Projecto, previsto para Portimão, arrisca-se a ser transferido para Espanha
A criação da primeira escola para sobredotados do país, em Portimão, está a ser travada pela demora das autoridades em licenciar o projecto, que corre o risco de ser transferido para Espanha, dizem os mentores.
O projecto foi entregue à Direcção Regional de Educação do Algarve em Fevereiro, mas até agora não houve resposta.
Desenvolvida por técnicos da Universidade da Criança em conjunto com o Instituto da Inteligência, a escola iria beneficiar directamente 45 alunos do primeiro ano do Ensino Básico. De momento já está definido um grupo de 18 crianças e um segundo grupo está em formação, disse o presidente do Conselho Pedagógico da Universidade da Criança. De acordo com Ricardo Monteiro, mentor do projecto, está tudo a postos para arrancar com a escola, a instalar no início do ano lectivo no complexo da Universidade da Criança, em Portimão, mas o projecto vive um impasse. "Os entraves colocados pelo Ministério da Educação são sobretudo de ordem técnica", afirma. Ricardo Monteiro quer que a escola arranque dentro de dois meses "mesmo que seja com uma licença provisória".
Caso o Ministério e a Câmara de Portimão não dêem luz verde, os mentores do projecto ameaçam transferi-lo para Espanha, país que já se mostrou interessado, afiança Ricardo Monteiro.
A agência Lusa tentou saber junto daquelas entidades o ponto de situação no que respeita ao licenciamento da escola-piloto, mas tal não foi possível até ao momento.
Portugal tem entre 35 a 50 mil crianças sobredotadas
Em vez de apenas um professor, como acontece no sistema convencional de ensino, na escola-piloto cada grupo de alunos teria ao seu dispor uma equipa de onze profissionais, entre psicólogos e professores. As matérias a leccionar iriam desde as habituais, como Matemática ou Português, a disciplinas como "Filosofia para Crianças" ou o ensino de duas línguas estrangeiras, neste caso Inglês e Alemão.
Isto porque segundo o modelo educativo que inspira a Universidade da Criança, a existência de um só professor pode tornar-se "redutora", especialmente para crianças com uma inteligência acima da média.
De acordo com Ricardo Monteiro, estima-se que existam em Portugal entre 35 a 50 mil crianças e jovens sobredotados em Portugal, embora poucos sejam detectados por não haver no sistema escolar meios de os identificar. É exactamente essa uma das missões da Universidade da Criança, criada em Portimão em 2004 e que em parceria com o Instituto da Inteligência faz uma avaliação rigorosa do potencial das crianças, aconselhando igualmente os pais. "Acreditamos que o ensino superior começa na infância", afirma Ricardo Monteiro.
De acordo com o mentor da escola-piloto, uma criança sobredotada tem as mesmas necessidades educativas especiais que uma criança com o Síndroma de Down ou com Autismo, pelo que precisa de um atendimento educacional diferenciado. "Uma criança elevadamente sobredotada não se interessa pelo que se passa numa sala de aula normal já que os desafios que lhe são colocados estão muito abaixo da sua capacidade", afirma. Uma criança com um Quociente de Inteligência (QI) de 140 - sendo que são considerados sobredotados aqueles com QI superior a 130 -, aproveita apenas 50 por cento de uma aula comum, enquanto uma com QI de 170 não aproveita praticamente nada. Estas crianças são muitas vezes hostilizadas pelos colegas, ao que acresce o problema da falta de formação de professores sobre métodos pedagógicos para lidar com crianças dotadas de inteligência acima da média.
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