Muitos pais e professores parecem ter desistido de educar os mais novos. É difícil, argumentam, porque não há respeito. O Dicionário Houaiss, que tanto cito, define respeito como “sentimento que leva alguém a tratar outrem com grande atenção, profunda deferência; (…) consideração, reverência; (…) estima ou consideração que se demonstra por alguém ou algo”. No seu volume de Sinónimos e Antónimos, o mesmo dicionário diz que “acatamento” e “consideração” são sinónimos de respeito, sendo os antónimos preferenciais as palavras “desobediência” e “desprezo”.
A palavra “respeito” assume, nos nossos dias, uma conotação passadista. A nível do casal, a justa luta das mulheres pela igualdade transforma-se, por vezes, numa verdadeira batalha, em que a consideração recíproca e a deferência mútua desaparecem por largos períodos. Na família, a hierarquia fundamental para um adequado funcionamento — os pais não podem ser iguais aos filhos — falta muitas vezes e, em certos casos que observo em locais públicos, o diálogo familiar é substituído por gritos e ameaças entre pais e filhos. Na escola básica e secundária, desapareceu quase por completo o respeito entre professores e alunos, para já não falar na autêntica guerra de palavras grosseiras que preenchem os intervalos das aulas. No campo da política, confunde-se frontalidade com agressividade e os debates do Parlamento, em muitos casos pautados por um português medíocre, são bom exemplo de falta de consideração e ausência de deferência entre as diversas forças políticas.
E, no entanto, nos nossos dias, não podemos deixar de educar. É crucial refletir no relacionamento interpessoal e na imagem que deixamos, nos diversos contextos em que nos movemos. A questão é que o desrespeito é só apontado aos mais novos, como se fosse uma característica geracional. Quando há um incidente entre velhos e novos, o mais frequente é responsabilizarmos os jovens e isentarmos os velhos, como se o respeito faltasse apenas num dos lados.
Na vivacidade e vontade de se afirmarem e crescerem, é evidente que muitos adolescentes exageram. Internet e filmes tornaram frequente uma linguagem imprópria e muitos jovens deixaram de diferenciar o que é falar entre si e conversar com pais e professores. Nalguns casos, o consumo de álcool e outros tóxicos diminui a contenção verbal e contribui para frases e desabafos onde se abandonou a consideração pelos mais velhos.
No entanto, os adultos também têm um percurso a percorrer. Esse caminho não pode esquecer o papel como modelos, por isso o seu comportamento tem sempre de mostrar que estão atentos aos sentimentos e necessidades daqueles que os escutam. Os pontos de vista dos mais velhos devem ser transmitidos com firmeza, mas também com respeito e educação para quem os ouve. A escuta de outros pais e educadores com problemas semelhantes é fundamental, porque pode contribuir para uma “aliança de adultos” que torna mais eficaz a resolução dos problemas.
O respeito necessário a uma educação que possa ser eficaz nos nossos dias só pode ser conseguido numa relação construída através de uma consideração recíproca, obrigatória para todas as gerações.
Estes temas não podem faltar na família e na escola. Nada está escrito: só um trabalho persistente de diálogo intergeracional poderá constituir o ponto de partida para uma sociedade onde a estima e a consideração mútuas sejam a base de um melhor relacionamento.
Daniel Sampaio
Fonte: Público por indicação de Livresco
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