Internet e a participação em jogos amigáveis aguçam a intuição, desenvolvem a inteligência, a emotividade e a capacidade de participação. Já o raciocínio linear e abstracto ficam menos favorecidos, considera, ainda, Albertino Gonçalves. "O uso inadequado do computador na sala de aula, pode ter um efeito perverso", adverte. "Os alunos podem pensar que não é preciso esforço e que bastará um clique para cumprirem determinado objectivo, que não têm de perder tempo e esforço a pensar e a planear".
Para Clarinda Leite, coordenadora do Grupo de Ciências de Educação da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, a introdução das novas tecnologias da informação nas salas de aula é incontornável. A escola não pode viver à margem da sociedade. "Não se pode ignorar que o acesso à informação, apenas com suporte documental e físico não chega", diz, lembrando que há muito que o papel da escola deixou de ser, exclusivamente, o de reprodutora de conhecimento. Os estudantes são, hoje, convidados a "aprender a aprender". O desafio está não só do lado dos jovens, mas também dos professores.
"Os alunos quando estão frente a um computador e abrem um site, nunca estão perante uma só informação, mas ante uma orquestra de informações", reconhece Albertino Gonçalves. "É como se vinte professores falassem ao mesmo tempo". O conceito do "estar atento" terá, também, mudado completamente, estima o docente da Universidade do Minho. Na era do Messenger, do Hi5, dos fóruns e dos chats como se afere a atenção de um aluno silencioso atrás de um monitor?
Os professores deverão responder com o recurso a métodos pedagógicos que orientem a navegação na Internet e o uso de computadores. "As actividades devem ser muito orientadas e bem planificadas", explica Lurdes Lima, professora de matemática do Terceiro Ciclo e do Secundário e autora de uma tese de doutoramento sobre a utilização de webquest no ensino. O uso da máquina calculadora, por exemplo, não elimina o cálculo mental. "Se há uma raciocínio mais elaborado, com cálculos mais demorados, como a distância entre dois planetas, os alunos têm de utilizar a calculadora", adianta. "Mas têm de utilizar o cálculo mental obrigatoriamente, para desenvolver o raciocínio correcto".
O mesmo princípio aplica-se à utilização dos computadores e da Internet. "Os alunos têm de apresentar um produto, o resultado de todo um processo", assegura. As competências de raciocínio e de cálculo estão salvaguardadas. "Se não souberem fazer determinado problema, não adianta o computador".
Uma das conclusões do trabalho de investigação de Lurdes Lima aponta para a necessidade dos professores orientarem a aula no sentido de limitar a liberdade dos alunos para explorarem o computador sem supervisão.
Clarinda Leite acrescenta o desenvolvimento da autonomia, do sentido crítico e a integração numa comunidade de aprendizagem como outras das vantagens da utilização das novas tecnologias num ambiente de aula. A professora catedrática da Faculdade de Psicologia do Porto defende, também, uma "independência supervisionada" dos alunos. "Os professores não devem propor aos estudantes o simples cumprimento de uma instrução", considera. Não se pense que a utilização das máquinas motiva o isolamento dos jovens. "A adesão às tecnologias potencia a interacção e a troca de opiniões", garante Clarinda Leite, baseada na experiência da docência universitária com recurso às plataformas de aprendizagem on-line.
Jorge Sousa, optimista confesso das tecnologias de informação e de comunicação, antevê para breve grandes alterações na relação com os computadores. "Caminhamos para a utilização de interfaces que usam os movimentos que as pessoas fazem", considera. "E a tendência desta tecnologia é a de aproximar ainda mais o Homem e a máquina".
Folhear um livro num ecrã de computador, seleccionar um objecto colocando um dedo em cima da imagem tornará a interacção com as máquinas cada vez mais fácil, cada vez mais incontornável e democratizará o acesso às novas tecnologias. A ser assim, os jovens não estarão a perder competências devido ao uso excessivo de novas tecnologias. Estarão antes a preparar-se para a inevitável convivência com as máquinas.
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