Neste tempo conseguir falar com algum familiar internado com ou sem covid é tão procedimental e tão complexo como ligar para um repartição de finanças ou segurança social. É factualmente necessário, mas humanamente difícil. Sabemos que é temporário (assim o esperamos) e por isso, no meio da dificuldade, todos dão o seu melhor. E num momento excecional é o poder comunicar (de que forma for) que importa.
Esta imagem atual é uma analogia interessante para a nossa escola “temporária”. Todo o processo de adaptação (é) foi complexo. A comunicação continuou a fluir. Redesenhada, mas não parou.
Existe, por um lado, quem ficou convictamente parado no século passado e não compreende a inevitabilidade para o bem e para o mal da importância do mundo digital, assim como quem assume que a escola não evolui desde a revolução industrial revelando um desconhecimento de inúmeros exemplos que contradizem esta assunção na escola atual. Dizer que a escola ficou presa neste paradigma (assumindo que existem ainda resquícios sim) entra na categoria de cliché de bolso idêntico à frase “Queremos paz no mundo.” Por não conhecermos o terreno é comum recorrermos à última imagem que conceptualizamos.
Mas vamos a alguns factos que devem, no meu entender, ser consensuais:
A utilização das novas tecnologias na Escola não é novidade. Depender apenas da sua utilização para exercer a sua função, sim.
Nada pode, nem poderá substituir as aulas presenciais, porque naturalmente nada substitui a relação pedagógica. A proximidade, sem ecrã pelo meio, é onde reside a maior percentagem do sucesso. E por isso será no meio do caminho que poderemos encontrar o equilíbrio.
A utilização de aulas online permitiu, durante um período de tempo, absolutamente atípico, um espaço de normalidade que se quis isto, não um espaço de campeonatos ou campeões.
A Telescola foi a melhor medida universal permitindo que todos pudessem, mais facilmente, aceder às aulas com mais rap, menos rap, mais humor, menos humor, quis cumprir o seu propósito.
O vírus não se planifica, vai-se controlando e é esta a base da plataforma que nos permite “acertar agulhas” equilibrando o quanto possível o presencial com o digital, numa balança que deve ser a deste século.
A avaliação não é realizada com base apenas do que nos entrou casa adentro. A avaliação é contínua e o momento contextualizado. E da mesma maneira que se realizam, por norma, avaliações diagnósticas em cada ano, será duplamente uma forma de avaliar esta experiência e minimizar taxas de insucesso no ano seguinte.
Haverá sempre erros, haverá fragilidades, que estão sujeitas a avaliação. Parar em prol de errar não só seria contraproducente como aumentaria as condições excepcionais.
Encontrar medidas educativas que sejam lineares na crítica geral é igual a ir à praia a um domingo e achar que todos terão a consciência cívica de cumprir a orientações estipuladas. É raro, é absolutamente excecional. Respondemos e conceptualizamos decisões consoante a forma como ecoa no “nosso pequeno quintal” assumindo a minha realidade como verdade absoluta. Esquecemos que o que resulta para mim pode não resultar para o outro e a humildade necessária para compreender isto. Uma medida não tem de ser necessariamente má se não me serve individualmente, mas tem de ser flexível o suficiente para que seja possível aproximar as minhas necessidades individuais. E não há melhor espaço ou instituição do que a escola para permitir esta flexibilização. É inclusivamente de lei.
Maria Joana Almeida
Fonte: Público por indicação de Livresco
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