A Unidade Funcional de Implantes Cocleares do Centro Hospital e Universitário de Coimbra (CHUC) já implantou, com êxito, estes dispositivos em 400 crianças, permitindo-lhes o acesso ao mundo do som e a possibilidade de desenvolver linguagem áudio-oral.
Carlos Ribeiro, o coordenador desta unidade do Serviço de Otorrinolaringologia instalada no chamado Hospital dos Covões, em Coimbra, alertou hoje, em declarações à agência Lusa, para a necessidade de estes implantes serem feitos o mais precocemente possível, sobretudo entre o um ano e os dois de vida da criança, de forma a que o tratamento resulte em sucesso.
“Todos nascemos programados biologicamente. O ideal é aprender a falar até aos dois anos. Entre os dois e três anos ainda é considerado um período aceitável, mas depois dos três anos a taxa de sucesso reduz-se bastante”, disse o clínico, em declarações à Lusa.
Recordando que mais de 90% destes implantes são feitos em Coimbra (as cirurgias pediátricas são feitas no Hospital Pediátrico, mas todo o outro trabalho é efetuado nos Covões), Carlos Ribeiro explicou à Lusa que, “ quando uma criança nasce com uma surdez severa profunda, ou profunda, não tem capacidade para ouvir o suficiente para criar linguagem”.
“Quando o grau de surdez é muito elevado, as próteses auditivas não conseguem compensar os graus acentuados de surdez. Essas crianças estavam condenadas, por isso, a não formar capacidades áudio-orais. E isso é sempre limitativo para o desenvolvimento das crianças numa sociedade que vive da comunicação”, explicou.
O coordenador da unidade, satisfeito por este “avanço tecnológico incrível”, que permite o “acesso ao mundo dos sons e a saída do mundo do silêncio”, disse ainda que as crianças implantadas, embora tenham depois alguma dificuldade em “ambientes sonoros adversos”, não sentem qualquer problema nos ambientes escolares e familiares, conseguindo uma “adaptação totalmente normal”
Os estudos demonstram que as crianças implantadas demoram praticamente o mesmo tempo a descodificar os sons - transformando-os em linguagem áudio-oral - do que as crianças ditam normais, isto é, o tempo de aprendizagem é semelhante, mesmo que as implantadas, eventualmente, comecem mais tarde as descobertas.
A sonoridade da língua portuguesa, por outro lado, é outra das vantagens para os implantes realizados em Portugal, explicou Carlos Ribeiro, que salientou a excelência do trabalho desenvolvido em Coimbra e o sucesso que a unidade tem conseguido internacionalmente, facto que permite que o país realize, em 2017, o mais importante congresso deste setor da Saúde.
O trabalho feito por esta unidade, que começou em 1985 a fazer implantes em adultos e sete anos depois em crianças, baseia-se numa complexa equipa, que, após o ato cirúrgico, desenvolve todas as competências nos mais novos, desde a aprendizagem dos sons ao desenvolvimento da linguagem.
O implante coclear tem dois componentes, um instalado no exterior, junto ao pavilhão auricular, e outro interno, mais complexo e que consiste num recetor-estimulador, por baixo da pele, na mastoide e que depois é ligado por uma série de microcabos colocados dentro da cóclea (caracol), no ouvido interno.
Carlos Ribeiro, coordenador em Coimbra da terceira unidade na Europa que utiliza esta técnica, explicou ainda que esta tecnologia não se compadece com implantes pontuais, já que o trabalho feito no pós-cirurgia é fundamental para o sucesso de toda a operação.
Perceber o derrube dos muros de silêncio que rodeiam as crianças surdas e ver o posterior desenvolvimento das crianças, a melhoria da sua realização pessoal e a integração familiar e social destas são o “melhor salário possível”, disse ainda este responsável.
“Tudo isto é muito gratificante. O melhor pagamento são os sorrisos das crianças e dos seus familiares”.
In: Sol
Sem comentários:
Enviar um comentário