Quando se trata de educação, é verdade que o exemplo vem de cima: da família, dos pais, dos avós, dos irmãos mais velhos. E tão importante é que se reflete na forma como os alunos se comportam nas aulas. A esses alunos, a quem os pais têm o cuidado de bem educar, a quem a família dedica toda a atenção e quer saber o que se passa com eles, não é necessário mandá-los calar.
Não é o falar que incomoda um professor! Tomara este que o aluno participe e seja ativo em relação ao ensino que lhe está a ser ministrado. O problema está quando o aluno fala de tudo o que lhe interessa exceto do que está a ser dado nas aulas, abafando, tantas vezes, a voz do professor, propositadamente.
Podem dizer que é uma questão de autoridade, que o professor tem de se saber impor... E tem, é verdade! No entanto, há alunos cujo exemplo que trazem de casa é tão saliente, tão audaz e claramente protegido que não há quem os consiga fazer calar.
Sou professora há mais de 30 anos, no ensino secundário! Tenho muita experiência com todo o tipo de alunos. E sei e já vi muitas coisas. Já tive de mandar “calar”, já coloquei alunos fora da sala de aula, eu, que me considero uma pessoa afável, tolerante e para quem o processo de ensino-aprendizagem é um ato de deslumbramento! Se me angustia? Tudo isso me deixa “sem chão”. É preciso muito para eu chegar ao meu limite. E, muitas vezes lá, ainda dou espaço a uma conversa a dois: eu e o aluno em questão, no final da aula, uma forma de procurar que tal não volte a acontecer. E tenho sempre fé, é verdade! Porém, há sempre um peso maior: tudo o que esse aluno carrega às costas e despeja nas salas de aula, sem respeito por ninguém, nem pelos professores.
Por vezes, há vitórias. No meu caso, até cheguei a convidar pais a participar nas minhas aulas para que assistissem. Alguns aceitaram o desafio e os resultados foram francamente positivos. Mas nem sempre o puderam fazer. Por outro lado, nenhum professor se deve sentir obrigado a ter de passar por esse tipo de situações. Um professor deve ensinar. Fá-lo-á muito melhor, quando os alunos permitem que ele o faça. Para isso acontecer, os pais, os irmãos mais velhos, a família deve dar-lhes o exemplo, pois o exemplo vem de cima.
Lúcia Vaz Pedro
Fonte: Público
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