Sobram perguntas aos professores que este ano foram designados como tutores de alunos com pelo menos dois chumbos. Como chegar a estes alunos que muitos, na escola e fora dela, já deram como perdidos? Como fazer perceber aos outros docentes que as tutorias não são “sessões de magia” com resultados prontos a servir? Como avaliar a eficiência de um trabalho que será sempre feito de “pequenos passos”?
Estas são algumas das questões colocadas em duas sessões de formação para professores tutores (...). Esta formação é feita online e passa muito também pela troca de experiências entre docentes nas mesmas funções, o que acontece uma vez por semana em sessões que decorrem via plataforma moodle.
A formação destes docentes está a cargo de uma equipa do Grupo Universitário de Investigação em Auto-regulação da Universidade do Minho, coordenada pelo investigador Pedro Rosário, especialista em autorregulação na aprendizagem. E é precisamente a autorregulação, no caso dos alunos, a palavra-chave desta formação, que já abrangeu cerca de 1200 docentes.
Trata-se de conseguir que sejam os próprios alunos a estabelecer os seus objetivos e as formas de lá chegar. Mas para conseguir chegar aos jovens é necessário, em primeiro lugar, que eles participem nas sessões de tutorias. E, para o garantir, as escolas não poderão ceder à tentação de colocar estas sessões fora do horário letivo dos estudantes. Este é um dos diagnósticos já apontados por docentes que têm a seu cargo esta função.
Os professores tutores têm a seu cargo grupos de 10 alunos do 2.º e 3.º ciclo do ensino básico, que já tenham tido pelo menos duas retenções no seu percurso escolar. A cada grupo são atribuídas quatro horas semanais de tutoria, uma figura criada pela atual tutela do Ministério da Educação que pretende assim substituir o desvio destes alunos para cursos vocacionais, como aconteceu durante o mandato de Nuno Crato.
A figura de tutor já existia nas escolas, mas essencialmente com a função de apoio ao estudo. Esta é uma das vertentes que os responsáveis pela formação dos atuais professores tutores desaconselham. “A tutoria não pode ser mais escola. É o aluno que tem de definir os seus objetivos, embora com a ajuda do tutor e estes objetivos têm de ser concretos, realistas e avaliáveis”, frisa o investigador Pedro Rosário.
Falar no café
Não contam declarações de intenções, como por exemplo a de que vai passar a ter melhores notas. “É como as pessoas que no final do ano dizem que vão passar a fazer mais exercício. O que é que isso quer dizer no concreto?”, acrescenta. Pelo contrário, comprometer-se a fazer os trabalhos para casa numa disciplina, a chegar a horas, a reduzir os comportamentos de indisciplina em sala de aula são alguns objetivos que podem ser mensuráveis e que podem permitir uma maior monitorização dos progressos alcançados.
Esta verificação, que pode ser feita através da elaboração de listas pelos alunos, é outra das ideias-chave desta formação, porque assim se permite que estes estudantes possam verificar os seus progressos, ainda que pequenos, refere Pedro Rosário, o que pode ajudar à sua motivação. E aqui entra outra das bases da formação ministrada pela equipa da Universidade do Minho: entender a motivação como um “processo de compromisso pessoal com as tarefas. Os professores podem criar condições, mas uma vez mais é um objetivo que não pode ser dado, mas sim conquistado pelo próprio aluno”.
Pedro Rosário salienta também a importância de contactos informais, nos intervalos, no café, que permitam por exemplo chegar à fala com os alunos que faltam às tutorias e perceber as razões que os levam a tal.
Fonte: Público
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