Sondagem é hoje apresentada. Dados mostram que é preciso criminalizarbullying e stalking, diz APAV.
Alguém lhe envia todos os dias bilhetes ou flores - a mesma pessoa que está sempre a encontrar "por coincidência" nos locais que costuma frequentar, que lhe envia repetidamente emails, que andou a recolher informação sobre si e que você suspeita que é a que lhe telefona às tantas da noite mas não diz nada. Isto é stalking. E significa, no essencial, assédio persistente. A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) apresenta hoje os resultados de uma sondagem feita pela Intercampus sobre stalking, cyberstalking, bullying ecyberbullying. Mais de um quarto dos inquiridos dizem que conhecem alguém que já foi vítima de algum destes fenómenos e 5% assumem-se, eles próprios, como vítimas.
A associação não tem dúvidas de que o problema será mais frequente do que parece. Isto porque a maioria da população (mais de 80%) não conhece o significado de stalking, ao contrário do que se passa com o bullying, ainda que quase sempre reconheça os comportamentos que lhe estão associados. Para além disso, as 1014 entrevistas conduzidas foram presenciais - e as pessoas nem sempre assumem, junto de um entrevistador, o que se passa na sua intimidade, diz Daniel Cotrim, assessor técnico da direcção da APAV.
Muitas das atitudes e comportamentos associados ao stalking e ao bullyingestão tipificados como crime (a agressão física, por exemplo), mas outros não - "Experimente ir à polícia dizer que alguém lhe manda todos os dias rosas caras. Dizem-lhe, provavelmente, que não podem fazer nada até que essa pessoa lhe dê uma estalada. E, no entanto, isso está a ter um impacto terrível na sua vida", diz Daniel Cotrim. Esta é uma das razões que levam a APAV a pedir que stalking, cyberstalking, bullying e cyberbullying sejam considerados crime.
É ainda necessária uma prevenção mais eficaz deste tipo de vitimação "e a promoção de um apoio mais qualificado e efectivo às vítimas deste tipo de situações".
O bullying é o fenómeno mais referenciado (por 88% das pessoas que se dizem vítimas ou que conhecem vítimas). A maior parte dos inquiridos reporta insultos, ameaças ou intimidações e agressões. E na maioria das vezes tudo acontece em ambiente de escola (em 55% dos casos os agressores são colegas de escola). Mas não só. Em algumas situações (13%) é um vizinho, em 10%, um desconhecido... Mas o bullying, garante Cotrim, também acontece frequentemente no local de trabalho.
Outra das perguntas feitas foi: "Com que frequência ocorre a situação?" Em 41% dos casos a resposta foi "diariamente", sendo que 53% das situações referidas duraram até um ano.
No stalking a violência mais relatada é a psicológica (ameaças, por exemplo), no cyberstalking a colocação de comentários indesejados em blogues e/ou redes sociais. No bullying o mais comum é o insulto e a intimidação e nocyberbullying as injúrias e a importunação. As vítimas procuraram apoio (57%), sobretudo, junto de familiares.
Comportamentos do stalker
Muito frequentes: recolher ou reunir informações sobre a vítima; enviar bilhetes e SMS; observar/perseguir, fazer esperas; espalhar rumores
Presentes em metade das situações: danificar bens pessoais da vítima; ameaçar (directamente ou de forma implícita ou simbólica); deixar flores/animais mortos ou outras coisas obscenas em casa ou no carro da vítima
Em 25% das situações: agredir fisicamente a vítima; violar ou tentar violar a vítima;
Em menos de 2% das situações: matar ou tentar matar a vítima.
Por Andreia Sanches
In: Público
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