A leitura em formato digital cresceu significativamente nos últimos anos. As funcionalidades oferecidas pelas novas tecnologias têm conduzido à emergência de um novo paradigma de leitura que tem nos adolescentes um grupo maioritariamente afeto. Ler textos nos telemóveis, nos monitores dos computadores ou simplesmente em tablets é uma realidade corrente. Apesar disso, tem permanecido de algum modo por avaliar o impacto que estes novos hábitos de leitura têm ao nível da compreensão leitora, por um lado, e sobretudo, por outro, as implicações pedagógicas que daí relevam para uma efetiva aprendizagem em contexto letivo.
Num estudo efetuado por três investigadores da Universidade de Stavanger, na Noruega, junto de 72 adolescentes com idades de 15 e de 16 anos e intitulado Reading linear tests on paper versus computer screen: Effects on reading comprehension(2013), conclui-se que, de facto, o suporte de leitura interfere na compreensão do lido, levando o texto impresso a levar a melhor sobre a sua versão digital.
Os estudantes foram divididos em dois grupos e a ambos foram atribuídos dois textos para leitura, sendo que esses textos foram disponibilizados a um grupo em formato impresso e ao outro em formato digital, no monitor de um computador - um para cada estudante, próximo daqueles que predominam nas escolas: monitores LCD de 15''. Após a referida leitura, solicitou-se aos alunos que respondessem a uma bateria de questões relativa aos documentos lidos - algumas delas semelhantes às que se efetuam no contexto do teste PISA - que procurava avaliar a sua compreensão do lido ao longo da experiência em análise. Poderiam, para o efeito, reler durante um tempo limitado os textos, respondendo depois em computadores às questões formuladas.
Os resultados obtidos indicam que aqueles que leram em papel impresso compreenderam significativamente melhor os textos em comparação com os que leram em versão digital. Conclui-se, em primeiro lugar, que o suporte de leitura - nomeadamente os utilizados neste estudo - influi na compreensão do que se lê, e, em segundo lugar, que o que se lê em suporte papel é melhor compreendido do que o que é lido em suporte tecnológico. Nas palavras dos autores do estudo, "ler textos lineares [i.e., não hipertextos] em monitor de computador resulta numa compreensão mais pobre quando em comparação com a mesma leitura em papel impresso." Um dos elementos que, baseados na consulta da literatura científica relativa a este tema, afirmam estar na base destes resultados está o scroll no rato do computador que interfere na concentração leitora e a utilização do mesmo suporte (o computador) para mais do que uma tarefa em simultâneo (ler e responder). Apesar de especularem quanto à fadiga inerente ao contacto continuado com um monitor, os procedimentos a que obedeceu a experiência em análise não permitem extrair resultados claros neste aspeto em particular.
Entre os vários outros trabalhos mobilizados por estes investigadores escandinavos - Anne Mangen, Bente R. Walgermo e Kolbjørn Brønnick - para discutir os resultados a que chegaram destacam-se aqui dois. O primeiro, intitulado VDT versus paper based (2003), de Noyes & Garland, sustenta a tese de que a informação é melhor transferida da memória de trabalho para a memória a longo prazo quando resulta da leitura em papel impresso, por comparação com a adquirida via ecrã. Por outras palavras, o conhecimento resulta melhor com o papel lido do que com a leitura em monitor de computador ou de outros suportes congéneres. O segundo, designado Metacognitive regulation of text learning: On screen versus on paper (2011), de Ackerman & Goldsmith, compara o desempenho cognitivo que resulta daquilo a que os seus autores chamam OSL - On-screen learning, por um lado, e OPL - On-paper learning, por outro. Concluem neste documento que, quando autorregulado, o estudo OPL é, em termos de aprendizagem, mais eficaz que o OSL, ainda que, sendo externamente controlado (por um professor, por exemplo), não haja alterações significativas no desempenho cognitivo. Considerando-se, no entanto, que o paradigma educacional é mais hoje o da aprendizagem do que o do ensino, é fácil concluir, no capítulo da aprendizagem, a superioridade do OPL face ao OSL. Como afirmam os seus autores, os dispositivos eletrónicos parecem estar mais vocacionados para "a leitura rápida e não aprofundada de pequenos textos, tais como notícias, e-mails, etc."
Confirma-se, enfim, a hipótese que estava na base do estudo Reading linear tests on paper versus computer screen: Effects on reading comprehension: a de que a compreensão do lido que releva da leitura em papel é muito superior à sua congénere em suporte digital.
Pode consultar aqui o estudo.
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