Dos canhotos, ouve dizer-se uma série de generalidades. Diz-se que são pessoas mais criativas, sabe-se que são uma minoria no mundo (27%), que antigamente eram contrariados por se considerar que usavam “a mão do Diabo”. Sabemos, também, algumas curiosidades, como Einstein ser canhoto, assim como Angelina Jolie e Barack Obama, ou Júlio César e Napoleão Bonaparte. Mas que importância tem sermos destros ou canhotos? E a que momento do desenvolvimento isso se define? Um estudo publicado em fevereiro na revista “eLife” veio revelar que, ao contrário do que se pensava, não é do córtex cerebral que partem os movimentos de coordenação entre braços e mãos, mas sim da espinal medula. A investigação coloca um novo ponto de partida no momento decisivo de se formar o ser canhoto ou destro no feto.
Sara Cavaco, neurocientista e neuropsicóloga, responsável pela Unidade de Neuropsicologia do Hospital de Santo António desde 2009 (e que colaborou largos anos com António e Hanna Damásio), explica: “Ainda não está totalmente esclarecido como surge a preferência pela mão direita ou pela mão esquerda. Quanto ao ‘quando’, o aparecimento dos primeiros movimentos coordenados das mãos surge às oito semanas de gestação e às dez semanas após a conceção já cerca de 85% dos fetos mostram mais movimentos do braço direito do que do esquerdo. Às 13 semanas, 90% dos fetos preferem chupar o polegar direito do que o esquerdo. Essa preferência mantém-se no tempo. Esta assimetria precoce dos movimentos da mão aponta para a importância da espinal medula no estabelecimento da preferência pela mão direita, pois o córtex motor não está funcionalmente ligado à espinal medula antes das 15 semanas de gestação.
O estudo publicado na ‘eLife’ demonstra a existência de uma assimetria progressiva na expressão dos genes na espinal medula entre as 8 e as 12 semanas de gestação. Essa assimetria, regulada por mecanismos epigenéticos, parece ser o ponto de partida para se ser destro ou canhoto.” A médica defende ainda que esse facto “dá pistas importantes sobre a organização cerebral da pessoa. Por exemplo, a preferência pela mão direita na maioria das atividades do dia a dia aponta para uma dominância do hemisfério cerebral esquerdo em funções motoras e de linguagem (em 96% dos destros); enquanto que 27% dos canhotos têm dominância direita ou mista (isto é, distribuída entre os hemisférios direito e esquerdo) para a linguagem. Estas assimetrias hemisféricas (lateralização) para funções motoras e cognitivas permitem um funcionamento cerebral mais eficiente.
Fonte: Expresso
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