Era uma vez uma mãe que me dizia, "O Tiago desde que toma os comprimidos anda melhor, já não grita que nem um maluco todo o dia", o Tiago levantou os olhos do chão e disse "Eu não sou maluco". A Mãe não o ouviu. Fiquei, aliás, com a sensação de que o Tiago gritava porque as pessoas à volta seriam um bocado surdas, não o ouviam.
Era uma vez uma Mãe que me dizia, "Este meu David é mesmo burro não é nada como a irmã que aprende tudo com facilidade". Talvez o David tenha desistido de aprender para não contrariar a mãe, alguns miúdos ficam assim, não gosta de contrariar os pais, aprendem a ser burros. E a ser infelizes.
Era uma vez uma Professora que me dizia "Olhe, aqueles três ali são mesmo destituídos, não há nada a fazer". Na verdade, aqueles Miúdos que estavam com ar triste a olhar para mim lá de um canto da sala não tinham nada para fazer, não havia nada em cima da sua mesa de trabalho enquanto os outros desenvolviam algumas tarefas. Há miúdos assim, só atrapalham, não há nada a fazer.
Era uma vez um Pai que me dizia, "Já lhe expliquei mil vezes que vai estudar o que eu lhe disser, tem emprego na empresa, e não aquilo que ele meteu na cabeça e que não serve para nada". O Miúdo ainda me tentou dizer que adora música e gosta de tocar e queria aprender a sério mas que o Pai não o deixa, quer que estude engenharia.
Era uma vez um Professor que me dizia, "É tal e qual o irmão, sem jeito nenhum para a escola, mas a verdade é que não podem ser todos inteligentes, não podemos fazer milagres". A cara do miúdo fez-me pensar que só mesmo um milagre o livraria do destino que trazia na mochila.
Estas histórias são mesmo improváveis. Evidentemente.
José Morgado
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