Segue um texto, recebido por correio eletrónico, de um pai cujo filho, com Epilepsia (crises tipo ausência), está desempregado, apesar da formação que possui. O desabafo expõe as fragilidades do sistema e os dramas vividos na primeira pessoa.
O meu filho, tem 28 anos, é Mestre em Gestão de Recursos Humanos (2011) e Licenciado em Economia (2009), pela Universidade Técnica de Lisboa-ISEG. É também associado da Associação Portuguesa de Epilepsia (EPI), que está a tentar ajudá-lo através do Gabinete Pró-Emprego. Encontra-se também inscrito no IEFP, desde 2009, ano em que acabou a licenciatura.
A vida do meu filho tem sido uma decepção enorme. Envio de muitos currículos e entrevistas sem êxito, e quando existe entrevista a resposta é invariavelmente sempre a mesma: “as provas foram boas, mas não foi o escolhido”. Na verdade, nunca lhe dizem o porquê “da não selecção”, se não esteve à altura do exigido, se outros candidatos eram mais apelativos, ou se a epilepsia foi determinante para não o seleccionarem, apesar de saber que não é nenhum factor de bloqueio, de aplicação prática das suas competências humanas e profissionais.
Por seriedade, não pode esconder que tem epilepsia. Está controlada apesar das vulnerabilidades decorrentes.
Repare que, para tantos jovens de hoje, existe cada vez mais um adiamento prolongado na integração e participação na vida activa. Estudaram, desenvolveram aptidões intelectuais e cívicas em instituições de ensino consensualmente credíveis. Por isso, sentem que o desemprego a que estão obrigados é uma provação e isso desvirtua-os como pessoas. Na verdade, a imagem criada de uma juventude sem responsabilidades, sem laços de compromisso e sem solidariedade, é intolerável, levando a que os jovens vivam cada vez mais um adiamento angustiante e restrito, no acesso ao mercado de trabalho.
(...) todos somos feitos de histórias. Histórias boas, difíceis, engraçadas, tristes, diferentes histórias. No entanto, a história do meu filho já não depende só da sua vontade, das suas competências académicas, das qualidades pessoais, ou da determinação que é necessário ter para enfrentar sozinho estes complicados tempos, e se a vida está complicada para os jovens, imagine para quem tem alguma incapacidade por pequena que ela seja.
1 comentário:
Deste texto sobressai a angustia de um pai que não consegue ver o seu filho conseguir o lugar no mercado de trabalho pelo qual lutou durante muitos anos. É impossível que uma pessoa que anda há 5 anos à procura de trabalho mantenha a esperança e até os conhecimentos que adquiriu no curso. O tempo desanima e com o desânimo acabamos por perder o incentivo e com este vai-se diluindo a auto-estima. Pena que o país não se aperceba dos problemas que estão hoje a ser criados e que acabarão por estoirar no futuro. Este pai diz que o filho, por seriedade, não esconde que tem epilepsia mas, eu acho, que este pormenor não devia ser referido porque não interfere na produção. Penso que este pormenor pertence à vida privada e num mundo onde as oportunidades são escassas, onde o jogo de interesses vale mais que as capacidades, onde a cunha dá cartas ao mérito não dizer que se tem epilepsia é falta de seriedade? Pelo que li, apesar da descrença do pai no futuro, este filho tem o seu apoio, que será uma grande ajuda para enfrentar a desilusão que a espera cria. Que podemos esperar de um país que maltrata os seus velhos e desaproveita a juventude? Espero que este jovem consiga, o mais depressa possível, encontrar o emprego que necessita porque neste caso tempo é saúde mental que temos que manter para viver felizes. Os meus cumprimentos aos dois.
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