A maioria de nós já passou por momentos na vida em que pensou consultar um psicólogo ou em que alguém nos aconselhou a fazê-lo. Talvez porque o trabalho ou o casamento estavam a atravessar uma fase complicada ou porque um ente querido desapareceu da nossa vida. Nesses momentos, pensamos no “psicólogo”, ou talvez mesmo na “psicoterapia”, muitas vezes sem compreendermos muito bem o que se passa entre aquelas quatro paredes, sentados naquele divã ou cadeirão.
Existem diversas orientações teóricas, pelo que neste artigo partimos de uma perspetiva integrativa das diferentes visões da psicoterapia.
A psicoterapia é um processo mediado por um profissional qualificado, que visa alcançar mudanças de modo a aumentar o nosso bem-estar e equilíbrio psicológico.
A personalidade adulta resulta de uma complexa combinação entre hereditariedade e experiências de socialização precoces. Ao longo do desenvolvimento, a procura de adaptação às exigências do meio leva-nos a adotar estratégias e mecanismos psicológicos que, sendo adaptativos num determinado momento da vida, podem mais tarde tornar-se fonte de dificuldades.
Quando nos debatemos com dificuldades na gestão das nossas emoções e relações interpessoais, raramente as entendemos como resultado destes mecanismos. Como é que um mecanismo tão precoce e que foi adaptativo pode mais tarde ser fonte de problemas? Para compreender como a história de vida pode originar padrões disfuncionais de afetividade e relacionamento interpessoal, precisamos frequentemente de um “espelho” que reflicta a nossa atual imagem e nos permita também analisar retrospetivamente como ela se criou.
Dificilmente este “espelho” poderá ser um familiar, um amigo ou o cônjuge, por muito boas intenções que tenha. Para “ver o nosso reflexo no espelho”, necessitamos do apoio de um profissional qualificado e de um momento regular e continuado para “nos vermos ao espelho”. Este profissional deverá estar totalmente disponível para escutar, para suspender juízos de valor, para se colocar na nossa perspetiva, para aprofundar e nos permitir “ficar” nas emoções, mesmo as mais dolorosas.
Parte do problema é que frequentemente evitamos as emoções dolorosas, que ironicamente apelidamos de “negativas”. Como pode o medo pode ser negativo, se nos permite fugir ou lutar perante uma ameaça? Como pode a raiva ser negativa, se nos permite protestar quando estão a violar os nossos direitos? Não há emoções negativas, mas a cultura e a educação fazem muitas vezes crer que “os homens não choram” e “as meninas não se zangam”.
O psicoterapeuta poderá ajudar-nos a aceitar todas as nossas emoções, a vivenciar mesmo aquelas que evitávamos e tornarmo-nos “autores” das nossas emoções, em vez de nos deixarmos dominar por elas. Porque quem não se permite entristecer, deprime. Quem não se permite ter medo, entra em pânico. Quem não se permite zangar, enfurece-se.
Através da psicoterapia, procuramos quebrar ciclos viciosos e criar ciclos virtuosos. Ao mudar a forma como nos sentimos, ajudamos a mudar a forma como agimos e alteramos também as reações que os outros têm em relação ao nosso comportamento.
A psicoterapia pode ainda ajudar-nos a identificar falhas na satisfação das nossas necessidades psicológicas básicas e a desbloquear os mecanismos que estão na origem dessas falhas. Aumentamos assim a nossa capacidade de gerir com autonomia e eficiência os desafios que a vida nos coloca no caminho. Isto só é possível a partir do momento em que aceitamos que um certo grau de vulnerabilidade e conflito são inevitáveis numa vida normal e saudável.
Em tudo o que nos sucede, de bom e de mau, é possível encontrar a oportunidade de crescimento psicológico. A psicoterapia dá-nos os recursos e um guião para que este crescimento aconteça em todas as fases da vida.
Sandra Pinho
Psicoterapeuta do CADIn
Fonte: Público por indicação de Livresco
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