Distribuir estudo e prática de recuperação (testes) no tempo beneficia a aprendizagem, mas haverá melhores e piores soluções? Num artigo recente, Alice Latimier, Hugo Peyre e Franck Ramus, da Universidade de Paris, publicaram uma meta-análise de estudos que analisaram os benefícios educacionais de espaçar episódios de prática recuperada. A conclusão é que espaçar a recuperação do mesmo conteúdo aumenta a aprendizagem, independentemente de como se planeia esse espaçamento.
Que a prática de recuperação — testar a informação a ser aprendida — beneficia a aprendizagem é já uma ideia bem estabelecida. Meta-análises recentes mostraram que esta estratégia beneficia a aprendizagem de temas complexos, tanto em salas de aula como no laboratório, e em vários níveis de ensino e áreas de estudo. Se à prática de recuperação aliarmos a distribuição dos momentos de recuperação no tempo, isto é, se introduzirmos intervalos entre os testes sobre conteúdo semelhante, em vez de estudar ou testar o conteúdo em massa, a prática de recuperação parece tornar-se ainda mais poderosa.
Uma das razões apontadas para o êxito do espaçamento é o aumento da dificuldade de recuperação: isso leva a que o aluno tenha de fazer um esforço maior para se lembrar do conteúdo a ser aprendido, o que, por sua vez, torna a sua recuperação mais ativa, ajudando-o a lembrar melhor o conteúdo e a criar mais ligações entre conteúdos, melhorando a compreensão. Outra das razões poderá ser a mudança de contextos (estados mentais, ambiente, etc.) nos quais acontece a recuperação. Espaçar cria, pois, mais pistas de recuperação que podem ser utilizadas no futuro.
Apesar destes benefícios bem estabelecidos, havia ainda duas questões que urgia esclarecer:
quais os benefícios de espaçar a prática de recuperação?
será melhor expandir o espaçamento (aumentar o espaçamento progressivamente até ao teste final, por exemplo: os testes sobre o mesmo conteúdo são inicialmente espaçados um dia, depois uma semana, depois um mês) ou manter um espaçamento uniforme (por exemplo, todos os testes espaçados uma semana)?
Foi precisamente para responder a estas questões que Latimier e os seus colegas fizeram esta meta-análise. Para maximizar a relevância dos seus resultados em contextos educacionais, os autores focaram-se apenas em estudos com estímulos semânticos e verbais (incluindo problemas de matemática) e excluíram estudos que envolviam perceção ou motricidade. Depois de pesquisarem nas bases de dados de artigos científicos os artigos publicados até 2017 que incluíam manipulações de espaçamento e permitiam responder às questões referidas, Latimier e os colegas conseguiram incluir na sua meta-análise 29 estudos. Destes, extraíram 39 comparações de interesse relativas à primeira questão e 54 relativas à segunda.
Os resultados obtidos indicaram que espaçar a prática de recuperação resulta nitidamente em maior aprendizagem do que aplicar a prática de recuperação em massa (com um efeito agregado médio considerado elevado), mas que não existem diferenças entre expandir ou uniformizar o espaçamento. No entanto, Latimier e os colegas analisaram também os fatores que podem contribuir para diferentes resultados do espaçamento. Esta análise revelou que, quando os participantes eram expostos mais de quatro vezes ao mesmo conteúdo a ser aprendido, expandir o espaçamento era ligeiramente mais benéfico do que mantê-lo uniforme. Os resultados de ambas as análises não foram influenciadas por outros fatores, como o nível de educação dos participantes, o tipo de testes utilizados, a existência de feedback ou o tipo de material a aprender.
O que significam estes resultados na prática? Testar alunos com frequência e espaçar temporalmente a sua exposição aos mesmos conteúdos ou testes parece ser uma estratégia poderosa para aumentar a aprendizagem. Não será tão importante como se promove esse espaçamento. No entanto, os autores deste estudo chamam a atenção para a necessidade de fazer mais experiências com diferentes espaçamentos entre episódios — quer de estudo, quer de teste —, para avaliar se há tipos de espaçamento mais benéficos do que outros. Para já, parece que, desde que haja espaçamento, poderá beneficiar-se a aprendizagem.
Ludmila Nunes
Fonte: Iniciativa Educação
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