Carlos apaixonou-se. Tudo aconteceu no último campo de férias promovido pela Associação Spina Bífida e Hidrocefalia de Portugal. Durante 10 dias, ele, do alto dos seus 13 anos, arranjou uma namorada – que mantém pelo Facebook –, fez amigos, deu inúmeros mergulhos na piscina, cantou karaoke, foi à discoteca, fez caças ao tesouro e por alguns dias esqueceu-se que havia uma cadeira de rodas, que era doente, que dependia da mãe, que mora num prédio sem elevador, que apenas alguns meses antes esteve entre a vida e a morte num hospital. Mas não foi só a vida do Carlos que mudou. Foi a de outras 30 crianças e das suas famílias – e isto só este ano.
Maria Isabel Dias da Costa Malheiro, Professora da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e Presidente da Associação Spina Bífida e Hidrocefalia de Portugal, lembra: “O projeto surgiu para que estes miúdos aprendessem a cuidar de si, a ser autónomos nas atividades de vida diárias – no vestir, despir, fazer higiene – e quanto mais pequeninos aprenderem estas coisas menos repercussões têm ao nível da integração escolar.
O projeto tem por isso como objetivo capacitar estes miúdos para serem autónomos, para poderem entrar na adolescência com autonomia e serem independentes na vida adulta”. Para tal, o campo não é só brincadeira. Todos os dias de manhã há sessões – sempre diferentes – que englobam desde o que é a espinha bífida, às necessidades, à higiene e o banho, ao vestir e despir, às úlceras de pressão ou às feridas e à algaliação. “Não só é dada uma breve lição mas são também levantados os problemas que eles sentem.
Na parte da tarde há atividades desportivas porque são miúdos muito sedentários, que têm poucas possibilidades de fazer exercício físico”, lembra Isabel. E os resultados estão à vista: “Quando faço a avaliação e falo com as mães, elas dizem que as coisas mudaram completamente. Agora chegam a casa e os filhos têm tudo feito! Uma delas até me disse que arranjou namorado porque o filho já não precisava dela 24 horas por dia, outra começou a trabalhar – nunca tinha trabalhado na vida. Portanto, isto também tem muitas mudanças em termos da vida das famílias”.
Para tornar tudo isto possível são necessários 20 mil euros, que o ano passado foram suportados pela Missão Sorriso. Nádia Reis, representante deste projeto, relembra: “Nestes últimos 10 anos já doámos cerca de sete milhões de euros, o que é muito significativo; já oferecemos apoios e equipamentos a mais de 90 instituições. Estamos a falar de mais de 2100 equipamentos hospitalares. Mas consideramos que estes 10 anos ainda são poucos e este estamos muito expectantes para o que aí vem”.
Já está à venda o livro da Leopoldina por três euros. Metade vai para ajudar o Carlos, a Associação Espinha Bífida e outras 270 associações que este ano se inscrevem com projetos na Missão Sorriso, de Norte a Sul do país. Porque a solidariedade não se faz só no Natal.
Por Patrícia Cintra
Por Patrícia Cintra
In: Sol
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