O paradoxo da escolarização sem fim [e uma ENORME interpelação]
Diferenciar é dar aos alunos mais desprovidos ocasiões de aprender, de agir e de interagir. Não significa necessariamente encarregar-se deles de modo individual, nem colocá-los em uma relação de assistência ou de apoio pedagógico, mas interessar-se por eles muito de perto, acompanhá-los continuamente, mesmo que seja de longe, mantê-los sob o olhar do professor, mesmo que benevolente.
Ora, uma parte do problema do fracasso escolar é o "excesso de escola", isto é, a recusa a ser constantemente reconduzido a um status de aprendiz, cujo único trabalho é o de superar sua ignorância (com vistas a um futuro que, como lhe prometem, será mais cor-de-rosa se ele tiver mais instrução).
Illich (1970) demonstrou até que ponto nossas sociedades são escolarizadas. Em outra obra, tentei analisar os efeitos perversos da "obsessão de instruir a juventude pelo seu bem" (Perrenoud, 1985d, 1994a), ou sugeri que a avaliação formativa era um avatar da ideologia panóptica (Foucault, 1975) ou do fantasma da glasnost pedagógica (Perrenoud, 1991a).
Não podemos omitir que diferenciar o ensino é aumentar a pressão sobre os alunos, lutar contra as estratégias de comunicação (Sirota, 1988) ou contra as estratégias de fuga que permitem que todos os alunos, sobretudo os menos felizes na escola, se protejam um pouco (Perrenoud, 1988b, 1994a). A diferenciação pedagógica corre o risco de acentuar o caráter de instituição total (Goffman, 1968) da escola, tentando identificar e controlar - por uma boa causa? - os processos mentais, as angústias, as vontades, o desejo de poder, as dinâmicas relacionais ...
De modo mais banal, a pedagogia diferenciada entra em conflito com o desejo dos alunos de fazer "apenas o necessário" para ter paz e, no melhor dos casos, progredir sem surpresas no curso. O "pode melhorar" dos boletins escolares não traz consequências. É mais difícil tentar, concreta e insistentemente, aumentar os esforços suplementares dos alunos que, mesmo que seja uma estratégia de vida curta, aspiram a rir ou a não fazer nada!
Philippe Perrenoud
Fonte: Publicação no FB de José Matias Alves
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