Foram vários os profissionais que, no final de tarde de quarta-feira, contribuíram para a desmistificação de alguns mitos acerca da relação existente entre o cérebro e a atividade física. Através do depoimento de profissionais especializados em psicologia, atividade física e neurociência, debateu-se, sobretudo, a urgência de recentrar a importância da prática de exercício físico.
“A promoção de um estilo de vida saudável tem um papel fulcral no combate à ansiedade.”
Numa perspetiva psicológica, segundo Isabel Lourinho, psicóloga do Departamento de Apoio ao Estudante da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o rigor exigido no percurso académico tem conduzido a uma crescente percentagem de alunos com perturbações de ansiedade, sobretudo nos alunos do curso de Medicina. Perante esta situação, Isabel Lourinho afirmou ser fundamental “acionar o modelo cognitivo comportamental, onde a promoção de um estilo de vida saudável tem um papel fulcral”. Para a profissional, a aliança entre a boa alimentação, atividade física regular e horas de sono adequadas vão ser “um excelente ansiolítico natural” e vão agir como um antidepressivo.
Numa visão mais desportista, José Soares, professor da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), destacou a necessidade de recentrar o objetivo do desporto. Na sua perspetiva, numa era onde “a robustez do conhecimento sobre o exercício físico” tende a prevalecer e torna-se imperativo alterar “o ambiente obesogénico”. Na ótica do docente, ao existir cada vez mais especializados em saúde, nutrição e fitness, não se justifica que o número de obesos esteja também a aumentar. O facto deve-se a falhas graves existentes no setor onde os profissionais exercem uma pressão muito grande sobre aqueles que querem perder peso.
“Existe uma melhoria no aumento das funções executivas por causa do exercício.”
Para José Soares, este é um caminho que deve ser percorrido, mas que deve também ser calculado, uma vez que tem muitas limitações. É necessário alterar a associação do desporto à obesidade, e perceber que “vale a pena olhar para o outro lado” e interrelacioná-lo mais com os benefícios neurológicos que pode trazer. O profissional afirmou que “tudo leva a pensar que hoje existe uma melhoria no aumento das funções executivas por causa do exercício” em qualquer faixa etária. O exercício contribui não só para a concentração dos jovens, como para a prevenção de alterações cognitivas dos idosos. Ao acabar o discurso, o professor referiu ainda que “o exercício tem de facto um papel do ponto de vista cerebral que não pode ser desprezado” e que o cérebro beneficia com a sua prática.
“O nosso cérebro gosta de exercício físico.”
A ultima opinião foi a de António Salgado, neurocientista, atleta e professor na Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho, que procurou aliar e partilhar o seu conhecimento na área da neurociência com a prática diária de exercício físico. Para o cientista, “o nosso cérebro gosta de exercício físico” e esse prazer tem repercussões tanto a nível celular como emocional. Segundo António Salgado, no campo celular, quem pratica exercício físico tem uma rede mais vasta de células neuronais, assim como uma maior plasticidade nos neurónios. Por sua vez, no campo emocional, com a prática de exercício, os “reward circuit” são acionados e criam uma sensação de satisfação e prazer capazes de deixar o atleta com energia e boa disposição.
Terminadas as apresentações, seguiu-se um momento de debate e de resposta a algumas questões onde, de forma vincada, se referiu que deve ser uma missão da Sociedade Portuguesa de Neurociência alertar para a relação cérebro-atividade física, nomeadamente em profissionais do ensino. Para José Soares, aquilo que diferencia dois estudantes bem formados e com hard skills semelhantes são, por sua vez, as suas soft skills, a sua capacidade de liderança, de iniciativa e de interação com um grupo e isso só pode ser conseguido com o espírito de sacrifício e de partilha que o desporto promove.
Para terminar esta sessão, foram apresentados alguns atletas de competição que conciliam diariamente o desporto de alta competição com a exigência do percurso académico. Num momento marcado, sobretudo, por questões associadas ao tempo e à não disponibilidade para fazer desporto devido às tarefas do quotidiano, José Paulo Souto, estudante da FMUP afirmou que “com empenho e trabalho tudo se consegue”. Este atleta referiu ainda que o desporto permite “aprender a perder” e ajuda a distinguir “entre o número de horas de estudo e o número de horas de estudo de qualidade”.
Fonte: JUP por indicação de Livresco
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