Quando perguntamos a um adulto o que é o bullying nas escolas, responde: é uma criança ser agredida, ameaçada, posta de lado, insultada ou humilhada por um ou vários colegas de uma forma repetida e intencional. Mas quando fazemos a mesma pergunta a uma criança, a resposta obviamente já não é tão elaborada. E quanto mais nova a criança, maior é a dificuldade em perceber o alcance da pergunta. Roubar o lanche é bullying? Empurrar um colega ou chamar nomes feios no recreio é bullying ou é uma brincadeira? Empurrar ou roubar uma vez ou várias vezes?
A Associação EPIS fez um inquérito junto de 1963 alunos, entre os 12 e 15 anos, que frequentam escolas em nove concelhos e chegou a duas conclusões. A primeira é que 62% das crianças responderam afirmativamente à pergunta ‘hábullying na tua escola?’. É uma percentagem preocupante, sobretudo numa altura em que além do bullying tradicional, muitas crianças também passaram a estar sujeitas a novos fenómenos, como o cyberbullying, o que faz com que os casos de agressão já não estejam apenas confinados ao horário da escolas, das 9h às 17h.
A segunda conclusão que dá que pensar é que dos alunos que reconheceram haver bullying, metade diz não se recordar de ver ou ouvir nas escolas campanhas de prevenção. Se as acções de sensibilização não estão a atingir o alvo, ou seja, as crianças, elas naturalmente ficam menos habilitadas a identificar, denunciar e proteger-se. Ou seja, antes de responderem à questão ‘há bullying na tua escola?’, as crianças têm de saber o que é o bullying.
Este é um passo prévio que tem de ser dado para que o combate ao fenómeno seja eficaz, seja com gabinetes pedagógicos, seja com psicólogos ou agentes de segurança nas escolas, seja com sanções ou com alterações legislativas e mudanças no estatuto do aluno.
In: Editorial do Público
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