Quando me lançaram este desafio, foram vários os temas que me ocorreram desbravar a propósito da “Educação”, ou melhor, do que podemos construir em conjunto em prol da mesma. O que me levou à reflexão que tenho feito em conjunto com professores, diretores de Escola, auxiliares de educação, alunos, encarregados de educação, psicólogos, presidentes de associações, ONG e colegas de trabalho.
A forma como hoje em dia estamos organizados enquanto sociedade quase que nos impossibilita parar, olhar para nós, e perceber que há muito que deveríamos ter tempo para pensar. Que o trabalho deveria ser uma parte do nosso dia e não o nosso dia.
Que ser somos nós, que não criamos as melhores condições para viver, ou não privilegiamos o pensar em vez do agir de forma autómata? Que ser somos nós, que criamos as “máquinas” e vivemos apavorados com o que elas nos podem fazer, como se fossem oriundas de um planeta distante? Como vemos a tecnologia, a nosso favor ou será o inverso? Ora, se somos nós que a desenvolvemos, a resposta deveria ser fácil, mas vivemos num período de incerteza que nos leva a colocar mais questões em vez de termos respostas.
E isto leva-nos a mais uma pergunta: como podemos pensar num ensino à distância se grande parte dos núcleos familiares está completamente desagregado? Onde está “uma Vila inteira para criar uma criança”? Temos de recriar esta Vila. Está ao nosso alcance enquanto encarregados de educação ou apenas enquanto cidadãos, o dever de transformar a sociedade e sermos nós próprios a criar e a impor regras, especialmente no que se refere aos horários laborais? É incomportável continuar a trabalhar 12 a 18 horas por dia e achar que está tudo bem. Fizemos das escolas “repositórios” de crianças. Algo que já deixámos para trás e que temos de recuperar o quanto antes. Enquanto pais, filhos, profissionais, estudantes, cidadãos.
E a altura só poderia ser esta. Porque o problema que vivemos hoje atinge todas as pessoas de forma indiferenciada, e não nos permite olhar para o lado e fazer de conta que não nos afecta. Parece pois que temos novamente um desafio à Humanidade: a construção de novos modelos sociais, e é neste contexto que faz sentido equacionar o tema da educação. E a sensação é quase avassaladora de que está tudo por fazer. Mas se assim é, temos também a melhor oportunidade de sempre para fazer bem desde o início. Fazer bem obriga a que se construam consensos, e uma tomada de consciência colectiva.
Temos consciência da existência de uma identidade real e virtual? “Mas agora existem dois mundos, claramente distintos, duas entidades completamente e verdadeiramente nos antípodas uma da outra, e a tarefa de os reconciliar de os obrigar a sobreporem-se faz parte das competências que a arte de viver no século XXI exige que adquiramos” (BAUMAN, Zygmunt in Nados Líquidos, Lisboa, Relógio D´Água, 2018).
Daqui se pode percorrer todo um caminho que nos leva à sala de aula. A forma como o digital é integrado na Educação e como estamos a educar e somos educados para esta era digital. As empresas também devem ter um papel nesta transformação da sociedade, que permita formar os trabalhadores em temas como a inclusão e educação, porque isso traduz-se em pais tranquilos que, por sua vez, são colaboradores mais produtivos.
São várias as escolas que percorreram o caminho digital no seu método de ensino e que utilizam a tecnologia para representar tanto no domínio da técnica como da funcionalidade através do desenvolvimento e da utilização de ferramentas no futuro. Muitas escolas já se encontravam totalmente preparadas para esta mudança, e mais escolas ficarão aptas a transformarem a forma como transmitem conhecimento e desenvolvem as competências dos seus alunos neste mundo cada vez mais digital. Nuno Moutinho, Director-Geral da Escola Global, afirmou: “nós estávamos prontos no dia a seguir para começar remotamente”. E esta prontidão e tempo de resposta fez toda a diferença.
Os desafios são diferentes de escola para escola, e de aluno para aluno, e não existem varinhas mágicas que nos digam qual é o método mais eficaz para todos os alunos. Porque o que pode ser eficaz para um, pode não o ser para outro. Existe uma tecnologia que, ao serviço de um bem maior e quando utilizada para acrescentar valor, permite ao professor, após um investimento inicial, sempre necessário em tempo de mudança, exercer o seu papel de ensinar em toda a dimensão.
Porque ao pensarmos a transformação da Educação, temos de equacionar o seu papel à luz da sociedade de hoje. A Educação é, tem de ser, o principal veículo de transformação da sociedade.
A escola como o centro de uma comunidade. A escola como a “Vila para criar uma criança.” Vejo pois a Escola como um local de apoio aos pais, à sociedade em geral. Vejo os professores como uns dos profissionais mais poderosos da nossa actual sociedade.
Este é o desafio de transformação que se coloca a todos nós, em especial aos professores, diretores de Escola, auxiliares de educação, alunos, encarregados de educação, psicólogos, presidentes de associações, ONG e colegas de trabalho.
Sandra Martinho
Education Industry Lead da Microsoft Portugal
Fonte: Observador por indicação de Livresco
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