Eric Hanushek começou por fazer carreira na Força Aérea dos Estados Unidos, onde tirou a licenciatura. Mais tarde, fez o doutoramento em Economia no Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT, na sigla inglesa). Atualmente é investigador no Instituto Hoover, na Universidade de Stanford e dedica-se a temas da Economia da Educação. Esteve recentemente em Espanha, a convite do ministro da Educação espanhol; e está, esta segunda-feira, em Lisboa, para participar na conferência “Educação, Ciência, Competitividade”, organizada pelo Ministério da Educação e Ciência. A sua intervenção terá como tema “Políticas Educativas para a Qualidade e para o Crescimento Económico”.
Considera que em Portugal estamos a gastar demasiado em educação?
A questão não é se estão a gastar demasiado, mas se os resultados não deveriam ser melhores. Outros países da OCDE que gastam o mesmo que Portugal têm melhores resultados. Portanto, é muito importante para o país melhorar o seu desempenho escolar.
Quanto dinheiro deve um país gastar em educação?
Essa é uma questão política. Convém, no entanto, que o país se esforce para que os seus gastos sejam eficazes.
Mas como é que se pode tornar o sistema eficiente?
A investigação internacional dá algumas pistas: a chave para melhorar o sistema está na melhoria da qualidade dos professores. Para o fazer é necessário dar incentivos às escolas e aos professores. Apesar de ser politicamente difícil é preciso considerar a possibilidade de pagar aos professores pelo seu desempenho. Além disso, é importante que os professores sejam responsabilizados pelo desempenho dos seus alunos. Mais: se os pais tiverem liberdade de escolha da escola, esta vai incentivar as escolas a melhorar a qualidade dos seus professores e a sua eficiência.
É apologista de salas de aula com mais alunos. Em Portugal, o número aumentou para 28. Qual é o número ideal?
A investigação ainda não revelou o número óptimo de alunos por sala. Reduzir o número de alunos por turma é uma das ideias mais caras e que tem revelado ter muito pouco impacto no sucesso dos alunos. O que a investigação sugere é que ter menos alunos por turma, no pré-escolar e no 1.º ciclo, pode ajudar – um pouco – a conquistar melhores resultados. Mas há maneiras melhores de gastar dinheiro em educação do que na redução do número de alunos por turma. A qualidade do professor é muito, muito mais importante que o número de alunos por turma.
Sabemos que a Coreia do Sul ou o Japão, onde as salas de aula podem ter mais de 30 alunos, têm melhores resultados nos testes da OCDE que os EUA ou Portugal. Quando, na sua investigação aponta os casos asiáticos não está a esquecer-se de que por detrás desses números estão factores culturais diferentes?
Um bom professor sabe como gerir uma sala e levar os seus estudantes, mesmo quando eles não estão naturalmente preparados para tal.
Na sua investigação fala de “professores eficientes” e de “professores de qualidade”. São sinónimos?
Para mim, um “professor eficiente” é a mesma coisa que um “professor de enorme qualidade”.
Como é que os define?
A investigação falha na descrição das características ou do comportamento de um “professor eficiente”. Sabemos que há profissionais que, por sistema, são melhores em sala de aula do que outros, mas é difícil descrevê-los. Contudo, é possível identificar quem se está a sair bem e quem não está.
Nas escolas públicas portuguesas, é o ministério que distribui os professores pelas escolas. Portanto, ainda que um director soubesse identificar os “professores eficientes” de nada lhe serviria.
Os directores devem estar envolvidos na administração e gestão do seu pessoal. Deveria ser-lhes permitido escolher quem deve entrar e sair da sua escola. Contudo, isto só faz sentido se o director também for avaliado com base no desempenho dos alunos da sua escola. Os directores devem estar apostados na melhoria dos resultados dos estudantes, mais do que em qualquer outro assunto.
Em que é que um professor “ineficiente” pode prejudicar um aluno?
Um estudante que tem um mau professor pode ficar para trás na sua carreira académica, para sempre. Se não aprender o que está previsto num determinado ano de escolaridade, vai para o ano seguinte com um atraso, o que o pode atrasar cada vez mais.
Então, todos os estudantes são bons se tiverem um “professor eficiente”?
A investigação não é conclusiva em relação a essa questão. Mas parece que um “professor de qualidade” é bom independentemente de ensinar alunos de topo ou de base. O contrário também é verdade: um mau professor prejudica os bons e os maus alunos.
Um professor “ineficiente” pode tornar-se “eficiente”?
A investigação sugere que é difícil melhorar o desempenho dos maus professores. É um investimento que raramente se paga a si mesmo.
In: Público
Sem comentários:
Enviar um comentário