Chama-se Sandra, tem 30 anos e tem um filho autista com 12 anos, o Fábio.
A Sandra chegou até mim completamente desesperada. O seu primeiro desabafo foi "Eu não aguento mais, só me apetece desaparecer!".
Deixei-a falar. Deixei-a expurgar a sua dor. Enquanto isso, tentava mentalmente procurar "soluções" para aliviar a sua angústia e encontrar estratégias para mais tarde as discutirmos em conjunto.
O Fábio nasceu do primeiro casamento. Dado ao desgaste provocado pelo filho, o pai não foi capaz de continuar a sua verdadeira missão e foi para longe, para bem longe, um país distante.
Todavia e apesar da separação, esta mãe redobrou forças na esperança que o Fábio melhorasse, sobretudo, a nível comportamental.
Voltou a casar e a engravidar. O casamento durou quatro anos. O Fábio não aceitava ver a mãe a ser "partilhada" com um outro homem e com outro filho. A convivência entre os quatro era insustentável. Mais uma vez ficou sozinha. Porém, desta vez, a separação foi mais dura, pois o filho mais novo ficou à guarda do pai. Esta decisão foi tomada em conjunto para assegurar o bem-estar do filho mais novo.
"- Mais uma vez, fiquei só com o Fábio! Sinto-me ‘presa' a este filho! Já não durmo, já não como, ando em psiquiatria, os medicamentos não fazem efeito, sinto-me a definhar!". Disse-me ela, num choro compulsivo.
"- Parece que quanto mais tempo passa o Fábio piora! É capaz de estar horas a fio a perguntar-me ‘E porquê? Porquê? Porquê? Porquê?' ao qual eu respondo, ‘Porquê, o quê, filho?' e ele continua, continua, continua.
Pela manhã a pergunta é diferente: "O que vamos jantar hoje? O que vamos jantar hoje?" De nada serve dizer-lhe o que vamos jantar, pois, ele continua : "O que vamos jantar hoje? O que vamos jantar hoje?". Tento por vezes tapar os ouvidos, às vezes grito-lhe: "Para Fábio para!". E depois, fico com sentimentos de culpa. Todos os dias é assim. Não tenho um dia de descanso.
Enquanto a ouvia, pensava: "O que poderei eu fazer?". Não me ocorria nada. Esta mãe, já estava a ser acompanhada por um psicólogo e psiquiatra. Comecei a cruzar a informação entre a mãe e o filho.
O Fábio tinha-me dito: "A minha mãe tem agora um namorado novo, ele é simpático mas a minha mãe é MINHA."
Pois...
Confrontei a mãe com este desabafo do Fábio. Não constituiu novidade para ela. De facto, estava noutro relacionamento...
"- Eu sei que o meu companheiro também não vai aguentar por muito tempo. Ele tem tentado de tudo para cativar o Fábio mas... de nada vai adiantar. Um dia ele vai-se embora como os outros. Até porque o Fábio tornou-se desafiador, já ameaça bater-me... tenho medo! Medo pelo Fábio, medo por mim... e culpa, uma grande culpa por estar longe do meu outro filho."
"- Ele ameaça bater-lhe?" Pergunto-lhe.
"- Sim. Já não é a primeira vez. O ídolo dele é outro menino especial que este ano veio para a turma dele. Este miúdo é altamente agressivo. Já atentou contra um professor e sim... já agrediu a mãe! O Fábio imita-o em tudo! E já me disse que se o Ricardo bate na mãe, ele também pode bater!"
Pois e agora? O que tenho eu para dizer a esta mãe? Porque não tenho soluções, vou tentando soluções até encontrar a aproximação da "solução"!
Esta mãe precisa de ajuda urgente. O Fábio precisa de ajuda urgente. Bem ou mal... defini estratégias quer para um, quer para outro.
Vamos por partes: a mãe!
1.º- Pedi uma reunião com a família próxima e alargada da Sandra. Entre eles, agilizarão um dia por semana para ficar com o Fábio. Assim, a mãe terá, finalmente, um dia de descanso, um dia SÓ para ela.
2.º- Pedi que a mãe solicitasse uma reunião na escola para que no próximo ano o Fábio seja "separado" do Ricardo, para que este não influencie negativamente o comportamento do Fábio.
3.º- A mãe terá de continuar com o acompanhamento médico.
4.º- Estabelecemos um conjunto de regras na sua relação mãe/filho.
5.º- Todas as semanas eu e a mãe iremos reunir para que juntas possamos contribuir para a melhoria comportamental do Fábio.
Agora com o Fábio:
1.º- Trabalhar o comportamento positivo.
2.º- Elevar-lhe a autoestima.
3.º- Motivá-lo para a aprendizagem.
4.º- Trabalhar a "recompensa".
5.º- Trabalhar em "rede" com os terapeutas, médicos e escola.
6.º- Estabelecer um plano de intervenção conjunto.
(...)
Logo se verá! Oxalá, juntos, consigamos devolver a esperança a esta mãe, apaziguar-lhe o coração, sentir-se segura por ela e com o filho e... quanto ao Fábio... tentar cativá-lo para o hábito de um comportamento "feliz".
A ver vamos! Se não resultar... tentaremos novamente...
À Sandra e ao Fábio... Um sorriso muito especial.
Manuela Cunha Pereira
In: Educare
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