Durante a pandemia gerada pela covid-19, nem todas as crianças tiveram acesso a um ensino estruturado. No período de confinamento, durante duas semanas, pôs-se em prática um programa de introdução à alfabetização com sessões online, direcionadas para crianças com cinco anos. O trabalho, desenvolvido pela prestigiada investigadora Patricia Kuhl e uma equipa de investigadores da Universidade de Washington e da Universidade de Stanford, é referido como o primeiro a mostrar a eficácia de um projeto totalmente online ministrado para esta faixa etária.
Os participantes receberam em casa um pacote com os equipamentos e materiais necessários para desenvolver, todos os dias, uma hora de atividades de promoção fonética (exercícios de consciência fonológica, identificação letra-palavra, leitura de palavras, etc.) e uma hora de leitura guiada pelo professor. Em cada semana, dois professores ensinaram em pequenos grupos (com seis membros) durante 2,5 horas diárias (incluindo intervalos). Em cada dia, o treino incluía sessões de aprendizagem de letras, de consciência fonológica, de atividades de integração em dinâmica de grupo, e terminava sempre com uma sessão de leitura de uma história.
Nas atividades participaram, por norma, duas a três crianças e um professor (através de plataformas como o Zoom), mas incluíram-se também exercícios que juntavam todo o grupo (seis crianças e dois professores). O programa de capacidades básicas de leitura teve por base a prática baseada na evidência, adaptando-se para ser integralmente online. Incorporou também atividades de aprendizagem multimodal, através de jogos e movimentos motores grossos e finos. Com estas sessões, as crianças aprendiam duas novas letras por dia, resultando em 20 letras aprendidas no final do programa. O professor introduzia no ecrã a letra e a imagem de um objeto, que começava com o som correspondente. Depois, incentivava os participantes a repetirem o nome da letra, a palavra e o som. Realizaram-se também jogos estruturados e dirigidos pelo professor, e as atividades estavam organizadas por nível de dificuldade, que aumentava no decurso do programa.
As 83 crianças dos grupos experimentais e as 33 do grupo de controlo participaram em quatro sessões online de avaliação, duas de pré-teste e duas de pós-teste, para medir o progresso em relação à leitura e obter métricas sobre os resultados do programa. Os dois grupos não diferiam quanto ao estatuto socioeconómico e as habilitações dos pais, representando contextos de nível baixo.
Os resultados mostraram que as crianças de cinco anos podem beneficiar de um programa de instrução de leitura bem estruturado, mesmo que de curta duração e num formato online síncrono, em que professor e aluno interagem ao mesmo tempo num espaço virtual. Em comparação com os pares sem treino online, os participantes revelaram um aumento significativo das capacidades avaliadas, com destaque para a consciência fonológica.
Um outro dado curioso é que as crianças que participaram no treino online também apresentaram melhorias significativas na descodificação de sons de letras maiúsculas e pseudopalavras, ainda que estas não tivessem sido ensinadas diretamente durante as sessões. Este resultado mostra uma transferência do que aprenderam para outras capacidades cognitivas relacionadas com a leitura.
Fonte: Iniciativa educação
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