Ser bem amado é importante. Tratando-se de uma criança, essa importância redobra — mas sabia que o amor até tem consequências físicas? É isso que nos garante um estudo científico da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, liderado pela psiquiatra infantil Joan Luby, que descobriu que uma importante região do cérebro cresce duas vezes mais depressa em crianças com mães que demonstram afeto e apoio emocional.
Publicado no “Proceedings of the National Academy of Sciences”, a investigação, realizada em 127 crianças, seguiu-as regularmente ao longo de anos e monitorizou a sua atividade cerebral através de ressonâncias magnéticas. Estas demonstraram o impacto do apoio emocional materno no hipocampo das crianças, uma região do cerébro localizada nos lobos temporais, responsável por atividades como a memória, a aprendizagem e o controlo das emoções.
A trajetória de crescimento do hipocampo estava diretamente associada a um desenvolvimento emocional mais saudável, em especial na primeira infância (até aos seis anos), tendo demonstrado também melhorias na gestão emocional das crianças na passagem para a adolescência.
O teste que dava origem à classificação do grau de afetuosidade da mãe punha-a numa situação de stresse na presença dos filhos. As mães que conseguiam concluir as tarefas, mantendo o autocontrolo e dando aos filhos algum tipo de apoio emocional, foram classificadas como as mais afetuosas — ao contrário das que os ignoravam ou castigavam.
José Oliveira, médico doutorado em imunopsiquiatria, a trabalhar na Fundação Champalimaud, confirma as conclusões do estudo. “A infância é efetivamente um período de particular vulnerabilidade aos efeitos de experiências traumáticas, como a negligência e o abuso físico, emocional ou sexual, ou uma menor afetividade dos progenitores. E estão mesmo associados ao desenvolvimento da doença mental em adulto”, defende.
É o reverso da medalha: enquanto o afeto promove o aumento cerebral e o equilíbrio emocional, a falta dele pode ter sequelas mentais graves. “Vivências traumáticas durante a infância estão associadas ao desenvolvimento de uma inflamação crónica de baixo grau no adulto, o que poderá explicar uma maior prevalência de doenças como a diabetes, doenças cardiovasculares, doenças autoimunes, cancro, e perturbações psiquiátricas como a depressão, esquizofrenia e perturbação bipolar”, alerta.
O psiquiatra cita ainda um estudo conduzido por ele na Universidade Paris-Est e publicado na revista científica “PlosOne”, que demonstrou que “em adultos diagnosticados com perturbação bipolar, e portadores de uma variante genética ligada à resposta imunitária (no gene TLR2), uma história de abuso sexual na infância se associou a um início precoce da doença, uma forma mais severa e de pior prognóstico”. Fique com esta ideia: ame os seus filhos e demonstre-o. Está a proteger-lhes a saúde.
Artigo publicado na edição do EXPRESSO de 14 maio 2016 por indicação de Livresco
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