Os cerca de 7500 professores de Educação Especial das escolas do ensino regular tiveram de se adaptar rapidamente às novas circunstâncias. Desde março, acompanham os alunos e têm reuniões com outros docentes e responsáveis educativos à distância. É um outro contexto transversal a todo o ensino. O trabalho prossegue e já há alguns contactos presenciais, sobretudo na intervenção precoce nas primeiras idades, dos zero aos seis anos. Os alunos com necessidades educativas especiais e deficiências de vários níveis não podem ficar sozinhos.
“Estamos a fazer o melhor que conseguimos com os recursos que temos”, adianta David Rodrigues, presidente da Pró-Inclusão, Associação Nacional de Docentes de Educação Especial (...). “Temos 7500 professores de Educação Especial nas escolas. É um recurso muito importante. É suficiente? É o melhor que conseguimos fazer”, refere. O trabalho continua, os docentes de Educação Especial mantêm o contacto com os professores do ensino regular para um ajuste permanente e adequado às dificuldades dos alunos e para dar continuidade, agora à distância, a sessões personalizadas, definidas à medida de cada caso. Usam-se plataformas digitais, fazem-se telefonemas.
“É uma situação de emergência, ninguém pediu o vírus”. Segundo David Rodrigues, é essencial, no atual panorama, não deixar os alunos que precisam de apoio, e as suas famílias, sozinhos. Os contactos têm sido e são regulares. “É uma educação de emergência”, comenta. Em seu entender, o atual cenário “é um acelerador de mudanças” que, na educação, leva tempo.
A Pró-Inclusão elaborou e disponibilizou um documento, em abril, para abordar vários aspetos na sequência das medidas extraordinárias e urgentes de resposta à situação pandémica. Com as escolas encerradas, é necessário responder aos desafios que o ensino à distância coloca. O docente de Educação Especial, lê-se nesse documento, “pode e deve assumir um papel de destaque que contribua para o desenvolvimento de políticas de inclusão que mitiguem os efeitos das desigualdades sociais que esta situação poderá vir a acentuar”.
Minimizar o isolamento social
Prestar um apoio direto aos alunos e trabalhar, de forma colaborativa, com os restantes intervenientes no processo educativo são duas linhas de intervenção que o documento realça. No trabalho com os alunos, a Pró-Inclusão sugere que os professores devem promover estratégias de acesso aos conteúdos televisivos do #EstudoEmCasa e criar momentos de contacto “direto”, no quadro das dinâmicas existentes, “para aferir questões pedagógicas, constrangimentos pessoais, emocionais ou motivacionais, proporcionando feedback relativamente às tarefas desenvolvidas”.
Outra sugestão passa por criar redes de apoio, ou dinamizar as que existem, recorrendo aos recursos digitais ou outros já usados pelos alunos, de forma a promover “a interação social, o sentimento de pertença entre pares e minimizar os efeitos do isolamento social”.
As famílias são fundamentais neste processo. A Pró-Inclusão fala em apoio e orientação para compreender a situação, mas também para identificar necessidades a vários níveis: económicas, tecnológicas, emocionais, sociais, terapêuticas, entre outras. Os professores de Educação Especial devem estar atentos às dinâmicas familiares, bem como aos recursos pedagógicos e didáticos disponíveis, e propor a criação de redes de apoio entre pais que “poderão funcionar como grupos de entreajuda à distância”.
Definir estratégias de diferenciação pedagógica e adaptar recursos e materiais, de acordo com o perfil de cada aluno, para garantir a continuidade das medidas e sua monitorização num modelo de ensino à distância, são outros pontos que a associação destaca. Os professores devem participar, sublinha, “na articulação das atividades a enviar aos alunos/família para evitar sobrecargas de trabalho traduzidas numa multiplicidade de tarefas de difícil execução definindo, caso a caso, o(s) interlocutor(es) privilegiado(s)”.
Proteção e confiança
A Federação Nacional dos Professores (FENPROF) acompanha as preocupações dos responsáveis dos estabelecimentos de Educação Especial que adiaram a reabertura das instalações, marcada para 18 de maio, para retoma das atividades presenciais. Pedem-se orientações e medidas específicas para uma realidade particular e de elevada exigência.
A organização representativa da classe docente lembra a importância da segurança sanitária e proteção, de acordo com as condições e necessidades individualizadas, e alerta que os procedimentos não se podem esgotar no “simples uso de máscara”. Na sua opinião, os profissionais devem ter acesso a outros equipamentos de proteção individual, de forma a que, refere, “o regresso às atividades presenciais tenha lugar num ambiente de proteção e segurança de todos, fatores indispensáveis de confiança”.
“Nestes estabelecimentos de Educação Especial encontramos uma população muito própria, extremamente diversificada nas suas necessidades e a requerer medidas claras, objetivas e pormenorizadas sobre como devem atuar todos os envolvidos, a começar pelos profissionais que, com elas, estão obrigados a interagir”, sustenta a FENPROF no seu site, acusando a tutela de, neste caso, não assumir responsabilidades em relação às condições de segurança. “Não terá sido por acaso que, de uma forma geral, as instituições optaram por não abrir no dia 18. É que, na falta de orientações específicas, decidiram não correr riscos sem o indispensável respaldo orientador”.
A FENPROF recorda, por outro lado, que as crianças e jovens que frequentam essas instituições “apresentam quadros clínicos de risco e problemáticas muito complexas, às quais as escolas públicas não podem dar resposta”. “São cidadãos que não controlam os movimentos, cuja saliva é uma constante nas mesas e outras superfícies, bem como no seu corpo e no dos profissionais. As suas características levam a que tenham, muitas vezes, ataques de ansiedade e pânico perante pessoas estranhas ou com adereços estranhos”.
Fonte: Educare
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