Os alunos do 1.º, 3.º, 5.º e 7.º anos serão os primeiros a experimentar, em setembro, um novo programa de Matemática, com influência no ensino asiático e norte-americano, revelou um dos autores do projeto.
Hoje é o último dia para apresentar sugestões ao novo Programa de Matemática do Ensino Básico. Depois, a equipa de especialistas tem duas semanas para analisar as propostas e fazer alterações.
"Já recebemos bastantes propostas, mas ainda não nos debruçamos a analisar, porque queremos que feche para depois nos dedicarmos a cotejar todos os contributos que nos vão chegar", contou à Lusa o professor Carlos Grosso, garantindo que a equipa "vai ter de trabalhar a sério" até 17 de junho, dia em que o documento será homologado.
A coordenadora de matemática da Escola Básica Integrada Mouzinho da Silveira, na Baixa da Banheira, Paula Pires, questiona o pouco tempo definido para analisar as sugestões apresentadas: "A proposta do novo programa ainda está em discussão mas já fomos informados que entra em vigor no dia 17, portanto independentemente da discussão, do que as pessoas pensam, dos contributos das pessoas, ele vai entrar em vigor. Isto parece muito ditatorial".
O especialista rebate as críticas recordando o que aconteceu com as metas da matemática: "Tiveram dezenas e dezenas de contributos e muitos descritores foram alterados e muitos desapareceram, outros corrigidos. Os contributos serviram para melhorar o documento".
A meio da tarde de quinta-feira, não chegavam a três dezenas o número de contributos ao polémico programa de matemática, que foi inspirado no ensino dos países que ficam bem classificados nas provas internacionais de matemática, nomeadamente Singapura e os Estados Unidos.
"Singapura é dos países melhor colocados no ranking internacional e tivemos o cuidado de estudar o que é tratado lá", contou em entrevista à agência Lusa o professor, acrescentando que a equipa de trabalho também avaliou as melhorias registadas nos últimos anos na América.
Fernando Pena, o coordenador de matemática do Colégio Planalto, uma das escolas que no ano passado ficou mais bem classificada nas provas do 9.º ano a matemática, saudou a decisão: "Identificaram-se boas experiências com resultados provados e agora tentamos seguir isso. Nesse aspeto acho que é um excelente desafio para professores e alunos. É fazer algo que sabemos que está em linha com o que de melhor se faz mundialmente".
No entanto, os professores de Matemática criticaram o Ministério da Educação e Ciência por ter optado por criar um novo programa em vez de avaliar e melhorar o existente, que começou apenas em 2007 e só este ano estava a ser aplicado aos alunos do 9º ano.
"Não estão a aplicar uma coisa muito diferente do que faziam. O programa é, em termos de conteúdos, muito semelhante ao que existia. Pontualmente há um ou outro exemplo, mas os meninos continuam a adicionar e subtrair no 1º ano, a multiplicar e a dividir nos anos seguintes e a aprender conceitos de geometria, tal e qual como era. Vão ensinar matemática", desmistificou o autor do programa.
Por exemplo, as translações e as probabilidades vão deixar de ser dadas no 1º ciclo para passar a ser ensinado apenas no 3º ciclo. "O novo programa não tem estimativas e no anterior programa era referido mais de 40 vezes" foi outro dos exemplos apontados.
Carlos Grosso diz que há muita coisa do programa ainda em vigor que se mantém e garante que, ao contrário do que dizem alguns professores, não serão necessários novos manuais: "Não são manuais novos, são ajustados, readaptados. Já tinham sido certificados e agora foram adaptados, com ligeiras adaptações".
O docente garante que é dada liberdade aos professores para ensinar. No entanto, defende, a "matemática é uma ciência com milhares de anos e se nós nos pusermos a tentar descobrir o que foi descoberto nestes milhares de anos, levamos milhares de anos. Não pode ser, não temos tempo".
In: JN
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