segunda-feira, 16 de maio de 2016

Autoestima: quanto mais, melhor

«Não faço nada bem.» «Não vou conseguir fazer isto.» «Não sou suficientemente bom para isso.» Tem uma voz interior, hipercrítica, que insiste em dizer-lhe coisas destas? Essa voz (que é a sua própria) está a mentir. amplia os medos e as dúvidas, explora fragilidades e boicota as hipóteses de sucesso. Aprenda a ignorá-la.

Às vezes, o nosso pior inimigo está entre as nossas orelhas. Sem necessidade de ajuda alheia, vemo-nos como incompetentes, inadequados, inúteis, incapazes, dispensáveis. Como alguém que não vale a pena. Esta visão negativa alimenta um comportamento correspondente, que, por sua vez, promove a continuação desta forma desviante como nos olhamos.

Genericamente, a autoestima é definida como amor-próprio. E, genericamente, entende-se que não deve depender das opiniões que os outros têm de nós. No entanto, o argumento é algo circular: não estamos sozinhos no mundo, vivemos e definimo-nos também nas nossas relações com os outros, por isso o mais natural é que o valor que damos a nós próprios esteja relacionado com o valor que os outros nos dão. Por outro lado, o valor que os outros nos dão, está relacionado com o valor que damos a nós próprios… É um ciclo vicioso. Que pode ser destrutivo.

A psicoterapeuta e hipnoterapeuta Ana Marques Covas tenta desembrulhar esta pescadinha de rabo na boca: «Desde o dia em que nascemos vamos acumulando experiências que conduzem a um determinado resultado ou valor. Quanto mais esse resultado depender do nosso esforço pessoal mais valor acrescenta à autoestima.» Por isso, a psicoterapeuta defende que facilitar resultados e apresentar soluções diretas sem fazer as pessoas passarem pela experiência construtiva da descoberta dos seus talentos não traz sabedoria nem valor. «A autoestima inicia-se neste autoconhecimento das metas a que nos propomos, constrói-se na relação com o mundo e com as pessoas e mantém-se porque escolhemos acreditar no nosso valor pessoal. Não o fazendo depender do exterior.»

Isto não quer dizer que o mundo exterior não nos afete. Ser rejeitado numa relação amorosa ou ser despedido do trabalho pode ser um problema até para alguém com uma boa autoestima, na medida em que nos faz pôr em causa o nosso valor. «Mesmo as pessoas com uma autoestima saudável podem sentir-se mais fragilizadas neste tipo de circunstâncias», diz a psicóloga Margarida Godinho. A diferença é que alguém com uma autoestima equilibrada pode viver estes momentos com tristeza, mas acaba por reencontrar o seu equilíbrio com o tempo e, para quem tem o seu amor-próprio em baixo, o processo é mais penoso. «As pessoas com baixa autoestima poderão ter mais dificuldade em ultrapassar desilusões, o que pode afetar outros aspetos da sua vida. Tendem a sentir estes obstáculos como mais uma falha e ficarem “contaminadas” por sentimentos de desvalorização.»

Uma perceção distorcida de nós próprios tem consequências. Sabe-se, por exemplo, que baixa autoestima e depressão andam de mãos dadas, embora a natureza da relação não esteja completamente esclarecida: há estudos que defendem que é a vulnerabilidade provocada pela baixa autoestima que contribui para a depressão, outros que é a depressão que corrói a autoestima. Mas uma meta-análise de 77 estudos sobre depressão, publicada em 2013 por Ulrich Orth (Universidade de Berna) e Julia Friederike Sowislo (Universidade de Basileia), concluiu que o efeito da autoestima sobre a depressão é mais forte do que o contrário.

Por isso, é importante reequilibrar a nossa noção sobre nós próprios antes que ela condicione totalmente os nossos comportamentos e faça uma mossa ainda maior na saúde mental. Ana Marques Covas garante que uma baixa autoestima pode condicionar o nosso comportamento no seu todo. «Leva a pessoa a sentir e a ver-se como incapaz. Desta forma, muitas coisas na vida tornam-se ameaças. A pessoa não sai de casa porque sente que não vai ser necessária aos outros, não fala numa reunião porque tem receio de fazer má figura, não entra num negócio porque sente que não tem capacidades para o desenvolver.»

Por essa razão, e porque este comportamento parte da forma como a pessoa se vê, a hipnoterapia é uma forma de ir à raiz do problema. «Através de técnicas analíticas e de regressão, ajuda a quebrar padrões negativos e a perceção negativa que a pessoa tem de si. Com técnicas de visualização, por exemplo, levamos as pessoas a criar e a vivenciar alternativas comportamentais, a viver experiências positivas que tenham que ver com os seus objetivos e necessidades atuais. Há um encorajamento para a mudança.»

A autoestima constrói-se desde o berço, por isso a mãe e o pai são geralmente os principais responsáveis pelo desenvolvimento de uma autoestima saudável na criança. Como o podem fazer? Através do afeto, da aprovação e do reconhecimento mas também da disciplina e dos limites, defende Margarida Godinho. «Perante as dificuldades, o adulto deve ajudar a criança de forma construtiva, ouvindo-a e compreendendo-a, mostrando-se disponível para a ajudar. Mas deve fomentar a autonomia na criança, deixando-a tentar resolver as coisas por si própria.»

Cláudia Morais também alinha nesta importância de uma boa base na infância. «Sempre que uma criança se desenvolve sem o carinho, atenção e disponibilidade dos adultos, há riscos acrescidos de, na idade adulta, se desenvolverem padrões de vinculação amorosa inseguros», diz a psicóloga. Porque há pessoas para as quais a autoestima não está cimentada na opinião que os outros, em geral, têm de si, mas na opinião que alguém em particular lhes transmite: o companheiro ou a companheira. Se ele ou ela elogia, a pessoa sente-se válida, se ele ou ela critica, a pessoa sente que não faz nada bem.

Haverá então pessoas dependentes do amor e elogio do parceiro para se amarem a si próprias? «Na prática, somos todos dependentes emocionalmente de alguém, já que somos tão mais felizes na medida em que existirem ligações afetivas sólidas com outras pessoas», diz Cláudia Morais. No entanto, se a rede de suporte não é sólida, a insegurança aumenta e o amor próprio diminui, o que leva alguns a desenvolverem aquilo a que a psicoterapeuta chama de «fome emocional», deixando-os mais vulneráveis à construção de relações menos saudáveis. «Algumas destas pessoas – mais mulheres do que homens – estão tão fragilizadas afetivamente que tendem a projetar numa relação amorosa as suas frustrações, ambições e necessidades. Como se aquela relação não fosse apenas a mais significativa de todas e passasse a ser a sua “razão de viver”.» Isso, claro, reflete-se na autoestima.

Associado à autoestima tem surgido nos últimos tempos o conceito de autocompaixão: a capacidade de se perdoar a si mesmo pelos erros que comete, aceitando-os sem necessidade de se focar nas suas qualidades para proteger o ego cada vez que faz um disparate. Não é que isto nos deixe mais talhados para o sucesso, mas faz que nos sintamos melhor connosco. E não é preciso um estudo para nos dizer que, quando nos sentimos bem connosco, temos mais hipóteses de ser bem-sucedidos.

Fonte: Notícias Magazine por indicação de Livresco

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