quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Alunos portugueses mostram como em pouco tempo é possível melhorar

De três em três anos a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) repete o exercício. E avalia o estado da literacia dos alunos de 15 anos, em três áreas-chave. Os últimos resultados trazem boas notícias para Portugal. O país está a conseguir melhorar os seus resultados a Matemática — à média de 2,5 pontos ao ano. E desde 2009 subiu três posições no ranking da organização, aproximando-se da média internacional.

Mais do que uma comparação entre o que se passou em 2009 e 2012, a OCDE analisa a evolução dos conhecimentos e competências dos alunos de 15 anos ao longo de cerca de uma década. Em 2003, lê-se num relatório divulgado nesta terça-feira, Portugal estava, no que à Matemática diz respeito, abaixo do Luxemburgo, dos Estados Unidos, da República Checa, da França, da Suécia, da Hungria, da Espanha, da Islândia ou da Noruega. Em 2012, “o país alcançou-os”.

A OCDE sublinha ainda que Portugal é um dos que conseguiram, simultaneamente, duas coisas: reduzir o universo dos alunos que se saem muito mal neste tipo de testes de literacia e aumentar o número dos jovens que se destacam muito pelo positiva (os chamados “top performers”). Isto aconteceu tanto na Matemática, como nas Ciências.

Estas são apenas as primeiras conclusões do PISA 2012, um estudo internacional que é repetido de três em três anos. As suas dimensões são, no mínimo, raras: participaram, desta vez, 34 países da OCDE, mais 31 países e zonas económicas que não fazem parte da organização.

No total, foram avaliados 510 mil alunos dos 28 milhões de jovens de 15 anos que frequentam as escolas do universo analisado. Só em Portugal participaram 5700. Todos fizeram os testes em 2012 — provas com perguntas de escolha múltipla e outras que pediam respostas desenvolvidas. Em cada escola que entrou no estudo os alunos foram escolhidos aleatoriamente.

O objetivo essencial do PISA é este: avaliar a forma como os alunos de 15 anos aplicam conhecimentos e competências de Matemática, Leitura e Ciências quando identificam, interpretam e resolvem problemas que os colocam perante situações da “vida real”.

O relatório que tem como título “O que é que os estudantes sabem e podem fazer: desempenho dos alunos a Matemática, Leitura e Ciências” mostra o seguinte: tal como aconteceu na Matemática, também no que diz respeito às competências de Leitura, os alunos portugueses melhoraram — e a OCDE destaca igualmente esse facto logo na introdução do primeiro de seis volumes que aprofundam os resultados.

Mesmo nas Ciências a evolução anual tem sido positiva — ainda que tenha abrandado de 2009 para cá.

Crescimento anual

Um olhar para as posições de Portugal nos rankings das três áreas-chave (ver gráficos) mostra o seguinte: desde a última avaliação que tinha sido feita, em 2009, a pontuação média obtida por Portugal na Matemática manteve-se (487 pontos tanto em 2009 como em 2012); na Leitura baixou de 489 pontos, em 2009, para 488, em 2012; e nas Ciências passou de 493 para 489 pontos. A que se deve, então, tanto destaque para o caso português?


A OCDE põe o foco noutro indicador, que não o da mera comparação das pontuações obtidas em 2009 e em 2012: trata-se da “evolução anualizada”. Basicamente, a organziação tem em conta os resultados dos alunos em todas as levas de testes feitos desde que os países participam no PISA, calculando a evolução ano a ano de cada país. “É uma medida mais robusta do progresso do país/região económica”, do que a comparação dos resultados obtidos nos testes a cada três anos, lê-se no relatório.

É com base neste cálculo da evolução anual que a OCDE diz que há um grupo de países onde os alunos melhoraram a Matemática, desde 2003, mais de 2,5 pontos ao ano (o que aconteceu também na Itália e na Polónia). Em 25 países não houve mudanças e em 14 os alunos estão a piorar.

Na Leitura e nas Ciências, Portugal melhorou cerca de dois pontos por ano em média — desde 2000, no primeiro caso, e desde 2006, no segundo.

Em síntese: “Brasil, Dubai (Emirados Árabes Unidos), Hong Kong (China), Israel, Macau (China), Polónia, Portugal, Qatar, Singapura, Tunísia e Turquia têm melhorado a sua perfomance média a Matemática, Leitura e Ciências, ao longo da sua participação no PISA, o que mostra que mesmo num curto espaço de tempo é possível melhorar de forma abrangente”, diz a OCDE. (...)

Menos desigualdade

A OCDE sublinha, no entanto, que nem todos os países estão em pé de igualdade — e que isso deve ser tido em conta na hora de analisar os rankings. Por exemplo: em Portugal, no Chile, na Hungria e em Espanha mais de 20% dos alunos avaliados pertencem a grupos socioeconómicos mais desfavorecidos. Na Turquia são 69%. Qualquer um destes países, lê-se no relatório, “enfrenta desafios maiores do que, por exemplo, a Islândia, a Noruega, a Finlândia e a Dinamarca, onde menos de 5% dos alunos são desfavorecidos”.

Mesmo assim, como já se disse, Portugal conseguiu reduzir o hiato entre os alunos que pior se saem nos testes (ou seja, dos que estão abaixo do nível 2 numa escala que vai até seis) e os que melhor se saem (nível 5 e 6). Em 2003, 30% dos alunos de 15 anos estavam nos patamares mais baixos de literacia matemática; em 2012, a percentagem foi de 24,9% (uma descida de 5,2 pontos percentuais).

Ao mesmo tempo, 10,6% dos alunos conseguiram ficar no nível 5 ou mais, contra apenas 5,4% em 2003 (uma vez mais, 5,2 pontos percentuais de diferença). Esta evolução teve lugar, sobretudo, no período compreendido entre 2006 e 2009, sublinha o relatório.

Em média, na OCDE, 13% dos alunos estão no nível 5 e 6. A Coreia é o país com mais “top performers” – 30,9%. Fora da OCDE, Xangai destaca-se com 55,4% dos alunos a conseguir obter os resultados máximos nos testes.
In: Público por indicação de Livresco

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