Duas em cada cinco crianças autistas podem ultrapassar, em parte, esse diagnóstico através de um método norte-americano de Análise Comportamental Aplicada, que será utilizado a partir do final do mês numa escola perto de Almada, em Sobreda da Caparica.
Partindo da sua experiência de pai à procura de respostas, Carlos França conheceu no Natal de 2007 a escola ABC Real, localizada em Sacramento, Califórnia, nos Estados Unidos, e quase sete meses depois vê um desejo concretizado: aplicar em Portugal o método ABA (Applied Behaviour Analysis).
"No início do diagnóstico do meu filho houve um período de desorientação e procura de informação para descobrir algo. Nos Estados Unidos disseram-me que a altura ideal para uma intervenção teria sido entre os dois anos e meio e os quatro", contou Carlos França. Mesmo ultrapassada a "época de ouro", já que o filho tinha nove anos e sabendo que não iria aproveitar os resultados do método a 100 por cento, este pai percebeu que poderia beneficiar outras crianças portuguesas e decidiu fundar uma escola para autistas e doentes com síndroma de Asperger.
A factura de mil euros mensais afastou alguns interessados mas, ainda assim, Carlos França reforça que este custo fica muito aquém do valor real: a escola norte-americana não cobrou pelos seus serviços fora da Califórnia e o Colégio Campo de Flores, onde funcionará a escola, cedeu gratuitamente uma sala.
No futuro os impulsionadores nacionais do ABA querem fazer crescer a experiência-piloto e angariar apoios, de maneira a conseguir também diminuir os encargos dos pais. A primeira escola de ABA na Europa Continental vai juntar dez famílias, oriundas de vários pontos do país, tendo uma delas trocado Coimbra pela Sobreda da Caparica. "Foi só com a boa vontade dos pais que foi possível trazer este método para Portugal, mas isso é também o mais importante, porque o Estado é lento a auxiliar", reforçou o presidente da escola 'mãe' ABC Real, Joseph E. Morrow.
O ABA passa por integrar habitualmente crianças durante dois anos, mas o tempo de intervenção depende da gravidade dos problemas que afectam cada uma delas. Comum é o trabalho intenso de 25 a 40 horas semanais de um técnico para cada criança, que pode levar a "resultados espectaculares" e fazer com que 40 por cento das crianças deixem de ter características autistas, segundo o norte-americano.
Todas as crianças autistas têm problemas de comunicação e metade não verbaliza. Por isso, o método ABA começa por ensinar os mais novos a pedirem aquilo que querem e necessitam, de forma a conseguir mais tarde integrá-los no ensino regular. Aos pais, Joseph E. Morrow aconselha a estarem atentos a défices na comunicação, a perceberem se os filhos apontam para o que querem e se os olham nos olhos, porque caso contrário poderão ter problemas de autismo.
"As crianças parecem ser surdas por não darem atenção", acrescentou o norte-americano, referindo ainda que os pediatras não devem desvalorizar alguns sinais e dizer apenas que os problemas serão ultrapassados. "Costuma lembrar-se que o Einstein começou a falar aos quatro anos. Mas nos Estados Unidos, tal como em Portugal, há o ditado: 'mais vale prevenir que remediar'", concluiu.
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