O texto que se segue, acedido através do FB, relata, na primeira pessoa, situações de inclusão vividas numa escola. Há vários aspetos a considerar, a questionar, a refletir. Sem querer relevar algum deles, porque todos são importantes, permito-me apenas questionar se o atual percurso traçado ao nível da política educativa é um avanço ou um retrocesso, ao ponto de nos virmos a confrontar com situações idênticas às descritas abaixo.
Quando o Iuri, aos 13 anos, voltou a Setúbal, foi matriculado na Escola Básica 2/3 de Aranguês. Para além da escola da área de residência, era considerada a escola de referência em educação especial para o concelho inteiro. Contudo, não havia Sala Estruturada, nem Unidade de Autismo, nem sequer técnicos de educação especial. A Directora de Turma, uma miúda acabada de sair do Instituto Superior de Ensino, contratada, ficou de cabelos em pé, literalmente, quando tomou conhecimento da admissão do "menino autista". Facilmente obteve a mesma insatisfação dos restantes professores da Turma e, o Iuri antes de entrar na escola já era um problema.
Durante o 1º período, do 7º ano, o Iúri ficou em casa à espera que a escola se munisse das condições necessárias para recebê-lo. Projectaram-se obras, contratação de pessoal técnico qualificado, e a escola parecia um galinheiro em alvoroço. Mas, a mãe (eu) tinha arranjado emprego e aquela situação não poderia manter-se.
Foi então que, uma ex-professora de Geografia do meu filho Claudio, se interessou pelo caso e assumiu a responsabilidade de aceitar o Iúri, passando a ocupar-se exclusivamente dele. Mesmo sem as obras sequer iniciadas, criou-se um Plano de Educação Individual, copiado dos anteriores na Marinha Grande, em que a professora acompanharia o Iuri nas diversas disciplinas. Muito bem, agradou-me a solução!
Mas os professores não queriam o Iuri nas aulas, distraía a atenção dos colegas que o olhavam com curiosidade, assim ele passou a seguir a professora como uma sombra nas reuniões de professores, enquanto a professora pesquisava na internet, enquanto elaborava documentação para constituir o processo do aluno como manda a Lei, que ela desconhecia mas que fazia questão de se informar para fazer tudo a preceito e bonitinho e, quando tinha que se ausentar da escola ou nos dias em que faltava, o Iuri ficava na biblioteca, sentadinho no sofá ao lado da funcionária. Quando se juntavam vários funcionários na frente dele, a olharem para ele como "coisa rara", a falarem dele ou para ele como se fosse um coitadinho, o Iuri não gostava e manifestava-se da forma habitual: levantar as mãos, sacudir o cabelo para trás. Esse comportamento deixava-os muitos assustados, desconfiando que a qualquer momento ele pudesse ser perigoso e revelar-se um psicopata... e era um teatro deplorável, só de apreciar... imagino eu, como se sentiria o alvo.
Mediante esses receios, a professora socorreu-se da médica pedopsiquiatra que por minha iniciativa seguia o Iuri no Departamento de Higiene Mental do Hospital de Setúbal, para a incentivar a receitar-lhe aquele medicamento milagroso de que lhe tinham falado os colegas e que dava pelo nome de Ritalina, de forma a tornar o Iuri mais manobrável, ou seja, dormente (de resto, sofá já tinha para bater a sorna e não incomodar ninguém). Eu opus-me. A médica opôs-se e aconselhou a professora a pressionar a escola para se munir de condições que se ajustassem ao Iuri e não o oposto, porque ele não tinha patologia que justificasse o uso de fármacos. Ainda assim, foram feitas várias tentativas junto da médica, nas minhas costas, para conseguir a tal receita milagrosa.
O ano seguinte, a história repetiu-se apenas com a diferença que se tentaram desenvencilhar do Iuri a todo o custo, tentando "empandeira-lo" para a APPACDM, sem sucesso, por falta de vagas.
Lindo, não é? Deixo as conclusões para vocês. As minhas estão feitas há muito.
Um dia, ao ir buscar o Iuri, sou abordada por um menino (de raça negra) que me chamou de parte e me segredou: "eu gosto muito do Iuri, ele fala comigo, não acredite neles, é tudo mentira!"
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