Rui Amando Santiago, doutor em Ciências da Educação, defende que os exames do 1.º ciclo do ensino básico que se realizam esta semana provocam nas crianças uma angústia desnecessária.
Foi há 50 anos, mas Rui Armando Santiago, especialista em educação e professor da Universidade de Aveiro, lembra-se bem da angústia que sentiu no dia em que fez o exame da quarta classe na atual Escola Secundária Avelar Brotero, em Coimbra e não na escola primária em Ceira, onde vivia. Por isso, discorda em absoluto do regresso das provas, que se realizam amanhã, 7 de maio (Português) e na próxima sexta-feira, dia 10 (Matemática).
"Quando estava no quarto ano de escolaridade fiz uma série de exames. Para além do exame da quarta classe, que até íamos fazer de gravata ou laço, havia o exame de admissão ao liceu ou à escola técnica. Isso não me trouxe muita vantagem para a minha vida", recordou ao Expresso.
"Estão de volta os exames e imagino a angústia que as crianças estão a sentir. Ao fim de quatro anos de escolaridade, fazer estes exames só pode ser bom para os psiquiatras. Daqui a alguns anos podem ter mais alguns clientes", ironiza Rui Santiago.
"Para os miúdos nem sempre são experiências positivas. Faz lembrar o Estado Novo", acrescenta.
Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Aveiro, Rui Santiago defende que o Governo deveria estar mais preocupado em "não deixar ninguém para trás, não desistir das pessoas".
"É o que me parece que está a agora a acontecer no ensino básico. Está-se a desistir das crianças que têm dificuldades de aprendizagem, que têm necessidades educativas especiais, bem como daqueles que falham, entre aspas", argumenta.
"Não desistir é uma das características que marcam o estado de desenvolvimento de uma sociedade" e no caso de Portugal, sublinha o professor, estamos a retroceder ao período da sua infância.
Pela primeira vez, estas provas valerão 25% da nota final dos quase 107 mil alunos que as irão realizar. Os resultados serão conhecidos a 12 de junho.
In: Expresso
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