Nesta mudança súbita do ensino presencial para o ensino a distância, a formação dirigida aos jovens em risco de exclusão social depara-se com um enorme desafio: garantir o não abandono escolar precoce!
A substituição inesperada do ensino presencial pelo ensino a distância, na maior parte das instituições de ensino, demonstrou a inexperiência da maioria dos gestores e docentes no ensino com recurso à tecnologia. Porém, com um esforço coletivo, o sistema de ensino nacional respondeu de imediato ao obstáculo COVID 19. Todos os gestores, docentes e discentes demonstraram coragem e resiliência face à transição repentina do método de ensino! Mas como decorreu esta mudança em formação dirigida a jovens em risco de exclusão social? Jovens com insucesso no ensino regular, que agarraram uma última oportunidade, frequentando um curso de formação, com esperança de obter a escolaridade obrigatória?
Constate-se que a atuação educativa em Portugal, até março de 2020, foi determinante para a redução gradual da taxa de crianças e jovens, menores de 18 anos, em risco de pobreza e de exclusão social, que em 2015 rondava os 30% e, em 2018, atingiu o valor de 21,9%.
A promoção de Cursos de Educação e Formação, Cursos de Aprendizagem ou Cursos Profissionais, tutelados pelo IEFP ou pelo Ministério da Educação (Segunda Oportunidade-Programa 20), foram cruciais para a inclusão, na sociedade, de jovens com mais de 15 anos, que não trabalham e não concluíram a escolaridade obrigatória.
Perante o novo método de ensino, acredita-se que estes jovens não estavam preparados para tais mudanças. Apesar de a maioria interagir nas redes sociais, grande parte deles apresenta iliteracia digital. Para além disso, a carência de recursos destes jovens impossibilitam, na maior parte das vezes, o acesso ao conhecimento, manifestando-se, assim, a desigualdade de oportunidades. Para formandos que, muitas vezes, não dispõem de telemóvel, computador ou internet, o ambiente de aprendizagem virtual é impossível. A alternativa de enviar os suportes pedagógicos por correio poderá colmatar tal impossibilidade. Contudo, o isolamento social destes jovens, ao longo do estado de emergência, culminou em dois fatores determinantes: por um lado, o aluno desiste facilmente perante qualquer obstáculo de aprendizagem; por outro, neste contexto pandémico, adquiriu novas rotinas de dificultam o processo de ensino/aprendizagem. Novos horários de sono, dificuldades económicas na família devido ao aumento de desemprego e/ou condição de lay-off, desmotivação perante o aumento de tarefas semanais pedagógicas (comparativamente com o ensino presencial), entre outros fatores.
A necessidade de reprogramar o plano de formação, de reorganizar a implementação do processo formativo e o sistema de acompanhamento e avaliação, surgiu inesperadamente no percurso formativo destes jovens, que só conheceram o insucesso escolar até então. E agora? Será que vão abandonar a sua última oportunidade para obterem a escolaridade obrigatória? Acredita-se que as instituições formativas, promotoras de formação para estes jovens, perante as evidências e resultados decorrentes desta experiência nos últimos dois meses, já assumiram a necessidade de adotar medidas especiais para um público-alvo especial. O isolamento social destes jovens, sem contato direto com formadores, assistentes sociais e psicólogos, pode desencadear um crescimento exponencial de abandono escolar precoce. O afastamento "escolar" do aluno impossibilita, de alguma forma, o diálogo genuíno e direto com a equipa que o apoia diretamente na instituição de formação.
Considerando a incerteza de até quando se manterá este modelo de ensino a distância na educação nacional, sugere-se, neste contexto, um modelo pedagógico adequado a jovens que, naturalmente, na fase pré-Covid, já estavam desmotivados para o ensino. A adoção de uma estratégia pedagógica mais próxima e individualizada, do formando, talvez permita contrariar o inequívoco abandono da escola.
Perante os resultados pedagógicos e evidências obtidos nos meses de abril e maio na formação dirigida a este público-alvo, considera-se que o novo ano letivo deverá ser reprogramado contemplando preferencialmente o sistema B-learning, que contempla a combinação do ensino a distância com sessões presenciais, garantindo, como é óbvio, a segurança das equipas docentes e técnicas, bem como dos formandos.
O Ensino B-Learning, dirigido a estes jovens, deve permitir intercalar momentos de ensino presencial com momentos de ensino a distância. A par das sessões assíncronas e síncronas, o discente deverá, no mínimo, reunir-se um dia por semana com cada um dos formadores, bem como com o assistente social e psicólogo. Em grupos reduzidos (máximo de 5 alunos), poderão ser promovidas sessões presenciais para esclarecimento de dúvidas, promoção de motivação para a continuidade no curso, apoio psicológico para a manutenção da sanidade mental, para além da continuidade das sessões de práticas simuladas. Em cursos profissionais, é fundamental estabelecer, nesta fase, um equilíbrio entre a componente teórica e prática, ou seja, os centros de formação poderão adotar um sistema rotativo que permite a cada formando deslocar-se à escola somente um dia por semana; numa semana assistirá um dia às aulas teóricas para esclarecimento de dúvidas; na semana seguinte, assistirá um dia às práticas simuladas e assim sucessivamente. A adaptação dos espaços físicos a esta nova realidade exigirá aos gestores de formação adotarem medidas de segurança e de proteção muito rigorosas.
Caberá aos docentes e gestores pedagógicos analisar, antes do início do ano letivo 2020/2021, a estratégia mais adequada para garantir a não exclusão social e escolar destes jovens, nomeadamente padronizar os suportes pedagógicos para um sistema de ensino B-learning, reorganizar os horários para formação assíncrona, síncrona e presencial, readaptar o espaço físico às exigências da DGS, lançar uma unidade móvel de formação, como medida excecional para jovens com mais dificuldade de aprendizagem, entre outras ações. Enfim, medidas especiais, para jovens especiais! Vamos abraçar esta causa e não permitir que a taxa de jovens em pobreza ou risco de exclusão social aumente neste contexto COVID 19!
Carla Luís
Fonte: DN por indicação de Livresco
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