Para muitas famílias, o Instituto da Imaculada é a única resposta que encontram. A lista de espera tem, pelo menos, 40 jovens, muitos em cadeira de rodas.
O Ministério da Educação reencaminha para o Instituto da Imaculada crianças até aos 18 anos e comparticipa 60% dos custos, mas desde março que está em falta.
"Sete meses sem um tostão é muito tempo", diz a directora, a irmã Ana Rosa, que lembra que tem muitas despesas para pagar: "As crianças precisam de comer, temos o Banco Alimentar que nos dá alguma ajuda, mas não é tudo. Depois temos os técnicos, professor de educação física e psicomotricidade, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, terapeuta da fala, professor de musicoterapia, e depois os professores e educadores das salas". Ou seja, muitos salários para pagar.
O ano passado só o custo com as 30 crianças enviadas pelo Ministério ultrapassou os 13 mil euros por mês. Este ano foram reencaminhadas 33.
"Se não precisasse deste trabalho não encaminhava meninos, e está a encaminhar", diz a irmã Ana Rosa, para quem não chega que lhe digam do ministério que o assunto está "a ser tratado".
A directora já contactou o Provedor de Justiça, já falou com o Patriarca de Lisboa e promete não baixar os braços. "Vamos ver, acredito que vão pagar com retroactivos tudo direitinho, porque isto não é brincadeira", diz.
Já a segurança social, com quem o Instituto também tem um protocolo, tem comparticipado sem atrasos os meninos que frequentam o Centro de Actividades Ocupacionais (CAO) e os que residem no Lar de Apoio ao Centro Socioeducativo.
Uma casa especial para meninos especiais
O Instituto tem ao todo 70 utentes e 32 funcionários e já não recebe apenas crianças com deficiências auditivas. "Os surdos já são mais bem acolhidos nas escolas normais e os outros necessitam mais", explica a directora da instituição que tem neste momento "meninos autistas, severos e profundos, meninos com problemas neuromotores e alguns surdos com problemas cognitivos associados".
Para muitas famílias é a única resposta que encontram e há uma lista de espera de, pelo menos, 40 jovens, muitos em cadeira de rodas.
Marisa Ribeiro, coordenadora pedagógica do Instituto da Imaculada, é professora de uma turma de 10 alunos. Garante que numa escola normal os alunos nunca evoluiriam como aqui: "Fala-se muito na integração e na inclusão destes jovens no ensino regular, mas eu continuo a achar que é muito difícil, porque há falta de recursos humanos e materiais. Existem muitos alunos que vieram das escolas regulares para aqui devido a essas lacunas. E aqui nós estamos mesmo preparados só para trabalhar com eles", garante.
Uma opinião partilhada por Miguel Caetano, monitor numa das salas do Centro de Actividades Ocupacionais: "Na nossa sala trabalhamos muito o papel, a colagem, a cartonagem e a simplicidade que lhes dá o papel ajuda-os a valorizarem-se e a sentirem-se melhor naquilo que fazem. Tenho duas crianças em cadeiras de rodas e com multideficiência, tenho outro com um leve autismo. Olhando para estes jovens pensamos 'onde é que eles poderiam estar se não estivessem aqui?'.
Projetos e sonhos
Com a ajuda de algumas empresas e particulares a casa está totalmente adaptada a estas crianças. Tem ginásio, salas para terapia, os quartos são coloridos e alegres, tal como o refeitório, que foi remodelado com a ajuda de um programa de televisão.
Muitos dos trabalhos que são feitos por estes jovens estão à venda e ajudam a instituição. Há noivos, por exemplo, que encomendam aqui as lembranças para oferecer no casamento e no atelier de culinária também se preparam bolachas e doces para vender.
Atento às necessidades da comunidade envolvente, o Instituto da Imaculada decidiu aderiu ao projecto Refood e vai ser, a partir desta segunda-feira, um dos pontos recolha e distribuição de refeições em Lisboa: "Temos aí no nosso quintal uma casinha que era de arrumações, que já se preparou tudo para distribuir aqui às pessoas que vêm cá por volta das 8 da noite buscar todos os dias".
"À sexta-feira os nossos meninos também poderão levar refeições para casa, para ajudar as famílias", diz a irmã Ana Rosa, que tem um sonho maior que gostava de concretizar - construir um Lar Residencial para os meninos que em adultos fiquem sem família. Há três ano o projecto foi avaliado em 500 mil euros. Reconhece que "é muito dinheiro, e não temos". Mas continua a ser um sonho.
In: RR por indicação de Livresco
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