A publicação dos resultados sobre os exames do 12.º ano em Português e em Matemática demonstrou que os resultados foram maus. Não vamos repetir os números mas, quando esperávamos que os resultados decididamente saíssem do “abaixo de 10”, do “negativo” , eis que eles aí estão a torpedear o nosso otimismo e confiança.
Estes resultados são obviamente e numa primeira leitura desanimadores: contávamos que todo o esforço que foi feito na Educação nos pudesse aproximar dos bons resultados face aos anteriores anos letivos. Mas não foi assim.
Claro que a pergunta que se levanta é: porquê? O que é que falhou para que a média dos resultados não seja, pelo menos, positiva?
Em Ciências da Educação é aceite que os resultados educativos podem ser influenciados por quatro fatores: o contexto, o conhecimento, o método e o aluno. Certamente que não podemos assacar responsabilidades a um único destes fatores e menos ainda fazer correlações precipitadas sobre a associação da política educacional do Governo que agora nos governa e estes resultados. Há algum poder do Governo mas não tão decisivo que influencie a tão curto prazo resultados como estes. As causas destes resultados são portanto e certamente mais estruturais que conjunturais e multifatoriais. Juntaria três reflexões à discussão:
1. Tem sido falado de que forma o ambiente depressivo e temeroso que vivemos é prejudicial às escolas. Na verdade, a Educação alimenta-se de futuro, de projetos, de sonhos, de realização. O facto de vivermos tempos tão conturbados é certamente um fator que pode ter contribuído para estes resultados. De que forma? Por o ambiente não ser suficientemente motivador para que os estudantes estudassem o que deviam com a motivação que deviam.
2. As escolas, por carência de recursos têm prestado menos e pior atenção aos alunos que precisam de apoio. Sabe-se que todos os alunos podem precisar, em dado momento da sua vida escolar, de um apoio específico para as suas dificuldades. Este apoio não significa repetir as aulas, é antes encontrar formas alternativas de encontrar caminhos em que o ensino se encontre com a aprendizagem. Esta falta de apoios aos alunos que dele necessitam pode ser também uma das razões desta “negativa”.
3. Por fim, falta-nos a certeza que, quando comparamos estes resultados com os resultados de anos anteriores, que estejamos a comparar coisas comparáveis. Várias entidades – até o Júri Nacional de Exames – admitiu que os exames têm sido cada vez mais difíceis e que este facto pode ter influenciado os resultados. Aqui, os exames morrem com o seu próprio veneno: criam padrões que depois não podem alcançar.
Não me parece justo nem correto qualquer tipo de ilações políticas sobre este facto. É certo que a “fixação” que a atual equipa ministerial tem pelos exames – não esqueçamos que foi esta equipa que aumentou o número de exames existentes – nos levaria a sorrir por este rotundo falhanço. Mas que professor poderia sorrir vendo os alunos em situações limite como estas?
Aprendamos com estes resultados duas coisas:
a) não é por haver mais exames que o sistema melhora;
b) não é por se promoverem métodos mais tradicionais que os resultados são melhores.
De resto, penso que toda esta situação nos convoca para discutir como melhorar a educação. Certamente através do fortalecimento da escola, dos professores e das oportunidades de aprendizagem. Ao fim e ao cabo, aquilo que esta desgraçada austeridade nos tem privado.
David Rodrigues
Professor universitário e Presidente da Pró – Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial.
In: Público
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