(...) De há uns tempos para cá entrou no léxico comum uma terminologia vinda da área da saúde mental também para apreciar comportamentos e discursos na vida política ou social. A banalização deste comportamento representa do meu ponto de vista, ainda que não intencionalmente, uma enorme ofensa ao sofrimento das pessoas e das famílias que lidam com quadros clínicos desta natureza.
Vejamos alguns exemplos. É muito frequente a referência a estados de depressão, o país está deprimido, os mercados estão deprimidos, algumas regiões portuguesas são consideradas deprimidas, etc. Diz-se com todo o à-vontade que certos comportamentos políticos podem ser suicidas, seja de pessoas ou de partidos. Inventaram até um quadro de claustrofobia democrática, seja lá isso o que for. Não há opinador, amador ou profissional, que não se refira a autismo ou a autista para adjectivar discursos e comportamentos políticos que, noutra variante, também são apreciados como esquizofrénicos. Multiplicam-se as referências a pessoas que assumem compulsivamente estratégias de vitimização, etc., etc. A utilização destas palavras nestes contextos causam-me na verdade algum desconforto.
Aliás, deve recordar-se que a Assembleia da República aprovou uma moção no sentido de se não utilizar tal terminologia nos debates parlamentares.
Mais uma vez e sem subscrever um discurso dirigido à santidade ou ao "politicamente correcto" fundamentalista e sem sentido, julgo que as palavras e as pessoas merecem o uso adequado.
Professor universitário no ISPA - Instituto Universitário
Nota: O texto acima é um extrato da crónica publicada no jornal Público.
Sem comentários:
Enviar um comentário