sábado, 12 de julho de 2008

Aos 11 anos, as crianças portuguesas estão entre as mais baixas e gordas da Europa


Estudo europeu Pro Children

Aos 11 anos, as crianças portuguesas são "significativamente mais baixas" do que a maior parte das suas congéneres da União Europeia e também mais pesadas do que o padrão de referência para a idade. Deste cruzamento resulta que, em conjunto com as crianças espanholas, as portuguesas são aquelas que têm um Índice de Massa Corporal mais acima da norma para a idade, segundo revela o estudo europeu Pro Children, financiado pela UE e concluído em 2007.

Em vez de 17,68 (raparigas) e de 17,48 (rapazes) dados como padrão para a sua idade, as meninas portuguesas de 11 anos subiam para os 19,1 e os rapazes para os 19,4. Dos nove países avaliados no âmbito do Pro Children - Áustria, Bélgica, Dinamarca, Islândia, Holanda, Noruega, Portugal, Espanha e Suécia -, que em Portugal foi coordenado pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação do Porto, só o país vizinho apresenta um desvio parecido. Mas a situação é mais grave por cá. Com base em inquéritos enviados para as escolas e que foram entregues depois aos pais para estes responderem, entre Outubro e Dezembro de 2003, o Pro Children confirmou que o passo seguinte já fora também dado. Dos nove países estudados, Portugal era o que apresentava uma maior prevalência de crianças que, aos 11 anos, tinham peso a mais ou já eram obesas: 30,6 por cento de rapazes e 21,6 por cento de raparigas cabiam numa daquelas duas categorias.

João Breda, coordenador da Plataforma Nacional contra a Obesidade da Direcção-Geral da Saúde, frisa que a prevalência do excesso de peso entre as crianças é hoje uma característica do Sul da Europa. "Está relacionada com a perda dos valores da alimentação tradicional de características mediterrânicas, e também com o baixo nível educacional dos pais", explica, chamando também a atenção para o facto de os países do Norte terem acordado para o problema bem mais cedo. Segundo dados da International Obesity Task Force, no Sul da Europa a prevalência da obesidade infantil situa-se entre os 20 e os 35 por cento, enquanto no Norte está entre os 10 e os 20 por cento.

Pior do que os prognósticos

Em todo o mundo, esta "epidemia do século XXI", como já foi classificada e que, segundo os especialistas, tem vindo a ultrapassar os piores prognósticos, abrangerá 155 milhões de crianças. Na Europa, a expectativa é de que o seu número (22 milhões já terão excesso de peso) aumente ao ritmo de mais 400 mil por ano.

A obesidade é já responsável por seis por cento das despesas de saúde. Em Portugal, dados da DGS situam este patamar nos 3,5 por cento: 235 milhões de euros. No futuro será pior. Um dos principais especialistas portugueses em diabetes, Davide Carvalho, prevê que, devido à obesidade crescente, em 2025 Portugal será o quatro ou quinto país com mais casos daquela doença.

Apesar dos dados já disponíveis, João Breda considera que o diagnóstico da situação em Portugal ainda não está completo. Por essa razão, acrescenta, a DGS tem em mãos três estudos "de grande envergadura e representatividade nacional" que "finalmente permitirão dados fiáveis relativos às crianças em idade pré-escolar, dos seis aos 10 anos, em adolescentes dos 11 aos 16".

Até ontem, o Ministério da Educação ainda não divulgara se e como aplicará o novo programa contra a obesidade anunciado esta semana pela Comissão Europeia, que vai disponibilizar 90 milhões de euros por ano para promover a distribuição gratuita de fruta e legumes nas escolas do 1.º ciclo. Entre as fundamentções para esta acção constam as conclusões do Pro Children, a que o PÚBLICO teve agora acesso. Inquéritos realizados no âmbito daquele estudo mostram que em média só 17,6 por cento das crianças com 11 anos comem a quantidade recomendada pela OMS (400 gramas/dia). Portugal e a Áustria, com 265 gramas, são os que apresentam melhores resultados. O consumo de sopa é um dos grandes responsáveis por esta performance de Portugal que, no entanto, não lhe garante um lugar entre os menos obesos. Os próximos estudos permitirão talvez apurar as razões para esta discrepância, sendo certo que não é a sopa a culpada.

in Público Online

Sem comentários: